• Nenhum resultado encontrado

Conceções iniciais dos alunos sobre os papéis pedagógicos

Capítulo III – Viver na sala de aula

1. Conceções iniciais dos alunos sobre os papéis pedagógicos

Quem faz o quê na aula de Inglês?

Ao iniciar esta experiência em sala de aula, havia a necessidade de ter informações das perceções dos alunos relativamente às tarefas pedagógicas do professor e dos alunos. Assim, tendo como finalidade principal identificar as conceções iniciais dos alunos sobre os papéis pedagógicos, este primeiro questionário foi aplicado no dia 8 de novembro de 2011 e teve a participação dos 25 alunos da turma-alvo deste estudo.

O quadro9apresenta a distribuição das respostas da secção A do questionário inicial, relativa a quem faz o quê na aula de Inglês. Como se pode verificar, as conceções dos alunos, emergentes da sua experiência anterior de aprendizagem da língua estrangeira, apontam para um ensino centrado no professor, o agente responsável por todas as tarefas pedagógicas enunciadas, à exceção da definição de regras de comportamento, onde 8 alunos se desviam da tendência geral verificada. Com efeito, é um hábito nalgumas escolas os alunos negociarem, conjuntamente com os professores, ou apenas com o Diretor de Turma, as regras de comportamento e as sanções a aplicar face ao seu incumprimento. Daí, 6 alunos terem assinalado esta tarefa como executada pelo professor e pelos alunos, como se pode verificar no quadro.

Relativamente à avaliação da aprendizagem, talvez fosse de esperar um maior número de respostas na coluna “Alunos”, uma vez que os alunos realizam a autoavaliação pelo menos uma vez por período, e ela tornou-se obrigatória. Como interpretam os alunos esta autoavaliação? Que valor lhe atribuem enquanto construtores da aprendizagem? Estas são questões que este resultado nos coloca, importando talvez que os professores explorem a autoavaliação em articulação mais direta com a identificação e resolução de problemas de aprendizagem e com a análise do progresso dos alunos.

Na secção B, respeitante à predisposição dos alunos para participarem nas tarefas pedagógicas da aula de Inglês, as suas respostas revelam algum receio, descrença ou indecisão, como se pode verificar no quadro10. Assim, a maioria dos alunos não gostaria de decidir o que é importante aprender (19), decidir os temas, atividades e materiais das aulas (14) e avaliar as aprendizagens (13). Relativamente à coluna “Talvez”, 10 alunos põem a hipótese de elaborar fichas de avaliação, 9 alunos de decidir os temas, atividades e materiais das aulas, 8 alunos de decidir os trabalhos de casa e 7 alunos de pesquisar as matérias e definir as regras de comportamento. Este último aspeto é aquele onde mais alunos (10) se mostram predispostos a participar.

Predisposição dos alunos para participar em tarefas pedagógicas Sim Talvez Não

Decisão dos objetivos 4 2 19

Decisão dos temas, atividades e materiais 2 9 14

Pesquisa das matérias 6 7 12

Decisão do TPC 9 8 8

Elaboração das fichas de avaliação 3 10 12

Avaliação das aprendizagens 7 5 13

Definição das regras de comportamento 10 7 8

Quadro 10 - Papéis pedagógicos: predisposição para participar nas tarefas pedagógicas

Tarefas pedagógicas na aula de Inglês Quem as realiza?

Prof.ª Alunos Prof.ª e

alunos

Decisão dos objetivos 23 2 0

Decisão dos temas, atividades e materiais 23 0 2

Pesquisa das matérias 22 1 2

Decisão do TPC 25 0 0

Elaboração das fichas de avaliação 23 0 2

Avaliação das aprendizagens 24 0 1

Definição das regras de comportamento 17 2 6

Fazendo o cruzamento dos dados da secção A com os da secção B, verifica-se que os alunos tendem a selecionar as alternativas de acordo com aquilo que estão habituados a fazer, embora alguns manifestem abertura para uma maior participação. O quadro 11 evidencia essa abertura, confrontando o total de respostas “Alunos” + ”Profª e alunos” do quadro 9 com o total de respostas “Sim”+”Talvez” do quadro 10, verificando-se um aumento de respostas entre as perceções de participação na experiência anterior e a predisposição para participar na experiência futura.

Tarefas pedagógicas na aula de Inglês

Perceção de participação: experiência anterior

Predisposição a participar: experiência futura “Alunos”+”Profª e Alunos” “Sim”+”Talvez”

Decisão dos objetivos 2 6

Decisão dos temas, atividades e materiais 2 11

Pesquisa das matérias 3 13

Decisão do TPC 0 17

Elaboração das fichas de avaliação 2 13

Avaliação das aprendizagens 1 12

Definição das regras de comportamento 8 17

Quadro 11 - Papéis pedagógicos: participação na experiência anterior e futura

Existe em muitos alunos o medo e desconfiança do desconhecido e, por isso, apostam no que lhes é mais familiar. O professor tem de os provocar para novas descobertas e aventuras pedagógicas e cognitivas, de modo a desafiá-los a viverem novas experiências.

Na secção C, o desafio era interpretar duas imagens, revelando a sua visão de educação. O quadro 12 sintetiza as respostas obtidas, as quais denotam que os alunos parecem entender o que pode significar uma relação dialógica entre professor e aluno, a colaboração e a negociação entre ambos. No entanto, 6 alunos não comentaram a segunda imagem, talvez por não a associarem aos papéis pedagógicos, como um dos alunos afirma: “Esta imagem não representa o papel do aluno e do professor”. Esta opinião revela a prevalência de uma imagem bancária da educação (Freire, 1994), igualmente presente na resposta “O professor ensina e o aluno aprende”, relativa à primeira imagem. Interessantes são também as respostas “É preciso os alunos quererem aprender” e “É muito arriscado, porque o aluno pode cair”, relativas à segunda imagem, pois remetem para a exigência e os riscos de uma educação dialógica.

Papel pedagógico do professor e do aluno O professor ajuda o aluno (17)

O professor não deixa o aluno ficar para trás O professor salva o aluno.

O professor e o aluno entreajudam-se. O professor ensina e o aluno aprende. O professor é um amigo.

O aluno ajuda o professor. (2 alunos não respondem)

O professor e o aluno falam, conversam (4), concordam (2), chegam a acordo, colaboram, discutem assuntos, têm uma relação, negoceiam, explicam.

O aluno agradece a ajuda, conta as preocupações. O aluno agradece a ajuda do professor.

É preciso os alunos quererem aprender. É muito arriscado, porque o aluno pode cair.

Esta imagem não representa o papel do aluno e do professor. (6 alunos não respondem)

Quadro 12 - Visões de educação: interpretações dos alunos

Aquando da discussão dos resultados deste questionário com os alunos, indaguei-os sobre as suas perceções relativamente aos papéis pedagógicos do professor e dos alunos, pedindo-lhes para dizerem qual a relação entre eles. Esta conversa foi muito interessante, uma vez que os alunos reconheceram o seu papel e o do professor e que os dois se interrelacionam, numa relação de interdependência. Aqui se deixa na figura 7as conclusões desta reflexão, registadas no quadro, bem como um excerto do meu diário relativo à discussão efetuada.

Figura7 -Conclusões da reflexão com os alunos sobre os papéis pedagógicos

Conclusão: O professor e os alunos não têm papéis pedagógicos opostos, mas sim semelhantes.

PAPÉIS PEDAGÓGICOS DO PROFESSOR E DOS ALUNOS

“Como conclusão, pedi-lhes que me dissessem quais eram então os papéis pedagógicos do professor e dos alunos. Eles foram dizendo e eu fui registando no quadro. Então perguntei: “Qual é a diferença?” e indaguei-os, fazendo uma interseção das funções de um e de outro. Neste momento, os alunos calaram-se todos e a sala ficou em silêncio absoluto. Pareceu-me ouvir os seus cérebros a trabalhar e a fazer-se luz nas suas cabeças. Foi impressionante! Diz então a Sofia: ”Pois é! Não são assim tão diferentes. São semelhantes!” (…) Escrevi a conclusão no quadro e pedi-lhes que passassem para o caderno. Não resmungaram!” (Diário Reflexivo, 18/11/2010: 11)

As ideias dos alunos, presentes na figura, oscilam entre uma perspetiva mais atual da atuação do professor – “ajudar” e “ser amigo” – e do aluno – “colaborar” e “querer aprender” – e uma visão mais assimétrica, onde o professor deve “ensinar” e “educar” e o aluno deve “aprender”, “respeitar” e “ouvir”. Relativamente à entrada do diário acima registada, verifica-se, pela primeira vez nesta experiência, que os alunos se aperceberam da simetria e parceria entre os seus papéis pedagógicos e os do professor.

Como limitações do primeiro questionário, apresento as seguintes:

a) a necessidade de uma terceira alternativa de escolha (A Prof.ª e os alunos), na secção A (Em geral, quem faz o quê na disciplina de Inglês?), que os alunos identificaram na altura do preenchimento, o que foi superado pela indicação da resposta em ambas as colunas;

b) a ausência de, pelo menos, um item alusivo especificamente à definição das formas de trabalho (individual, em pares ou grupos), embora elas estejam implícitas no item “temas, atividades e materiais das aulas”

c) alguma dificuldade no entendimento da questão da secção C (interpretação das imagens), embora superada pela explicação fornecida.

Os alunos envolvidos neste projeto são bastante jovens e, devido à sua imaturidade, têm alguma dificuldade em entender determinados conceitos e ter alguma concentração nas tarefas. No entanto, de uma maneira geral, responderam com cuidado e a discussão das suas respostas na aula foi um espaço onde puderam complementar ou expandir as respostas

Como conclusão, podemos afirmar que as representações e perceções dos alunos face aos pepéis pedagógicos se situam numa visão mais tradicional de educação, onde o professor é a figura central da aprendizagem. Esta imagem dos alunos sobre os papéis pedagógicos tem a ver com a sua experiência anterior. No entanto, denotam já uma visão mais atual, considerando o professor um amigo e colaborador e chegam mesmo a consciencializar-se da simetria dos papéis pedagógicos e da sua interdependência.