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2. CAPÍTULO II CONCEITO DE MEDIAÇÃO E O PAPEL DO MEDIADOR NA

2.4. O conceito de mediação

De acordo com Hale et. al., dentre outros autores117, existem várias espécies ou modelos de mediação, estando as principais abordagens do instituto diferenciadas pelos seus escopos.118

As principais abordagens mencionadas pela doutrina são a Escola Linear de Harvard; a Mediação Transformativa; a Mediação do Modelo Circular Narrativo; e a Mediação Avaliativa.

Hale et. al. dispensam maior atenção às duas primeiras abordagens, por serem as mais praticadas em âmbito global (isto é, são as mais praticadas nos países que adotam a mediação como método de solução de conflitos).

Contudo, embora menos recorrentes, as duas últimas abordagens de mediação também serão observadas, “como o modelo circular narrativo, da professora Sara Cobb, e a mediação avaliativa, que se aproxima da avaliação neutra de terceiro e permite ao mediador uma maior participação na fase de criação de opções de soluções.”119

De acordo com Hale et. al., pela abordagem da Escola Linear de Harvard – representada pelas ideias de Frank Sander – a mediação é o método adequado que possui como objetivo precípuo a solução do conflito pela obtenção do acordo.120

Como consequência, o procedimento é desenvolvido de modo a melhor possibilitar a solução da controvérsia. Os participantes são estimulados a indicarem opções por meio de técnicas como brainstorming, refrasing etc. Caso não se obtenha o acordo, a mediação é considerada frustrada.121

– traremos um denominador comum deste conceito – falaremos do papel exercido pelo mediador e abordaremos elementos considerados relevantes do procedimento.

117 Confiram-se, por exemplo, os trabalhos de SALES, op. cit., 2012, pp. 145-146 e de VASCONCELOS, op. cit.,

2017, pp. 62-63.

118 Cf. HALE et. al., op. cit., 2016, p. 42. 119 HALE et. al., op. cit., 2016, p. 44.

120 Idem, p. 42. Os autores afirmam que a Escola Linear de Harvard teria sido a linha adotada pelo CPC de 2015 e

também pela Lei de Mediação brasileira.

121 E complementam os autores, destacando que “o modelo linear é instrumento de diminuição de litígios pendentes

de julgamento perante o judiciário, porquanto, ainda que não possibilite a restauração do diálogo entre as partes, resolve o conflito de interesses que já estava ou seria ajuizado.”. HALE et. al., op. cit., 2016, p. 42. Isto provavelmente justificaria a maior recepção desta abordagem em vários países pelo mundo, haja vista que o problema da sobredemanda afetou a vida dos tribunais em diversas partes do globo. Neste sentido, veja-se o trabalho de SANTOS, B. S. et al. Os tribunais nas sociedades contemporâneas. Revista Brasileira de Ciências

Para os mesmos autores122, pela abordagem da Mediação Transformativa – representada pelas ideias de Joseph Folger e Robert Bush – o acordo deixaria de ser a finalidade principal da mediação, e o mediador buscaria o restabelecimento dos laços e do diálogo em conjunto com os envolvidos. Assim, segundo esta abordagem,

a mediação é concebida como técnica que, não obstante seja capaz de levar à solução do conflito, possibilita aos envolvidos aprenderem meios para se relacionar melhor e superar as posturas que ocasionaram o conflito, a fim de evitar que surjam novos litígios da mesma natureza.123

Fato é que a mediação possui algumas características próprias, independentemente da escola ou da abordagem adotadas ou do escopo eleito124, sendo possível estabelecer uma apreensão genérica do conceito – o que tem notória utilidade acadêmica e prática, haja vista ser a mediação instituto utilizado e referido em diversas partes do mundo.

Segundo Hale et. al., a mediação

sempre será guiada por terceiro imparcial sem poder decisório, capacitado com técnicas capazes de auxiliar os envolvidos no alcance do resultado desejado. A mediação é um método autoral, na medida em que a decisão cabe aos participantes que mantêm o protagonismo nas suas escolhas.125

De acordo com Lilia Sales, a mediação poderia ser conceituada como

mecanismo de solução de conflitos, no qual um terceiro imparcial e com capacitação adequada facilita a comunicação entre as partes, sem propor ou sugerir, possibilitando o diálogo participativo, efetivo e pacífico, permitindo-se a construção de uma solução satisfatória pelas próprias partes.126

Assim, na visão de Vasconcelos, a mediação pode ser entendida como um método dialogal de solução ou transformação de conflitos interpessoais em que os mediandos escolhem ou aceitam um terceiro mediador (podendo inclusive ser mais de um mediador), que tenha

122 Cf. HALE et. al., op. cit., 2016, p. 43.

123 Idem, p.43. De seu escopo, pode-se depreender que a Mediação Transformativa estaria mais apta a empoderar

os sujeitos a resolverem eventuais novos conflitos futuros, e que exerceria – uma vez consolidada no seio da sociedade a cultura da autocomposição pelas práticas mediativas – um importante papel preventivo de novos litígios no longo prazo (podendo ser vista como um interessante instrumento de avanço civilizatório).

124 HALE et. al., op. cit., 2016, p.41. 125 Idem, p. 41.

aptidão para conduzir o processo e facilitar o diálogo entre as partes em conflito, com vistas à obtenção de um acordo.127

Quando se está diante de conflitos de maior complexidade, a mediação tende a ser o meio mais adequado, por ser mecanismo que “possibilita, por meio de técnicas próprias, utilizadas pelo mediador, a identificação do conflito real, vivenciado”128 podendo melhor encaminhar as partes para uma solução consensuada.

Por fim, de acordo com Ada Pellegrini Grinover, a mediação seria conceituada como método consensual de solução de conflitos, pelo qual um terceiro facilitador auxiliaria as partes em conflito no restabelecimento do diálogo. Este terceiro facilitador seria o mediador que, se valendo de técnicas próprias, investigaria os reais interesses das partes, auxiliando-as na criação de opções, até a escolha da melhor, de modo a que chegassem, elas próprias, à solução do conflito.129

Por derradeiro, de acordo com Grinover, para que a mediação pudesse se desenvolver e resultar em acordos viáveis, seria necessário que as partes fossem plenamente capazes de decidir, que o processo fosse pautado na livre manifestação da vontade dos participantes, na boa-fé, na livre escolha do mediador, no respeito e cooperação no tratamento do problema, e, por fim, que fosse assegurada a confidencialidade das informações ali trocadas.

Significa dizer que, observados estes elementos, se oportunizaria a chegada a acordos viáveis, isto é, a soluções mais democráticas, na medida em que contaria com a participação e a manifestação de vontade dos envolvidos, ensejando-se o comprometimento com o que fora acordado, e tornando-se mais provável a sua efetivação.

127 Confira-se VASCONCELOS, op. cit., 2017, p.60. 128 SALES, op. cit., 2012, p. 149.

129 Complementa Grinover que “a mediação é um processo cooperativo, que leva em conta as emoções, as

dificuldades de comunicação e a necessidade de equilíbrio e respeito dos conflitantes, e que pode resultar num acordo viável, fruto do comprometimento dos envolvidos com a solução encontrada.” Cf. GRINOVER, Ada P. Os métodos consensuais de solução de conflitos no novo CPC. In: BACELLAR, Roberto Portugal; LAGRASTA, Valeria Ferioli (org.). Conciliação e Mediação, ensino em construção. São Paulo: IPAM, 2016a. p.04.