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Vegetação e uso da terra no município de São Francisco de Assis/RS

5. ESTUDO DE CASO: ANÁLISE GEOAMBIENTAL PARA ESTABELECER A

5.1 Caracterização da área de estudo

5.1.1 O município de São Francisco de Assis/RS: breve histórico e caracterização

5.1.2.4 Vegetação e uso da terra no município de São Francisco de Assis/RS

Tratando-se de vegetação, no município há predominância da campestre, constituída, em geral, por gramíneas e herbáceas, ocorrendo vegetação arbórea e arbustiva, nas matas de galeria e matas de encosta em determinadas condições de relevo e umidade. A flora original, em parte está afetada pela agricultura, braquiária ou pastoreio excessivo, apresentando-se, todavia, natural ou regenerada em determinados locais (FIGURA 27).

Os campos úmidos estão preservados, enquanto os banhados foram usados em sua maior parte para a cultura de arroz. A vegetação silvática da região, restringe-se, praticamente, à certas encostas dos chapadões de arenito, sobretudo ao norte do Ibicuí, bem como nas faixas que acompanham os principais cursos d’água, tratando-se nos dois casos, de habitats favorecidos por um suprimento mais regular de água.

Figura 27. Paisagem campestre, constituída por vegetação rasteira, ocorrendo vegetação arbórea e arbustiva, nas matas de galeria e matas de encosta, típicas do município São Francisco de Assis/RS. Fonte: Trabalho de campo - 08/2018.

Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

O campo natural em colinas com substrato de arenitos pode estar totalmente coberto pela vegetação ou apresentar focos de arenização, com estrato inferior geralmente baixo, de 10-30cm, com grande diversidade de espécies. Entre as gramíneas predominantes destacam-se nas colinas arenosas: barba-de-bode, capim-limão, e por fim, capim-rabo-de-burro (FIGURA 28). Já associada à vegetação campestre, são registradas também nanofanerófitas43, que incluem subarbustos e arbustos. São exemplos: as guabirovas-do-campo, as pitangas-do-campo, os araçás-do-campo (FIGURA 29).

Uma das plantas mais peculiares das coxilhas arenosas de São Francisco de Assis é o butiazeiro-anão, que se caracteriza por uma palmeira anã e cespitosa44,

43

Plantas anãs, raquíticas, variando entre 0,25 e 5m de altura, ocorrendo preferencialmente em todas as áreas campestres do País (CIMM, 2018).

44 Crescimento cespitoso é um termo botânico que se refere ao modo como algumas plantas crescem

lançando novos brotos ou caules de maneira aglomerada, geralmente formando uma touceira ou espesso tapete (Dicionário Botânico, 2018).

com copa hemisférica, de 70-120cm de altura (FIGURA 30). Estes palmares podem atingir dimensões consideráveis, sendo compostos por centenas de indivíduos.

Figura 28. Barba-de-bode (Aristida flácida), Capim-limão (Elyonurus cadidus) e Capim rabo-de-burro (Schizachyrium microstchyum), respectivamente.

Fontes: O extensionista (2018), Modo de olhar (2018) e; Trabalho de campo - 08/2018, respectivamente.

Figura 29. Guavirovas-do-campo (Campomanesia aurea), pitangas-do-campo (Eugenia arenosa) e, araçás-do-campo (Psidium incanum), respectivamente.

Fontes: Sistema de Informação sobre a biodiversidade brasileira (2018), Como fazer mudas (2018) e, colecionando frutas (2018), respectivamente.

Figura 30. Butiazeiro-anão (Butia lallemantii). Fonte: Trabalho de campo - 08/2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Já nas formações campestres das colinas vulcânicas apresenta-se uma densa vegetação-gramínea herbácea rasteira, com espécies características: a

grama-forquilha, o capim-caninha, além de um elemento fanerofítico, representado pelo espinilho (FIGURA 31).

Nas formações rochosas, que formam as cornijas e morrotes de arenito, em geral, apresentam vegetação preservada e formada por inúmeras microfanerófitas xerófilas e as cactáceas. A espécie mais característica é a criúva (FIGURA 32).

Figura 31. Grama-forquilha (Paspalum notatum), Capim-caninha (Andropogon lateralis) e, Espinilho

(Vachelia caven), respectivamente.

Fonte: Governo da Austrália (2018), Pinterest (2018) e Trabalho de campo - 08/2018.

Figura 32. Criúva (Agarista eucalyptoides). Fonte: Trabalho de campo - 08/2018.

Quando os morrotes encontram-se próximos as drenagens, espécies acabam invadindo-os como o coqueiro-gerivá (Syagrus romanzoffiana). No topo dos morrotes a vegetação costuma ser escassa e apresentar espécies de menor porte. Entre as várias espécies encontradas são comuns as Leguminosas (Mimosa cruenta), Amarantáceas (Froelichia tomentosa), Asclepiadáceas (Oxypetalum campestre), Asteráceas (Achyrocline marchiorii). Nas rochas mais preservadas

merece destaque a ocorrência de Baccharis pampeana, arbusto de um a três metros de altura, exclusivo dessas formações.

A vegetação dos morrotes de formação vulcânica apresentam semelhanças na composição florística com os paredões das escarpas em alguns casos encontram-se associados à rede de drenagem. A vegetação presente nas escarpas do Rebordo configura uma nítida faixa longitudinal identificada como “Paredão” que divide os compartimentos do Planalto e da Depressão. Os paredões representam zonas com uma tipologia de vegetação de maior porte, devido às condições de sombreamento e umidade. Assim, a mata de encosta pode atingir dimensões consideráveis,

Ao norte do município associado a escarpa do Rebordo ocorre de forma extensa e homogênea com uma florística mais diversificada devido às contribuições da Floresta Estacional Decidual. Nas escarpas se desenvolvem diversas espécies, entre as quais se destaca a pitangueira, o gravatá, o ipê-roxo, entre outros.

O campo úmido apresenta estrato inferior desprovido de solo exposto, sendo composto por espécies de pequeno porte (com até 50cm), principalmente de gramíneas. A floresta de galeria ocorre associada com as drenagens dos principais arroios e do Rio Ibicuí, formando uma faixa longitudinal contínua que em alguns pontos é interrompida por lavouras que chegam próximas aos canais.

Em relação ao uso da terra, o termo “terra”, segunda a FAO (1976) apud Moreira (2009, p.48) “compreende o ambiente físico, clima, relevo, solo, vegetação e hidrologia, na medida em que estes influenciam no potencial de uso da terra, incluindo-se a isso, os resultados da atividade humana do passado e do presente, o que caracteriza o modo de utilização da terra”.

O conhecimento sobre o uso da terra ganha importância na necessidade de garantir credibilidade diante das questões ambientais, sociais e econômicas. Uma vez que entender o uso da terra garante ao pesquisador a compreensão das vocações desse espaço, bem como da alocação nele de produtos adequados ao seu uso.

As atividades antrópicas desenvolvem-se na superfície da terra apresentando assim grandes impactos ao solo. O uso e a ocupação da terra dependem da utilização adequada de técnicas de manejo que garantam a sustentabilidade do sistema.

O manejo inadequado e o uso incorreto das terras sem o conhecimento e planejamento ambiental dos recursos naturais podem ocasionar perdas significativas e irreversíveis ao meio ambiente. O desconhecimento e o uso de técnicas incorretas de manejo da terra deixam o meio ambiente comprometido no que se refere à sua utilização; a ação humana acaba afetando sua diversidade, a cobertura vegetal e, muitas vezes, a sua recuperação se torna inviável.

O levantamento e o conhecimento do uso da terra são uma tarefa indispensável para os estudos relacionados às análises físico-naturais, pois visam a contribuir para a busca de soluções a fim de amenizar os impactos e propor soluções para melhoramentos de áreas improdutivas e/ou mal planejadas. Hoje os principais usos do solo do município são: solo exposto (areais), campos, agricultura, silvicultura, vegetação ciliar e área urbana (FIGURA 33).

Figura 33. Mapa de uso da terra do município de São Francisco de Assis/RS. Fonte: SRTM (2015) e IBGE (2010).

Org.: LAGEOLAM/UFSM e; OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

A proporção deste uso pode ser analisada na tabela quatro, onde se pode notar com clareza a predominância de áreas de campo nativo e agricultura, uma vez que as declividades predominantes do município são de até cinco por cento o que

permite a maquinização agrícola. A predominância de campos nativos muito tem haver com os solos da região que são predominantemente arenosos, não permitindo implantação de certos cultivos.

Classes Área/km² Porcentagem

Campo 1168,01 46,59

Agricultura 910,46 36,32

Florestas e matas ciliares 337,85 13,48

Silvicultura 55,98 2,23

Solo exposto 19,11 0,76

Corpos hídricos 8,75 0,35

Área urbana 6,89 0,27

Tabela 04. Proporção dos usos da terra do município de São Francisco de Assis/RS – 2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Nos campos, a vegetação nativa rasteira é predominante. Também há presença de bovinos em algumas porções do município indicando que a pecuária também está presente como atividade econômica (FIGURA 34).

Figura 34. Campo nativo e criação de gado: vegetação e criação típica do município São Francisco de Assis/RS.

Fonte: Trabalho de campo - 08/2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Em relação a agricultura, durante o trabalho de campo que ocorreu dia 27 de agosto de 2018, o cultivo implantado era, em algumas porções ainda, o de inverno (FIGURA 35-a) e em outras o solo já estava exposto (FIGURA 35-b) aguardando a implantação do cultivo de verão, são mis comuns o arroz e a soja.

As florestas nativas e as matas ciliares estão distribuídas em toda a porção municipal. As florestas (FIGURA 36-a) são mais evidentes em altas declividades,

nos topos e nas vertentes dos morros que estão em sua maioria e na porção centro- leste do município. Já as matas ciliares estão, junto aos rios, como orienta a legislação brasileira em função do Código Florestal (FIGURA 36-b).

Figura 35. a) Lavoura de trigo, cultivo de inverno; b) solo exposto, preparado para implantação da lavoura de verão do município São Francisco de Assis/RS.

Fonte: Trabalho de campo - 08/2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Figura 36. a) Floresta nativa no topo e vertente dos morros; b) mata ciliar nas margens do arroio Miracatú no município São Francisco de Assis/RS.

Fonte: Trabalho de campo - 08/2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

A silvicultura é bem marcante na paisagem do município, apesar de não possuir uma porção significativa da área municipal. Este destaque se dá, principalmente, em relação à diferença visual causada pelas porções vegetadas de eucalipto, em contraste com os campos nativos planos (FIGURA 37-a). Outro olhar impactante, negativamente infelizmente, são das toras de eucalipto cortadas e aglomeradas para o transporte (FIGURA 37-b), deixando, o solo exposto.

Hoje quase 56Km² do município são de cultivo de eucaliptos, distribuído em todas as porções do município, tornando estas paisagens bem comuns.

a. b.

Figura 37. a) Silvicultura no sudoeste no município de São Francisco de Assis/RS; b) corte raso das árvores de eucalipto expondo o solo no município São Francisco de Assis/RS.

Fonte: Trabalho de campo - 08/2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

A porção de solo exposto relaciona-se aos areais presentes no município (FIGURA 38). Estes, segundo o Atlas da Arenização: sudoeste do Rio Grande do Sul, são resultados da dinâmica hídrica e eólica, resultando inicialmente de processos hídricos. A porção de solo exposto do município representa 0,76% de sua área total. Estão associados a uma litologia propícia a sua formação, geomorfologia associada a baixas altitudes e declividades resultando solos frágeis.

Figura 38. Areal localizado na Formação Guará, à norte da área urbana municipal. Fonte: Trabalho de campo - 08/2018.

Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Os corpos hídricos estão distribuídos em todo o município, representando 0,35% do total municipal. Eles representam os rios e afluentes (FIGURA 39-a) que percorrem o município, não sendo comum a presença de grandes açudes. Os presentes, muito provavelmente, são destinados a dessedentação animal (FIGURA 39-b), ou represas de água.

Figura 39. a) afluente do arroio Miracatú no município São Francisco de Assis/RS; b) açude localizado na porção nordeste do município, provavelmente destinado a dessedentação animal. Fonte: Trabalho de campo - 08/2018.

Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Por fim, a área urbana ocupa a menor porção municipal, apenas 0,27% (FIGURA 40-a), e nela que se desenvolvem as atividades ligadas ao setor terciário do município (FIGURA 40-b).

Figura 40. a) destaque da área urbana do município São Francisco de Assis/RS; b) hospital Santo Antônio, prestador de serviço do município.

Fonte: Trabalho de campo - 08/2018. Org.: OLIVEIRA, Mariana Xavier de (2018).

Caracterizado o município, a aplicação da metodologia geoambiental se explica por suas características particulares geograficamente. Desta forma, entende- se a importância de um instrumento de gestão válido que auxilie na tomada de decisão de uma área com características distintas e individuais.

5.2 Aplicação da metodologia Geoambiental automatizada no município