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O CONCEITO DE MINISTÉRIO PÚBLICO: DO SURGIMENTO AO RECONHECIMENTO CONSTITUCIONAL

3 O MINISTÉRIO PÚBLICO COMO ORGANIZAÇÃO APRENDENTE: A TRANSVERSALIDADE DA FORMAÇÃO CONTINUADA

3.1 O CONCEITO DE MINISTÉRIO PÚBLICO: DO SURGIMENTO AO RECONHECIMENTO CONSTITUCIONAL

A História não define com exatidão o surgimento da Instituição Ministério Público. Há relatos esparsos, indagações distantes e correlações de conceitos que remontam às funções institucionais do Ministério Público.

Na Grécia clássica, havia um tipo de servidor público, chamado de desmodetas, cuja função principal era a de zelar pela aplicação das leis. Já na Roma Antiga, tal servidor era denominado de “defensor do erário” e sua principal função era defender o tesouro do Estado romano.

Segundo Ferraz (1997), é no Direito Francês que se observa uma origem mais próxima da instituição do Ministério Público, mais precisamente no Código Napoleônico, que estatuiu as chamadas “pessoas do rei”, responsáveis pela defesa exclusiva dos interessas da Coroa Francesa, além de prestarem o mesmo juramento formal dos juízes e gozarem e iguais prerrogativas.

Ferraz (1999) afirma que, ao longo da História constitucional brasileira, o Ministério Público foi abordado de diversas formas. As Constituições Brasileiras foram as seguintes:

 Constituição de 1824;  Constituição de 1891;  Constituição de 1934;  Constituição de 1937;  Constituição de 1946;  Constituição de 1967;  Constituição de 1988.

A História apresenta que o Ministério Público Brasileiro tem suas raízes no Direito português, notadamente nas Ordenações Afonsinas, Manuelinas e Filipinas. No arcabouço de tais instrumentos normativos, já se vislumbrava a figura do Promotor de Justiça e suas obrigações, exigindo-se que fosse “letrado” e pudesse bem defender causas e razões.

A Constituição Federal de 1824 foi promulgada em 25 de março de 1824, dedicando o artigo 48 ao Ministério Público, conferindo ao Promotor de Justiça a tarefa de ser “fiscal da lei”, com destaque para o viés de autonomia e independência da Instituição, conferidas pelo Decreto nº 1.030.

A Carta Política de 1891 manteve as mesmas linhas gerais do Ministério Público, sem alterações de destaque. Já em 1934, o novo ordenamento constitucional trouxe algumas

inovações para o Ministério Público: os quadros de membros do Ministério Público, no âmbito federal, deveriam ser contemplados por meio de concurso público; leis específicas de cada Estado organizariam os respectivos Ministérios Públicos estaduais. As alterações se revestiram de modernidade e avanço para a época.

A Carta Magna de 1937 involuiu sob diversos aspectos, destacadamente pelo processo ditatorial vivenciado pelo Brasil. O Ministério Público teve seu papel reduzido e suas funções diminuídas, responsável basicamente por ser ouvido em casos de pagamentos de dívida pela Fazenda Pública, sem haver menção a qualquer capítulo específico destinado à Instituição.

Em 1946, o Ministério Público retorna ao texto constitucional com prerrogativas e poderes, mas sem autonomia para a defesa da sociedade, o que se repetiu na Constituição Federal de 1967, porém passou a ser atrelado e subordinado ao Poder Judiciário. E sem adentrar em uma discussão jurídica que ora entende que em 1969 houve novo ordenamento constitucional ora outra corrente se posiciona apenas por alterações no texto anterior, fato é que em 1969 o Ministério Público continuou a ser subordinado, desta feita ao Poder Executivo.

Para Ferraz (1999), o maior avanço obtido pelo Ministério Público Brasileiro foi com a Constituição Federal de 1988, mais conhecida como Constituição Cidadã, que em seu primeiro artigo já afirma que o Brasil é um Estado Democrático de Direito. Tal ordenamento constitucional caracterizou a estrutura do Ministério Público por sua independência e autonomia em relação aos demais poderes e instituições.

A partir de 1988, podem ser elencados alguns pontos de modernização da Instituição Ministério Público:

 independência e autonomia em relação a outras instituições e Poderes;

 garantias e prerrogativas conferidas aos membros do Ministério Público que lhes permitem exercer com maior afinco, eficácia e amplitude as finalidades essenciais da organização;

 paridade com os membros do Poder Judiciário;  instituição permanente e essencial à justiça;

 proteção aos direitos indisponíveis (aqueles definidos como irrenunciáveis) das pessoas e dos direitos coletivos, como o direito à vida, à saúde, à educação, além da defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais;

 visão institucional de garantia e defesa dos interesses da sociedade, mas também dos cidadãos, mesmo em situações contrárias ao poder estatal, notadamente quando se configurarem abusos da Administração Pública;

A organização Ministério Público, é definida explicitamente pela Constituição Federal de 1988, afirmando, em seu artigo 127, que o “Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.”

Para regulamentar a Instituição, em âmbito federal e nacional, registre-se a edição da Lei Federal nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993, que dispõe sobre normas gerais para a organização do Ministério Público nos Estados, a Lei Complementar nº 75, de 20 de maio de 1993, que versa acerca da atuação do Ministério Público em âmbito Federal, apresentando suas atribuições e a forma como se organiza, e, no caso da Paraíba, a Lei Complementar nº 97, de 22 de dezembro de 2010, em que se esmiúça as normas gerais de atuação do Ministério Público Paraibano.

A atual Carta Constitucional prevê, em seu artigo 127, I, três princípios institucionais do Ministério Público: a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. Nesse aspecto, a organização deve ser vista como uma única instituição, com unidade dentro de cada Órgão. Em outras palavras, o Ministério Público é uno, ou seja, se algum membro atuar em determinada ação judicial ou extrajudicial, sendo substituído por outro, não se fala em solução de continuidade, uma vez que a atuação é institucional, e não pessoal. Em decorrência lógica desse princípio uno, a indivisibilidade da organização impede que a organização seja fragmentada pela atuação individual de cada membro que a compõe, isso porque quem pratica atos, embora próprio da atividade humana, no universo jurídico ministerial, é a organização Ministério Público. E, como forma de garantir a atuação do Ministério Público, por meio dos Promotores e Procuradores, foi garantido a estes a independência funcional, para que não se submetessem hierarquicamente às vontades alheias da própria Instituição ou externas de outros agentes, no atendimento a interesses pessoais ou de outras organizações.

Esquematicamente, a Constituição assim divide o Ministério Público, nos termos do citado artigo 127:

FIGURA 3: Divisão do Ministério Público na Constituição Federal de 1988.

FONTE: adaptado de Lenza (2012).

A Constituição Federal de 1988 assim organizou o Ministério Público, de forma genérica, deixando para o legislador infraconstitucional a função de sistematizar os ramos de atuação da Instituição, dividindo-a a partir de matérias de competência, o que sugere atribuição federal ou estadual, a depender, inclusive, da natureza temática do caso concreto.

Após a Carta Magna de 1988, o Ministério Público passa a exercer papel institucional, até mesmo em posição aos agentes próprios do Estado, diferentemente do que ocorria nos ordenamentos constitucionais anteriores. São atribuições que o colocam diretamente na atividade de controle, inclusive na fiscalização dos atos administrativos praticados pelos demais Poderes e instituições públicas, com destaque para a promoção de ações diretas de inconstitucionalidade, a fiscalização do patrimônio público e dos serviços de relevância pública, além do combate aos crimes praticados por agentes públicos contra a Administração Pública.

3.2 O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO CONTEXTO DAS DEMANDAS SOCIAIS: