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O conceito de salário é trazido pela doutrina trabalhista tradicional de uma forma bastante superficial. A maior parte dos autores analisa timidamente apenas o aspecto puramente jurídico, sem, contudo levar em consideração fatores outros que deveriam ser ponderados para a construção de um conceito apropriado.

A abordagem inicial é sempre no sentido de diferenciar a remuneração do salário, sendo a primeira o gênero, o segundo a espécie. Na sequência, o conceito de salário aparece vinculado, na mais das vezes, ao caráter de contraprestação no contrato de trabalho, em que figuram como partes o empregado e o empregador.

Vólia Bomfim (CASSAR, 2014) atenta para o caráter ora de retribuição, ora de contraprestação atribuído pela doutrina clássica ao salário. Ao conceituá-lo entende que salário é: ―toda contraprestação ou vantagem em pecúnia ou em utilidade devida e paga diretamente pelo empregador ao empregado, em virtude do contrato de trabalho.‖ (CASSAR, 2014, p. 760) Reforça ainda que tal pagamento ocorrerá por serviços prestados, tempo à disposição, ou mesmo determinação legal.

Godinho (2016), de maneira mais objetiva, entende que o salário é ―o conjunto das parcelas contraprestativas pagas pelo empregador ao empregado em função do contrato de trabalho.‖ (DELGADO, 2016, p. 681) Deixa bem claro que não se trata de uma única verba, mas sim de um conjunto.

Carlos Henrique Bezerra Leite (LEITE, 2015) reconhece não haver consenso em torno do conceito de salário. Desta forma, apresenta duas teorias: 1) a teoria da contraprestatividade 2) e a teoria da contraprestação do contrato de trabalho. Para ele, a teoria da

contraprestatividade vê o salário como ―troca que o empregado faz com o empregador, fornecendo a sua atividade e recebendo a remuneração correspondente.‖ (LEITE, 2015, p. 386). Já a teoria da contraprestação refuta a ―relação direta entre trabalho e salário, dando-se ênfase à relação entre o contrato e o salário.‖ (LEITE, 2015, p. 386). Finaliza citando o conceito de Amauri Mascaro Nascimento para quem salário ―é a totalidade das percepções econômicas dos trabalhadores, qualquer que seja a forma ou meio de pagamento, quer retribuam o trabalho efetivo, os períodos de interrupção do contrato e os descansos computáveis na jornada de trabalho.‖ (LEITE, 2015, p. 386)

No entender de Gustavo Felipe Barbosa Garcia (GARCIA, 2012), o salário assim com a gorjeta estão compreendidos na remuneração. Com relação ao conceito, limita-se a reportar ao artigo 457 da CLT ―salário é a quantia paga ‗diretamente pelo empregador‘.‖ (GARCIA, 2012, p. 366)

Orlando Gomes e Elson Gottschalk (GOMES e GOTTSCHALK, 2012) advertem, de início, que cada ordenamento jurídico dispõe de forma peculiar sobre o tema, segundo a lei de cada país. De tal forma explicam que a legislação brasileira optou por distinguir remuneração de salário. Entendem por salário ―tão só as atribuições econômicas devidas e pagas diretamente pelo empregador, como contraprestação do serviço.‖ (GOMES e GOTTSCHALK, 2012, p. 237)

Na obra Tratado Jurídico do Salário, José Martins Catharino (CATHARINO, 1951) apresenta uma divisão conceitual - salário em sentido estrito e salário em lato sentido. Desta forma, em sentido estrito, seria aquele devido ao trabalhador nos casos de efetivo trabalho, ou nos casos em que o empregado se encontra à disposição do empregador. Doutro modo, em lato sentido é aquele pago ao empregado mesmo estando ele inapto ao trabalho, ou de qualquer forma impedido de fazê-lo, ou mesmo quando por determinação legal puder o trabalhador não laborar mantendo-se o direito à percepção do salário.

Nos dois casos acima referidos, admite Catharino que

uma vez iniciada a prestação do trabalho, precedida ou não de ato consensual, o salário passará a ser devido na forma e na quantidade estipulada (...) O que importa é a continuidade do vínculo contratual ou instituído (CATHARINO, 1951, p. 105).

Antônio Lamarca (LAMARCA, 1969) segue a mesma linha desenvolvida por de Catharino. Já Cesarino Júnior (CESARINO JUNIOR, 1980) assegura que, em nosso

ordenamento jurídico, o termo remuneração equivale na verdade a salário latosensu. Deixa de conceituar o salário, porque o seu estudo teórico pertence mais à economia. Informa que: ―Neste livro usamos a expressão salário (isolada) como sinônimo de remuneração‖ (CESARINO JUNIOR, 1980, p. 230).

Acerca da confusão entre remuneração e salário, Russomano (RUSSOMANO, 1991) assevera que, no território do direito comparado, é aceito tratá-los como sinônimos. Todavia, igual tratamento não pode ser dado no direito brasileiro, que traça nítida diferença entre os mesmos, sendo a remuneração o gênero e o salário espécie. Assim, para o nosso ordenamento salário é ―o valor pago, diretamente, pelo empresário ao trabalhador, como contraprestação do serviço por este prestado‖ (RUSSOMANO, 1991, p. 333).

José Augusto Rodrigues Pinto (PINTO, 2000) admite o salário ―entre os vários tipos de retribuição do trabalho, traz em sua origem a natureza de obrigação contratual contraprestacional da enérgica humana posta à disposição do empregador, através da relação de emprego‖ (PINTO, 2000, p. 307).

Octávio Bueno Magano (MAGANO, 1980) encara a remuneração e o salário como sinônimos e justifica aludindo ao direito comparado e à doutrina de Américo Plá Rodriguez. No primeiro caso, reporta-se ao artigo 26, do Estatuto dos Trabalhadores da Espanha: ―Considerar-se-á salário a totalidade dos recebimentos econômicos feitos pelos trabalhadores ...‖ (MAGANO, 1980, p. 176). No segundo, ao tratar de salário, faz referência a Plá Rodriguez: ―conjunto de vantagens econômicas, normais e permanentes obtidas pelo trabalhador em virtude de seu trabalho.‖ (MAGANO, 1980, p. 176)

Também Arnaldo Sussekind (SUSSEKIND, 2002) cita conceito de Américo Plá Rodriguez, no artigo El regime de los feriados pagados, para quem salário ―constitui a obrigação patronal que corresponde à obrigação do trabalhador de por suas energias à disposição do patrão, sem que tenha que coincidir parcialmente cada pagamento com cada prestação.‖ (SUSSEKIND, 2002, p. 394 e 395). Luciano Martinez (MARTINEZ, 2015) ao falar de salário, conceitua-o como salário-base, que seria a base da retribuição pelo trabalho fixado.