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Conceito de Consciência Linguística

3. Da aquisição da linguagem na criança à consciência linguística (lexical)

3.3. Conceito de Consciência Linguística

A Consciência Linguística (CL) segundo Duarte (2008, p.18): "é um estádio intermédio entre o conhecimento explícito, caracterizado por alguma capacidade de distanciamento, reflexão e sistematização (…)", a CL refere-se à competência do falante de refletir sobre a sua própria Língua e verbalizar a sua reflexão.

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Pressupõe-se então que a CL é uma atitude do falante em relação à sua Língua ou a uma outra Língua ou VL, mas para tal o indivíduo deve conhecê-la e dominá-la: "a capacidade que o aprendente tem de reflectir sobre a Língua, materna ou estrangeira, de a utilizar ou de agir sobre essa Língua, tendo em conta o conhecimento sobre as suas regras de funcionamento” (Ançã & Alegre, 2003, p. 34).

O termo CL surgiu associado ao Movimento Language Awareness (LA), no Reino Unido. Na década de 80, as escolas primárias inglesas não conseguiam gerir a diversidade no sistema de ensino, pois o número de alunos com LM não inglesa era cada vez maior, e, como esses alunos não dominavam a norma padrão do inglês, eram alvo de preconceito linguístico, o que originou uma crise no ensino. Como tentativa de solucionar a situação surge o movimento LA, difundido por E.Hawkins (1985). Este movimento era constituído por um grupo de professores que tinha o objetivo de combater a iliteracia escolar, fazendo uso da CL no currículo escolar do ensino primário e do ensino secundário. Hawkins (1996) defende que a integração da CL nos currículos pretende desafiar os alunos a questionarem- se sobre a sua linguagem, sobre a diversidade linguística, sobre o preconceito e o racismo. Contudo, a definição de CL proposta por Hawkins era considerada vaga e como forma de explicitar este conceito, surgiram várias derivações ao longo dos anos 80, das quais salientamos as de James & Garrett (1991).

Para James & Garrett (1991), a LA visa aproximar o aluno à Língua e promover a reflexão, focalizar a atenção do aluno para a origem e características próprias da sua Língua, despertando o aluno para os seus múltiplos domínios.

Como forma de percecionar a abrangência da LA, James & Garrett (1991) apresentam cinco domínios: o domínio afetivo; o domínio social; o domínio do poder; o domínio cognitivo; o domínio de performance.

O domínio afetivo encontra-se relacionado com a participação dos alunos na aprendizagem. A Língua é abordada a partir da formação de atitudes, da atenção dos alunos, da sensibilização, da curiosidade e do interesse pelas Línguas.

O domínio social prevê o desenvolvimento de relações entre grupos étnicos, consciencializando os alunos para a tolerância linguística, o plurilinguismo, o pluriculturalismo, a partir do conhecimento da origem e das características da sua própria Língua.

49 O domínio do poder aborda a manipulação de poder através da Língua, pois o domínio da Língua e da norma padrão é para os indivíduos uma forma de auto promoção e valorização pessoal.

O domínio cognitivo implica a reflexão sobre a Língua e o desenvolvimento da consciência padrão. Aborda as relações entre Língua, pensamento e consciência metalinguística.

O domínio da performance está relacionado com a influência da CL sobre um melhor domínio na utilização da Língua.

Da mesma forma, mas por outras vias (Psicolinguística), Gombert (1990) define “competência metalinguística” e explicita-a como a capacidade de adotar uma atitude reflexiva sobre os objetos linguísticos e as suas utilizações. Para este autor é possível subdividir esta competência em cinco componentes: a competência metafonológica, que corresponde à capacidade de identificar e manipular componentes fonológicos das unidades linguísticas; a competência metassintática que se relaciona com a capacidade do individuo raciocinar acerca de aspetos da Língua e controlar o uso das regras gramaticais; a competência metasemântica refere-se à capacidade de o individuo reconhecer o sistema da Língua como um código convencional e arbitrário; a competência metalexical que se interliga à capacidade do sujeito isolar uma palavra e identificá-la como sendo elemento do léxico; a competência metapragmática que se relaciona com a capacidade de representar, organizar e regular o discurso; e a competência metatextual que corresponde à compreensão e produção de enunciados em unidades mais extensas.

Um outro movimento com base no movimento britânico LA surge na “área Francófona Europeia” que utiliza conceitos próximos da LA: éveil aux langues, prise de conscience langagière, consciência linguística, competência metalinguística. Segundo Ançã (2003) estes termos demonstram duas perspetivas sobre a Língua: uma primeira perspetiva que corresponde à sensibilização às Línguas e às culturas e uma segunda perspetiva que se relaciona com a consciencialização, ou seja, com o desenvolvimento da consciência/competência metalinguística e das capacidades de reflexão e comparação.

Segundo Alegre (2000) estes diversos conceitos remetem para a existência de vários níveis de consciencialização e para a existência de um conhecimento implícito e explícito. Esta autora acrescenta, ainda, que o grau de consciência varia segundo alguns fatores, como por exemplo, a idade e o nível escolar. As diferenças entre o conhecimento

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implícito e conhecimento explícito estão relacionadas com as teorias da aquisição e desenvolvimento da linguagem de Krashen (1987), anteriormente apresentadas no ponto 3.2. Aquisição da Linguagem e Aprendizagem da Língua .

Ao nível da CL, “o conhecimento pode variar entre o implícito – como o aprendente é capaz de reconhecer que um enunciado está ou não de acordo com a regra -, o mais ou menos explícito – quando o aprendente consegue descrever a regra com as próprias palavras – e o explícito – quando é capaz de a explicitar em termos metalinguísticos” (Alegre, 2001, p.122). Esta citação permite-nos utilizar dois conceitos propostos por Antoine Culioli, e apropriados por Gombert (1990, p. 22): “epilinguístico” e “metalinguístico”. O termo epilinguístico utiliza-se para descrever atividades linguísticas inconscientes, ou seja, relacionam-se com o conhecimento implícito. O termo metalinguístico relacionam-se com a capacidade de reflexão consciente, ou seja, do conhecimento explícito.