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Parte III – Estudo empírico

7. Apresentação e discussão dos resultados

7.1.1 Fatores que têm afetado a reforma da contabilidade pública no Governo Central de

7.1.1.3 Conceito e processo de implementação da reforma

As inovações ocorridas na contabilidade pública em Cabo Verde, referidas no capítulo 5 (elaboração do PNCP, a introdução da contabilidade em regime de acréscimo, a digrafia), têm concorrido para uma informação financeira pública mais transparente e fiável, que apoia a boa governação e útil para a tomada de decisão. Este conceito de reforma tem sido favorável à sua implementação. Com efeito, a contabilidade pública que existia até a época, antes da reforma, estava desatualizada e claramente a informação não era atempada, sendo necessária modernização. Conforme menciona um dos indutores, o objetivo “(…) a prestação de contas em tempo útil, uma vez que vai permitir que todos os dados estejam no sistema e trabalhados em tempo útil. A Direção da Contabilidade Pública terá todas as informações e apresentará dentro dos prazos legais as contas do Estado”.

Um stakeholder ressaltou que o objetivo principal era “(…) a gestão do património do Estado, a gestão da dívida do Estado, que é um elemento fundamental da parte da Gestão das Finanças Públicas; maior eficiência e eficácia na gestão dos recursos públicos”. Assim a contabilidade aparece como um instrumento para aperfeiçoar a gestão administrativa e financeira do Estado.

Relativamente ao (s) resultado (s) esperado (s) com a reforma da contabilidade pública, particularmente a partir de 2006 com o PNCP, conseguiu-se ir trazendo para o Estado

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boas práticas da gestão das empresas, procurando modernizar a gestão pública, no quadro da Nova Gestão Pública. Esta reforma tem, assim, melhorado a gestão do património, direitos e obrigações do Estado cabo-verdiano.

Para a elaboração do Quadro 12, recorremos à resposta alusiva à segunda pergunta do guião da entrevista. A pergunta respeitante aos objetivos, está relacionada com o conceito da reforma, ou seja, com as inovações que ocorreram na contabilidade pública, de forma que a informação seja mais útil e que contribui para a apresentação das contas dentro do prazo.

Quadro 12 – OBJETIVOS almejados com a reforma da contabilidade pública

1 ª Fase – conceitos / Texto 2ª Fase – Subcategorias

3ª Fase – Dimensões Promotor 2

“Apresentar as contas de forma atempada, na medida em que os serviços de contabilidade terão informação em tempo útil”.

Contas dentro do prazo Conceito da Reforma Indutor 1

”Introdução de uma contabilidade pública moderna com digrafia e princípios de acréscimo”.

Princípio de acréscimo Indutor 2

“O principal objetivo era apresentar a Conta Geral do Estado com digrafia”.

Digrafia

Stakeholder 1

“Ter a contabilidade patrimonial”.

Contabilidade patrimonial

Stakeholder 2

“O objetivo principal era a gestão do património do Estado”. Gestão patrimonial

Stakeholder 3

“Passar de um sistema unigráfico para digrafico.” Digrafia

Stakeholder 6

“Ter o conhecimento do seu património, com o objetivo de ter a transparência e uma boa gestão”.

Património do Estado

7.1.1.3.1 Estratégia de implementação

Na nossa opinião, tem havido demora na implementação de determinadas reformas, nomeadamente do PNCP. Na verdade, a legislação foi aprovada em 2006 e mais de 10 anos depois, ainda não está completamente implementado. Segundo citou um dos stakeholder “(…)

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iniciaram pela implementação do sistema e depois vão efetuar a sua integração. Na Direção Patrimonial estão a finalizar a avaliação e inventariação dos bens. A implementação da contabilidade em regime de acréscimo já foi iniciado, estamos a testar o sistema, quando for totalmente validado, colocaremos em prática no seu todo (2017)”.

Uma das promotoras referiu diversas razões que estão na base da demora da implementação, a saber: “(…) a resistência das pessoas; a reforma possui um custo, o país não tem recursos avultados para executar a reforma com a celeridade desejada; o PNCP é um projeto muito complexo, era necessário um sistema integrado; a complexidade da implementação tem a ver também com a limitação dos recursos humanos, ou seja, existe a falta de profissionais com competências adequadas”.

A estratégia adotada para a implementação da reforma tem sido autoritária porque as reformas foram decididas e encetadas pelo governo, todavia foram definidas várias frentes/áreas de reforma, com diversos grupos de trabalho para a realização das ações, conforme descrito anteriormente.

De acordo com a análise documental apresentamos na Figura 9 a metodologia utilizada na implementação do Plano de Ação da Gestão das Finanças Públicas (Ministério das Finanças, 2009):

Figura 9 – Metodologia de implementação das reformas

Comité de Pilotagem UCR – Unidade de Coordenação Das Reformas Coordenação da impllementação Apoio técnico Donos do Negócio Diretores Gerais Presidida pela Ministra das Finanças

Seguimento & Avaliação

Implementação dos projetos e das atividades

Fonte: Ministério das Finanças (2009, p. 27)

O Comité de Pilotagem é constituído pelos Diretores Gerais do MF e presidida pela Ministra das Finanças, desempenha o papel de órgão estratégico, de coordenação e de

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arbitragem. Conduz o conjunto das medidas, decompostos por projetos, a fim de possibilitar a coerência global da sua implementação e com a responsabilidade de proceder ao seguimento e avaliação da implementação (Ministério das Finanças, 2009).

A Equipa Técnica da UCR – Equipa de apoio a implementação, poderá ser constituída por um Coordenador, um Consultor Gestor de Programa para as receitas e recebimentos, um Consultor Gestor de Programa para as despesas e pagamentos e uma Assistente de Projeto se assim justificar (Ministério das Finanças, 2009).

Os “Donos do Negócio” correspondem as estruturas responsáveis pela implementação dos projetos e atividades que condizem ao negócio por eles desenvolvido. Podem ser nomeadamente as Direções Gerais, a Inspeção Geral das Finanças, o TC, o Núcleo Operacional da Sociedade de Informação – NOSI, etc.

A estratégia utilizada foi benéfica para a reforma, na medida em que, os parceiros internacionais fizeram uma avaliação positiva e felicitaram as autoridades cabo-verdianas pelas melhorias na gestão das finanças públicas (melhorias na bancarização do tesouro, no desenvolvimento do SIGPG e no SIGOF)20.

Adicionalmente, conforme explica um dos stakeholders, “(…) ocorreram muitas mudanças (e.g. nos classificadores das receitas e despesas) e, por vezes, não deixam margem de tempo para a sua aplicação (e.g. desde a independência e até o momento já publicaram seis classificadores”. Assim, a estratégia adotada para implementar parece ter sido multifaseada, na medida em que, na contabilidade pública as mudanças efetuadas não têm ocorrido de uma só vez, mas gradualmente. Segundo citou um dos stakeholders “(…) estão num contexto favorável para novas reformas e que inclusive há um plano de reforma 2017/2020 para consolidar o que está no sistema, e implementar uma outra fase relativa ao Sistema Nacional de Investimentos”.

Para a realização das reformas foram definidas as prioridades/metas anualmente. Por exemplo para 2009/2010 foram delineados os seguintes (Ministério das Finanças, 2009, p.32): consolidar a desconcentração aos sectores ou serviços ordenadores do módulo, no SIGOF, de apoio à gestão orçamental; dotar o País de um Sistema Nacional de Planeamento, Seguimento e Avaliação de Programas e Projetos; atualizar o classificador funcional. Para o ano de 2010: consolidar a implementação da nova contabilidade pública (regime financeiro e da CP e PNCP implementados). E em 2011 a Bancarização do Tesouro, etc.

20http://www.imf.org/en/News/Articles/2016/09/21/PR16417-Cabo-Verde-IMF-Staff-Completes-2016-Article-IV-Mission (Acedido em agosto de

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Para a divulgação e comunicação das ações da Gestão e das reformas das Finanças Publicas foram elaborados planos que consistia na realização de workshops, seminários, produção de materiais informativos, ações formativa, atividades em parceria com entidades da comunicação social, divulgação de legislações via brochuras, com o objetivo de informar e formar as pessoas (Ministério das Finanças, 2009).

As fontes potenciais de financiamento são os parceiros de desenvolvimento de Cabo Verde, com destaque para os mais diretamente engajados no processo de reforma das finanças públicas, no âmbito da transição para a ajuda orçamental, assim como, as fontes internas da comparticipação do governo (Ministério das Finanças, 2009).

O envolvimento da UCR com a Equipa Interna do projeto, sem prejuízo das especificidades inerentes a cada caso, compreenderá diferentes fases, das quais se destacam a conceção/planeamento, a execução, a monitorização/avaliação e a atuação/melhoria. As diferentes fases serão sustentadas por reuniões de coordenação e trabalho em equipa. Das reuniões deverão constar memorandos, que juntamente com os relatórios de atividade semestrais, justificam os trabalhos concretizados no âmbito de cada projeto (Ministério das Finanças, 2009).

No que respeita a responsabilidade para a implementação do Plano das reformas ao Comité de Pilotagem cabe-lhe a realização da arbitragem dos Projetos e dos recursos e o estabelecimento das prioridades – emissão de diretivas; a UCR coordena a implementação dos vários projetos garantindo a integração, o controlo da execução, bem como o seguimento e avaliação e consolidação dos relatórios a serem apresentados ao Comité de Pilotagem. Além disso, presta apoio Técnico aos Donos do Negócio sempre que se mostrar necessário. Os Donos do Negócio implementam os projetos e atividades, garantem a sustentabilidade e apresentam os relatórios e pontos de situação por projetos (Ministério das Finanças, 2009).

7.2 A realidade cabo-verdiana em resultado da aplicação do Modelo FMR de