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É inegável a importância desempenhada pelas florestas para a sociedade, seja por quaisquer aspectos que se imagine: extração de produtos madeireiros, preservação da biodiversidade, funções ecológicas múltiplas, proteção dos recursos hídricos, principal instrumento regulador do ambiente, flora e fauna, fatores que, aliados, acabam contribuindo para a manutenção do equilíbrio ambiental.

Magalhães (2001) relata que a proteção às florestas é tão antiga quanto a própria humanidade, já que o homem percebeu a sua importância (seja para fins econômicos, seja dotada de caráter preservacionista ambiental) desde o início da civilização, procurando evitar a sua devastação.

Inicialmente, a preocupação e a atenção dedicadas às florestas revestiam-se de caráter eminentemente econômico, não se levando em consideração questões preservacionistas ou outras imbuídas de uma consciência ecológica. Esse cenário se apresenta desde a época do Brasil Colônia, por ocasião da ameaça de falta de madeira adequada para a construção das embarcações da frota portuguesa. O risco levou a Coroa a expedir as chamadas cartas-régias, declarando de sua propriedade toda madeira naval, denominada como “madeira de lei”, nome ainda utilizado para designar as madeiras nobres em nosso país. (DEAN, 1996).

Demonstrando uma preocupação com a escassez da madeira no mercado interno e para exportação, “em 1821, José Bonifácio determinou que todas as propriedades afastadas dos grandes centros urbanos deveriam preservar 1/6 de sua área, equivalente a 16,67%” (IPEF, 2005).

Andrada e Silva (2002) menciona as instruções dirigidas aos deputados que iriam representar São Paulo nas cortes de Lisboa destacando a que determinava que todas as vendas que se fizerem e sesmarias que se derem, se porá a condição que os donos e sesmeiros deixem para matos e arvoredos a sexta parte do terreno, que nunca poderá ser derrubada e queimada sem que se façam novas plantações de bosques, para que nunca faltem as lenhas e madeiras necessárias (ANDRADA e SILVA, 2002).

Embora se perceba a preocupação com a utilização econômica da madeira na época mencionada, investigações em arquivos do Brasil e de Portugal revelam a avaliação de questões ambientais que deixaram raízes na cultura brasileira.

Em 1823, logo após a Independência do Brasil, José Bonifácio de Andrada e Silva redigiu uma Representação à Assembléia Constituinte e Legislativa sobre a escravatura, onde fazia uma veemente defesa dos recursos naturais do país. (EDUCAREDE, 2010).

O desaparecimento do pau-brasil, decorrente da exploração e desmatamento em ritmo extremamente acelerado foi um fator preponderante para o despertar da já mencionada consciência que destoava dos padrões da época, onde a preocupação era submeter as florestas a todo tipo de exploração, gerando acúmulo de riqueza.

Em se tratando de edição de normas Constitucionais voltadas à proteção ambiental, como mencionado, verificou-se uma mudança gradativa de mentalidade ao longo dos anos, culminando no surgimento do primeiro Código Florestal Brasileiro, aprovado pelo Decreto 23.793, de 23 de Janeiro de 1934, (antecedente do Código Florestal Brasileiro em vigor), que, já em seus dois primeiros artigos dispunha:

Art. 1º - As florestas existentes em território nacional, considerada em conjunto, constituem bem de interesse comum a todos os habitantes do país, exercendo-se o direito de propriedade com as limitações que as leis, em geral e especialmente este Código, estabelecem.

Art. 2° - Aplicam-se os dispositivos deste Código assim às florestas como às demais formas de vegetação reconhecidas de utilidade às terras que revestem. (BRASIL, 1934, p. 05).

Para contextualizar as preocupações que justificaram a edição do Código Florestal de 1934, há que se entender a realidade sócio-econômica e política da sociedade brasileira no início do século XX:

1. A população estava concentrada próximo à Capital da República, cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara.

2. A cafeicultura avançava pelos morros que constituem a topografia do Vale do Paraíba, substituindo toda a vegetação nativa.

3. A criação de gado, outra forma de utilização das terras, fazia-se de modo extensivo e com mínima técnica.

4. A introdução de espécies de Eucalyptus, mas restrito às atividades da Cia. Paulista de Estradas de Ferro, no Estado de São Paulo. No resto do País, assim como antes no Estado de São Paulo, a atividade florestal era fundamentada no mais puro extrativismo.

5. A diminuição dos estoques de Araucária angustifólia, nos Estados do Paraná e Santa Catarina.

Diante da conjuntura, o Poder Público decidiu interceder, estabelecendo limites ao que parecia ser um saque ou pilhagem dos recursos florestais. A mencionada “intervenção”, necessária, materializou-se por meio da edição de um (primeiro) Código Florestal, o de 1934.

Esse Código perdurou por trinta e um anos e pode ser entendido como a primeira legislação nacional, de caráter geral, a introduzir normas de política e gestão dos recursos florestais, com nítida preocupação com o que estes recursos representavam para a economia brasileira.

Durante a década de 1960, emergiam os movimentos ecológicos e, por conseguinte, a questão ambiental passou a fazer parte das discussões, mesmo que contaminada pelo caráter utilitarista. Osny Duarte Pereira salienta, de forma pioneira em nossa sociedade:

“O estudo da História revela que, uniformemente, em todos os quadrantes do globo, os povos somente se preocuparam com as florestas, depois que começaram a sentir os efeitos de sua falta – efeitos climáticos, efeitos na agricultura, efeitos no desaparecimento da matéria prima, para as necessidades industriais.”

Na vigência da Constituição Federal de 1946 surge o mais importante instrumento da Política Ambiental Brasileira voltado para a proteção das florestas: O Código Florestal Brasileiro, instituído pela Lei nº 4.771 de 15 de Setembro do ano de 1965 e estabelecido com base no regime constitucional de 1946.

Outra motivação para o surgimento do novo código foram as dificuldades verificadas para a efetiva implementação do Código Florestal de 1934. Elaborou-se, então, a proposta para normatizar adequadamente a proteção jurídica do patrimônio florestal brasileiro.

O chamado “Projeto Daniel de Carvalho” procurou avançar no entendimento jurídico da matéria, sem lhe alterar, contudo, a essência do seu conteúdo conceitual e jurídico. Aquele projeto incorporou percepções bastante avançadas para a época, e que ainda perseveram na atualidade. Após diversas alterações introduzidas no Projeto, o “novo” Código Florestal, foi finalmente sancionado, em 15-09-1965, por meio da edição da Lei n° 4.771.

Inovando no ordenamento jurídico, o Código Florestal de 1965, já em seu artigo primeiro, dispunha que:

Art. 1° - As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação, reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e especialmente esta Lei estabelecem. §1° - As ações ou omissões contrárias às disposições deste Código na utilização e exploração das florestas são consideradas uso nocivo da propriedade, aplicando-se, para o caso, o procedimento sumário previsto no Art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil.

As alterações legislativas foram intensas nesta década em que se implantou o Estatuto da Terra (Lei 4.504/64), o atual Código Florestal (Lei 4771/65), a Lei de Proteção a Fauna (Lei 5.197/67), o Código de Pesca (Decreto-Lei 221/67), o Código de Mineração (Decreto-Lei 227/67) e a Política Nacional de Saneamento Básico (Lei 5.318/67).

Benjamin (1996) relata que no Brasil dos anos 70, era claro o paradoxo existente entre a necessidade de proteção ao meio ambiente e a idéia de desenvolvimento econômico, imaginando-se que proteção ambiental e crescimento econômico eram auto-excludentes e por isso a idéia dominante era de que “qualquer composição entre os dois, envolveria uma troca: mais qualidade ambiental significaria menos crescimento econômico” (p. 66).

AHRENS (2001), ressalta que o conteúdo do art. 1° do Código Florestal em vigor revela, ainda, que existe um regime jurídico muito peculiar às florestas (nativas) e demais

formas de vegetação (natural) que é a sua instituição como “bens de interesse comum a todos os habitantes do País”.

Trata-se de uma lei federal em nosso atual quadro jurídico constitucional estabelecendo princípios genéricos de observância obrigatória por Estados e municípios.

O Código Florestal em vigor também tem sido sucessivamente alterado, sob a influência da promulgação da Constituição Federal de 1988, para garantir a efetividade de seus preceitos.

Como já mencionado, as Constituições brasileiras anteriores à de 1988 nada traziam especificamente sobre a proteção do meio ambiente natural. Das mais recentes, desde 1946, apenas se extraía o preceito sobre a proteção da saúde e sobre a competência da União para legislar sobre água, florestas, caça e pesca, o que possibilitava a elaboração de leis protetoras, como o Código Florestal e os Códigos de Saúde Pública, de Água e de Pesca. A Constituição de 1988 foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental. Pode-se dizer que ela é uma Constituição eminentemente ambientalista. Assumiu o tratamento da matéria em termos amplos e modernos. (SILVA, 2003, p. 72).

Ressaltam-se as modificações introduzidas pelas leis 7.803/89 e 7.875/89, bem como pela Medida Provisória nº. 2.166-67/01.

Atualmente está em trâmite no Congresso Nacional a proposta de um novo Código Florestal. A proposta surgiu em um contexto semelhante ao vivenciado quando da publicação da Lei 4.771. Estaria o atual Código Florestal sendo largamente desrespeitado Segundo Girandi e Fanzeres mais de 80 milhões de hectares de terra no país estão em situação de não conformidade com o código.

A proposta de substitutivo, que foi elaborada pelo deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), e já aprovada pela Câmara dos Deputados, flexibiliza os instrumentos de proteção com a justificativa, entre outras, de regularizar proprietários que infringiram a legislação vigente.

Alguns pesquisadores cientistas alegam que, ao tentar minimizar os problemas do agronegócio, a proposta acaba colocando em risco a biodiversidade e os serviços ambientais prestados pela floresta.

Dentre os pontos considerados mais polêmicos da proposta de Novo Código Florestal existem alguns particularmente críticos: as normas para as Áreas de Preservação Permanente (APP) - que incluem as matas ao longo dos rios e a vegetação em morros e serras -, as definições acerca de Área de Reserva Legal (ARL) - porções de vegetação nativa que devem ser mantidas no interior das propriedades - e a responsabilização por desmatamentos irregulares.

Os críticos dizem que a mudança proposta por Rebelo será um incentivo ao fracionamento de médias propriedades apenas com fins de desmatamento, visando à exploração total da área. No substitutivo alternativo, os deputados do PT acabam com a exigência de Reserva Legal apenas para propriedades de agricultores familiares com até um módulo fiscal.

Outra questão polêmica é a permissão para computar a APP no cálculo da Reserva Legal, sem os limites do atual Código Florestal. Os ambientalistas querem que isso seja permitido apenas quando não implicar conversão de novas áreas e para imóvel até 4 (quatro) módulos fiscais. Para imóveis maiores, defendem a manutenção dos limites hoje vigentes. 2

1. Legislação Florestal do Estado de Minas Gerais.

Em 1991, Minas Gerais criou sua Lei Florestal (Lei 10.561/91), o que representou um marco para o tratamento legal específico das questões florestais. Valendo-se da competência concorrente para legislar sobre o assunto o Estado pretendeu realizar o controle e a fiscalização da produção florestal, desde o processo de desmatamento até o consumo.

Nota-se que já no artigo segundo do diploma legal, havia referência a pontos conflitantes da gestão dos recursos florestais como o atendimento da função social da propriedade e a compatibilização entre o desenvolvimento e o equilíbrio ambiental, senão vejamos:

Art. 2º - As atividades florestais deverão assegurar a manutenção da qualidade de vida e de equilíbrio ecológico e a preservação do patrimônio genético, observados os seguintes princípios:

I- preservação e conservação da biodiversidade; II- função social da propriedade;

III - compatibilização entre o desenvolvimento e o equilíbrio ambiental; IV - uso sustentado dos recursos naturais renováveis.

Em 19 de junho de 2002, a Lei nº 10.561 foi revogada pela Lei 14.309/02 que dispõe sobre as políticas florestais no Estado de Minas Gerais, trazendo em seu texto peculiaridades em relação às normas federais.

Em seu artigo 3º, a norma já aponta as intenções da equilibrar a exploração econômica dos recursos ambientais, ressaltando-se a presença da expressão “desenvolvimento sustentável”, senão vejamos:

Art. 3° A utilização dos recursos vegetais naturais e as atividades que importem uso alternativo do solo serão conduzidas de forma a minimizar os impactos ambientais delas decorrentes e a melhorar a qualidade de vida, observadas as seguintes diretrizes:

I - proteção e conservação da biodiversidade; II - proteção e conservação das águas; III - preservação do patrimônio genético;

IV-compatibilização entre o desenvolvimento socioeconômico e o equilíbrio ambiental.

Esse importante diploma estadual dedica uma seção especifica ao instituto da Reserva Legal, dentre outros espaços considerados especialmente protegidos.

Além disso, o atual texto em vigor estabelece penalidades pelo descumprimento do disposto em seus artigos.

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