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Desde 1997 tramitam vários projetos na Câmara dos Deputados com a intenção de modificar o Código Florestal em vigor, em especial no que diz respeito ao conceito de Reserva Legal, e sua aplicação.

Em resumo poderíamos apresentar os que mais se destacam:

Projeto de Lei 3010/1997, de autoria do Senador Júlio Campos, que dispõe sobre áreas de preservação permanente, situadas ao redor de represas hidrelétricas. Ele estabelece que a largura variável a ser determinada, deve levar em conta as condições de solo, topografia e vegetação natural remanescente. Pretende alterar o art. 2º da Lei 4.771/65.

Projeto de Lei nº. 16/1999, de autoria do Deputado Paulo Rocha, que dispõe sobre a proteção da floresta natural primária na região Norte e ao norte da região Centro-Oeste. Pretende revogar o art. 44 da Lei nº 4.771, de 1965.

Projeto de Lei nº. 1876/1999, de autoria do Deputado Sérgio Carvalho, que dispõe sobre Áreas de Preservação Permanente, Reserva Legal, exploração florestal e dá outras Providências. Pretende revogar a Lei 4.771, de 1965 (Código Florestal); alterar a Lei nº. 9.605, de 1998.

Projeto de Lei nº. 1915/1999, de autoria do Senador Federal Freitas Neto, que dispõe sobre a criação do Centro Nacional para Estudos, Conservação e Manejo das Plantas Medicinais Brasileiras, que pretende alterar o artigo 26 da lei 4.771/65.

Projeto de Lei 4435/2001, de autoria do Deputado Federal João Grandão, que pretende alterar a Lei nº. 9.605, de 13 de fevereiro de 1998, no que se refere à apreensão e confisco do produto e do instrumento de infrações ambientais e revogar dispositivos da Lei nº. 4.771, de 1965 e da Lei nº. 5.197, de 1967.

Projeto de Lei 1015/2003, de autoria do Deputado Federal Ricardo Izar, que pretende alterar a Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965, proibindo a prática de atividade agropecuária em uma faixa de 500 (quinhentos) metros ao redor de reservatório de água destinada ao abastecimento público ou à geração de energia elétrica.

Projeto de Lei 2123/2003, de autoria do Deputado Federal Ricardo Izar, que pretende acrescentar a expressão ao parágrafo único do art. 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 e estabelecer a competência da legislação municipal para disciplinar a preservação do meio ambiente municipal.

Projeto de Lei 2360/2003 de autoria do Deputado Federal Mário Negromonte, que pretende alterar a Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965, e a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, para dispor sobre a pesquisa ou a coleta de amostras da flora brasileira.

Projeto de Lei 4524/2004. de autoria do Deputado Federal Enio Bacci, que pretende alterar o Código Florestal com preferencial reposição mínima de 50% (cinqüenta por cento) de espécies nativas e dá outras providências.

Projeto de Lei 6424/2005, de autoria do Senador Flexa Ribeiro que pretende alterar a Lei nº. 4.771, de 15 de setembro de 1965, e instituir o novo Código Florestal, para permitir a reposição florestal e a recomposição da Reserva Legal mediante o plantio de palmáceas em áreas alteradas.

Diante de tantos projetos, foi criada uma comissão especial em 2009 para agrupar os, até então, 11 (onze) projetos de lei mais significativos para mudar o Código Florestal. A relatoria do projeto ficou a cargo do Deputado Federal Aldo Rebelo.

Em 2010 o Deputado Aldo Rebelo realizou audiências públicas no Congresso e em cidades pólos de produção agropecuária, em sua grande maioria organizada por sindicatos ou organizações alinhadas à Confederação Nacional da Agricultura e, em seguida, no mês de junho, apresentou um Projeto de Lei Substitutivo do Código Florestal, reunindo todos os projetos ora em tramitação na Câmara dos Deputados.

O Projeto de Lei de mudança do Código Florestal foi apresentado sob a justificativa de que embora os institutos das Áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal, bem como a obrigatoriedade de sua recomposição promovam a proteção de meio ambiente, existiria grande dificuldade, por parte dos produtores rurais, em cumprir o ordenamento jurídico em vigor.

A justificativa ainda aponta que o instituto da Reserva Legal, ora em vigor, é falho dado que por vezes aponta o bioma e outras a região geopolítica, sem esclarecer as finalidades da Reserva Legal.

Por outro lado, o Deputado Aldo Rebelo, em parecer que trata do assunto afirma que nova legislação deve equilibrar os meios de produção com a preservação sem esquecer –se da política de recursos hídricos.

Segundo o mesmo:

Os Comitês de Bacias Hidrográficas poderiam passar a tomar algumas decisões no que diz respeito às especificidades das áreas que abrangem, em consonância com o Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE. Podem ser instituídas metas de conservação por bacias hidrográficas, atendidas pela soma das APPs, RLs e unidades de conservação.

O projeto recebera proposta de novo substitutivo, elaborado pela Comissão Especial que trata do assunto.9

A Câmara dos Deputados aprovou por 410 votos a favor, 63 contrários e 1 abstenção esse substitutivo com alterações. Ainda devem ser votados alguns destaques que pretendem alterar o texto do relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

O projeto encontra-se sob apreciação do Senado Federal até o presente momento. O que se segue, é a avaliação comparativa do substitutivo aprovado pela Câmara dos Deputados, sob a relatoria do Deputado Aldo Rebelo, com a Lei Federal 4.771, de 15 de setembro de 1965, no que tange ao tratamento do Instituto da Reserva Legal.

Comparativo entre o Projeto de Substitutivo do Código Florestal e a Legislação Federal em Vigor

A Lei Federal 4.771/65 determina que toda propriedade rural deve preservar parte de sua área a título de Reserva Legal, entretanto, segundo o § 5º do artigo 13 do projeto: “Os empreendimentos de abastecimento público de água não estão sujeitos à constituição de Reserva Legal.”

Ainda segundo § 6º, do artigo 13, do Projeto, define-se que não será exigido Reserva Legal relativa às áreas adquiridas ou desapropriadas por detentor de concessão, permissão ou autorização para exploração de potencial de energia hidráulica, nas quais funcionem empreendimentos de geração de energia elétrica, subestações, ou sejam, instaladas linhas de transmissão e de distribuição de energia elétrica.

Ressalta-se que, segundo o parágrafo 7º do artigo 13 do Projeto de Lei Substitutivo aprovado na Câmara dos deputados os imóveis com área de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam remanescentes de vegetação nativa em percentuais inferiores ao previsto no caput, a Reserva Legal será constituída com a área ocupada com a vegetação nativa existente em 22 de julho de 2008, vedadas novas conversões para uso alternativo do solo.

Trata-se de um dos pontos mais controversos da proposta de Novo Código Florestal, estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA, demonstram que, segundo o levantamento feito pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, o número total de imóveis rurais é de 5.181.595, ocupando uma área de 571 milhões de ha (Tabela 2). O número de propriedades com até quatro módulos fiscais é de 4,6 milhões (Tabela 2), correspondendo a 90% do total de propriedades rurais no Brasil, enquanto a sua área ocupa 135 milhões de ha ou 24% do total da área de propriedades rurais no país.

Tabela1: Porcentagem do número de imóveis e porcentagem da área total dos imóveis por tamanho de Propriedade

Fonte: SNCR/INCRA – Estatísticas Cadastrais 2010. Elaboração: IPEA

Tabela 2 Valores totais de estoque de carbono (milhões de tC) existentes na vegetação acima do solo. 0 20 40 60 80

Minifúndios Pequena Propriedade Média Propriedade Grande Propriedade Imóveis (%) Área total

Fonte: Estatísticas Cadastrais 2010. Elaboração: IPEA

As porcentagens obrigatórias de preservação na área da Amazônia legal segundo o Código Florestal em vigor são de 80% nas áreas de florestas, 35% nas áreas de cerrado, sendo limitada a possibilidade de compensação nesse último caso.

No Projeto de Lei é prevista outro tipo de vegetação característica na área da Amazônia Legal, a área de Campos Gerais, local em que devem ser preservadas apenas 20% da propriedade rural.

O § 4º, do artigo 13, do projeto aprovado na Câmara dos Deputados ainda permite, nos casos de preservação de 80% da Região Amazônica que o poder público reduza a Reserva Legal para até 50% (cinqüenta por cento), para fins de recomposição, quando o Município tiver mais de 50% (cinquenta por cento) da área ocupada por unidades de conservação da natureza de domínio público e terras indígenas demarcadas.

É ainda previsto no § 1º do, artigo 13, do Projeto de Lei que em caso de fracionamento do imóvel rural, a qualquer título, inclusive para assentamentos pelo Programa de Reforma Agrária, será considerada, para fins de Reserva Legal, a área do imóvel antes do fracionamento.

O projeto aprovado determina, no seu art. 14, que, quando indicado pelo Zoneamento Ecológico-Econômico – ZEE estadual, realizado segundo metodologia unificada, o poder público federal poderá:

0,00 2.000,00 4.000,00 6.000,00 8.000,00 10.000,00 12.000,00 14.000,00

Amazônia Caatinga Cerrado Mata Atlântica Pampa Pantanal Menor que 4MF Maior que 4MF

I - reduzir, exclusivamente para fins de regularização da área rural consolidada, a Reserva Legal de imóveis situados em área de floresta localizada na Amazônia Legal para até 50% (cinquenta por cento) da propriedade, excluídas as áreas prioritárias para conservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e os corredores ecológicos;

II – ampliar as áreas de Reserva Legal em até 50% (cinquenta por cento) dos percentuais previstos nesta Lei, para cumprimento de metas nacionais de proteção à biodiversidade ou de redução de emissão de gases de efeito estufa.

Quanto aos critérios de localização da Reserva Legal, o Projeto de Lei retira a possibilidade de estabelecimento por meio do Plano Diretor Municipal, consolida a necessidade de atendimento ao zoneamento ecológico-econômico e a formação de corredores ecológicos, e inclui outros critérios como: a) áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e b) áreas de maior fragilidade ambiental.

O Projeto de Lei permite, no artigo 16, o cômputo das Áreas de Preservação Permanente no cálculo do percentual da Reserva Legal do imóvel sem estabelecer percentuais como o atual Código Florestal, no entanto, o mencionado Projeto estabelece algumas restrições:

O benefício previsto não implique a conversão de novas áreas para o uso alternativo do solo;

A área a ser computada esteja conservada ou em processo de recuperação, conforme declaração do proprietário ao órgão estadual ou municipal integrante do Sisnama; e O proprietário ou possuidor tenha requerido inclusão do imóvel no cadastro ambiental.

O artigo 18 do último Projeto de Lei propõe que a Reserva Legal deva ser conservada com cobertura de vegetação nativa pelo proprietário do imóvel rural, possuidor ou ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado.

O Projeto de Lei mencionado propõe o registro da Reserva Legal no Cadastro Ambiental Rural, devendo ser acompanhada de indicação de suas coordenadas georreferenciadas ou memorial descritivo contendo pelo menos um ponto de amarração georreferenciado, sendo vedada a alteração de sua destinação nos casos de transmissão a qualquer título, desmembramento ou retificação da área.

O Projeto de Lei procurou ressaltar, no seu artigo 20, que a inserção do imóvel rural em perímetro urbano, definido mediante lei municipal não, desobriga o proprietário ou posseiro da manutenção da área de Reserva Legal, que só será desaverbada concomitantemente ao registro do parcelamento do solo para fins urbanos.

A versão aprovada pela Câmara dos Deputados suprimiu o parágrafo 5º do seu artigo 19 que tratava do prazo para a averbação da Reserva Legal, e dispunha que o proprietário ou possuidor de imóvel rural teria o prazo de cento e vinte dias para averbar a localização, compensação ou desoneração da Reserva Legal, contados da emissão dos documentos por parte do órgão competente do Sisnama ou instituição habilitada.

Ainda é possível, segundo o Projeto aprovado pela Câmara dos Deputados o manejo florestal sustentável da vegetação da Reserva Legal com propósito comercial, desde que atenda a requisitos específicos e mediante autorização do órgão competente.10

O Projeto de Novo Código Florestal ainda pretende criar um Programa de Regularização das Áreas de Reserva Legal.

Nesse plano, o proprietário rural pode regularizar-se mediante adesão ao Programa de Regularização Ambiental, adotando as seguintes alternativas, isoladas ou conjuntamente: a) recompor a Reserva Legal; b) permitir a regeneração natural da vegetação na área de Reserva Legal e c) compensar a Reserva Legal.

A compensação, segundo a proposta de Novo Código, passaria a ser permitida dentro do mesmo bioma, e não dentro da mesma bacia hidrográfica como o Código Florestal em vigor.

A regularização deverá ser concluída em prazo inferior a vinte anos, abrangendo, a cada dois anos, no mínimo 1/10 (um décimo) da área total necessária à sua complementação.11

10 O projeto detalha os requisitos para o manejo florestal em área de Reserva Legal em seu artigo 24: I - não descaracterizar a cobertura vegetal e não prejudicar a conservação da vegetação nativa da área; II – assegurar a manutenção da diversidade das espécies;

III - na condução do manejo de espécies exóticas deverão ser adotadas medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas.

11 Segundo o artigo 24 do Projeto de Lei até que o Programa de Regularização Ambiental – PRA seja promulgado, e respeitados os termos de compromisso ou de ajustamento de conduta eventualmente assinados, fica assegurada a manutenção das atividades agropecuárias e florestais em áreas rurais consolidadas, localizadas

O Projeto de Lei cria ainda o Cadastro ambiental que impede a autuação do proprietário rural irregular por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008 na respectiva propriedade ou posse, referentes a supressão irregular de vegetação nativa em Áreas de Preservação Permanente,ou áreas de Reserva Legal .

Além disso, segundo o Projeto de Lei, a partir da data da inscrição no cadastro ambiental, ficam suspensas a cobrança das multas decorrentes de infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008 na respectiva propriedade ou posse, referentes a supressão irregular de vegetação nativa em Áreas de Preservação Permanente, áreas de Reserva Legal.

O cadastro ambiental, quando feito no prazo correto, também impediria que fosse imposta aos proprietários ou possuidores rurais sanção administrativa, inclusive restrição a direitos, em razão da não averbação da área de Reserva Legal.

O último Projeto de Lei do Código Florestal propõe, em capítulo específico, a criação de “Instrumentos Econômicos para a Conservação da Vegetação”. Dentre esses instrumentos estaria a possibilidade de transformar a conservação voluntária de vegetação nativa, preservação de espécies raras da flora e recomposição de Áreas de Preservação Permanente e Reserva Legal em incentivos econômicos, pela prática de serviços ambientais.

em Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, como também nas Áreas de Uso Restrito , sendo vedada a expansão da área ocupada e desde que:

I – a supressão irregular da vegetação nativa tenha ocorrido antes de 22 de julho de 2008;

II – assegure-se a adoção de práticas que garantam a conservação do solo, da biodiversidade e da qualidade dos recursos hídricos; e

III - o proprietário ou possuidor de imóvel rural inscreva-se em cadastro ambiental no órgão estadual do Sisnama.

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