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4.1. Organização e Gestão do ensino e da Aprendizagem

4.1.1. Conceção e Planeamento do Ensino

Segundo Bento, (2003, pp. 15-16) “Planificar a educação e a formação (…) significa planear as componentes do processo de ensino e aprendizagem nos diferentes níveis da sua realização; significa apreender, o mais concretamente possível, as estruturas e linhas básicas e essenciais das tarefas e processos pedagógicos (…) A planificação é o elo de ligação entre as pretensões, imanentes ao sistema de ensino e aos programas das respetivas disciplinas, e a sua realização prática. É uma atividade prospetiva, diretamente situada e empenhada na realização de ensino, que se consuma na consequência: elaboração do plano, realização do plano – controlo do plano – confirmação ou alteração do plano…” O professor deve, portanto, realizar um planeamento cuidado e bastante personalizado para cada turma, pois o planeamento varia de muitas situações e pormenores, desde a escola e as suas infraestruturas, das suas matérias, dos seus alunos e dos seus funcionários. Deve elaborar um conjunto de planos e estratégias que faça com que o professor alcance as metas a que se irá propor, relativas a aprendizagem dos alunos, sempre em favor da formação do aluno. Então, a conceção aparece como um dos primeiros motivos de ação do professor para que o processo de ensino e aprendizagem seja rico e eficaz.

O processo de ensino e aprendizagem, na aula de Educação Física, pressupõe a elaboração de um plano de ação pelo qual o professor se orientará ao longo do ano. O ensino não é semelhante a uma receita, onde tudo ocorre sempre da mesma maneira e sempre pela mesma sequência. Por isso, é fundamental criar um planeamento que seja moldável e passível de alterações. Poderão existir problemas como os dias de inverno mais rigorosos onde os espaços exteriores estão impraticáveis, visitas de estudo, provas globais. O seguinte excerto do diário de bordo mostra o facto de ser necessário haver improviso pois não me foi possível lecionar a aula.

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“Nesta segunda semana deparamo-nos com um problema relativo ao número bastante reduzido de funcionários na escola o que não nos possibilita a realização de aulas. Diário de bordo semana 2”

O meu planeamento ao longo do estágio-pedagógico foi balizado pelo Modelo de Estrutura do Conhecimento (Vickers, 1989) o qual composto por oito módulos. O modelo referido é compartimentado em 8 módulos, dos quais o primeiro corresponde ao Conhecimento Declarativo onde nos transmite o que ensinar. Os restantes correspondem ao Conhecimento Processual de como ensinar. Assim sendo, os primeiros três módulos correspondem à fase de análise, os módulos 4, 5, 6 e 7 à fase de decisão sendo que o oitavo ao de aplicação.

O módulo um diz respeito às categorias transdisciplinares do conhecimento: habilidades motoras, fisiologia do treino e condição física, cultura desportiva e conceitos psicossociais. Este módulo foi curial para me ajudar a esquematizar a matéria que pretendia lecionar.

Segundo Ward, & Li (2015), o conhecimento pedagógico do conteúdo que um professor irá lecionar deve ser evolutivo, para que o mesmo amadureça, com uma função de adquirir conhecimento do conteúdo, onde poderá ter impacto significativo na aprendizagem dos alunos.

O módulo dois consiste na análise das infraestruturas da escola e do material que esta contém. Sendo a Rocha Peixoto uma escola com excelentes condições, foi-nos entregue um inventário, que a maioria das escolas do país não é capaz de almejar, o que enriqueceu as nossas aulas, pois tínhamos todo o material necessário para as diversas modalidades. Já a escola Flávio Gonçalves é bastante inferior no que toca a infraestruturas e material, mas com alguma imaginação era possível desenvolver todos os conteúdos propostos.

O módulo três é onde se realiza a análise dos alunos que iremos lecionar, só assim seremos capazes de nos contextualizar no ponto de partida da lecionação. Deste modo, iniciei a minha conceção relativa à minha turma, a partir das aulas iniciais, onde comecei a conhecer realmente as capacidades dos alunos. Nestas aulas iniciais deparei com três pontos que se destacaram, falta de condição física / capacidade motora, pouca cultura desportiva e necessidade

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em trabalhar os conceitos psicossociais. Relativamente à capacidade física e a sua condição física, dediquei em quase todas as aulas dez a quinze minutos no início ou no final de cada aula, pois era fundamental desenvolver a capacidade física. No segundo período, optei por dar maior atenção a este problema, pois existam os testes de condição física (fitnessgram) para realizar e sabia que se não existisse este trabalho as notas seriam bastante diminutas.

Contudo, existia ainda o problema da falta de cultura desportiva e ainda os conceitos psicossociais. Relativamente á primeira optei por dar a conhecer um pouco das modalidades realizando durante a fase de jogo em cada aula, torneios onde existiam árbitros a regular todo o processo, que com o meu auxílio aprendiam as regras das diferentes modalidades. Ainda na cultura desportiva, os alunos que maior empenho e desenvolvimento mostrassem eram recompensados no instrumento PIAV que servia para complementar esses mesmos alunos. Foi ainda realizado um teste escrito no 3º período que englobou toda a matéria que a turma aprendeu comigo de forma a verificar o seu desenvolvimento.

Por último, com a enorme quantidade de torneios que os alunos realizaram, onde dependiam dos seus colegas para vencer, os conceitos psicossociais na aula de educação física foram aprendidos, tais como o fair-play, o espírito de equipa, a festividade, a cooperação, a capacidade de superação. Para tal, algum do planeamento ao longo do meu estágio pedagógico foi baseado no Modelo de Educação Desportiva (Siedentop, 1994) e, com a sua utilização, pude verificar um enfoque ainda maior na motivação e desenvolvimento de capacidades sociais. Ainda, a contextualização da aula de EF (trazer para a aula as características do desporto institucionalizado) promoveu vivências a muitos alunos que, de outra forma, não seria possível. Como Siedentop (1994) defendia que o modelo de Educação Desportiva valoriza a dimensão humana e cultural do desporto, por isso, reconhece a importância de o popularizar de forma a elevar a competição, estabelecendo um compromisso pedagógico entre inclusão, competição e aprendizagem. Com isto valorizam os aspetos psicossociais, sócio-afetivos e ainda os aspetos motores anteriormente valorizados.

O módulo quatro é o módulo que contém a extensão e a sequência a lecionar. Quanto à sequência da matéria, a mesma foi consubstanciada nas

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Unidades Didáticas (UD), de modo a que os alunos adquirissem os vários conteúdos de forma progressiva para que não fossem ultrapassadas etapas de aprendizagem dos diferentes desportos. O quinto módulo remete-nos para os objetivos que esperamos e nos propomos a alcançar com os alunos durante as aulas. É fundamental traçarmos objetivos a cumprir, pois é a partir desses mesmos que somos capazes de programar as aulas, pois só na observação do cumprimento dos mesmos somos capazes de visualizar a evolução de certos alunos. O sexto módulo diz respeito a avaliação desses mesmos objetivos.

O sétimo módulo auxilia o professor a idealizar as progressões necessárias para os alunos progredirem nos diferentes conteúdos. Neste módulo estão presentes progressões de ensino para diferentes situações que irão ser lecionadas nesta unidade didática. Deste modo o professor deverá identificar os problemas e abordar as progressões de forma a possibilitar o acesso ao jogo bem executado Garganta (1994).

O objetivo é fazer com que, através do desenvolvimento desses conteúdos, em exercícios critério/analíticos, se consiga chegar ao jogo e aplicar aquilo que foi desenvolvido. Como tal, atendendo ao nível da turma, criei algumas progressões de ensino, de forma a poder melhorar a qualidade de execução técnica, no sentido de obter uma melhoria na qualidade de jogo. Por último, o módulo oito corresponde a todo o tipo de planificações, avaliações e reflexões. Como o próprio nome indica, é a fase onde aplicamos tudo aquilo que reunimos nos módulos anteriores, que se traduz nos planos de aula, no plano da unidade temática, no plano anual, no plano de período, no programa individual, entre outros, os quais irão ser desenvolvidos com mais pormenor nos pontos seguintes.

4.1.2-

P

LANEAMENTO

A

NUAL

O planeamento anual da disciplina de educação física foi estruturado e elaborado pelas entidades responsáveis da escola, ao qual apenas cumprimos, pois nesse mesmo planeamento, tudo estava explanado, desde as modalidades e em que ordem íamos lecionar, os espaços e o tempo para cada modalidade. Contudo, encontrei uma desvantagem neste planeamento pois durante a época chuvosa tive quase sempre modalidades de exterior como o Futebol e o Andebol,

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o que me dificultou o planeamento e a lecionação da turma, especialmente na implementação de modelos. Todavia, na primavera, tive modalidades que se realizam no interior como o badminton e a natação, que seriam realizadas sem dificuldade no inverno o que beneficiaria os alunos que perderam algumas aulas em detrimento de dias chuvosos.

Penso que o planeamento anual, foi uma ferramenta crucial para a minha atuação, porquanto me auxiliou bastante na programação dos conteúdos, o planeamento das aulas, os seus objetivos em um período curto, médio e longo prazo. Mas, tal como o plano de aula e tudo que está implícito no planeamento, o planeamento é elaborado numa perspetiva que pode vir a ser alterado por diversões motivos, desde motivos climáticos, visitas de estudo, testes e provas comuns etc. O seguinte excerto do diário de bordo mostra como é necessário ter em conta tudo o que foi dito anteriormente.

“Nesta nona semana decorreu mais uma semana do nosso estágio. Nesta semana ocorreu uma greve, desta forma fiquei impossibilitado de lecionar no dia 10 de novembro. Diário de bordo semana 9”

4.1.1.2. Unidade Didática

Com o planeamento geral concluído, seria fulcral criar algum instrumento que nos fosse auxiliasse no planeamento da extensão e sequência da matéria para cada modalidade em particular, ou seja, a unidade didática. Segundo Bento (1998), as Unidades Didáticas (UD)são partes fundamentais do programa de uma disciplina, pois apresentam quer aos professores quer aos alunos, etapas claras e distintas do ensino e aprendizagem. Realizei todas as unidades didáticas de diferente forma pois todos os alunos são diferentes e a medida que o ano passava o meu conhecimento em relação a eles aumentava e então ajustava pormenores que iriam fazer a diferença no final relativamente à sua aprendizagem. As UD ajudam a esquematizar os conteúdos a lecionar, mas é bastante recorrente existirem inúmeros acontecimentos que rapidamente nos levam a modificar e restruturar a unidade didática. Em particular, acontecimentos escolares (visitas de estudo, atividades escolares, greves…) que nos podem

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impossibilitar de lecionar e ainda a capacidade dos alunos de compreensão/obtenção dos conteúdos. Após a primeira unidade didática concluída, apercebi-me que este instrumento deveria ser claro, objetivo e maleável de forma a cobrir todas as necessidades requeridas. Para Bento (2003, p.91), “constitui o nível fundamental de planeamento de ensino (…) devem ser apresentados, de forma concreta, palpável e explícita, os objetivos e a matéria para um espaço temporal.” Logicamente que as unidades didáticas não são apenas distribuições de matérias e aulas, mas sim um planeamento cuidado do que lecionar e o porquê de lecionar em determinado momento.

Para a elaboração das Unidades Didáticas foi necessário uma pesquisa e leitura do Programa Nacional de Educação Física, neste caso do 12º ano. Nesta fase foi fulcral não só analisar o programa nacional, mas também verificar e contrabalançar vários pontos. Nem todas as turmas estão aptas para realizar certos conteúdos, nem todas as escolas contem condições necessárias desde espaços a materiais. Como, por exemplo, no primeiro período existiu um enorme atraso no início das aulas o que dificultou bastante as aulas de educação física. Ainda como nota gostaria de realçar que o programa nacional deveria ser repensado. Falo particularmente na modalidade futebol, onde existe uma imensidão de conteúdos difíceis de lecionar tendo em conta o tempo existente. Mesmo antes da avaliação diagnóstica de futebol percebi, imediatamente, esta necessidade de reajuste ou encurtamento de conteúdos. Na minha opinião os alunos necessitavam de uma lecionação diferente daquela que o programa pedia ou recomendava. Optei por construir uma unidade didática que focava essencialmente os princípios básicos do jogo, onde através de exercícios reais com transposição para o jogo real podia trabalhar inúmeros conteúdos. Insisti essencialmente em alguns exercícios chave para que os alunos ficassem com uma ideia do que seria o jogo em si e não me preocupei em apenas cumprir o programa nacional, pois para mim seria um desastre para esta turma. Claramente que alunos que não tinham ainda desenvolvidas competências que lhes permitam executar os conteúdos mais avançados. Na minha perspetiva esta unidade didática foi trabalhosa de elaborar, pois foi necessária bastante reflexão de forma a conseguir com que as alunas se encontrassem motivadas e ainda conseguissem aprender aquilo que me propus a ensinar. Penso que os alunos

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aprenderam e alcançaram os objetivos a que me propus e isso é sempre gratificante para um professor.

4.1.1.3. Plano de Aula

O plano de aula foi um instrumento crucial na lecionação das aulas, por ser um documento que me ajudou a planear e estruturar o processo de ensino e aprendizagem para cada uma das aulas do estágio-pedagógico. Todavia, ainda mais importante, ao elaborar um plano de aula tinha em especial atenção ao que os alunos já tinham aprendido, o que ainda estava por ser lecionado e os pressupostos e condições de ensino existentes na escola. Assim, de cada vez que elaborava um plano de aula, todos os pormenores contavam, desde o aluno com mais dificuldades ao aluno de nível superior.

A construção do plano de aula foi crucial, por ter uma ferramenta onde transformei o conteúdo a ser ensinado aos alunos e, consequentemente, possibilitar uma aprendizagem mais eficaz. Todavia, sendo o plano uma ferramenta tão próxima da ação é bastante típico que esta seja modificada ou, por vezes, não cumprida. Nomeadamente, os alunos podem não reagir da forma esperada, podem não entender um exercício ou o seu objetivo, o professor pode ter planeado a progressão de forma errada, entre outros.

Segundo Faria (1972, p.206) “o Plano de Aula procura fazer uma previsão do desenvolvimento a dar aos conteúdos e às atividades discentes e docentes no âmbito de cada aula”. Como disse anteriormente, a aula não é passível de uma receita, os alunos são bastante distintos o que leva a uma enorme dificuldade para o professor. É completamente normal o professor ser obrigado a modificar o que tinha planeado, pois o facto de existirem alunos com aptidões e personalidades desiguais leva a que por vezes sejam imprevisíveis. De facto, é algo que é programado e planeado mas não pode ser encarado como certo. Uma aula pode ser imprevisível pois estamos a lidar com diferentes individualidades que podem gerar diferentes reações e atitudes.“Uma aula é um trabalho duro para o professor. (…) Requer emprego das forças volitivas para levar por diante o conceito planeado, mas também mobilidade, flexibilidade de reação, adaptação rápida a novas situações” (Bento, 2003, p.101). Durante o

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meu estágio modifiquei varias vezes o plano de aula, pois nem sempre a aula corria como esperado. Por vezes fui obrigado a retirar certos conteúdos ou até mesmo implementar progressões, pois os alunos mostraram dificuldades em compreender o que queria transmitir, ou até mesmo facilidade em cumprir os objetivos. Fui alvo ainda de outro problema no plano de aula, nomeadamente as mudanças do espaço de aula. Muitas vezes estava limitado a um espaço exterior e o clima encontrar-se rigoroso e com precipitação, o que impossibilitou de aplicar o plano de aula previamente planeado.

Embora o plano de aula seja uma ferramenta pessoal, todos os planos de aula contêm certos pontos comuns a todos os professores que o realizam. Nomeadamente, a discrição do exercício, os seus conteúdos e ainda as palavras-chave que os alunos devem ouvir e compreender. Os planos contemplam ainda objetivos gerais, funções didáticas e objetivos específicos de cada exercício, tempo de cada exercício e material a utilizar. Optei por palavras- chave durante o exercício corrigia os alunos, mas para efeitos de avaliação utilizava componentes críticas. Utilizava então as palavras-chave em aula, porque rapidamente verifiquei quer era mais fácil para os alunos decorarem certas palavras-chave pois eram mais implícitas.

Relativamente às palavras-chave a serem referidas, tive algumas dificuldades na sua definição, pois estava habituado a dirigir treinos, onde os atletas tem maior facilidade na perceção da “língua desportiva”, onde era simples me expressar e os mesmos perceberem. Foi então que a professora Rosa Lopes me auxiliou, demonstrando que da forma como eu estava a realizar as palavras- chave apenas metade dos alunos captavam realmente o que queria. Deveria, portanto, simplificar os termos para que todos os alunos chegassem ao que eu pretendia. Outro ponto em que penso que melhorei imenso foi na escolha das componentes críticas, pois no início, colocava enumeras componentes críticas. Apercebi-me que os alunos apenas conseguem estar atentos a duas ou três componentes críticas no máximo, o que me fez repensar os meus planos de aula. Preocupei-me em me concentrar nos feedbacks mais importantes para que não fosse uma lista enorme, mas sim mais precisa para um maior sucesso dos alunos. Tal como Mesquita e Rosado (2009 p.71) referem “um dos aspetos que os professores devem ter em consideração na otimização da comunicação é o nível de atenção que o aluno apresenta. Quando um aluno é confrontado com

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uma tarefa motora, é estimulado por um conjunto vasto e variado de estímulos. Daqui resulta uma necessidade, a de selecionar apenas a informação mais relevante”.

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