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Conceitos implicados na construção do Modelo de Auto-Avaliação

4. A Auto-Avaliação das Bibliotecas Escolares e a problemática da liderança

4.2. Arquitectura do Modelo de Auto-Avaliação

4.2.1. Conceitos implicados na construção do Modelo de Auto-Avaliação

4.2.1.1.Envolvimento

(…) trabalhar com alunos, professores, órgãos de gestão e pais de modo a cumprir a missão da escola.

Manifesto das Bibliotecas Escolares

Diz-me e eu esquecerei. Mostra-me e eu lembrarei. Envolve-me e eu compreenderei.

Confúcio

As relações estabelecidas entre a escola e a biblioteca são determinantes para o sucesso da implementação do MAABE. Estas relações podem ser entendidas como oportunidades ou ameaças, consoante são sólidas ou frágeis e coincidentes na cultura de escola, na integração de práticas e no trabalho comum. Numa cultura de avaliação, o envolvimento de todos é essencial para o sucesso. É necessário que a BE esteja integrada nos planos estratégicos e operacionais da escola, na visão e objectivos educativos da escola. É necessário que o esforço seja conjunto, que haja uma cooperação, que todos estejam envolvidos em dar cumprimentos aos objectivos essenciais. Para tal, contribui a plena integração da BE nas práticas curriculares, pois só assim se poderá responder às carências dos alunos e fomentar a definição de objectivos, planificar estratégias, em conjunto com os docentes das diferentes disciplinas.

Todos os envolvidos devem entender a avaliação como um instrumento de melhoria e simultaneamente como um instrumento pedagógico, formativo e orientador nas práticas desenvolvidas. Consideramos pertinente esclarecer quem são os envolvidos neste processo. Toda a escola está envolvida. Cada estrutura da escola apresenta graus de envolvimentos diferentes. Bastos e Martins (2009) elucidam-nos que:

there is the executive board, which must be included in the assessment development at a very early stage, acting as a process facilitator; but there are also teachers, students, families, tutors and other agents whose participation will be requested.

O PB, enquanto líder deste processo, deverá ser capaz de envolver todas as estruturas da escola, todos os elementos da comunidade escolar neste processo avaliativo, deverá ainda ser capaz de apresentar soluções de trabalho colaborativo, pois só assim contribuirá significativamente para o sucesso da auto-avaliação da biblioteca escolar e da sua plena integração na escola.

Acções de sensibilização e esclarecimentos conceptuais, visando uma aprendizagem interactiva do processo de auto-avaliação de modo a elevar o grau de envolvimento de todos é indispensável, assim como uma forte e continuada comunicação, para que todos saibam o que se está a acontecer.

4.2.1.2. O valor

Uma boa empresa é aquela que tem um bom produto e uma boa cultura e que é reconhecida pelo público como tendo boas pessoas, corteses e humildes. De outra forma, a nossa existência não têm valor.

Hirotaro Higuchi

Para uns, o valor da BE reside no espaço, na sua organização e nos recursos que disponibiliza, para outros, o seu valor reside na sua ligação próxima aos currículos e à construção do conhecimento. No modelo de auto-avaliação apresentado pela RBE (p.2), o conceito de valor é definido como:

O valor não é algo intrínseco às coisas mas sobretudo a ver com a experiência e benefícios que se retira delas: se é importante a existência de uma BE agradável e bem apetrechada a esse facto deve estar associada uma utilização consequente nos vários domínios que caracterizam a missão da BE, capaz de produzir resultados que contribuam de forma efectiva para os objectivos da escola em que se insere.

Segundo Cram (1999: 2), no seu artigo “Six Impossible Things Before Breakfast: A multidimensional approach to measuring the value of libraries”, o valor é um “psychological construct. It may be intrinsic or extrinsic, but it is always subjective”, acrescenta ainda que “each value judgement needs to be guided by explicit hypotheses.” O mesmo autor ainda acrescenta que o valor da biblioteca está no seu impacto junto dos

utilizadores. Da mesma forma, Tood (2008) aponta para a importância de se “medir” o valor: “the value of a school library can be measured. Learning outcomes, as well as personal, social, and cultural growth, can be documented”. O valor reside nas práticas das BE associadas aos currículos e às aprendizagens.

Tal como Cram (1999) afirmou, definir o valor da biblioteca é um processo complexo, contudo o impacto dos serviços e das actividades desenvolvidas são elementos essenciais para compreender o valor que lhes é dado. Atribuir valor à BE implica saber transmitir a informação e o conhecimento necessários aos nossos utilizadores, promover serviços de qualidade nunca perdendo de vista a missão e a visão da biblioteca. A satisfação do utilizador é indicada ainda por Cram como uma medida de valor. É necessário recolher informação, a um nível macro, para compreender melhor a satisfação do utilizador e assim avaliar a eficácia e valor que é dado à biblioteca, para posteriormente tomar decisões, a um nível micro, que poderão contribuir para elevação da satisfação do utilizador e do valor atribuído à biblioteca.

Muitas vezes, o impacto surge como sinónimo de valor. Cram (1999: 3) questiona-se sobre esta questão, inferindo que há uma ligeira diferença: “The impact of an event or activity is the effect it has on other activities, or on the providers, recipients or beneficiaries of those activities. Outcomes, on the other hand, are the realised benefits or detriments that flow from those impacts”. Afinal, medir o valor é medir os resultados, os benefícios. Medir o valor implica uma estrutura conceptual explícita. “Value is clearly ajudgement”, na perspectiva de Cram (1999) e o acto de julgar obriga- nos a uma definição do que é bom e menos bom, do que é desejável e indesejável. É neste contexto que o PB deverá demonstrar a sua necessidade. Ele será a pessoa mais habilitada para medir o valor da biblioteca, para gerir a informação, para colocar os recursos da biblioteca ao serviço das aprendizagens e provar à comunidade escolar o impacto da biblioteca na escola, nas aprendizagens.

A concluir a breve explanação em torno do conceito de valor, consideramos relevante acrescentar a reflexão apresentada por Bastos e Martins (2009: 3) acerca deste conceito: “The concept of value is present in most contemporary studies about quality and evaluation, and is moreover inherent to good management practices and to continuous improvement cycles: based on the identification of strong and weak points, a new development plan must be forged.”

4.2.1.3. A Prática Baseada em Evidências (Evidence-Based-Practice)

O conceito de prática baseada em evidências foi explorado por vários especialistas e abordado em vários contextos. No caso específico das BE, tem sido Ross Todd quem mais valoriza este conceito, considerando que a recolha sistemática de evidências relacionadas com a prática diária da biblioteca poderá demonstrar a diferença deste serviço. Segundo Todd (2008), o conceito de prática baseada em evidências é entendido da seguinte forma: “combines professional wisdom, reflective experience, and understanding of students’ needs with the judicious use of research-derived evidence to make decisions about how the school library can best meet the instructional goals of the school”.

Este conceito permite uma visão integradora da biblioteca no seio escolar, envolvendo estas três dimensões, expressas na evidence for practice, evidence in

practice, and evidence of practice (Todd, 2008). As “evidence in practice” são as

evidências de processo, que nos descrevem a forma como o serviço da biblioteca se desenvolve; a “ evidence of practice” são as evidências de impacto, que nos mostram o resultado das práticas desenvolvidas e, finalmente, “evidence for practice” são as que correspondem à forma como a pesquisa vai ser usada para desenhar a prática desenvolvida na biblioteca. Estas dimensões devem ser entendidas como dinâmicas e geradoras de novas práticas. Poder-se-á concluir que a prática baseada em evidências é a

razão de ser da biblioteca escolar na escola.

Agora, o “dizer” é insuficiente e ambíguo, necessitamos de substituir o verbo. Em vez de “dizer”, é preciso “demonstrar”, possibilitando a evidência de se tornar essencial, testemunhando o papel transformativo das bibliotecas no desenvolvimento das competências literácicas e na construção do conhecimento. McNicol (2004) reforça esta ideia, sublinhando a importância de sistematizar de evidências, de modo a permitir uma melhoria do processo de ensino-aprendizagem; uma melhoria das práticas de trabalho; na elaboração de relatórios; aperfeiçoando a planificação, na justificação de recursos humanos, na valorização dos serviços e na defesa da importância das BE.

A quantidade e a qualidade das evidências recolhidas fornecem-nos informações que nos permitirão avaliar a actividade, podendo melhorá-la ou reestruturá-la. É neste sentido que o modelo de auto-avaliação não pode ser indiferente ao conceito de prática baseada em evidência, o qual se traduz no desenvolvimento de práticas sistemáticas de recolha de evidências, associadas ao trabalho realizado. Analisar o impacto da BE nas

aprendizagens a partir do conceito implica explorar múltiplas informações, vários tipos de evidências e saber como interpretá-las para posteriormente comunicar os resultados.

4.3. Análise dos instrumentos, relacionados com a Liderança, no