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Geologia do município de São Francisco de Assis/RS

5. ESTUDO DE CASO: ANÁLISE GEOAMBIENTAL PARA ESTABELECER A

5.1 Caracterização da área de estudo

5.1.1 O município de São Francisco de Assis/RS: breve histórico e caracterização

5.1.2.1 Geologia do município de São Francisco de Assis/RS

As rochas que afloram no município estão associadas a uma sequência Vulcano-sedimentar, conhecida como Bacia do Paraná, com uma espessura total máxima em torno dos sete mil metros, coincidindo geograficamente o depocentro estrutural com a região da calha do rio que lhe empresta o nome. A implantação da Bacia do Paraná deu-se na forma de depressões alongadas na direção NE-SW, seguindo as estruturas presentes no grande continente da Gondwana40 (LABOURIAU, 1994).

40 Segundo Labouriau (1994) estima-se que o continente Gondwana (formado por fragmentos da

América do Sul, Antártica, África, Austrália e Índia) se formou durante o período Cambriano (540 a 485 milhões AP), da era Paleozóica.

As rochas mais antigas que afloram no município (Permiano Superior – Triássico) representam o avanço de depósitos continentais na Bacia do Paraná e são marcados por uma espessa sucessão flúvio-eólica que corresponde à Formação Sanga do Cabral (LAVINA, 1988). Essas rochas estão representadas por arenitos que se caracterizam pela presença comum de micas e por apresentar concreções carbonáticas.

A outra sequência fluvial, encontrada no município, corresponde a um substrato identificado por uma sequência de arenitos com grânulos e associações com sequência pelíticas41 de características fluviais. Essa litologia está associada à sequência litoestratigráfica que Wildner et all. (2006)42 determinou como Formação Guará com sedimentação do Período Jurássico.

Em algumas porções a alta coesão dos grãos, devido à intensa concentração de óxido de ferro e, por vezes, sílica, confere as rochas maior resistência, geralmente nas camadas superiores, expondo feições de relevo com encostas íngremes e afloramentos de rochas. Por outro lado, estas rochas apresentam-se muito friáveis e, com alto grau de alteração, quando pouco cimentadas, o que condiciona a formação de intensos processos erosivos (ROBAINA et all, 2013).

Já do final do Jurássico-Início do Cretáceo com avanço do Deserto na Bacia do Paraná os sedimentos estão representados por uma sequência eólica da Formação Botucatú, compostas por arenito avermelhado, finos a médios, bem selecionados com grãos arredondados e com alta esferecidade. Estas rochas apresentam camadas com estratificação cruzada.

No município há também uma porção significativa da Formação Serra Geral. Essa formação se deu devido ao início do processo de separação continental, onde nos intervalos entre os sucessivos pacotes de lavas ocorre, eventualmente, a deposição de sedimentos arenosos, constituindo os arenitos intertrápicos. Tais arenitos, por vezes aparecem silicificados, condicionando um relevo, com cornijas, constituindo-se por uma camada rígida e escarpas abruptas.

41 As rochas clásticas formadas por grão muito finos são em geral designadas por rochas pelíticas,

sendo que nestas rochas as partículas com dimensões de limo e de argila representam pelo menos 50% do material que as compõe. As rochas pelíticas originam-se em ambientes sedimentares aquosos com um nível de energia muito baixo, ou é o resultado do transporte pelos ventos.

42 O Mapa Geológico do Rio Grande do Sul é um produto elaborado pelo Ministério de Minas e

Energia em conjunto com o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) – o Geólogo Wilson Wildner faz parte da equipe executora do projeto de mapeamento.

As rochas vulcânicas da Formação Serra Geral, apresentam composição básica e ácida, originadas a partir dos derrames provenientes do vulcanismo fissural, ocorrido na bacia do Paraná durante a Era Mesozóica. Estas rochas ocorrem arranjadas conforme um padrão decrescente de idades em direção ao topo. As sequências de derrames são identificadas na forma de patamares nas encostas dos vales. No município de São Francisco de Assis ocorrem derrames com espessura variável (até aproximadamente 60m), e afloram em topografias diversas, expondo zonas variadas desses.

As sequências geológicas mais recentes ocorrem nas áreas de acumulação, junto à planície de inundação, na calha dos arroios e ao longo de sua planície de inundação. Estes depósitos aluviais são compostos de areia grossa a fina, e sedimentos síltico argiloso, sendo encontrados em altitudes com até 120m, em relevo de planícies. Os depósitos recentes se formam ao longo dos rios, manifestando a dinâmica hídrica dos canais de escoamento, que erodem e depositam nas margens os sedimentos das rochas presente ao longo das bacias hidrográficas drenadas.

Além desses são identificados terraços fluviais que indicam um entalhamento das drenagens e a exposição de depósitos de canais em cotas topográficas mais elevadas que as atuais. Associado as encostas íngremes ocorrem depósitos de escorregamentos, que são tálus e os colúvios, formados por fragmentos das rochas das encostas como arenitos e vulcânicas de vários tamanhos e formas.

As características das litologias das formações que compõe o município de São Francisco de Assis/RS estão dispostas e caracterizadas no quadro 11:

FORMAÇÃO GEOLÓGICA LITOLOGIAS

Formação Serra Geral

Rochas vulcânicas ácidas: riolitos granofíricos de cor cinza-clara a média e vitrófiros de cor preta ou castanha subordinados, com disjunção tabular dominante. Rochas vulcânicas básicas: basaltos e andesitos toleíticos de cor cinza escuro com intercalações de arenito eólico. Formação Botucatu Arenitos médios a finos, de cor rosa com estratificação cruzada

cuneiforme de grande porte de ambiente eólico.

Formação Guará

Arenito fino a conglomerático, cores esbranquiçadas a avermelhadas, intercalado ocasionalmente com níveis centimétricos de pelitos, contendo pegadas de dinossauros. Ambiente continental desértico, com depósitos fluviais, eólicos e lacustres.

Formação Sanga do Cabral

Arenitos finos micáceos bem consolidados de cor rosa a vermelha na base, passando a amarelo acinzentada e lilás em direção ao topo, com estratificação cruzada acanalada e planar de origem fluvial.

Depósitos Aluviais Recentes Areia grossa a fina, cascalho e sedimento síltico-argiloso, em calhas de rio ou planícies de inundação.

Quadro 11. Descrições das formações litológicas do município de São Francisco de Assis/RS. Fonte: Wildner (2006).

Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

A distribuição das litologias pelo município de São Francisco de Assis está especializada na figura 21 e suas proporções podem ser consultadas na tabela um.

Figura 21. Mapa litológico do município de São Francisco de Assis/RS. Fonte: SRTM (2015) e IBGE (2010).

Org.: LAGEOLAM/UFSM e OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Classes Litológicas Área_km² Porcentagem

Formação Guará 1018,32 40,60%

Formação Vulcânica 894,13 35, 64%

Depósitos Recentes 232,49 9,29%

Formação Sanga do Cabral 280,36 11,17%

Formação Botucatu 83,18 3,31%

Tabela 01. Distribuição das classes de litologia do município de São Francisco de Assis/RS. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

As paisagens que formam o município também evidenciam a diferença das formações geológicas, principalmente pelo uso que se dá a casa uma delas. Desta forma, nas porções mais arenosas são comuns a presença de silvicultura e os

areais, principalmente na formação Guará, também ocorrendo à presença de campos nativos e cultivos em todas as formações arenosas. Já na porção da formação Serra Geral há presença de florestas e matas ciliares, bem como pastagens e cultivos em toda a sua extensão.