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A definição mais simples de paisagem, bastante usual no senso comum, não dá conta da complexidade que o termo abrange. O estudo do conceito de Paisagem, assim como dos demais conceitos geográficos, é de suma importância para o ensino de geografia. A escolha

por este conceito nos propicia um estudo em que a percepção, a utilização dos sentidos auxiliará de maneira ampla o aprendizado do educando no que tange às modificações e transformações que podem ser observadas em uma paisagem. Sendo assim, a paisagem não é estática, necessita uma abordagem de caráter dinâmico, que acompanhe o processo de transformação pelo qual o mundo e o homem estão passando.

Neste caso, será apresentado o conceito de paisagem no ensino de geografia para alunos com deficiência visual, através de atividades sensoriais com propostas para uma metodologia que aguce os sentidos e que apresentem a paisagem como uma composição de fatores humanos e naturais. Como cita Claval (2001, p.62) “o objetivo da Geografia atual é compreender a maneira como as pessoas vivem sobre a Terra [...], dão sentido e tentam modificar as realidades nas quais vivem”. A paisagem é uma leitura do espaço e, através de diferentes metodologias, se irá favorecer a esse aluno a compreensão da realidade que o cerca. A ciência geográfica apresenta, de acordo com as diferentes correntes16, categorias consideradas essenciais para a compreensão do seu estudo. As principais categorias geográficas são paisagem, lugar, território, região e espaço. A paisagem é, portanto, considerada um conceito-chave da Geografia. Nesse sentido, pensa Castro:

como toda ciência a geografia possui alguns conceitos-chave, capazes de sintetizarem a sua objetivação, isto é, o ângulo específico com que a sociedade é analisada, ângulo que confere à geografia a sua identidade e a sua autonomia relativa no âmbito das ciências sociais. Como ciência social a geografia tem como objeto de estudo a sociedade que, no entanto, é objetivada via cinco conceitos-chave que guardam entre si forte grau de parentesco, pois todos se referem à ação humana modelando a superfície terrestre: paisagem, região, espaço, lugar e território (CASTRO; GOMES; CORRÊA, 2008, p.16).

Sendo assim, o conceito de paisagem é formado por diferentes elementos que podem ser de domínio natural, humano, social, cultural ou econômico e que se articulam uns aos outros. A paisagem está em constante processo de modificação, sendo adaptada conforme a atividade nela estabelecida e nela os seres humanos criam suas histórias.

Desse modo, refletimos sobre o conceito “paisagem” a partir da compreensão desta, considerando como a interação dos elementos que a compõem: os elementos físicos, as práticas sociais, culturais, assim como a relação existente entre eles. Estudar a paisagem desde cedo faz com que os alunos aprendam a lê-la e entendê-la em toda sua complexidade. Isso

16 MORAES (1983) As diferentes correntes do pensamento geográfico são: Determinismo Ambiental, o

possibilita identificar as diferentes paisagens, sendo possível entendê-la como natural, humana, histórica e social.

A ideia de paisagem existe desde a Antiguidade, porém estabelecer uma data precisa é quase impossível. Alguns estudiosos como Anne Cauquelin (2007, p. 35) sugere que “por volta de 1415 o nascimento da palavra paisagem. Essa viria da Holanda, e transitaria pela Itália”. Para ela, esta seria a longa elaboração das leis da perspectiva e triunfaria, passando a existir por si mesma, deixando de ser decorativo.

Dessa maneira, a paisagem deixaria de ser uma mera pintura e tomaria corpo, seria legitimada a partir do momento em que deixaria ser um mero quadro e se materializaria como mundo exterior. A construção do conceito de paisagem se deu, então, a partir das pinturas, e com a separação desta com o sujeito que a contempla.

Segundo Luchiari (2001, p.15) “até o século XVIII, a paisagem era, portanto sinônimo de pintura. Assim, foi na mediação com a arte que o sítio – o lugar – adquiriu estatuto de paisagem”. Ela ainda comenta que ao mesmo conceito landschaft17 já associava uma

apreensão objetiva (científica) e subjetiva (artística). Já pode, a essa altura, pensar que houve uma evolução, portanto a busca por sua cientificidade.

Em Humboldt (1769 – 1859) e Ritter (1779 – 1859) deve-se a sua entrada no meio acadêmico, pois a Geografia só seria aceita como ciência no século XIX tendo ocorrido a sua sistematização, assim afirmado por Moreira (1994, p.26) “com Humboldt e Ritter nasce a ciência geográfica, sendo por isto denominados os precursores da Geografia Moderna”.

Essa ciência surge na Alemanha onde a questão do espaço era o principal fator de discussão entre as classes dominantes. Humboldt, por meio da observação direta, passou a estabelecer vínculos entre os fenômenos naturais e a sua ocorrência no espaço. Seu método era o descritivo. Ritter propõem a observação empírica dos fenômenos.

Segundo Moraes (1983, p. 48), para Humboldt o “geógrafo deveria contemplar a paisagem de uma forma quase estética [...] A paisagem causaria no observador uma “impressão” [...]. Já Ritter “vai reforçar a análise empírica – para ele, é necessário caminhar de “observação em observação”. (MORAES, 1983, p.49).

Fazendo um recorte, já no início do século XX a paisagem se consolida como objeto central do estudo da ciência geográfica, mas, com as transformações e re-elaborações do objeto de estudo da Geografia outros conceitos como região, território, lugar e espaço irão

17Segundo Besser (2006, p.21) Landschaft é de início um lugar que se define por vizinhanças, humanas e

tomar o centro das discussões e investigações geográficas, deixando a paisagem à margem dessas discussões até meados da década de 1970. Dentro dessa perspectiva, poderíamos trazer mais exemplos para discutirmos esse conceito, porém tratamos apenas de duas correntes de estudo para a nossa análise, uma voltada para a Geografia Física e a outra a Geografia Cultural.