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COMUNICAÇÃO e LINGUAGEM

3.2 Psicologia da Linguagem, percepção e repertório visual 1 A visão da linguagem representacional e pragmática de Nunes

3.2.4 Percepção visual segundo os princípios da Gestalt

Perceber e produzir imagens são qualidades inerentes à natureza humana. Isto é

observado através dos registros figurativos nas cavernas, desde os tempos da Pré-história. Partindo desse princípio, podemos evidenciar o potencial educacional dos elementos visuais e reafirmar, junto a Dondis (1999) e Calado (1994), que é necessário preparar e conscientizar os indivíduos da necessidade do alfabetismo visual, fazendo-os entender a relação desses elementos como uma linguagem de comunicação efetiva.

Dondis (1999) nos esclarece que o processo de composição é o passo mais difícil para se obter as soluções de problemas visuais, já que é o resultado das decisões, nesta etapa, que determina o objetivo e o significado da mensagem visual, influenciando definitivamente na compreensão obtida pelo receptor. Mas como devemos, no modo visual, oferecer sistemas estruturais definitivos e absolutos para perfeita compreensão da mensagem, diante dos complexos meios visuais?

É certo que, em termos lingüísticos, as regras são definidas através da sintaxe, que ordena as palavras segundo a forma e uma ordenação adequadas. Isso não ocorre no campo das mensagens visuais, pois não há regras absolutas e o potencial sintático neste

caso, provém da investigação do processo da percepção humana. Sob esse aspecto, a psicologia da Gestalt tem contribuído com preciosos estudos no campo da percepção visual, ajudando a formular ou conhecer padrões visuais para a compreensão da organização visual de determinada mensagem.

Por volta de 1910, se deu início o desenvolvimento da relação psicologia e design, com base na Escola de Psicologia Experimental, isto porque nessa época aconteceram grandes mudanças na arte e no design. De acordo com Gomes Filho (2004), a Gestalt, palavra alemã que pode ser traduzida como “estrutura”, “figura” ou “forma”, constitui a combinação de vários elementos para formar um todo e isso é essencial no design gráfico. De acordo com o princípio de Max Wertheimer, que em 1912 publica um ensaio sobre percepção visual, “o olho humano tem a tendência natural de agrupar as várias unidades para formar um todo e isso conceitua a visão como uma experiência criativa”.

Em seguida, veremos em síntese, para este estudo, os princípios mais relevantes da psicologia da Gestalt:

a) Atração e agrupamento: A lei do agrupamento tem grande valor para a composição gráfica, pois proporciona a força de atração nas relações visuais, onde o homem tem a necessidade de construir conjuntos a partir de unidades, ligando pontos próximos (Figura 17). Dentro desta lei, a ligação é feita por atração, por proximidade (Figura 18) ou por similaridade das formas, tamanho, textura ou tom (Figura 19).

Fig. 17 | Fig. 17 | Fig. 17 |

Fig. 17 | O olho supre os elos de ligações ausentes.

Fig. 18 | Fig. 18 | Fig. 18 |

Fig. 18 | No primeiro quadrado, os pontos disputam a atenção, repelindo-se, No segundo quadrado, há uma interação imediata, os pontos se harmonizam e se atraem.

Fig. 19 | Fig. 19 | Fig. 19 |

Fig. 19 | Lei de agrupamento através da similaridade pela forma, tamanho, textura e tonalidade.

b) Positivo e negativo: em linguagem visual podemos dizer que o que domina a visão humana, ou seja, o que mais chama a atenção na composição gráfica é considerado como elemento positivo. Ao contrário, o que se apresenta de maneira mais passiva, considera-se de elemento negativo. Mas há momentos em que há pouco predomínio de um elemento sobre o outro e, na busca pela solução mais simples do que se vê, o olho pode confundir ou ter ambigüidade na tradução da mensagem (Figura 20). Outro fenômeno psicofísico que pode ser utilizado para a compreensão da linguagem visual: Elementos claros sobre fundo escuro parecem expandir-se, enquanto que elementos escuros sobre fundos claros parecem contrair-se (Figura 21).

Fig. 20 | Fig. 20 | Fig. 20 |

Fig. 20 | Nesta figura podemos ver primeiro o número 2 ou o 3.

Fig. 21 | Fig. 21 | Fig. 21 |

Fig. 21 | O círculo branco dá a sensação de ser maior que o vermelho.

c) Fechamento: segundo Wertheimer (apud Gomes Filho, 2004), outro princípio da

Gestalt que é fundamental para a formação de unidades, além de possuir um fator organizador da forma, é o fechamento. O senso de organização espacial do olho humano

faz com que a exista uma tendência à unidade, segregando uma superfície do resto do campo. Ou seja, esse princípio traz no ser humano uma pré-disposição psicológica de unir intervalos e estabelecer ligações por meio de formas já conhecidas do repertório visual. Também estabelece unidades diferentes de intervalos (Figura 22).

Fig. 22 | Fig. 22 | Fig. 22 |

Fig. 22 | Exemplos do princípio gestaltiano do fechamento: complementação de formas já conhecidas; união de intervalos e unidades diferentes de intervalos por proximidade.

Mesmo com a visualização desses princípios sendo breve, já conseguimos perceber a fundamental importância em se construir um sistema visual que auxilie na configuração de uma mensagem tanto para quem emite como para quem recebe. Com avanço

tecnológico e a velocidade da informação, o sentido da visão está cada vez mais sendo requisitado. Tal qual a linguagem verbal, é preciso tornar a visual um dos meios de comunicação que constitua um conjunto de normas, códigos e preceitos para se alcançar o afalbetismo visual defendido por Dondis (1999). Na busca desse alfabetismo e no aperfeiçoamento de regras para a composição da mensagem visual, ela nos afirma que:

[...] A sintaxe visual existe. Há linhas gerais para a criação de composições. Há elementos básicos que podem ser aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos dos meios de comunicação visual, sejam eles artistas ou não, e que podem ser usados, em conjunto com técnicas manipulativas, para a criação de mensagens visuais claras. O conhecimento de todos esses fatores pode levar a uma melhor compreensão das mensagens visuais (DONDIS, 1999:18).

Porém, a autora complementa que o referido sistema jamais poderá ser tão lógico e preciso quanto a linguagem, já que esta é composta de elementos criados pelo homem para codificar, armazenar e decodificar informações. A lógica da estrutura que compõe as linguagens não é alcançada pelo alfabetismo visual, já que a característica dominante da sintaxe visual é a complexidade, sustentada pelos estados psicológicos e

condicionamentos culturais de cada indivíduo.

Os elementos básicos para a comunicação visual, além de objetos e experiências, são ferramentas imprescindíveis no processo de construção dessas mensagens. O ponto, a linha, a forma, a direção, o tom, a cor, a textura, a escala (ou proporção), a dimensão e o movimento são planejados e expressados, através de manipulação por via de técnicas

visuais (ou leis visuais), todas as variedades de manifestações visuais, objetos, experiências e ambientes.

Essas técnicas devem ser aplicadas com o objetivo de encontrar soluções gráficas no processo de comunicação visual, garantindo a transmissão da mensagem. Observa-se que o contraste é a mais dinâmica delas por ter uma grande variação de aplicação e

proporcionar um melhor entendimento visual em várias situações. Mas uma observação que precisa ser feita é que o uso do contraste deve ser sempre relacionado às variantes da harmonia, sua técnica oposta, em decorrência do tipo de mensagem a ser composta graficamente (DONDIS, 1999).

No próximo capítulo, abordaremos os conceitos acerca do Design da Informação e da Linguagem Gráfica, que são fundamentais para o entendimento da nossa pesquisa. Além de mencionar estudos anteriores, focaremos nos estudos que se relacionam à Linguagem Gráfica esquemática, apresentando sua história e evolução ao longo do tempo, sua conceituallização e categorização, detalhando os pontos mais pertinentes dessa área.

Capítulo 4