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2. CAPÍTULO II CONCEITO DE MEDIAÇÃO E O PAPEL DO MEDIADOR NA

2.5. O papel exercido pelo mediador em uma mediação

2.5.2. As etapas do trabalho do mediador

O trabalho do mediador, na condução da mediação, exige a observância de um procedimento que não é simples, pois, além de obedecer a uma ordem lógica, deve ser aplicado de forma cuidadosa, devendo o terceiro facilitador se posicionar sempre de maneira equidistante, aberto à escuta das partes e atento à profundidade do conflito.

2.5.2.1. A fase preparatória da mediação ou pré-mediação

Na fase de pré-mediação, deverá o mediador informar às partes como se desenvolverá a mediação, se certificar de esclarecer todos os pontos e permitir que as partes conheçam tudo137 sobre o procedimento e sobre os seus direitos materiais ali em jogo.138

135 Confira-se em HALE et. al., op. cit., 2016, p. 60.

136 É dizer, o encerramento ocorre ao final do procedimento, com a lavratura do termo final de mediação, caso os

mediandos desejem prosseguir até o fim da mediação, e não resolvam (qualquer um deles) abandonar o procedimento antes do seu término, hipótese em que se a mediação se encerraria imediatamente. Veja-se o disposto no artigo 20 da Lei de Mediação: “O procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de qualquer das partes.” Adicionalmente, vale destacar o parágrafo único do mesmo artigo, que dispõe sobre a eficácia do termo final em caso de obtenção de acordo. “O termo final de mediação, na hipótese de celebração de acordo, constitui título executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial.”.

137 SALES, op. cit., 2012, p. 154.

138 Trata-se de fazer valer a garantia das partes da tomada de decisão informada e, acrescente-se, com a garantia

de isonomia. É para assegurar a observância destes dois princípios da mediação que, por exemplo, muito embora não seja obrigatória a assistência por advogado na mediação extrajudicial (diferentemente do que ocorre na mediação judicial, conforme dispõe o artigo 334, § 9º do CPC), tal assistência pode ser requerida pelo mediando que se veja em situação de hipossuficiência em termos de conhecimentos técnicos. Note-se que a assistência técnica deve ser recomendada pelo mediador, caso este verifique que um dos envolvidos está em clara desvantagem por falta de informações relevantes, condição que poderia vir a prejudicá-lo. Ainda em atenção ao aspecto da isonomia, o artigo 10, § único da Lei nº 13.140/2015 estatui que, se apenas uma das partes estiver acompanhada

Ainda nesta fase inicial, caso os envolvidos desejem, poderá o mediador ouvi-los em audiências privadas, onde exporão seus pontos de vista, interesses, sentimentos, receios etc.

Esta oitiva em separado dos envolvidos é importante para o mediador conhecer os interesses e as dificuldades emocionais139 que certamente influenciarão as negociações durante as sessões de mediação.

2.5.2.2. O início e o desenvolvimento do procedimento: as sessões de mediação

Na fase das sessões de mediação, o mediador, que as conduzirá, tem o papel de facilitar

a comunicação entre os envolvidos no conflito, fazendo com que eles falem e se escutem140,

porém sem sugerir soluções. Isto é, durante as sessões, o mediador deve estimular as partes a estabelecerem uma comunicação efetiva141, abstendo-se de propor ou sugerir soluções.142

Ao facilitar a comunicação, o mediador visa ao engajamento das partes, isto é, que os próprios envolvidos sejam responsáveis por construir uma solução para a questão (conflito ou controvérsia).

Na mediação de conflitos a solução deve ser construída pelas partes envolvidas. A responsabilidade das pessoas em discutir sobre seus problemas, analisá-los, encontrar pontos de convergência, reconhecer as diferenças, identificar os valores de cada um, a importância de cada questão debatida, é fundamental para o empoderamento das pessoas e, consequentemente, para a elaboração de uma solução que reflita realmente os interesses e valores importantes.143

de advogado ou defensor público, o mediador deverá suspender o procedimento até que todas estejam devidamente assistidas. Neste sentido, confira-se: HALE et. al., op. cit., 2016, pp. 59 e 65.

139 Nas palavras de VASCONCELOS, op. cit., 2017, p.60, “compreender as vivências afetivas e materiais da

disputa”, para, em seguida, estimular que as partes “migrem das posições antagônicas para a identificação dos interesses e necessidades comuns, e para o entendimento sobre alternativas mais consistentes, de modo que, havendo consenso, seja concretizado o acordo”.

140 Ou seja, viabilizar uma comunicação efetiva, onde um fala e o outro escuta, e vice-versa. Neste ponto, SALES,

op. cit., 2012, p. 154, chama a atenção para o risco de haver “falhas na comunicação” motivadas por “medo, indisposição, raiva, amor, ciúme”, razão pela qual deve o mediador ter a consciência de que tais “fatores conduzem muitas vezes as ‘falas’ de cada parte”, devendo, portanto, estar atento às falhas para “valorizá-las e não desprezá- las, para que a comunicação seja efetiva”.

141 Idem, p. 154.

142 Este é, aliás, o principal aspecto que diferencia a mediação da conciliação, pois nesta o terceiro facilitador

(conciliador) pode propor ou sugerir soluções ou propostas concretas de acordo (por exemplo, quando sugestiona às partes a aceitação de um valor a título de reparação pelos danos materiais e/ou morais discutidos na hipótese).

Assim, a responsabilização das partes durante o procedimento da mediação, em que são discutidos diversos pontos do conflito, é fundamental para o seu empoderamento e para que construam conjuntamente soluções consensuais que reflitam valores e interesses que importam para si.

E é justamente porque visa à realização deste “escopo complexo” – que pressupõe o verdadeiro envolvimento das partes – que a mediação parte da premissa de que “as pessoas que vivenciam o conflito são as mais indicadas para identificar os reais problemas, as consequências e o que de fato importa para cada um”144; premissa esta que deve ser mantida viva durante toda a mediação.

2.5.2.3. Chegando a um acordo ou ao restabelecimento do diálogo

Neste sentido, estimular que a solução seja construída pelas próprias partes envolvidas é fundamental em uma mediação, pois “percebe-se que quando as decisões são dialogadas e fruto de consenso, há uma maior probabilidade de efetivo cumprimento”.145

Assim, tem-se como resultados esperados da mediação: (i) a resolução de questões emocionais mais profundas, que nem sempre são expostas na maneira tradicional de abordagem do problema146, (ii) a conciliação dos envolvidos, de modo a que cheguem a uma solução consensual para a controvérsia,147 e (iii) o empoderamento dos sujeitos para que possam resolver com mais facilidade e autonomia eventuais conflitos surgidos no futuro.

144 Idem, p. 155.

145 Eis porque SALES, op. cit., 2012, p. 156, destaca que “a função do mediador é a de facilitar essa comunicação

complexa, garantindo que a solução venha das próprias partes, evitando qualquer tipo de persuasão ou coação”. É justamente para garantir que, ao haver a construção da solução pelas próprias partes, sem quaisquer imposições feitas por terceiros, o acordo tenha maior chances de efetivação.

146 Como ocorreria, por exemplo, na abordagem tradicional da jurisdição estatal, em que, na maior parte das vezes,

não se logra dar tratamento adequado a casos complexos.

2.5.3. As técnicas utilizadas pelo mediador na condução da mediação: a análise