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Ao se debruçar sobre as diversas teorias sobre o salário disponibilizadas pela doutrina clássica verifica-se, em primeiro lugar, que ele aparece vinculado a figura do trabalho subordinado.7Uma vez delimitado esse objeto – salário decorrente do trabalho subordinado, abstrato – a doutrina jurídico-trabalhista passa-se a descrever as teorias que o legitima.

O professor Amauri Mascaro Nascimento aponta o que passou a chamar de ―princípios Éticos do Salário‖ (NASCIMENTO, 1984, p.18). O primeiro princípio que apresenta vem com a denominação princípio do salário justo. Partindo das manifestações internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948, defende ―o direito a uma

7 O professor Amauri Mascado Nascimento, em obra específica sobre o tema, é contundente: A subordinação é

uma situação em que se encontra o trabalhador, decorrente da limitação contratual de sua vontade, para o fim de transferir ao empregador o poder de direção sobre a atividade de trabalho... O Salário é o instituto que deve ser confinado aos limites do trabalho subordinado. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Manual do Salário. São Paulo: LTr, 1984, p. 20-22.

remuneração justa, compatível com a dignidade humana, satisfatória de um padrão de vida decente‖ (NASCIMENTO, 1984, p. 18).

O princípio do salário vital está centrado no Código Social de Malinas (art. 114). Apresenta como finalidade, ―garantir ao ser humano o mínimo de que tem necessidade para sobreviver‖ (NASCIMENTO, 1984, p. 30). Já o princípio do salário suficiente tem mais uma preocupação: ―significa que o salário deve atender a todas as necessidades relevantes do assalariado e sua família e não, apenas, como o salário vital, as suas necessidades mínimas‖ (NASCIMENTO, 1984, p. 31). Seguindo o seu itinerário, e possível encontrar a teoria do

salário como crédito alimentar, que advém dos estudos empreendidos por Couture, Planiol,

Ripert e Santoro-Passarelli. Expõe finalmente o princípio da igualdade ou da isonomia

salarial. Neste aspecto, faz remissão àquela declaração internacional, às convenções e

recomendações da Organização Internacional de trabalho (NASCIMENTO, 1984, p. 36).

Um olhar sobre a doutrina clássica demonstra que a mesma encara os princípios protetivos do salário, como forma de justificar o valor pago ao trabalhador, sem, no entanto, se preocupar com a desigualdade entre a prestação e a contraprestação, oriunda da relação de poder.

Vólia Bomfim (CASSAR, 2014) aborda duas dimensões de proteção: a irredutibilidade e a intangibilidade. Para ela, a irredutibilidade encontra seu fundamento não só no princípio tutelar homônimo, mas também na força obrigatória existente nos contratos, a

pacta sunt servanda. Assim, qualquer modificação no contrato tendente a causar prejuízo ao

trabalhador – reduzir o salário – seria nula de pleno direito. Neste ponto, atenta para o que ela chama de ―saúde da empresa‖, que promove, entre outros, a preservação dos empregos e justifica a possibilidade de redução dos salários pela via sindical permitida pela Constituição Federal no inciso VI, artigo 7º. ―A intangibilidade em seu entendimento representa a proteção que o salário do empregado possui não só de seus credores como também dos credores do empregador (falência) e do próprio empregador‖ (CASSAR, 2014, p. 861). Por fim, o Princípio da Intangibilidade Salarial proíbe qualquer desconto que não esteja previsto em lei, ainda que esteja autorizado pelo mesmo. Tais proteções, no entender da autora, tem o propósito de defender a segurança econômica do trabalhador.

Maurício Godinho (DELGADO, 2016) apresenta os ―sistemas de garantias salariais‖. Para ele, constituem um conjunto de uma vasta proteção das parcelas devidas ao trabalhador ao longo da relação de emprego, sendo assim entendidos os princípios juslaboralistas e outras

garantias construídas pela própria legislação trabalhista. Em linhas gerais, refere-se aos princípios da irredutibilidade, intangibilidade e impenhorabilidade.

O Princípio da Irredutibilidade Salarial consiste na primeira linha de proteção ao seu valor, que traduz, no plano salarial, a incorporação pelo Direito do Trabalho, do princípio geral da ―inalterabilidade dos contratos (pacta sunt servanda), oriundo do tronco civilista básico" (DELGADO, 2016, p. 753). Entende que a dimensão da irredutibilidade possui o propósito de combater duas formas principais: a redução salarial direta – redução nominal dos salários - e a redução indireta – redução de serviços ou jornadas, com a consequente redução do salário. Alerta que, em princípio, estas duas modalidades de redução são proibidas pelo sistema jurídico trabalhista.

No que diz respeito à intangibilidade, entende que o subsistema jurídico-trabalhista se encontra estruturado de forma a viabilizar sua livre e imediata percepção por parte do trabalhador no curso da relação laboral. O sistema de proteção se transmuda em três proteções essenciais de abrangência: ―garantias e proteções direcionadas a evitar o assédio dos credores do empregador; garantias e proteções dirigidas a evitar abusos do empregador; e, finalmente, garantias e proteções direcionadas a evitar o assédio dos próprios credores do empregado‖ (DELGADO, 2016, p. 762).

Atenta, ainda, para que a ordem jurídica destina uma série de proteções ao salário do trabalhador em face dos seus credores. Neste aspecto, entende serem quatro as medidas adotadas com a finalidade de proteger o crédito trabalhista: impenhorabilidade do salário, restrições à compensação de créditos gerais e trabalhistas com os trabalhistas específicos do empregado, ao critério de cômputo da correção monetária e, finalmente, à inviabilidade da cessão do crédito salarial do obreiro (DELGADO, 2016, p. 824).

Ao abordar sobre os princípios de proteção ao salário, Carlos Henrique Bezerra Leite (LEITE, 2015) anuncia que o ordenamento brasileiro consagra diversos princípios e regras de proteção. Aponta, dentre outros, os princípios da irredutibilidade, da inalterabilidade, da integralidade, da intangibilidade, da impenhorabilidade. Bezerra Leite também traz, dentro do capítulo Remuneração e Salário, um título ―Outros princípios de proteção ao salário‖ (LEITE, 2015, p. 425) no qual discorre sobre um conjunto de proteções advindas da lei. Seriam elas: a proibição da retenção indevida, a periodicidade do pagamento do salário, a necessidade do mesmo ser pago em espécie na moeda vigente no País.

Já Carlos Filipe Barbosa Garcia (2012) encara o tema de forma muito semelhante a Maurício Godinho, na medida em que subdivide as proteções em três: ―Garantias do salário perante o empregador, Garantias do salário perante os credores do empregado e Garantias do salário perante credores do empregador‖ (GARCIA, 2012, p. 442, 460 e 463.

Dentro desta subdivisão, descreve o princípio da irredutibilidade, intangibilidade, a garantia do art. 467 da CLT (de receber ao final do contrato a integralidade das verbas incontroversas) – na primeira subdivisão, a impenhorabilidade; na segunda subdivisão; a supremacia do crédito trabalhista; na terceira, sobre os demais créditos.

Orlando Gomes e Elson Gottschalk (GOMES e GOTTSCHALK, 2011) descrevem, em capítulo específico, sobre a proteção do salário. Analisa o teme em cinco tópicos: a proteção contra os abusos do empregador; proteção contra a imprevidência do empregado; proteção contra os credores do empregador; salário como crédito preferencial e salário mínimo.

No item sobre a proteção contra os abusos do empregador, discorrem sobre a proibição do truck system – que veda ao empregador pagar o salário apenas de natureza in natura – a irredutibilidade, o prazo para pagamento e o pagamento em caso de rescisão do contrato de trabalho. No tópico proteção contra a imprevidência do empregado, refere-se à proibição de cessão e da impenhorabilidade. No tocante à proteção contra os credores do empregador, o crédito trabalhista é considerado um crédito privilegiado e, em caso de falência, prefere aos demais.

Com relação ao salário mínimo, entendem que ―O salário-mínimo é uma forma de proteção do salário, vulgarizada nos tempos modernos.‖ (GOMES e GOTTSCHALK, 2011, p. 307). Embora o Estado sempre tenha se preocupado, ao longo dos tempos, em limitar um valor mínimo, nem sempre o fez com o propósito de garantir um mínimo vital aos trabalhadores empregados.

Sérgio Pinto Martins (MARTINS, 2013), Octávio Bueno Magano (MAGANO, 1980) e Cesarino Junior (CESARINO JUNIOR, 1980), ao trabalharem com a temática da proteção, aludem à convenção n. 95 da OIT. Na sequência, adota a classificação de Mario de La Cueva: (a) defesa do salário em face do empregador ; (b) defesa do salário em face dos credores do empregado; (c) defesa do salário em face dos credores do empregador ; (d) defesa do salário em razão dos interesses da família do empregado (MARTINS, 2013, p. 253).

Com relação à sua defesa em face do empregador, Sérgio Pinto aborda, entre outros, a questão da irredutibilidade, salvo nos casos de acordo ou convenção coletiva de trabalho. Além da irredutibilidade descreve algumas outras proteções, como: pagamento direto à pessoa do empregado; necessidade de recibo, mediante assinatura ou a rogo do empregado; intangibilidade, entre outros. No tópico ―defesa do salário em face dos credores do empregado‖, trata da impenhorabilidade, entendendo que a mesma é necessária, em face do caráter de subsistência que possui o salário para o que ele chamou de ―empregado comum‖ (MARTINS, 2013, p. 255).

Sobre a defesa, em face dos credores do empregador, comenta sobre a questão da falência estabelecida pela já referida convenção n. 95 da OIT, adotada pelo Brasil. Eis a proteção, em caso de falência do empregador : ―O salário será pago integralmente antes dos demais credores (MARTINS, 2013, 256). No último item , defesa do salário em razão dos interesses da família do empregado , explica que não existe na legislação brasileira tratamento sobre a matéria, a convenção n. 95 em seu artigo 5, determina, como já afirmado acima, que o pagamento deve ser feito diretamente a pessoa do empregado. De tal forma que, se o pagamento não for feito diretamente a pessoa do obreiro, o empregador deverá provar que o valor se reverteu em benefício do mesmo, caso contrário ficará obrigado a realizar novo pagamento, pois quem paga mal, paga duas vezes.

Ainda sobre o assunto, Magano refere-se às palavras de Messias Pereira Donato8 (MAGANO, 1980, p. 241): paga mal o salário o empregador que, sem autorização expressa do empregado, o entrega a quaisquer de seus familiares. CESARINO acrescenta ainda ao vasto leque de proteções já elencadas pelos seus colegas a vedação ao salário complessivo e a manutenção dos salários, no caso de paralisação da empresa (CESARINO JUNIOR, 1980, p. 272).

Luciano Martinez (MARTINEZ, 2015), cuida da matéria em tópico intitulado: ―fórmulas de proteção ao salário‖ (MARTINEZ, 2015, p. 509) Desenvolve a ideia da necessidade da criação de uma ―blindagem salarial‖ (MARTINEZ, 2015, p. 509), pois entende ser, no momento da retribuição, a ocasião do contrato de trabalho, na qual o trabalhador fica mais vulnerável e, por esta razão, mais passível de se sujeitar a fraudes. Tal sistema de blindagem consiste em proteger o trabalhador, em face de três atores os quais frequentemente impedem a fluidez salarial: o empregador, os credores do empregado e os

credores do empregado. Assim, apresenta as seguintes proteções: proteção contra os abusos do empregador, proteção contra os credores do empregado e proteção em face dos credores do empregador, reproduzindo da mesma forma que os demais autores da doutrina juslaboralista tradicional.

A proteção ao salário também é estudada por Arnaldo Sussekind (SUSSEKIND, 2002), quando discorre sobre ―Inalterabilidade e irredutibilidade‖, ―Integralidade‖, ―Intangibilidade‖, ―Condições do pagamento‖ e ―Inadimplemento e mora contumaz‖ (SUSSEKIND, 2002, p. 429, 431, 432 e 433). Mozart Russomano (RUSSOMANO, 1991) cuida da matéria anunciando que existem quatro grandes linhas criadas pelo legislador brasileiro com o objetivo de proteger o salário. São elas: ―Princípio da irredutibilidade do salario; Princípio da Integralidade do salário; Princípio da intangibilidade do salario e Principio da certeza do pagamento do salario‖ (RUSSOMANO, 1991, p. 371 373, 374 e 375).

José Augusto Rodrigues Pinto (PINTO, 2000) traça um capítulo próprio denominado ―Proteção e isonomia do salário‖. Mesmo assim, não se afasta da abordagem clássica, no sentido de que a proteção consiste apenas em: ―um círculo em volta do salário, preservando-o dos atos capazes de violar-lhe a integridade e a intangibilidade.‖ (PINTO, 2000, p. 290) José Martins Catharino (CATHARINO, 1981) trata do assunto classificando as medidas de proteção ao salário contra os abusos do empregador; contra os credores do empregador; contra os credores do próprio em pregado e acrescenta mais um grupo ―diversificado‖, como chamou, o qual abraça outras medidas, segundo ele correlativas.

4.4 A VERSÃO ORIGINAL ESBOÇADA POR GENTIL MENDONÇA PARA A TEORIA