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Conceito e Natureza Jurídica da Reserva Legal

V. A NATUREZA JURÍDICA DA RESERVA LEGAL E SEU CONCEITO

2. Conceito e Natureza Jurídica da Reserva Legal

A Reserva Legal deverá ser utilizada como ferramenta efetivamente capaz de disciplinar e viabilizar uma intervenção no caminho da sustentabilidade. Para tanto, é imprescindível: o conhecimento dos processos de planejamento para a sua implantação, suas finalidades ou objetivos, normas a que se sujeita, suas vantagens e benefícios, de forma a auxiliar nas informações necessárias para a sua criação.

Antes de caracterizar o instituto da Reserva Legal, é importante também diferenciá-la de outro espaço especialmente protegido, a Área de Preservação Permanente.

As áreas de preservação permanente incluem-se no conceito de espaços especialmente protegidos, nos termos do art. 225, § 2º, inciso III da Constituição Federal.

Trata-se de área protegida contra a supressão de vegetação, coberta ou não por vegetação nativa, com situação geográfica ou finalidade estabelecidas em lei ou ato administrativo, e com funções sócio-ambientais diversas (relacionadas à paisagem e a seu suporte abiótico, à biodiversidade e ao bem-estar das populações humanas).

Assim, a vegetação localizada ao longo os cursos d’água, nas encostas, nas restingas, ao redor de lagos e lagoas, ao longo das rodovias, entre outras é considerada área de preservação permanente.

O Código Florestal determina alguns dos acidentes geográficos sobre os quais se localizam florestas destinadas à áreas de preservação permanente. São eles:

• margens de cursos d’água, lagos, lagoas e reservatórios de água; • áreas de nascentes, brejos e pântanos;

• topos (terço superior) de morros, montanhas, etc.; • locais muito inclinados (ângulo ≥ 45º);

• bordas de chapadas e tabuleiros (Brasil Central, por exemplo.); • locais com altitudes > 1.800 m

A Área de Preservação Permanente pode ser confundida com a Reserva Legal, trata-se de uma limitação ao uso da propriedade diretamente relacionada com suas características, e além disso, ela pode ser instituída tanto em zona urbana, quanto rural.

A utilização da Área de Preservação Permanente somente pode ocorrer nos casos em que for comprovado o atendimento a um interesse social ou utilidade pública, ou em caso de intervenções de baixo impacto, situações assim definidas pela Resolução CONAMA 369 de 28 de março de 2006.4

4 A Norma define como utilidade pública as seguintes atividades: a) as atividades de segurança nacional e

proteção sanitária; b) as obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos de transporte, saneamento e energia; c) as atividades de pesquisa e extração de substâncias minerais, outorgadas pela

Hoje, com as modificações introduzidas pela Medida Provisória 2.166/2001, a Reserva Legal encontra-se definida pelo art. 1º,§ 2º, III, do Código Florestal, sedo denominada como “área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção da fauna e flora nativas”.

A Reserva Legal é uma limitação inerente ao atendimento da função social no exercício do direito da propriedade rural, independentemente da vegetação ali existente (se nativa, plantada ou se substituída por outra)

É uma obrigação que recai sobre o imóvel e que o onera, em qualquer circunstância, obrigando ao seu proprietário e a todos que o sucederem em tal condição.

Ressalta-se que essa condição é exclusiva da propriedade rural, que poderá ser definida conforme ordenamento territorial da região, constando de planos diretores ou outras normas de zoneamento equivalente.

O STF vem entendendo pelo não cabimento de indenização das áreas obrigatoriamente destinadas à Reserva Legal, ainda que a regularização do imóvel implique em prejuízo econômico ao proprietário, em razão da restrição do seu uso, assim como também considera obrigatória a reconstituição da área destinada a Reserva Legal independentemente da época em que foi suprimida a vegetação.

A Instrução Normativa MMA n º 5, de 08 de setembro de 2009, determina que, no caso de empreendimentos ou atividades submetidas a licenciamento ambiental, bem como no cumprimento de obrigações decorrentes de decisão judicial ou de compromisso de ajustamento de conduta, a recuperação de Área de Preservação Permanente e Reserva Legal dependerá de projeto técnico previamente aprovado pelo órgão ambiental competente.

autoridade competente, exceto areia, argila, saibro e cascalho; d) a implantação de área verde pública em área urbana; e) pesquisa arqueológica; f) obras públicas para implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados; e g) implantação de instalações necessárias à captação e condução de água e de efluentes tratados para projetos privados de aqüicultura.

E como interesse social: a) as atividades imprescindíveis à proteção da integridade da vegetação nativa, tais como prevenção, combate e controle do fogo, controle da erosão, erradicação de invasoras e proteção de plantios com espécies nativas, de acordo com o estabelecido pelo órgão ambiental competente; b) o manejo agroflorestal, ambientalmente sustentável, praticado na pequena propriedade ou posse rural familiar, que não descaracterize a cobertura vegetal nativa, ou impeça sua recuperação, e não prejudique a função ecológica da área; c) a regularização fundiária sustentável de área urbana; d) as atividades de pesquisa e extração de areia, argila, saibro e cascalho, outorgadas pela autoridade competente.

Além disso, a norma indica as seguintes metodologias para a recuperação de Área de Preservação Permanente - APP e de Reserva Legal - RL :

I - condução da regeneração natural de espécies nativas; II - plantio de espécies nativas (mudas, sementes, estacas); e

III - plantio de espécies nativas conjugado com a condução da regeneração natural de espécies nativas.

Na área da Reserva Legal, é proibido o corte raso, e permitida, apenas, a utilização, sob regime de manejo florestal sustentável, sem que se descaracterizem ecologicamente os recursos florestais e os ecossistemas.

Para a utilização da área, com ênfase no manejo sustentado, a vegetação destinada a compor a Reserva Legal poderá ser utilizada mediante um plano de manejo que tenha por finalidade a sustentabilidade, obedecendo a normas técnicas-científicas. Em se tratando de pequenas propriedades, sendo estas estabelecidas por agricultura familiar, ou não, poderão ser incluídos plantios consorciados e que se prestem a uma atividade de subsistência.

Sobre a questão, foi publicada a Instrução Normativa MMA nº 4, de 08 de setembro de 2009, que dispõe sobre a utilização da vegetação da Reserva Legal, sob regime de manejo florestal sustentável, a qual foi elaborada com o intuito de estabelecer procedimentos técnicos necessários para viabilizar uma utilização sustentável.

O percentual da área que deve ser ocupada pela Reserva Legal varia de acordo com a região onde se localiza a propriedade. Isso ocorre porque o legislador entendeu por bem proteger os biomas de maneira diferenciada, considerando a necessidade de preservação.

O Código Florestal em vigor define, em seu artigo 16, que as florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica, são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de Reserva Legal, no mínimo:

I – 80% (oitenta por cento), na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal;

II – 35% (trinta e cinco por cento), na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, sendo no mínimo vinte por cento na propriedade e quinze por cento na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia;

III – 20% (vinte por cento), na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País; e

IV – 20% (vinte por cento), na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País.

A Lei 14.309 de 19 de junho de 2002, do Estado de Minas Gerais, destina capítulo especial à Reserva Legal, determinando que nas propriedades rurais desse Estado, deve ser preservado o equivalente a, no mínimo, 20% (vinte por cento) da área total da propriedade.

3 - Reserva Legal: critérios para sua aprovação junto ao Órgão Ambiental, definição de localização na propriedade rural

A localização da Reserva Legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal, ou outra instituição devidamente habilitada devendo ser considerados no processo, além da função social da propriedade, os seguintes critérios:

I- o plano de bacia hidrográfica; II- o plano diretor municipal;

III- o zoneamento ecológico econômico;

IV- outras categorias de zoneamento ambiental;

V- a proximidade com outra Reserva Legal ou Área de Preservação Permanente ou outro espaço especialmente protegido.

Esses critérios foram adotados com o intuito de se preservarem os ecossistemas, promovendo o trânsito de espécies de fauna e flora entre as áreas interligadas, conservação da água e do solo.

A localização da Reserva Legal, sua aprovação e uma suposta compensação com área de preservação permanente são de prioridade e competência de órgãos licenciadores, e, fica condicionada a obrigatoriedade de inscrição no registro de imóveis, havendo isenção de pagamento na averbação para as pequenas propriedades ou de posses rurais familiares.

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