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Parte III – Estudo empírico

6. Metodologia

6.3 Recolha dos dados

6.3.1 Análise documental e entrevista

Para a recolha dos dados, utilizamos a já referida análise documental, recolhendo informação a partir de relatórios, atas de reuniões, legislação, documentos de prestação de contas públicas e outros elementos idênticos, para caracterizar o caso do Governo Central de Cabo Verde (o processo da reforma, os intervenientes, etc.) abordado no ponto 4 e 5.

Geralmente a documentação existente pode prestar um bom serviço à investigação, no terreno, e consiste numa fonte adicional de informações. Ela possibilita ao investigador familiarizar-se com a sua organização, cultura ou com os acontecimentos relevantes associados à sua investigação. Pode revestir diversas formas, como as mencionadas anteriormente (Fortin, 2009).

O termo documento refere-se a uma vasta gama de registos escritos e simbólicos, bem como qualquer material e dados disponíveis. Os documentos abrangem os relatos históricos ou jornalísticos, fotografias, transcrições, registos áudio ou vídeo, etc. Os dados conseguidos a partir dos documentos podem ser utilizados da mesma forma que os resultantes de observações ou entrevistas (Erlandson, et al., 1993).

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A análise documental possui determinadas vantagens, nomeadamente: a elevada qualidade dos dados, oportunidades de desenvolver análises comparativas, disponibiliza mais tempo para a análise, economia de custos e de tempo. É uma técnica de investigação de caráter qualitativo (Bryman, 2004).

No que concerne à recolha de dados pelas entrevistas, também já referida, foi solicitada autorização às autoridades que desempenham altos cargos em Cabo Verde, nomeadamente associados à contabilidade e finanças públicas, como sejam o próprio Ministério das Finanças, bem como às entidades responsáveis das Direções Nacionais em Cabo Verde, e ainda aos funcionários respetivos, a quem foram feitas as entrevistas.

O campo da recolha, em concreto, foi a Unidade de Coordenação de Reformas (UCR), a Direção Nacional de Orçamento e Contabilidade Pública e a Direção Geral das Contribuições e Impostos, e os serviços de alguns representantes do governo da época da reforma, dos quais os dados foram diretamente recolhidos através da realização de entrevistas semiestruturadas em função das especialidades.

Uma entrevista procura agregar perceções ou conhecimentos de um número variado de entrevistados (Stake, 1995).

A entrevista considerada como uma conversa para atingir uma determinada finalidade, tem como ponto positivo o facto de poder ser ampla para abarcar um grande número de assuntos (Ghiglione & Matalon, 1993). Uma entrevista pode ser (Ghiglione & Matalon, 1993; Albarello & Baptista, 2005): não estruturada, semiestruturada, estruturada ou padronizada. Numa entrevista não estruturada, o indivíduo é convidado a responder de forma pormenorizada, com as suas próprias palavras e por meio do seu próprio quadro de referência, a uma questão geral (o tema) caracterizada pela ambiguidade. Na entrevista semiestruturada subsiste um esquema de entrevista (guião da entrevista), mas os temas são abordados de forma livre, podendo não existir sequência. A entrevista estruturada está próxima de um questionário em que são efetuadas apenas questões abertas; o quadro de referência é pré-determinado.

Nas entrevistas realizadas neste estudo foram considerados os seguintes aspetos:  As entrevistas foram semiestruturadas, com perguntas abertas e “follow-up” (permite que os

inquiridos, desenvolvem as respostas), de forma a reunir a perceção dos entrevistados sobre o fenómeno em estudo – conteúdo e processo da reforma da contabilidade pública no governo central cabo-verdiano, numa tripla perspetiva, passada, presente e futura;

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 O gravador de áudio foi utilizado para a gravação da fala e instigação das pessoas escolhidas;

 Depois de transcritas, as entrevistas foram enviadas para a verificação pelos entrevistados. Os programas informáticos, como os softwares, Microsoft Word e Excel foram utilizados para registo dos dados recolhidos, nomeadamente transcrição das entrevistas.

Os dados das entrevistas foram utilizados na parte dos resultados (capítulo 7).

Os dados qualitativos são atrativos por diversas razões: são ricos, completos, holísticos, “reais”, e oferecem uma forma muito mais precisa para avaliar a causalidade nas questões organizacionais (Miles,1979).

O uso da entrevista como técnica de recolha de dados em abordagens qualitativas apresenta as seguintes vantagens:

 Consiste num método adequado para analisar tópicos em que diferentes níveis de significados necessitam de ser explorados, como no estudo organizacional e de identidades de grupo nas grandes organizações; tal não é possível usando questionários (Cassell & Symon, 2004).

 Existe uma maior probabilidade de conseguir informações sobre temas complexos e que envolvem emoção (Fortin, 2009).

Por outro lado, como inconveniente, a entrevista acarreta para muitos investigadores uma sobrecarga de dados, como resultado de um enorme volume de informação produzida através de um estudo de tamanho moderado (Cassell & Symon, 2004; Miles, 1979). O tempo requerido para a entrevista e o seu elevado custo podem também constituir inconvenientes. Os dados podem ser difíceis de codificar e de analisar (Fortin, 2009; Miles, 1979).

6.3.2 Definição e caracterização dos entrevistados

O estudo empírico, como referido, vai basear-se em técnicas de investigação qualitativa, com recurso à análise documental e ao inquérito por entrevista. Os sujeitos a serem entrevistados serão os altos dirigentes da administração central em Cabo Verde que conhecem o historial político, económico e social do país, e as pessoas que estiveram envolvidas na reforma mais recente da contabilidade pública no país. Na reforma estiveram e estão envolvidos os serviços do Ministério das Finanças e Planeamento, sobre a supervisão da Unidade de Coordenação de Reformas. O inquérito por entrevista vai ainda abranger Diretores Gerais, como

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sejam o Diretor Nacional de Orçamento e Contabilidade Pública (DNOCP) e o Diretor Geral das Contribuições e Impostos (DGCI), e outros técnicos destas direções.

Neste contexto, o inquérito por entrevista abrangeu ex-membros do Governo, diversos Diretores-Gerais e os indivíduos que fizeram parte da Comissão da Reforma, tendo sido entrevistadas quinze (15) pessoas, a saber: a ex-Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional, a ex-Secretária de Estado das Finanças, os ex-coordenadores da reforma e os ex- Diretores da Contabilidade Pública e da Direção Nacional de Orçamento, do Tesouro, do Planeamento, técnico do MF, a Gestora do PNCP, a Diretora do Património, Juiz Conselheiro e técnicos do TC, visto que foram eles que tiveram posições-chave na reforma – Quadro 5.

Com esta população-alvo tentou-se cobrir todos os intervenientes, mais ou menos diretos, nos anteriores e atual processo de reforma da contabilidade e gestão financeira pública do Governo Central de Cabo Verde.

Quadro 5 – Apresentação dos inquiridos de acordo com a classificação do Modelo de Lüder Atores/Inquiridos Ex-Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional Promotora 1 Ex-Secretária de Estado das

Finanças Promotora 2 Ex-Coordenadores de reforma Indutores 1, 2,3 Ex-Diretores da Contabilidade Pública, da DNOCP e técnico do MF Stakeholder 1, 2, 3 Diretor Geral do tesouro Stakeholder 4 Ex-Diretor Nacional do

Planeamento

Stakeholder 5 Gestora da PNCP Stakeholder 6 Diretora do Património Stakeholder 7 Juiz Conselheiro e técnicos

do TC

Stakeholder 8, 9, 10

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6.3.3 Elaboração do guião da entrevista

Conforme mencionado anteriormente, para o estudo empírico realizámos diversas entrevistas, com o objetivo de compreender o que sucedeu no processo da reforma tendo em conta o modelo de Lüder e a teoria institucional, assim, procura-se perceber como que os diversos fatores interventores têm agido, e como tal procedimento tem orientado à institucionalização do sistema de contabilidade pública atualmente em vigor (PNCP) e de que forma poderá vir a definir outras reformas futuras. Neste contexto foi elaborado um guião de entrevistas (Anexo 1) com perguntas abertas e semiestruturadas.

As perguntas abrangeram todas as variáveis do Modelo do Lüder (utilizada para efetuar a leitura dos resultados), a saber: as varáveis contextuais – estímulos e os ordenamentos institucionais; as variáveis comportamentais – os indutores e promotores da reforma, e os stakeholdres; as variáveis instrumentais – o conceito da reforma e a estratégia de implementação. E abarcou também a teoria insitcuional, onde os inquiridos foram questionados se houve ou não a pressão para a realização da reforma e também sobre o envolvimento deles na reforma.

Para a elaboração deste guião baseamo-nos no modelo do processo de reforma da gestão financeira – Modelo FMR (Lüder, 2001) e na teoria institucional (DiMaggio & Powell, 1983; Meyer & Rowan 1977).

6.3.4. Aplicação das entrevistas

Antes da realização das entrevistas, foi enviada uma carta de protocolo aos entrevistados (Anexo 2), com o objetivo de analisarem a matéria em estudo.

A população alvo deste estudo, como referido na secção acima, foi constituída por diversas instituições governamentais, nomeadamente as diferentes Direções do Ministério das Finanças (explanadas na secção 4.3), os coordenadores da reforma, os dirigentes e técnicos do TC, perfazendo um total de 15 entrevistados. Os entrevistados mostraram-se disponíveis, as entrevistas tiveram aproximadamente a duração de 60 minutos cada, e decorreram durante o período de agosto a outubro de 2016.

Escolhemos estas instituições com base nos objetivos de investigação e também porque as pessoas a serem entrevistadas possuem características, perfil e experiência nessa área de estudo.

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Os dados provenientes destas entrevistas foram transcritos e reduzidos (codificados) para serem, em seguida tratados. No sentido de reforçar a precisão dos dados da entrevista, as transcrições foram enviadas aos entrevistados, para emendarem erros e interpretações erradas, e simultaneamente dar-lhes a oportunidade para oferecerem informações adicionais e para resumirem as informações. Este processo aconteceu em março de 2017, somente duas pessoas responderam, mas não houve alterações significativas em relação à recolha inicial.