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A natureza jurídica do salário, embora importante para compreender a evolução da sua concepção ao longo do tempo, não é muito explorada nos tradicionais manuais de Direito do Trabalho. Os autores quando o fazem, resumem-se a citar os diversos tipos, sem, contudo aprofundar o tema. Algo constatado logo no início da pesquisa foi o condicionamento do pagamento do salario à necessidade da existência de uma relação de trabalho subordinado.

Vólia Bomfim Cassar (2014) afirma que existem quatro principais correntes para classificá-lo e, assim, identificar sua natureza jurídica:

a) a primeira corrente considera o salário como preço do trabalho, pois antigamente o trabalho era equiparado à mercadoria. Atualmente não há mais justificativa para a sua aplicação;

b) para a segunda vertente, salário é uma indenização paga ao empregado como compensação pelas energias despendidas. Todavia, a indenização visa reparar o dano causado ou repor uma nocividade e o trabalho não causa dano;

c) a terceira posição entende que o salário tem natureza alimentar, pois essencial para o trabalhador sobreviver. Na verdade, o salário não tem apenas natureza alimentar, mas também atinge outros fins, como habitação, higiene, transporte e educação. Sob outro aspecto, pode o trabalhador receber salário e não depender dele para sobreviver;

d) a última corrente, majoritária, afirma que a natureza do salário consiste no dever de retribuição, em razão do caráter sinalagmático, comutativo e oneroso do contrato. Assim, o trabalho é a prestação e o salário a contraprestação (CASSAR, 2014, p. 760 e 761).

Maurício Godinho Delgado refere-se apenas da natureza retributiva. Segundo ele, ―trata-se de parcelas que evidenciam que a relação jurídica de trabalho formou-se com intuito contraprestativo, com a intenção obreira de receber retribuição econômica em virtude da relação laboral estabelecida‖ (DELGADO, 2005, p. 681).

Já Carlos Henrique Bezerra Leite menciona que existem várias teorias que procuram explicar a sua natureza e nos seguintes termos: ―teoria do crédito alimentício, teoria do direito de personalidade, teoria da contraprestação do trabalho etc.‖ (LEITE, 2015, p. 385). A seguir, anuncia a sua opção pela teoria da natureza alimentícia do salário, justificando que o mesmo se destina quase sempre apenas ao atendimento das necessidades básicas e vitais do trabalhador e de sua família.

Gustavo Filipe Barbosa Garcia (GARCIA, 2012) e Orlando Gomes e Elson Gottschalk (GOMES e GOTTSCHALK, 2011) não abordam a temática da natureza jurídica. Para Sérgio Pinto Martins (MARTINS, 2013), o salário não representa uma contraprestação absoluta do

contrato de trabalho, mas sim uma forma de prestação pelo conjunto do que foi contratado. Para ele:

[...] é a importância paga pelo empregador ao obreiro em virtude de sua contraprestação dos serviços. Essa última colocação mostra a natureza jurídica do salário, que é a forma de remunerar a prestação de serviços feita pelo empregado ao empregador (MARTINS, 2013, p. 191).

Luciano Martinez (MARTINEZ, 2015) entende que é um ato de confiança do empregado, aguardar pelo pagamento do salário, uma vez que antecipa o trabalho com a esperança de conquistar, ao final de um período de espera, o recebimento do mesmo, a fim de prover os meios de subsistência própria e de sua família. Com isso, deixa claro o seu caráter retributivo. No mais, silencia acerca da natureza jurídica do mesmo.

Entende Arnaldo Sussekind (SUSSEKIND, 2002) que o salario é o principal, senão o único meio de subsistência do trabalhador. Passou a ser um dos instrumentos para a prática da justiça distributiva e, por esta razão, para o alcance da justiça social.

Octávio Bueno Magano (MAGANO, 1980) atenta para o caráter de instrumento de troca que possui o salário, por entender que o mesmo se corresponde a uma retribuição pelos serviços prestados.

Em Amauri Mascaro Nascimento (NASCIMENTO, 2011) o direito ao salario é um direito fundamental e possui o caráter de contraprestação pelos serviços profissionais prestados. Para ele, ‖ter um salario para prover as necessidades mínimas, é uma questão de dignidade do ser humano‖ (NASCIMENTO, 2011, p. 812). Contudo, não descarta que ‖o salário depende de coordenadas econômicas‖ (NASCIMENTO, 2011, p. 814).

Mozart Vitor Russomano (1991) objetiva o seu caráter de comutatividade, na medida em que a remuneração auferida pelo trabalhador deve corresponder ao trabalho efetivamente realizado. Alerta, contudo, que tal caráter não quer dizer que as duas prestações (obrigação de trabalhar do empregado e obrigação de pagar do empregador) sejam equivalentes. O que ocorre na verdade é que as obrigações oriundas do contrato de trabalho devem ser avaliadas em conjunto, isto é, de forma global.

Reconhece também a sua natureza alimentar, ―como fonte de vida para o trabalhador e para seus familiares.‖ (RUSSOMANO, 1991, p. 332). Para ele, ainda, nos tempos atuais, não se pode mais admitir que a remuneração do trabalhador fique sujeita à lei da oferta e da procura, pois, segundo ele:

O estudo das leis que regem a flutuação dos salários – a teoria do wagefund, a teoria da lei de bronze de LASSALE e as concepções modernas da teoria da produtividade do trabalho – pertencem à Economia Política, mais do que ao Direito do trabalho (RUSSOMANO, 1991, p.332).

O seu caráter alimentar também é abordado por Cesarino Júnior (CESARINO JUNIOR, 1980), para quem o trabalho é ―meio de subsistência do individuo‖ e por isso merece a proteção do Estado. Da mesma forma que Russomano entende que o estudo teórico do salário fica mais ao encargo da economia que à teoria jurídica.

José Augusto Rodrigues Pinto (PINTO, 2000), já no título que atribui ao capítulo, anuncia seu entendimento acerca da natureza do salário, ao tratar da ―Retribuição do trabalho‖, e afirma: ―tudo o que o empregado receber, em razão da existência do contrato individual de emprego ou da efetiva prestação do trabalho, cabe no conceito de retribuição‖ (PINTO, 2000, p. 258).

Para José Martins Catharino (CATHARINO, 1981) a remuneração é o equivalente causal do trabalho, são ―gêmeos xipófagos e contratuais‖ (Idem, p. 30). Em face da reciprocidade que há entre as obrigações do empregado – de trabalhar - e do empregador – de remunerar -, sua natureza é a de contraprestação do trabalho.