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4. ANÁLISES E DISCUSSÕES DE PESQUISAS DE ZONEAMENTO

4.3 Conceito de análise geoambiental

O conceito de geoambiental abordado na maioria dos artigos analisados, mais tem haver com o objetivo dos trabalhos do que com a ideia de algum autor ou metodologia específica. Alguns autores associam o termo com a Teoria Geral dos Sistemas, e trabalham com dados de fragilidade e potencialidade da paisagem associando a análise integrada das variáveis28 ao estudo geoambiental. Além disso, há também alguns autores que entendem o termo geoambiental de uma forma particular, mais voltada aos objetivos de suas pesquisas, usando o termo como sinônimo de análises realizadas na natureza somente.

Um exemplo de trabalho que associa a análise geoambiental com a análise sistêmica é o trabalho de De Nardin e Robaina (2010, p.488) onde: “a proposta do zoneamento geoambiental [objetivo do trabalho] procura definir, através de uma abordagem sistêmica, as principais características ambientais indicadas pela fragilidade e potencialidade da paisagem em questão”, que neste trabalho são bacias hidrográficas nos municípios de Manoel Viana e São Francisco de Assis.

Os autores justificam a escolha da análise sistêmica por estabelecer critérios que buscam o agrupamento de variáveis ambientais semelhantes, destacando assim parâmetros ambientais em análise, neste caso geologia, geomorfologia, clima, hidrologia e ecossistemas e ocupação sócio-histórica. Sendo assim, afirmam que para Tricart (1977) o conceito de sistema é o melhor instrumento lógico disponível para estudar problemas do meio ambiente. Além disso, os autores já entendem que esta análise possibilita a caracterização de áreas com aptidão e restrição de uso visando à qualidade do meio ambiente e assim, seus resultados são uma síntese do

28 As variáveis mudam conforme autores. Logo, apesar de utilizarem-se da Teoria Geral dos

Sistemas, não há um consenso sobre qual variável deva ser analisada de fato em estudos geoambientais.

comportamento da paisagem frente a processos superficiais e antrópicos (De Nardin; Robaina, 2010).

Contudo, apesar de defenderem a metodologia usada, os autores não indicam qual seria o conceito de zoneamento geoambiental, nem o porquê da escolha das variáveis utilizadas na analise de fragilidade e suscetibilidade ambiental. Apesar disso, os autores definiram o zoneamento geoambiental dividindo a área em sistemas e unidades que gerou resultou a figura 13 como produto final.

Figura 13. Zoneamento Geoambiental no oeste do Rio Grande do Sul (2010). Fonte: De Nardin; Robaina (2010, p.491).

Outro trabalho que se utiliza da análise sistêmica em sua análise é o “Representação da paisagem através da carta de unidades geoambientais em áreas litorâneas” de Souza e Cunha (2014). Diferentemente do trabalho De Nardin e Robaina, este trabalho utiliza do conceito de Geoecologia da Paisagem considerando-a como um sistema total onde natureza e sociedade integram-se.

Os autores exploram o conceito de paisagem afirmando que foram suas origens que ascenderam os estudos da Teoria Geral dos Sistemas chegando a Abordagem Geossistêmica, esta que, segundo o trabalho, deve contemplar o entendimento de atributos naturais como geologia, relevo e cobertura vegetal para

uma compreensão total dos estudos da paisagem. Além disso, Souza e Cunha (2014, p.106) afirmam que “dentro da abordagem da Geoecologia da Paisagem, a carta de Unidades Geoambientais aparece como um documento cartográfico de síntese que tem como finalidade a análise integrada dos componentes naturais e humanos da paisagem”. Ou seja, a carta geoambiental é apenas um produto final, não uma metodologia de análise ou um conceito específico, uma vez que o autor considera “Geoecologia da Paisagem como uma ciência ambiental” (SOUZA E CUNHA, 2014, p.106) possuindo assim técnicas de análises próprias.

O objetivo deste trabalho é analisar a paisagem através da carta de unidades geoambientais (figura 14), esta é definida como “um produto cartográfico de síntese obtido através de dados físicos pesquisados na fase de inventário, que são integrados na fase de análise” (SOUZA E CUNHA, 2014, p.112). Desta forma, percebe-se que a carta é um produto de análise, também não é uma metodologia ou um conceito próprio de análise.

Figura 14. Carta de Unidades Geoambientais do Município de Praia Grande (SP).

Fonte: Souza e Cunha (2014, p.113).

Assim como o trabalho de De Nardin e Robaina (2010), Souza e Cunha (2014) identificam nas unidades geoambientais suas características físicas predominantes na tentativa de propor políticas públicas ambientais indicadas para cada área, visando a preservação da paisagem litorânea, neste caso.

Apesar da maioria dos trabalhos que utilizam da terminologia geoambiental associá-los com a teoria geral dos sistemas e a abordagem geossistêmica, existem trabalhos que utilizam do termo, mas como uma análise de estudo do ambiente apenas, associando-o a estudos de ordem ambiental, como uma caracterização de áreas. Um exemplo é o trabalho de Almeida e Suguio (2011), intitulado: “Caracterização geoambiental dos manguezais brasileiros e suas potencialidades para o ecoturismo”. Segundo os autores “este trabalho contém informações sobre as distribuições geográficas dos manguezais brasileiros, e seus significados ecológicos, com especial ênfase para sua conservação contra atividades que ameaçam as formas mais sustentáveis de sua utilização” (ALMEIDA E SUGUIO, 2011, p.05).

Eles realizam uma descrição detalhada da área de estudo, enfatizando a formação, a representação, a questão conceitual, os aspectos ecológicos e a distribuição geográfica dos mangues. Além disso, enfatizam a importância socioeconômica destes ecossistemas para a população circunvizinha. O objetivo do trabalho é caracterizar o ecossistema mangue no intuito de elevar suas potencialidades para o patamar de um atrativo turístico específico para o ecoturismo, identificando seu caráter educacional, nota-se que ele não tem como finalidade gerar uma carta ou unidades geoambientais, então a caracterização geoambiental descrita no titulo do trabalho, é uma caracterização dos atributos geologia, fisiografia, vegetação e clima da área em análise.

Por fim, Almeida e Suguio (2011, p.16) concluem que a pesquisa “[buscou] alcançar os objetivos específicos [...] [realizando] um levantamento de dados que resultou na caracterização, em vários aspectos, de suas particularidades geoambientais”. Nota-se então que o termo geoambiental, diferentemente dos outros trabalhos citados, é apenas um sinônimo de ambiental, não um produto ou conceito específico que direciona o trabalho e/ou o diferencia.

Para finalizar as apreciações dos trabalhos que usam do termo geoambiental elucida-se a dissertação apesentada a Universidade de Guarulhos, ao mestrado em Análise Geoambiental intitulada “Análise Geoambiental do delta do assoreamento do reservatório Tanque Grande, Guarulhos, SP” (SILVA, 2009). Este trabalho busca citar indicadores ambientais que mensurem o impacto ambiental ao longo do tempo de ocupação da área de estudo.

Nota-se que nem no objetivo geral, nem mesmo nos específicos o autor justifica o uso do termo geoambiental, uma vez que seus objetivos versam

exclusivamente a respeito do problema ambiental gerado pelo assoreamento dos rios. Seu terceiro objetivo específico é o que mais parece estar ligado com a análise geoambiental da maioria dos demais pesquisadores: “identificar as áreas-fonte prováveis, tento como base o mapa de uso e ocupação do solo da bacia em diferentes épocas, bem como seu meio físico” (SILVA, 2009, p.03).

Este trabalho trás uma fundamentação teórica completa em relação à origem dos lagos no município de Guarulhos/SP aborda também a questão dos reservatórios de abastecimento em bacias periburbanas, trata do assoreamento em uma abordagem mais ampla e depois especificamente nos reservatórios, além de abordar a respeito dos impactos socioeconômicos e ambientais do assoreamento. Percebe-se que se trata de um trabalho de ordem ambiental bem característico, contudo a abordagem geoambiental é deficiente, uma vez que se espera que aborde algum aspecto de fragilidade e potencialidade de áreas, uma vez que a caracterização dos atributos físicos da área de análise é totalmente descritiva, sendo intercalada com dados da legislação do município.

O trabalho finaliza-se com considerações pertinentes a uma dissertação, afirmando o pioneirismo da pesquisa e afirmando a sua importância, visto que o assoreamento de corpos de água tem sido considerado um dos principais problemas ambientais dos municípios brasileiros (SILVA, 2009). O autor afirma a necessidade de medidas preventivas e/ ou corretivas na área de estudo, uma vez que este problema é evidente, mas em nenhum momento em seus resultados ou conclusões usa o termo geoambiental para explicar ou exemplificar alguma avaliação ou implicações de sua pesquisa.

Desta forma, analisando os trabalhos, percebe-se a dificuldade dos autores em saber quando usar o termo geoambiental e ao que ele se refere, tem-se uma maioria focada na abordagem geossistêmica, como também existe aqueles pesquisadores que o associam a trabalhos de ordem ambiental apenas, e vê-se essas duas abordagem em trabalhos recentes. Por isso, percebe-se a necessidade de delimitar uma abordagem de estudo, um conceito final, único para pesquisas que queiram ser geoambientais.

Assim, considerando os trabalhos escolhidos para ponderação, definiu-se a metodologia para trabalhos de zoneamento/análise geoambiental. Assim, consequentemente, define-se como análise geoambiental as realizadas em escala de 1:50.000 que utilizam obrigatoriamente os parâmetros ambientais: geologia,

geomorfologia, solos e uso e ocupação da terra para compor seus resultados e de suas relações geram dados de fragilidade e potencialidade ambiental.