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4.4 As atividades sensoriais desenvolvidas

4.4.2 O mapa mental dos alunos

Essa atividade foi proposta para que os alunos representassem as paisagens do trajeto casa-escola. Quais percepções os mesmos observam nesse percurso e como os outros sentidos trabalham em conjunto para que essa paisagem seja percebida. Então, cada aluno foi descrevendo o seu trajeto. Segundo Kozel (2007, p. 120) “o conceito de mundo vivido, trazido pela fenomenologia passa a ser aporte significativo para entender os mapas mentais”. Dessa forma, esses mapas representam o mundo no qual esses alunos estão inseridos.

Aluno 1

Reside no município de Japeri, a 84 km do IBC, que fica no bairro da Urca. Como é externo, faz esse percurso todos os dias.

Eu saio de casa às 4:30 da manhã e pego um ônibus até a estação de trem de Japeri. Pego o trem até a Central e percebo alguns matos e árvores. O cheiro vai ficando diferente. Desço na Central do Brasil e pego o ônibus 107 (Central-Urca), ele vem pela praia e eu consigo observar as árvores, as ruas. Quando eu chego na escola percebo a mudança pelo vento, o barulho que é menor e pela brisa do mar.

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Figura 28: mapa - aluno 1

Foto de: ARRUDA, L. M. S, 2013.

Na atividade do desenho do mapa mental na tela de desenho38, o aluno optou por desenhar os pontos que chamaram sua atenção no trajeto até o IBC. Desse modo, sinalizou para os seguintes pontos: ruas próximas a sua casa, IBC, Linha do trem Central do Brasil e as praias. Não colocou na ordem correta do trajeto. Desse modo, os desenhos são feitos um ao lado do outro.

Aluno 2

Reside em Honório Gurgel, um bairro da zona norte do Rio de Janeiro, distante da Urca 33 km. Ele se desloca de sua casa até a estação de trem de Honório a pé. Afirma que já identifica a paisagem do entorno de sua residência e as mudanças que ocorrem ao longo do dia.

Onde eu moro é tranquilo de manhã, um silêncio o cheiro é agradável porque tem duas plantações próximas da minha casa. Durante o dia o cheiro vai mudando porque tem uma fábrica de sabão no bairro onde eu moro.

O aluno sinaliza que, com o trem em movimento fica muito difícil observar alguma

paisagem ou objeto.

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No trem dá para identificar uma coisa ou outra, não dá para identificar muito bem o que é, às vezes eu identifico. Por causa da velocidade dele dificulta um pouco a minha visão. Eu consigo ver luz forte, tem um feixe de sol aí dá para ver. Para ver bem o objeto tem que ver bem próximo da luz.

Ele continua descrevendo ao chegar à Central do Brasil como percebe a mudança na paisagem e observa a diferença entre esta paisagem com da sua residência.

Eu desço na estação da Central e o cheiro e o barulho dessa paisagem é bem diferente. Onde eu moro de manhã é um silêncio. Pego o trem é aquele barulho e quando desço na Central já está aquela “feira”. O apito do guarda, o barulho dos carros, das pessoas.

Sua percepção tátil-sinestésica o faz observar a mudança de temperatura no litoral, pois o mesmo passa por duas praias da zona sul do Rio de Janeiro.

Ao caminhar, os cegos tomam muito mais decisões e prestam mais atenção nas informações sonoras, olfativas, cutâneas e táteis sobre os trajetos percorridos do que as pessoas normovisuais [...] (VENTURINI, 2009, p.56).

O aluno observa essas informações principalmente por meio também da sua experiência no trajeto realizado.

Dentro do ônibus fico olhando pela janela. Já é outra paisagem, a praia, o ar fica mais puro. Eu percebo porque o ar fica mais em movimento do que lá onde eu moro. Lá em casa o ar se movimenta pela tarde, aqui ele se movimenta o tempo todo, é raro o ar ficar parado.

Ele observa que, ao descer do ônibus no seu destino final, seu mapa mental organiza- se à medida que sua responsável escolhe o melhor caminho até o IBC.

Eu desço depois do túnel (túnel do Pasmado no bairro de Botafogo) no shopping Rio Sul e então eu pego a rua que vem por dentro da faculdade (UFRJ), ou pela rua do Pinel (Instituto Psiquiátrico Philippe Pinel). Pela faculdade tem muita árvore, muitos pássaros. Pela imagem do início do caminho eu consigo saber se tenho que ir em linha reta, ou se tenho que ir

assim e assim (ele demonstra o caminho no seu braço) e depois entrar na escola.

Figura 29: mapa – aluno 2

Foto de: ARRUDA, L. M. S, 2013.

Na feitura do mapa mental, o aluno 2 optou por desenhar todo o percurso casa-escola com os detalhes que o mesmo observou em sua descrição. Sua noção de lateralidade, espaço, distância é muito aguçada; isto quer dizer que o aluno possui conhecimento de como é a organização espacial de onde ele mora e do percurso que realiza até o IBC. Seu desenho ficou divido em quatro partes: na primeira e na segunda parte, desenhou o caminho de sua casa até a estação de trem; na terceira parte, da Central do Brasil até o shopping Rio Sul e, na quarta parte, da faculdade até o IBC. Ao ser questionado como consegue visualizar com tamanha nitidez o percurso, o mesmo afirmou que tem muita facilidade em memorizar e construir seus mapas mentais pelo fato de ainda ter uma memória visual.

Aluno 3

O aluno reside no município de Duque de Caxias, a 33 km da escola e faz o percurso todos os dias, sendo obrigado a sair de casa às 4:30 da madrugada. Ele observa também o silêncio, a pouca movimentação de pessoas e de carros. Quando sai de casa, já está com seu percurso pronto, com seu mapa mental indicando como deve proceder até chegar ao IBC. “Quando eu saio de casa já estou com o mapa do caminho analisado e pensado”.

O seu trajeto segue o percurso de Caxias-Central do Brasil-Urca. Explica com muitos detalhes e informações que são primordiais para o seu deslocamento.

Eu pego um ônibus de casa até a rodoviária de Caxias, ele segue pela Linha Vermelha, passa por São Cristóvão até a Central do Brasil. Quando eu saio de casa já saio centrado no que eu quero. Já tenho a direção e o endereço na cabeça.

Na Central do Brasil, o que chama sua atenção quanto à modificação da paisagem é com relação ao som que, apesar de apresentar inúmeras informações como o barulho dos carros, das pessoas, do apito do guarda, estes não chegam a desorientá-lo. “O som é totalmente diferente na Central; o guarda fica apitando e eu quase fico surdo. O barulho dos carros, a movimentação de pessoas me deixa nervoso, mas não me desorienta porque eu já saio preparado de casa.

Sua descrição da Central até o IBC é parecida com a dos outros alunos, chamando atenção para a percepção tátil-sinestésica.

Eu pego o ônibus 132 na Central e ele segue pelo Aterro do Flamengo e Botafogo e o que me chama mais atenção é o vento, fica mais ameno a temperatura. Quando eu chego a Urca é mais tranquilo, o tempo é mais fresco, o vento é mais fresco, mais gelado, e o cheiro é diferente por causa do mar.

Figura 30: Mapa - Aluno 3

Ele optou por desenhar os pontos principais do seu percurso, iniciando pela Central do Brasil, onde ele chega de ônibus, logo depois o Aterro do Flamengo (praias), e, por último, o IBC. O que chamou atenção foi a disposição dos desenhos na ordem do deslocamento do aluno. Ele os organizou da forma como ocorre o seu percurso até o IBC.