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DESIGN DA INFORMAÇÃO e LINGUAGEM GRÁFICA

4.2 Conceitualizando a Linguagem Gráfica (LG)

Dentro de uma concepção mais abrangente, a linguagem pode ser entendida como um veículo onde qualquer elemento, seja ele escrito, visual, sonoro ou gestual, possua a capacidade de promover a comunicação entre indivíduos. Por intermédio dela, o ser humano é capaz de estabelecer vínculos com seu tempo e fornecer características que são próprias do seu grupo sócio-cultural, a partir do registro de costumes e fatos históricos.

No dicionário de Ferreira (2001:427), o primeiro conceito do termo linguagem significa “o uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de comunicação entre pessoas”. Para isso, é necessário que se estabeleça um conjunto de signos, que podem ser visuais, auditivos e orais.

Para Frutiger (1999:196), a técnica de comunicar toma como suporte dois meios básicos de linguagem: verbal e pictórica. Nestes dois pólos, segundo o autor, é necessário que nos empenhemos em acompanhar as mudanças, através de um aprendizado

constante, em conseqüência da crescente variedade de vocabulário e da sua diversidade de significados, expressões e conceitos. Do ponto de vista do design gráfico esses pólos de representações são considerados modos de simbolização visuais.

Para os fins deste trabalho, vamos utilizar o conceito de Linguagem Gráfica proposto pelo professor inglês Michael Twyman (1979:118), que no seu artigo A Schema

for the Study of Graphic Language define como linguagem um veículo de comunicação;

gráfico como desenhado ou feito visível em resposta a decisões conscientes; e designer

gráfico, como alguém que planeja a linguagem gráfica. Ainda de acordo com Twyman (1979), a diferença básica entre a linguagem gráfica da linguagem oral é o fato de a primeira exigir um planejamento para que sua eficácia seja comprovada, enquanto que a segunda geralmente não é planejada, pois na maioria das vezes, ocorre nas situações conversacionais.

4.2.1 Modos de simbolização da Linguagem Gráfica:

Verbal, Pictórico e Esquemático

O modelo proposto por Twyman (1979) divide a linguagem em dois canais: auditiva e visual. A estrutura da linguagem visual é representada no diagrama da figura 19, onde se observa a sua decomposição em gráfica e não-gráfica. A Linguagem Visual Gráficaé dividida em verbal (alfabética, logorítmica), pictórica (fotografias, ilustrações) e esquemática (tabelas, diagramas, fluxogramas, mapas, infográficos etc.). Quanto à Linguagem Visual Não-Gráfica, a classificação é dividida em expressão gestual, corporal e facial (figura 24).

Fig. 24 | Fig. 24 | Fig. 24 |

Fig. 24 | Adaptação do esquema proposto por Twyman (1979) para a compreensão da estrutura da Linguagem Gráfica. As linhas pontilhadas correspondem às adaptações de Coutinho (2002) ao esquema. Essas adaptações sugerem que os modos podem ser compreendidos por tratamentos manuais, impressos ou digitais.

A Linguagem Gráfica Verbal é aquela que utiliza palavras (alfabética) e números (algorítmica) como meios de simbolização, podendo ser ainda dividida em feito à mão (escrita) ou feito à máquina (impresso, videotexto). Existem várias formas de se configurar ou combinar este tipo de linguagem, através de seus elementos intrínsecos (tipografia, corpo, estilo etc) e extrínsecos (espaçamento entre linhas, recuo, alinhamento da coluna, etc.).

No âmbito da Linguagem Visual Gráfica Pictórica podemos encontrar várias formas de imagens por meio de suas técnicas de representação: fotografia, desenho, pintura, gravura, colagem, manipulação de softwares gráficos, etc. Sabendo disso, Twyman conceitua a imagem como representação figurativa de alguma coisa, a qual carrega propriedades icônicas do que é representado, sendo produzida manual ou

mecanicamente e associada à aparência de coisas reais ou imaginárias. (TWYMAN, 1985).

4.2.2 A Linguagem gráfica no livro didático infantil

O processo de comunicação no livro didático é ‘lapidado’ através da organização do conteúdo informacional, que dependerá essencialmente das relações simbólicas entre palavra e imagem. Essas relações precisam ser administradas com muita cautela pelo designer para que os elementos da composição visual trabalhem de forma coletiva, com interligações de significados. Smith Jr (1990) cita alguns desses elementos que

determinam a aparência física do livro: tamanho da página, família tipográfica, extensão das margens e posição do tipo na página, espaço entre as linhas, posicionamento dos

títulos e dos números das páginas, planejamento para ilustrações e tabelas, tipo de papel, tipo de encadernação, acabamentos, além de outros detalhes estabelecidos pelo projeto gráfico.

Elaborar esse projeto gráfico não é tarefa simples, pois exige domínio dos

conhecimentos teóricos relativos à legibilidade e ergonomia informacional. Além disso, é preciso: planejamento, coerência com o propósito do conteúdo e, principalmente, conhecimento dos interesses e das características do usuário a que esse livro se destina. Quando esse usuário é a criança em fase inicial de alfabetização, é essencial que, além do conteúdo, a apresentação gráfica nesse artefato educacional esteja em sintonia com os assuntos, os temas e as particularidades desses leitores.

Cordeiro (1987) recomenda que o estudo para a concepção de um projeto gráfico coerente com o universo infantil — levando em consideração também os demais

profissionais envolvidos, como autores, professores, ilustradores e editores —, deve ser baseado no campo lúdico e fantástico das crianças nessa fase, já que certamente trará uma maior identificação e aceitação do livro didático. Enfatizando essa questão, a autora afirma que “é preciso lembrar os elementos intrínsecos, tais como o assunto e a adaptação à idade da criança, assim como as qualidades intrínsecas dos livros infantis, tais como: objetividade de informações e introdução de valores” (CORDEIRO, 1987:29).

Nesse sentido, é oportuno afirmar que o trabalho do designer da informação é de fundamental relevância na composição gráfica desses livros, pois sua participação qualitativa fornece as coordenadas de uma apresentação coerente e atrativa do conteúdo informacional. Salientado o valor dessa mão de obra, Guto Lins complementa que os livros didáticos para crianças precisam ser mais coloridos, contendo muitas ilustrações e com pouca massa de texto para que o aprender caminhe em conjunto com o prazer. “Além disso, é recomendável que sejam um pouco mais resistentes, tanto no material como no acabamento, já que essas crianças interagem com o livro tal qual um brinquedo”. (LINS, 2002:45).

Coutinho & Silva34

realizaram, em 2007, uma análise qualitativa dos livros adotados em duas escolas do Recife (figura 25). Esses livros apresentavam projetos gráficos que não correspondiam ao universo lúdico da criança da 1ª série e, em alguns casos, o tratamento

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visual dado se assemelhava aos livros de um público mais adulto. Isso vem ressaltar a importância do designer em adequar forma e conteúdo no livro didático infantil, buscando soluções gráficas pertinentes com a idade do seu público-alvo.

Fig. 25 | Fig. 25 | Fig. 25 |

Fig. 25 | alguns livros didáticos para a 1ª série do ensino fundamental podem estar perdendo a identidade com o universo lúdico da criança. Muitos se assemelham aos livros de séries mais adiantadas, da 5ª ou 6ª série, por exemplo.

4.3 Linguagem Gráfica Esquemática (LGE)