Como se pode constatar no capítulo anterior, todos os modelos de inovação apresentados tinham presente o conceito de ideia, de forma implícita ou explícita. Angelika C. Bulliger (2008) definiu uma ideia inovadora como sendo a perceção vaga resultante da combinação de propósito com os meios disponíveis, qualitativamente diferente das formas existentes. Um conceito de inovação é assim, segundo a mesma autora, o primeiro predesenvolvimento da inovação.
No caso da inovação tecnológica incremental de produto, as fases de desenvolvimento de um novo produto denominam-se Fuzzy Front End e Fuzzy Back End. Apesar de serem vocacionadas para o referido tipo de inovação, poder-se-á ganhar percepção de todas as fases envolvidas no processo de Gestão de Ideias, já que é aplicável aos restantes tipos de inovação:
o Front End – caraterizada por processos não estruturados e caóticos. A esta fase pertencem os seguintes processos:
Idealização (Ideation) – Geração e angariação de ideias.
Avaliação de conceito (Concept Gate) – Separação e triagem das ideias
18 Processo de Gestão de Ideias Desenvolvimento de conceito (Concept Development) – Engloba todo o
tempo decorrido até à apresentação de um protótipo.
Inclusão de inovação (Innovation Gate) - incorporação do conceito na
organização
o Back End – caraterizada por estruturas e métodos eficazes e eficientes. Tem início do desenvolvimento.
Para a corrente análise focar-nos-emos apenas no Fuzzy Front End.
Mais à frente vamos apresentar as fases com maior detalhe. No entanto, antes de o fazermos, vamos apresentar conceitos base necessários à sua compreensão.
3.1.1.
Estratégias de Colaboração
Os processos de inovação são processos intrinsecamente colaborativos que necessitam do envolvimento de várias pessoas para a geração, avaliação e validação. Existem assim várias estratégias colaborativas.
O processo de gestão de ideias, sendo um processo de inovação, depende do tipo de colaboração adotado pela organização. O tipo de colaboração a adotar será transversal a todo o processo, podendo cada fase utilizar um tipo específico de colaboração que se adeque ao perfil pretendido. Segundo Gary Pisano e Roberto Verganti no artigo “Which Kind of Collaboration is Right for You?”, encontram-se definidos os seguintes tipos de colaboração:
o Aberto – consiste no envolvimento de todo o tipo de colaboradores no processo de inovação de angariação de ideias. Para garantir a aplicabilidade e fiabilidade do modo aberto é necessário garantir que a participação na colaboração é de fácil acesso, através da divisão do problema em partes distintas. A sua principal vantagem, que consiste em atrair um elevado número de soluções para um problema, com baixos custos e sem ser necessário definir a área de conhecimento, poderá também ser visto como a sua principal desvantagem, já que poderá não ser particularmente eficiente do ponto de vista de atrair os colaboradores mais aptos para a resolução de determinado problema, e que a filtragem de todas as ideias geradas tem gastos de tempo e dinheiro. De notar ainda que muitas vezes não é possível a divisão do problema em partes simplificadas, limitando o uso deste modo. Neste artigo é afirmado que o tipo aberto poderá ser também denominado crowdsourcing. Na realidade, o tipo de colaboração aberto poderá abarcar dois sub-tipos. Um primeiro sub-tipo encontra- se limitado a todos os colaboradores que afetam diretamente a organização, enquanto um segundo sub-tipo, denominado crowdsourcing, permite o envolvimento de público em geral, independentemente se pertencem ou não à organização. Este último poderá requerer especificações adicionais no que diz
Conceitos e Definições 19 respeito a um sistema de informação, dado envolve um número indeterminado de utilizadores. Segundo Shapiro no livro “Best Practices are Stupid”, um dos maiores problemas no tipo aberto é obtenção de um elevado número ideias não adequadas, que afeta o nível de eficiência na triagem das que mais se adequam. Analisar propostas de ideias implica custos, logo desperdício de recursos.
o Fechado – consiste no envolvimento limitado de colaboradores de determinadas áreas específicas. Tem a vantagem de se obter a melhor solução de uma determinada área de conhecimento. Dado que consiste num modo circunscrito, está assim subentendido que se encontram identificadas as áreas de ação necessárias para a resolução de determinado problema e que se tem acesso aos colaboradores com os conhecimentos necessários, sendo este o maior desafio e desvantagem deste modo.
Definiram também, nesse mesmo artigo, mais dois modos de colaboração:
o Hierárquica – consiste na existência, numa organização, de uma entidade que controla a direção da resolução do problema, sendo esta mesma entidade a única responsável por todas as decisões tomadas no seu desenvolvimento. Este controlo sobre o desenvolvimento de todo o processo e apreensão de valor é a maior vantagem deste modo, encontrando-se a principal desvantagem no facto de a direção correta para a sua resolução não ser, por vezes, completamente percetível, dificultando as decisões e elevando o risco e responsabilidade. A aplicação deste modo é aconselhado quando uma organização tem capacidade e meios de identificar, resolver e avaliar os problemas propostos, percebendo as necessidades de mercado.
o Plana – consiste na existência, numa organização, de tomada de decisões descentralizada, podendo estas ser tomadas entre os próprios colaboradores democraticamente. Tem a vantagem de todos os riscos, responsabilidades e custos se encontrarem divididos por todos os participantes, estando a desvantagem no facto de ser necessário máxima coordenação e orientação para existir consenso entre os envolvidos e convergência para o mesmo objetivo. A aplicação deste modo é aconselhado a organizações com capacidade e perspetivas alargadas, tendo grande dependência da motivação e interesse de cada colaborador envolvido.
Estes dois conjuntos de modos podem ser combinados entre si, formando quatro opções de colaboração que reúnem as vantagens e desvantagens dos dois modos envolvidos:
o Centro de Inovação – cruzamento entre participação aberta e administração hierárquica, consiste num local onde é colocado um problema e qualquer colaborador pode propor uma solução, estando a decisão final a cargo da organização.
20 Processo de Gestão de Ideias
o Comunidade de Inovação – cruzamento entre participação aberta e administração plana, consiste numa rede em que qualquer colaborador pode propor uma solução ou problema e decidir, democraticamente, qual deverá ser escolhida.
o Círculo de Elite – cruzamento entre participação fechada e administração hierárquica, consiste num grupo de colaboradores, selecionado por uma organização, em que é esta mesma entidade que propõem os problemas e seleciona as soluções para implementação.
o Consórcio – cruzamento entre participação fechada e administração plana, consiste num grupo restrito de colaboradores que propõem problemas, apresenta e seleciona soluções de forma democrática.
Centro de Inovação Comunidade de Inovação P ar ti ci p aç ão Aberta Círculo de Elite Consórcio F e cha d a Administração Hierárquica Plana
Figura 3.1 -Esquema representativo das quatro opções de colaboração
Depois de se ter apresentado os conceitos de colaboração, retomaremos a análise das fases do processo de gestão de ideias apresentado anteriormente. Na secção seguinte proceder-se-á à análise detalhada de cada uma das fases envolvidas.