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4.5 UNIDADE TEMÁTICA IV CONCEPÇÃO DE INTEGRALIDADE

4.5.3 Concepção de Integralidade na organização dos serviços de saúde

4.5.3.7 Integralidade e recursos materiais

A integralidade na concepção de homem leva o enfermeiro a reconhecer a necessidade de ter materiais disponíveis para que os trabalhadores possam atuar mantendo sua competência. Pois Starfield (2002) acrescenta que a integralidade

requer que os serviços estejam disponíveis e sejam prestados quando necessários para os problemas que ocorrem com freqüência. Agora o desafio segundo a autora é reconhecer as situações nas quais uma intervenção é necessária e justificada.

Nesse sentido, os discursos nos revelam potência na perspectiva da integralidade, ao reconhecerem a necessidade da existência de diferentes recursos para assistir situações e necessidades variadas da comunidade como de urgência, de curativos.

Há relatos que nos indicam também um outro tipo de potência no que se refere ainda ao reconhecimento da unidade como porta de entrada para todo e qualquer caso, justificando a necessidade de se possuir recursos materiais de diversas naturezas.

[...] uma outra coisa que nós não temos aqui... é a.... é a... eu acho que faz muita falta... eu não tenho um ambu aqui, se tiver uma parada cardíaca, eu não tenho um ambu, um oxigênio, então às vezes eu acho, que deveria... você entendeu? eu acho importante, eu estou lidando com o povo, primeira entrada, quando o povo está passando mal, para a comunidade, é a minha porta, eles chegam aqui desmaiando, com crise convulsiva e às vezes eu não tenho um oxigênio, eu não tenho um ambu para eu usar até eu chegar ao pronto socorro. Então, assim, isto tudo às vezes me preocupa muito... muito... olha a minha responsabilidade, eu sei que tem os minutos ai, que ele pode ficar né! Sem a oxigenação, mas será que será suficiente para eu chegar até o pronto socorro? Tulipa.

Achados nesse discurso vai de encontro aos dizeres de Starfield (2002) que aponta para a APS como aquele nível de um sistema de serviço de saúde que proporciona a entrada no sistema para todas as novas necessidades e problemas.

[...] urgência/emergência a gente pode até dar os primeiros cuidados, mas igual eu estou te falando, o ambu que é necessário a gente não tem, né! Agora os primeiros cuidados, a gente até chamar a ambulância e até ela chegar, a gente até que dá. Assim, aí o médico olha, já dá uma medicação né, já inicia a medicação, já inicia a soroterapia, se ele achar necessário, pra poder tá encaminhando. Pingo de Ouro.

[...} Uma caixa de urgência e emergência falta muito, muito, pra nós, né? É... uma medicação que a gente possa tá amenizando o quadro, né! Violeta.

Os enfermeiros nos indicam que não se faz necessário que o serviço tenha todos os níveis de complexidade, porém informa que se faz necessário ter condições de dar os primeiros atendimentos e encaminhar para outros lugares.

Nesses discursos os enfermeiros nos deixam brechas para concordarmos com os dizeres de Starfield (2002) que declara que nas pequenas unidades de saúde, em que a variedade de serviços é menor, o prestador deve assegurar que seja feito um encaminhamento adequado e que os serviços necessários sejam oferecidos.

[...] E a respeito de material de curativo a gente tá tendo, usando só soro morno, né? E tem a sulfadiazina de prata, então a gente assim, poderia ter também, né? Outros materiais, porque como a gente teve, tá vendo essas possibilidades vai ter mudança, né? Violeta.

[...] Materiais, eu assim, não tenho o que reclamar no momento, porque eu não passo falta de nada, material eu tenho a disposição para curativo, né! O que eu acho que pode ser melhorado os materiais, outros tipos, ter... Como que eu falo? Ter uma disponibilidade maior de pomadas, algumas coisas mais modernas, que usa e tal. Azaléia.

[...] Materiais assim na medida do possível, tá tendo também, porque a gente assim, na questão de remédio, por exemplo, tem alguns remédios que não são fornecidos, assim a população reclama, alguns remédios eu acho que ainda falta assim, alguns remédios, ainda falta para ser dado na rede pública, mas o básico a gente tem, dá pra se virar... Margarida.

A solicitação dos enfermeiros quanto aos materiais nos parece um pouco fragmentada, pois falam-se muito da necessidade de medicação, medicação de urgência, material de curativo. Essas falas podem nos indicar dois enfoques, o primeiro nos refere à potência de reconhecer a necessidade de existir materiais de urgência nas USF, que vai ao encontro a Política Nacional de Atenção às Urgências estabelecida na Portaria GM nº 1863 de 29 de setembro de 2003, que institui e investe numa política a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitando as competências das três esferas de gestão (Brasil, 2004b). E o segundo enfoque

seria voltado para o biológico, para a manutenção do modelo, que tem como marca bastante forte a medicalização como recurso.

Observamos, no geral, falas bastantes dicotomizadas ora marcadas por uma proposta mais curativistas, que são predominantes, ora marcadas, com menor relevância, por uma necessidade de materiais com vista na prevenção e promoção.

[...] Há tempos que a gente fica, né, assim até sem luvas, né. Então o que falta também assim no PSF. [...] Então, a gente teria que ter essa parceria com o SUS e essa possibilidade de ajuda, um vídeo, uma televisão e vários assim é... outras é... atividades poderia tá vindo verbas pra gente tá trabalhando com atividades, com o pessoal e não só curativa, medicação, consulta médica, consulta de enfermagem. Então, a gente teria que ter essa parceria também. Violeta.

[...] mas pra gente ter tudo isso, se a enfermeira não vai, não corre atrás, dum aparelho de pressão mesmo, é uma das coisas que eu acho precário, sabe? [...] Balança, por exemplo, que é uma coisa assim oh, que a gente sabe que tem indicação [...] A gente sabe que tem a necessidade de uma verificação para ter a regulagem disso, não tem quem faz, aparelho de pressão, não tem. Então eu acho que os recursos materiais eles podem ser melhorado muito. Inaloterapia, por exemplo, que acho que tudo bem parte curativa, mas você acaba tendo que atender. Orquídea.

Esses discursos nos leva a pensamos nos dizeres de Starfield (2002) que afirma que a integralidade da atenção deve ser um mecanismo importante porque assegura que os serviços sejam ajustados às necessidades de saúde.

[...] Quando os serviços são muito limitados em alcance ou profundidade, as doenças previsíveis podem não ser prevenidas, enfermidades podem evoluir por mais tempo do que o justificável, a qualidade de vida pode ser colocada em risco e as pessoas podem morrer mais cedo do que deveria (STARFIELD, 2002, p. 316).