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3. Os Indicadores de Liderança do Professor Bibliotecário

3.5. Relações Interpessoais

3.5.3. O Professor Bibliotecário e os Docentes da Escola

A Biblioteca Escolar é parte integrante do processo educativo.

IFLA

A relação entre BE e aprendizagem assume-se, hoje, como um dos factores críticos de sucesso da BE, apresentando-se como uma oportunidade para validar o seu papel no contexto da escola, através do impacto nas aprendizagens dos alunos. A este respeito, Haycock (1997) relembra que “teacher-librarians affect student achievement, this information is unknown outside the school library community”. Perante a profusão de informação que nos rodeia e a facilidade com que os conteúdos são produzidos e disponibilizados, sem quaisquer critérios editoriais ou outros que validem a informação disponibilizada, o papel do PB torna-se mais necessário. O professor bibliotecário, enquanto gestor de informação e professor, colaborará com os alunos para que sejam competentes na selecção, uso e comunicação da informação. No entanto, não é suficiente trabalhar com os alunos, é essencial efectivar um trabalho colaborativo e cooperativo com os docentes de modo a potenciar a introdução de novas estratégias de aprendizagem. Continua actual a ideia defendida por Mónica Gather-Thurler (1996), no seu artigo “Innovation et coopération: liens et limites”, que é necessário ultrapassar o “culto do individualismo”, apelando à profissionalização interactiva, através do trabalho de cooperação eficaz em equipas pedagógicas, para a aquisição de atitudes e competências próprias entre pares.

É, também, necessária uma mudança na prática docente, assim como nas metodologias. É neste sentido que a Declaração Política da IASL sobre Bibliotecas

Escolares (1993: [3]) reforça a necessidade de mudar práticas e que “todos os sistemas de educação devem ser estimulados a alargar os contextos de aprendizagem à BE não os reduzindo ao professor e ao manual”. Ainda a este propósito, Francisco Soto (2006: 28) afirma que muitos professores ainda persistirem no livro de texto, o manual, como um das únicas fontes informacionais, ignorando que vivemos em plena sociedade de informação e que é necessário “no solo obtener información, sino saber seleccionar entre la ingente masa de la misma que nos bombardea diariamente, saber ordenarla, utilizarla o saber asimilar la que le interesse y no outra”. Soto, no seu artigo “El libro y

la bibllioteca escolar. La escuela del pasado y del futuro”, ainda recorda o papel primordial das bibliotecas escolares e defende que

la biblioteca escolar está integrada en el proyecto educativo y en el proyecto curricular de los centros, y debe fomentar métodos activos de enseñanza y aprendizaje, y especialmente la autonomía del alumnado en el proceso de aprendizaje.(2006: 36).

Quando existe esta consciencialização da função da BE, é mais fácil existir um trabalho colaborativo e colaborador, mas para tal é necessário minimizar algumas resistências. Só haverá mudança efectiva quando nas escolas o ambiente de trabalho for de contínua interacção de uns com os outros. Quando as limitações individuais de cada um convidarem à cooperação, de forma a atingir objectivos que uma acção isolada não conseguirá alcançar, tal implica haver bons canais de comunicação e harmonia nas vontades para todos, em conjunto, cumprirem objectivos comuns. A disposição de contribuir na acção conjunta significa, sobretudo, disposição em sacrificar o controlo da própria conduta em benefício da coordenação, da participação e da cooperação. É necessário que as relações entre professores e PB sejam relações duradouras e interdependentes, partilhando objectivos, definindo papéis no processo e um planeamento baseado no resultado de evidências, nos conhecimentos, nas habilidades e aprendizagens dos alunos, assim como na monitorização e avaliação dos progressos.

Após uma análise dos resultados escolares dos alunos, passamos a uma outra estratégia inerente ao sucesso da BE: a sua visibilidade. É neste contexto que consideramos indispensável, para o nosso estudo, recordar o artigo de Hartzell (1997) “The invisible School Librarian: Why Other Educatadors Are Blind to Your Value”, no qual é afirmado que de um modo geral os “librarians are not presented as partners in curriculum development”, por isso o autor reforça a ideia que é imprescindível que o PB construa a visibilidade da importância do seu trabalho. É favorável estabelecer as melhores relações interpessoais com a direcção e com os docentes, mostrando-lhes que o professor bibliotecário é “people who help others make students sucessful”.

No contexto escolar português, as alterações curriculares e as reformas educativas que introduziram as áreas curriculares não disciplinares, tais como disciplinas como o Estudo Acompanhado ou a Área de Projecto, surgem como oportunidades para que o PB construa e demonstre a sua visibilidade e seja reconhecido o seu contributo para as aprendizagens dos alunos.

É no trabalho com os alunos, com os seus pares, com toda a escola, que a liderança do PB é crucial. A liderança do PB deverá caracterizar-se por uma natureza aproximativa e securizante, incisiva, transversal e transformativa. Aproximativa e securizante, através do diálogo e do trabalho articulado com a direcção, com os professores e através da representatividade participada nos órgãos de gestão pedagógica. Transversal e incisiva, porque deve identificar os diferentes domínios com os quais as ligações curriculares interagem e ser incisivo na planificação e no desenvolvimento de acções que ultrapassem os constrangimentos ao sucesso. Transformativa, porque tem subjacente acção eficaz, porque pretende que a escola valorize a BE e que os professores numa atitude colaborativa contribuam para essa valoração. Transformativa, ainda, porque implementa novos modos de pensar, recorre a novas estratégias e faz apelo a novos tipos de saberes, nomeadamente: trabalhar em equipa, pensar a BE à escala da organização no seu todo e agir estrategicamente a partir de raciocínios de antecipação.