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CAPÍTULO I A ESCOLA COMO ORGANIZAÇÃO

1. Introdução

1.1. Conceito de organização

“O nosso mundo tornou-se, para o melhor e para o pior, uma sociedade feita de organizações. Nascemos no quadro de organizações e são ainda organizações que zelam pela nossa educação de maneira a que, mais tarde, possamos trabalhar em organizações” (Mintzberg, 1995).

A nossa sociedade é uma sociedade organizacional. Nascemos em organizações, somos educados em organizações e a maioria passa grande parte da sua vida em organizações. Despendemos uma boa parte do nosso tempo a trabalhar em organizações (Etzioni, 1967, p. 7).

A sociedade actual é uma sociedade organizacional que se caracteriza por um número elevado de diversas e complexas instituições, tais como: empresas, escolas, prisões, hospitais, igrejas, partidos. Assumindo as organizações um papel liderante no mundo contemporâneo, importa, desde logo,definir o que se entende por “Organização”. De acordo com Worsley (1977, p. 303), “as organizações são corpos que persistem no tempo e que são estruturados especialmente para atingir fins específicos”. Uma organização é uma colectividade com uma fronteira relativamente identificável, com regulamentos, escalas de autoridade, sistemas de comunicação.

As organizações integram uma dimensão formal e uma dimensão informal, isto é, a organização formal representa a visão racional da organização, a dimensão informal constitui o lado afectivo e social (Alaíz et al, 2003, p. 25). Etzioni (1967, cit. in Costa, 1996, p. 3) salienta que “as organizações são unidades sociais (ou agrupamentos humanos) intencionalmente construídas e reconstruídas, a fim de atingir objectivos específicos”. Para Santos Guerra (2003, p. 13),

(…) as organizações são constituídas por duas componentes interligadas: a nomotética ou institucional e a ideográfica ou pessoal. “A dimensão nomotética é formal, sistematizada, relativamente estável, quase sempre explícita, previsível e pode ser conceptualizada, independentemente das pessoas (…) A dimensão ideográfica refere-se às pessoas. Representa o imprevisível, o instável, o informal.

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Uma organização é uma entidade social, construída premeditadamente com a intenção de concretizar determinados objectivos e metas, a qual congrega sujeitos e recursos que se completam nas suas valências, “integra racionalidades diversas e é transitória e instrumental por natureza”(Paisley, 1981, cit. in Alves, 1998, p. 10).

O vocábulo organização é plurisignificativo. Entende-se como ”o conjunto de pessoas agrupadas à volta de objectivos comuns, cujo cumprimento implica, de algum modo, algumas limitações no comportamento individual”. Podendo ainda induzir-nos no sentido da gestão, na forma “como o gestor inter-relaciona as pessoas e os outros recursos...com vista à obtenção dos resultados desejados” (Teixeira, 1995, p. 77). Salienta-se, pois, o correlato entre pessoas, recursos disponíveis e objectivos ou metas delineados pela entidade.

O desenvolvimento do conceituado remonta à distinção esboçada por Chiavenato (1993), entre organização, enquanto unidade social, e organização enquanto função administrativa. Nas últimas décadas, a noção de organização complexificou-se.

De facto, esta deixa de designar um objecto social particular, de algum modo sui generis. Doravante, ela pode e deve ser englobada numa perspectiva analítica mais vasta, que se interessa pela organização, não como objecto social singular, mas como processo de construção de uma ordem local, portanto como modalidade particular, mas central e omnipresente da construção da acção colectiva dos homens (Friedberg, 1993, pp. 29-30).

Hall (1984, cit. in Teixeira 1995, p. 5) admite que “as organizações são entidades complexas que contêm uma série de elementos e são afectadas por muitos factores diversificados”.

As organizações procuram conhecer a sua própria realidade e atingir a excelência, ser credíveis e de qualidade. Neste campo, situa-se a escola, que procura projectar-se enquanto organização, trilhar caminhos em busca da eficácia, melhoria e ir mais além.

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1.1.2 A escola como organização

A partir dos anos oitenta, a investigação portuguesa adoptou a escola como objecto de estudo das ciências da educação. A escola foi valorizada como organização, o que implicou o investimento dos estabelecimentos de ensino como lugares dotados de autonomia, como espaços de formação e de auto-formação participada, como centros de investigação e de experimentação, constituindo-se em núcleos de interacção social e de intervenção comunitária (Nóvoa, 1992, p. 19).

Entre as múltiplas organizações existentes, encontramos a escola, uma organização social de larga tradição na história da humanidade, que só recentemente é reconhecida como tal. Enquanto instituição social, a escola assumiu ao longo da sua existência diferentes concretizações, desde a sua realização inicial como instituição familiar e como instituição militar, passando pelo desenvolvimento de uma escola enquanto instituição religiosa para, mais tarde se transformar em instituição estatal.

Segundo Formosinho (1986, p. 6),

A escola é uma organização específica formal socialmente construída por uma multiplicidade de actores com formações, percursos e perspectivas educativas diferentes e marcada pelos traços de sistematicidade, sequencialidade, contacto pessoal directo e prolongado, certificando os saberes que proporciona através de um título ou grau.

A escola é uma organização complexa, onde se desenvolvem múltiplos processos e se inter-relacionam professores, alunos, assistentes operacionais, pais/encarregados de educação e outros membros da comunidade em geral, contribuindo todos para uma mesma finalidade, ainda que nem todos a representem.

“Dentro da escola, os indivíduos mantêm as suas posições, as suas atitudes, as suas motivações, as suas formas de ser (…) Os indivíduos, apesar dos papéis que têm que desempenhar, continuam a ser eles mesmos” Santos Guerra (2002, p. 77).

Na verdade, somos confrontados com uma variedade de definições acerca das organizações em geral, identificamos características que podemos adaptar para o estudo das escolas, pois como refere Lima (1992, p. 42), “é difícil encontrar uma definição que

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não seja aplicável à escola”. Actualmente, a escola é vista numa perspectiva organizacional, ela é um empreendimento humano cujo sucesso depende dos esforços de coordenação dos seus membros.

Nóvoa (1995, p. 15) salienta que as organizações escolares “adquirem uma dimensão própria, enquanto espaço organizacional onde se tomam importantes decisões educativas, curriculares e pedagógicas”. Segundo este autor, assiste-se neste domínio a uma considerável renovação científica e a um incremento nas mudanças das políticas educativas que, contudo, são frequentemente encaradas com resistência, pelos receios de teor humanista e de recusa da importação das teorias e dos modelos de análise empresarial para o contexto escolar.

É neste sentido quer se afirma que a escola “enquanto organização constitui seguramente, uma das áreas de reflexão do pensamento educacional que se tornou mais visível nos últimos tempos” (Costa, 1996, p. 7). É, aliás, aqui que se operacionaliza a educação e a formação, formalmente organizadas num espaço específico e muito peculiar, que a cultura ocidental denomina de escola, representando uma instituição com relevo na história da humanidade.

Considerada como uma instituição dotada de características muito peculiares, segundo Azevedo (2003), a escola é uma organização configurada pela Administração Central, de cujas orientações depende directamente, sobre a qual recaem expectativas sociais cada vez mais grandiosas face às capacidades limitadas e incontornáveis que a constrangem, tornam ambígua, enredada num emaranhado legal atópico e inconsequente, baseada na frequência obrigatória dos seus clientes, cujo funcionamento prossegue, impassível, alheio aos resultados auferidos, menosprezando quer os valores quer as incompetências internas e dotada de tendências uniformizadoras e normalizadoras.

Também na senda desta perspectiva, considera Santos Guerra (2002, p. 18) que a organização escolar se preocupa “com a regulação do espaço, com a distribuição do orçamento, com o controlo dos seus membros, com a estrutura burocrática, com a ordenação do currículo, com os títulos que proporciona mas não com os efeitos que o efeito organizativo produz nos estudantes. Não se preocupa com o que se passa,

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enquanto as coisas organizadas passam.” O mesmo autor acrescenta que a escola não está preparada para descobrir, reconhecer e corrigir publicamente os seus erros.

Ora, “diante da incerteza, da mudança e da instabilidade que hoje se vive, as organizações (e a escola é uma organização) precisam rapidamente de se repensar, reajustar-se, recalibrar-se, para actuar em situação” (Alarcão, 2001, p. 26). A escola tem processos de tomada de decisão e tem recursos para pôr em prática essas decisões, como pessoal da organização, maquinarias, equipamento (Likert, 1979, p. 211).

Costa (1998), um investigador de referência no que respeita à conceptualização da escola como organização, utilizando a terminologia metafórica, faz uma análise organizacional da escola através de seis imagens: a escola como empresa; a escola como burocracia; a escola como democracia; a escola como arena política; a escola como anarquia; a escola como cultura.