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4. Realização da Prática Profissional

4.1. Conceção

4.1.1. Professor da Atualidade

Bento (2008, pág. 77) diz-nos que “os professores são os mais afortunados e bem-aventurados entre todos aqueles que trabalham. É-lhes dado o privilégio de fazer renascer a vida em cada dia, semeando novas perguntas e respostas, novas metas e horizontes. Constroem edifícios que perdurarão para sempre, porque a sua construção usa o cimento da entrega, da verdade e do amor.” Na realidade, todo esse sentimento transmitido pelo autor foi vivenciado por mim. O EP ofereceu-me a possibilidade de contactar com crianças e jovens, desenvolvendo todo o seu potencial cognitivo e social. Obviamente, tal aspeto faz aditar em nós a responsabilidade de ensinar, de sermos modelos, líderes, guias, alguém em quem os alunos possam confiar. Galvão (2002) diz-nos que o papel de Professor é algo único na escola pois é através dele que se estabelecem as ligações entre a escola, a sociedade, o conhecimento e o aluno.

Devo admitir que, durante o meu desenvolvimento como pessoa, vivi rodeado de professores, quer na escola, quer no seio familiar. De certa forma, todos procuravam ser o exemplo, alguns pela sua maneira de ser e estar, outros pela exigência que colocavam em si mesmos e na procura do sucesso dos seus alunos. Ao longo deste processo de formação aprendi que não existe nenhuma receita que nos diga como ser bom professor, mas sim um conjunto de características e fatores que nos ajudarão a alcançar o tão almejado adjetivo qualificativo “bom”. De acordo com Costa (1995), diversas foram as investigações realizadas com o objetivo de determinar essas caraterísticas. Algumas, das mencionadas inicialmente, estavam relacionadas com a capacidade de “gerar nos alunos os maiores efeitos educativos traduzidos em sucesso nos exames e em medidas sobre os sentimentos, sentido de responsabilidade, interesse pela matéria de ensino, comportamento social etc.” (Costa, 1995, p. 12). Mas bastarão os resultados obtidos para caracterizar um professor como “bom”? Não poderão os resultados obtidos traduzirem-se no resultado de experiências obtidas anteriormente por parte dos alunos?

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Para que isso seja possível, o professor deve ser um individuo reflexivo durante toda a sua prática. Só através de uma reflexão contínua e permanente é que o professor poderá avaliar o seu desempenho, o trabalho desenvolvido durante a aula, permitindo-lhe assim, analisar e comparar a influência que a sua prática terá na aprendizagem e vida dos alunos (Mendes, 2005). Porém, durante o EP fui-me apercebendo que nem todos os professores apresentam esta caraterística. Alguns, talvez por se terem acomodado à sua situação confortável, mantêm apenas o método de debitar matéria e pouco mais, outros, vencidos pelo cansaço e desânimo, resistem à mudança e à criação de novos projetos e ideias. Realmente, como poderá um professor, sozinho, dinamizar o ensino? Segundo Novoa (1992) o diálogo entre professores é uma peça essencial para a consolidação de saberes resultantes da sua prática, tal como a criação de grupos de trabalho, fundamental não só no aspeto da sociabilização do professor como também da afirmação dos seus valores enquanto docente. O mesmo autor defende que a própria organização das escolas dificulta o conhecimento partilhado entre docentes, o que implicará transtornos no processo de reflexão do professor.

De facto, não me chocou ver professores desanimados e pouco interessados com a realidade vivida. Há muito que já tinha sido alertado para a situação, quer por familiares, quer pelos meios de comunicação e professores conhecidos. No entanto, foi com alguma surpresa que constatei a existência de um clima sociável e simpático entre professores, visível principalmente nos período de intervalo, utilizando o seu tempo livre disponível para conversar com outros colegas de forma descontraída e harmoniosa, debatendo assuntos não só de índole pessoal/intimo como também de experiências vivenciadas em contexto escolar, o que desperta, incontestavelmente, a tal reflexão defendida por Mendes (2005), promotora do aperfeiçoamento da ação do docente.

Efetivamente, todas as conceções que eu fixara enquanto aluno, sobre o papel que o professor desempenharia ou teria, estavam erradas. Após a realização deste EP, ficou claro que a sua função não se limita apenas à de debitar matéria, mas sim à de um verdadeiro gestor da sala de aula e da turma, controlando não só as questões relacionadas com a gestão do tempo, como também os conflitos e interações entre os vários alunos e elementos da comunidade (Dopp & Ribeiro, 2014).

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4.1.2. Educação Física aos olhos da sociedade

De acordo com Ferreira (2004), os debates sobre o ensino da EF, não foram mais do que discursos e medidas legislativas sem grande impacto e aplicação prática. De acordo com o autor, só com a implementação do estado novo, é que a disciplina de EF ganhou diferentes contornos, afirmando-se e consolidando-se no Sistema Educativo Português.

Porém, toda esta dimensão que a EF adquiriu desvaneceu-se, sendo vista aos olhos da sociedade pela negativa. Moura (2011) refere que vários dos profissionais com funções escolares veem a EF como uma disciplina com pouca credibilidade. Segundo Tani e Manoel (cit. por Moura, 2011, p.90) os profissionais de Educação caraterizam a EF como “um grande recreio, sem conteúdo e método de ensino sistematizados”. O autor acrescenta mais, “ (...) antes de lecionar, o graduando em EF já se depara com ironias, chacotas e ridicularizações a respeito de seu curso e profissão, como se não passassem de brincadeira de criança, ou uma desculpa para preguiçosos nada dispostos ao trabalho duro das “profissões sérias”.

Toda esta descredibilização em torno da EF está presente nas ações políticas dos últimos anos em Portugal: o retirar da EF da média de final de curso do Ensino Secundário, a diminuição da carga horária da disciplina e o estrangulamento do tempo disponível para a lecionação, torna a EF alvo de desrespeito e desvalorização quer por parte dos outros professores, quer por parte dos alunos, sendo estes últimos, a nossa verdadeira preocupação.

Pelo que experienciei durante o EP, esse desrespeito e falta de crença pela disciplina por parte dos professores, são diminutos ou, pelo menos, pouco visíveis. Na sua maioria, todos demonstraram entender a importância da EF, promovendo e aderindo às iniciativas desenvolvidas pelo GEF. No entanto, em momentos de decisão, a disciplina de EF é, por vezes, empurrada para “segundo plano”, adiando atividades outrora programadas. Por outro lado, apesar de os alunos apreciarem a disciplina, muitos deles continuam a vê-la como um momento de recreação, pensando que, com o mínimo de esforço e empenho, garantem uma nota de qualidade no final do período. Veem-na, sem dúvida, como a aula onde podem fazer tudo, onde estão lá apenas para jogar, com o mínimo de regras e de rigor. No entanto, existem sempre exceções à

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regra - há alunos predispostos para a prática de modalidades, extremamente motivados e empenhados nas diferentes tarefas atribuídas, que não só procuram atingir o máximo de rendimento possível para a obtenção de uma melhor nota, como procuram ultrapassar barreiras e metas impostas a si mesmos.

No que diz respeito à minha vivência durante as aulas lecionadas, quer na turma residente, quer na partilhada, poucos foram os alunos que nas primeiras aulas demonstraram saber estar e agir, bem como rotinas de trabalho. Mas como foi possível a alunos do 9º ano, com EF desde o segundo ciclo, sem regras e limites, sem uma definição clara sobre o que é EF, confundindo o tempo dedicado à disciplina com “momento de recreação”? Qual a razão de tudo isto?! A meu ver, está relacionada com a falta de motivação e interesse sentidas pelos seus antigos professores àquela disciplina. É chocante e, por vezes, deprimente observar professores sem qualquer entusiasmo ou ânimo e garra para ensinar ou lecionar uma disciplina de cariz tão dinâmico e motivador para os alunos, como é a EF.

No decorrer deste EP, foi notória a integração da EF nos projetos desenvolvidos pela escola, desde os aspetos mais organizativos até aos da participação, indo de encontro aos objetivos propostos no projeto educativo. Em relação ao projeto curricular de EF, e de acordo com o programa de EF do 2º e 3º Ciclo, estava direcionado para a incrementação de um estilo de vida saudável e ativo, promovendo não só o hábito e gosto pela prática desportiva, através do desenvolvimento de atividades multidesportivas, como também o desenvolvimento de conhecimentos associados à prática desportiva.

Relativamente às atividades inseridas no plano anual de atividades, o GEF foi responsável pela organização de várias, designadamente: torneio de futsal com o objetivo de observar e captar alunos para o desporto escolar (DE); torneio multiactividades para alunos do 9º ano; duas marchas de montanha, direcionadas para o segundo e terceiro ciclo, respetivamente; e um Torneio de Voleibol para alunos do 7º e 8º ano. Para além disso, o GEF esteve também presente nas atividades relacionadas com os 500 anos do foral de Gondomar e o corta-mato municipal, onde foi responsável pela seleção de alunos com melhores condições físicas para participar neste evento.

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Por fim, e não menos importante, a escola demonstrou sempre uma grande abertura em relação às atividades desenvolvidas pelos estagiários, dentro e fora da escola, contribuindo para o incentivo da atividade “Anda Aprender a Andar de Bicicleta”, “Feira Desportiva” e “Prova de Orientação no Parque da Cidade”.

Assim sendo, e tendo em consideração todas as dificuldades económico-politico-sociais por que o país atravessa, que continuadamente abalam a disciplina de EF, a escola persiste em valorizar e estimar os projetos desenvolvidos pelo GEF, contribuindo, assim, para a adesão e aprovação de todos os alunos da disciplina de EF.