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Os princípios da mediação propriamente dita ou extrajudicial

2. CAPÍTULO II CONCEITO DE MEDIAÇÃO E O PAPEL DO MEDIADOR NA

3.3. Os princípios da mediação no Brasil

3.3.2. Mediação Extrajudicial

3.3.2.2. Os princípios da mediação propriamente dita ou extrajudicial

De acordo com Vasconcelos, os princípios que regem a mediação propriamente dita – infere-se que no âmbito extrajudicial187 – seriam aqueles diretamente referidos ao método e que

187 O trabalho de VASCONCELOS op. cit. se volta para o estudo da mediação de conflitos e práticas restaurativas,

e, para tanto, o autor apresenta o que entende serem características gerais do instituto da mediação e do ofício dos mediadores – o que fez com base na análise de resoluções expedidas por várias instituições brasileiras especializadas, a exemplo do CNJ, do CONIMA e do FONAME. Como a mediação judicial no Brasil vem regulamentada pela Resolução nº 125/2010 do CNJ, pelo CPC e, residualmente, pela Lei de Mediação, infere-se que, quando o autor nada menciona sobre o contexto judicial de aplicação do instituto, é porque ele está se referindo à mediação em geral, que, aparentemente mais se aproximaria da extrajudicial (já que a mediação judicial no Brasil ocorre num contexto mais restritivo, no sentido de que sobre ela incide maior regulamentação, ou seja, mais regras a serem observadas, ainda que exista uma cláusula de abertura no artigo 166, par 4º do CPC). Ao que tudo indica, portanto, vários autores da doutrina brasileira vêm adotando este método de exposição: ao tratarem da mediação em geral, mais se aproximam do tratamento da mediação extrajudicial, já que esta funcionaria de forma mais livre, ou simplesmente indicam que estão tratando da modalidade extrajudicial; e, quando passam a tratar da mediação judicial, deixam isto claro nos seus textos, fazendo referência à sua legislação regulamentadora, e deixam evidente que esta modalidade tem um funcionamento mais restritivo, engessado mesmo (pois normalmente ocorre dentro do processo judicial, no âmbito do Poder Judiciário, com base nas regras do CPC/15 e da Resolução n.º 125/2010

englobariam todos os participantes do procedimento de mediação188. Deste modo, os princípios da mediação seriam a autonomia, a confidencialidade, a oralidade, a informalidade, o consensualismo e a boa-fé.189

Vejamos, em linhas gerais, de que tratam estes princípios que regem a mediação propriamente dita. Para tanto, apresentam-se seus conceitos, conteúdo e sentidos.190

Autonomia

O princípio da autonomia é aquele que determina a necessidade de respeito à autodeterminação dos envolvidos que, durante o processo de mediação, devem exercer suas liberdades de pensamento, de fala e de tomada de decisão. Embora caiba ao mediador reger o procedimento, este personagem deve se abster de forçar acordos ou de influir nas decisões das partes.

Confidencialidade

O princípio da confidencialidade diz respeito ao dever de o mediador manter o sigilo sobre todas as informações obtidas durante as sessões de mediação. Significa dizer que as “as necessidades, sentimentos e questões revelados durante a mediação não podem ser utilizados em qualquer outro ambiente”191. O objetivo da confidencialidade seria justamente proteger os interesses das partes e garantir o bom andamento do processo de mediação. Entretanto, a quebra do sigilo poderia ocorrer em situações excepcionais, por exemplo, quando houvesse autorização expressa das partes, ou em casos de violação à ordem pública ou às leis vigentes – surgindo, nestes últimos casos, para o mediador, o dever de encaminhar as informações às autoridades

do CNJ). Isto não quer dizer, porém, que não haja diálogo entre as regras que regem a mediação extrajudicial e a judicial. Pelo contrário, este diálogo ocorre com relativa frequência, e, em especial, no campo dos princípios. Eis porque se torna possível falar dos princípios da mediação, indistintamente, isto é, sem distinguir de qual modalidade se está falando, já que se trata dos princípios gerais da mediação, ou dos princípios da mediação em geral.

188 VASCONCELOS, op. cit., p. 227.

189 Conforme Idem, pp. 227 e 228, dentre outros autores da doutrina que tratam do tema da mediação.

190 Dentre os princípios da mediação, reputa-se a autonomia como sendo o princípio-chave do procedimento, razão

pela qual sua discussão será aprofundada adiante neste capítulo.

competentes. Vale ressaltar que o mediador “não pode ser testemunha do caso, nem atuar como advogado dos envolvidos em qualquer hipótese”192.

Oralidade

O princípio da oralidade, por sua vez, informa que as sessões de mediação serão regidas de forma oral, privilegiando-se a linguagem comum. O mediador deve estimular que as partes falem e que se coloquem como as principais protagonistas do procedimento, ainda que estejam assistidas por advogados. O objetivo da oralidade é permitir que as partes exponham seus sentimentos e expectativas de forma aberta e direta entre si, de modo que, ouvindo os argumentos que lhes são contrários, e compreendendo as posições controvertidas ante a questão principal, possam chegar a acordos mais efetivos e duradouros.

Informalidade

O princípio da informalidade segue a mesma lógica do princípio da oralidade, na medida em que visa a favorecer uma comunicação mais aberta e direta entre os envolvidos durante o desenrolar das sessões de mediação. Deve-se ressaltar, porém, que os termos de abertura e de encerramento da mediação – e apenas estes – deverão ser formalizados por escrito. Assim, além do termo inicial, que registra o começo do procedimento, haverá um termo final, no qual se consignará apenas o resultado obtido na mediação, devendo todas as demais anotações efetuadas durante as sessões ser descartadas e destruídas.

Consensualismo ou Busca do Consenso

Há, ainda, o princípio do consensualismo, pelo qual os participantes da mediação deveriam “se encontrar no exercício de uma igualdade de oportunidades e de uma liberdade igual, de modo que todo o diálogo e qualquer decisão fossem construídos de forma livre e consensual pelas partes, de modo autocompositivo”193. Tal princípio procura retratar o cenário ideal da interação entre as partes em uma mediação. Este cenário se confunde com o objetivo

192 Idem, p. 227.

da mediação em si, que é justamente o de colocar as partes em diálogo, em um procedimento que as propicie a construção de decisões livre de imposições por terceiros. Por este motivo, este princípio também é identificado como o da “busca do consenso”.

Boa-fé e Cooperação

Por fim, destaca-se o princípio da boa-fé que, no contexto da mediação, se materializa na colaboração entre as partes na busca da satisfação de interesses comuns, ainda que estes sejam contraditórios em diversos aspectos. As partes devem cooperar entre si, adotando posturas colaborativas, para a chegada a um consenso em torno da controvérsia. Na mediação não há provas a produzir ou revelações que possam valer em qualquer outro ambiente194; neste sentido, a obtenção da boa-fé torna-se pressuposto para que o procedimento seja viabilizado.

3.3.2.3. Os princípios orientadores da conduta dos mediadores na mediação propriamente