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4.6 UNIDADE TEMÁTICA V RELAÇÃO PRINCÍPIOS DO SUS COM A ESF

4.6.2 Concepção da Estratégia de Saúde da Família

Um outro conceito, que julgamos ter sido importante investigarmos foi à concepção que estes trabalhadores têm sobre ESF, ou PSF como é tratado por estes.

[...] você não vai em cima da doença, né, que é o que nós trabalhamos muito no PSF, né. nós queremos levar saúde, só que até a população conscientizar disso demora um pouquinho. [...] a minha equipe, nós trabalhamos mais... o que nós queremos mais é trabalhar com a prevenção, entendeu? Nós queremos levar saúde e não curar a doença, né. [...] só que uns vem doente, nosso ideal não seria isso, nosso ideal é levarmos saúde. [...] O Programa de Saúde da Família não é curativo, é preventivo, entendeu? Nós queremos prevenir a doença [...] mudou muito, antes eles procuravam só atrás de remédio, remédio, remédio. E agora eles estão mudando, eles estão vendo que não é isto, que uma caminhada faz muito bem, entendeu? Participar de um bingo, participar de uma dança, de um, de uma confraternização, de um almoço, que isso tudo é a saúde, que nós estamos levando, auto-estima da minha população aqui aumentou muito. [...] Então nós queremos promover saúde pra população, nós não estamos trabalhando atrás da cura e sim a promoção e prevenção de saúde. Rosa.

[...] Além daquilo que é decorativo, prevenção, promoção da saúde? [...] PSF pra mim é... futuro da saúde... eu acho que nós ainda estamos engatinhando, por isto eu falo que não é para hoje, mais pra mim é o futuro. [...] Eu acredito neste PSF, não é porque eu estou trabalhando, talvez amanhã eu mude de serviço vou trabalhar na área curativa, mas isto não vai tirar o que acredito de saúde e eu acredito no PSF, porque se eu trabalhar educação em saúde, se eu pegar esta criança no começo, esta mãe, estruturar esta família a longo prazo, sem violentar né, nenhuma cultura, nenhum sistema, amanhã eu vou tá criando crianças mais sadias, jovens mais saudáveis, entende? É... famílias mais estabilizadas... entende? Então pra mim o PSF é tudo você estar entrando com a saúde, com a prevenção dentro da casa... Tulipa.

[...] É... o próprio nome já diz, né. Eu acho que é um programa de saúde da família mesmo, é um programa que vai até a família, que não espera o problema vir até a gente, a gente que tem que ir buscar o problema, detectar o problema, mais precocemente possível, pra tá ou evitando que haja um problema ou resolvendo aquele problema antes que ele se torne pior. [...] E pra mim é isso prevenção mesmo de, de qualquer tipo de problema que, que a família pode ter, que o indivíduo pode ter, um programa de prevenção. [...] O objetivo do, do, do PSF é o preventivo mesmo, né, mas eu acho que aqui acaba sendo curativo também. Margarida.

[...] Eu defino assim, em mudanças mesmo, mudanças, muito radical, porque eu tou assim, [...] eu acho que a gente teria assim, a meu ver, a parte preventiva é a mais importante. [...] tem que radicalizar essa parte de curativo, a gente não ficar só estagnado, só em consulta médica, né, em, em farmácia, só medicação, teria que ter essa mudança e radical. [...] eu acho que deveria ter essa parte preventiva. [...] agente limita muito na unidade, ficar né só na consulta médica essas oito horas, acho que não é por aí. Violeta.

[...] então eu acho que o PSF ele é, né, uma estratégia de mudança, mas aquela mudança a longo prazo, não tem como por enquanto a gente tentar atuar de acordo com o que vê o princípio dele, então vamos só fazer palestra, vamos orientar, vamos prevenir, então a população não aceita, então você vai trabalhando aos poucos. Azaléia.

[...] seria no atendimento mesmo das... é... seria a hipertensão, diabetes, de prevenção. Mas não tem jeito de você trabalhar só com prevenção, porque no PSF por mais que você tenha... a gente vê que o PSF, ele direciona mais pra área preventiva, né, se você for ver, na parte teórica tudo, mas não tem jeito, pelo menos aqui. Orquídea.

Através dos discursos podemos perceber que a concepção de ESF está bastante atrelada a idéia de prevenção e promoção. Nesse sentido acreditamos que essa confusão, esse atrelamento se deve a dois motivos. O primeiro seria devido à idéia de que a ESF é uma forma de desenvolver APS. APS confundida como primeiro nível de prevenção da HND, estabelecido pelos autores Leavell e Clark (1976), onde não se mantém de acordo com os entrevistados uma diferenciação entre os termos prevenção e atenção.

Mattos (2001) vem ao encontro a nossa discussão, ao argumentar que modelo adotado por Leavell e Clark, de HND, tentava impedir que aparecesse a distinção entre prevenção e assistência, pelo enunciado de que tudo era prevenção. Porém essa autora deixa claro que há uma distinção, uma vez que o modelo de HND partia diretamente de experiência individual de sofrimento, de experiências assistenciais diretamente demandas pelos usuários, nessa proposta era desenvolvido um amplo conjunto de conhecimentos e técnicas para reconhecer a doença antes que a mesma produzisse o sofrimento e um conjunto de conhecimentos sobre as formas de enfrentar tais doenças através do reconhecimento de fatores de risco que aumentavam seu agravamento.

A essas falas da autora acima acrescentamos que há uma distinção, uma vez que a ESF propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços de

saúde, assim como para a relação como a comunidade e entre os diversos níveis e complexidade assistenciais, devendo ser porta de entrada para o sistema local de saúde, onde o profissional deve ser capaz de atuar com criatividade e senso crítico, baseado em uma prática humanizada, competente e resolutiva, que envolva ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação, com vista a responder as diversas necessidades da comunidade, não só as de caráter biológicos, patológicos, através da articulação de diversos setores envolvidos na promoção da saúde como qualidade de vida.

Um segundo motivo que acreditamos estar envolvido na confusão de ESF, como prevenção e promoção, estaria relacionado à estruturação das políticas de saúde no nosso país, que reforçam essa concepção ao dicotomizarem a assistência preventiva e curativa, recomendado e estabelecendo o desenvolvimento da primeira em unidades básicas de saúde, caracterizadas pelas chamadas ações de saúde pública.