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Concepção de educação

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4 PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO SALESIANA A PARTIR DO

4.4 CATEGORIAS E EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS DA EDUCAÇÃO SALESIANA A

4.4.2 Concepção de educação

De acordo com o documento das Linhas Orientadoras da Missão Educativa, hoje, as Ciências da Educação refletem sobre o “para quê da educação”, que perspectivas teóricas melhor respondem aos anseios do contexto sociocultural e constroem uma intencionalidade educativa significativa. Assim, é importante verificar no documento das Linhas Orientadoras a concepção de educação que norteia os processos educativos do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Para a reflexão sobre o processo educativo, é necessário conhecer as coordenadas para uma leitura crítica do mundo juvenil, a partir da sociedade multicultural, do mundo virtual, da pluripertença, da precariedade, da busca da espiritualidade. A educação está relacionada às novas situações do contexto sociocultural, especialmente da comunicação e da sociedade multicultural, que exigem do campo educativo uma interação significativa para responder às necessidades da nova realidade juvenil (INSTITUTO..., 2006, passim).

A concepção de educação no documento das Linhas Orientadoras valoriza uma compreensão a partir da realidade social, especialmente daqueles contextos de exclusão social e de pobreza.

Numa sociedade em que as relações familiares estão em crise, e cresce o fenômeno das meninas e meninos de rua, a comunidade salesiana [...] sente que deve ser casa de quem não tem casa, empenhada em colocar em prática uma pedagogia do ambiente, em que se exprime o espírito de família, feito de acolhimento, confiança, co-responsabilidade. (INSTITUTO..., 2006, p. 23)

Encontramos uma concepção de educação que compreende e valoriza a realidade dialógica da educação:

A escuta é a primeira atitude requerida para entrar em contato com a juventude. Saber ouvir e perguntar, mesmo a que não é feita, significa criar a possibilidade de uma caminhada comum, na busca de uma resposta, que jamais será categórica e definitiva, mas suscetível de abertura e aprofundamento.

Ligada à escuta, a exigência da comunicação. Os jovens têm desejo de contato, de diálogo através de todos os canais, seja o “cara a cara”, seja aquele mediado pelos

news media. Esses têm a vantagem de eliminar as distâncias e de chegar inclusive

aos não-lugares, onde a maioria dos jovens vive. (INSTITUTO FMA, 2006, p. 24)

A aproximação dos diferentes espaços da vida onde se encontram os educandos visa uma concepção de educação que provoca o educador a ir ao encontro da realidade da vida, da pessoa e do seu contexto. “Integrando escuta e comunicação, pode-se garantir uma continuidade no tempo, estar presentes também em horas preferenciais para o mundo juvenil e chegar a espaços diferentes, lugares vitais que, de outro modo, seria impossível abordar” (INSTITUTO..., 2006, p. 24).

Outro aspecto que emerge como concepção de educação é a intenção, segundo a tradição salesiana, de que “a alma da educação é a paixão pelos jovens, a arte de demonstrar confiança neles, de amar aquilo que eles amam, de acompanhá-los na busca de sentido”. Para construir sentidos e significados da realidade é tarefa da educação “estimular, acompanhar a busca para chegar a construir aquele sentido profundo da realidade que faz viver plenamente” (INSTITUTO..., 2006, p. 24).

Para verificarmos a concepção de educação apresentada pelas Linhas Orientadoras, a sua concepção sobre educação, partimos da contextualização de algumas referências citadas no campo das Ciências da Educação, as quais desenvolvem intenções educativas.

A prática da educação centrada no educando toma-o como centro de atenção e ponto de partida para qualquer decisão pedagógica. Quem vai ser formado é o educando, assim importa estar atendendo às suas necessidades e singularidades. A escola tem como função e projeto a formação do educando como pessoa e como cidadão. Isso quer dizer que a escola deverá estar voltada para o educando como pessoa (LUCKESI, 2006).

Pensar a educação tendo no centro de suas atenções a pessoa provoca o educador a pensar sobre o papel, a finalidade, a função da ação educativa para a vida humana. Um dos principais papéis da educação consiste em dotar a humanidade da capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Deverá fazer com que cada um contribua para o progresso da sociedade, compreendendo o desenvolvimento como participação responsável dos indivíduos e das comunidades (DELORS, 2001, p. 82-83).

O desenvolvimento também trata de fornecer à pessoa a compreensão de si mesma e dos outros, e a participar da sociedade. A educação deve englobar todos os conhecimentos requeridos para se ter acesso a outros níveis de formação, além de desenvolver o sentido da curiosidade, da observação e iniciá-la na atitude experimental. A educação básica deve também oferecer uma acepção a um conjunto de conhecimentos e competências para o desenvolvimento humano.

A educação não serve, apenas, para fornecer pessoas qualificadas ao mundo da economia, mas enquanto fim último do desenvolvimento. Desenvolver os talentos e aptidões corresponde à missão humanista da educação. A formação permanente é uma ideia importante hoje, na concepção mais ampla de uma educação ao longo da vida, concebida como condição de desenvolvimento contínuo da pessoa (DELORS, 2001, p. 84-85).

A ampliação do conceito de educação permanente é uma exigência nova, capital e que diz respeito à autonomia dos indivíduos numa sociedade que se transforma. A educação descompartimentada no tempo torna-se uma dimensão da própria vida. A educação por toda a vida é um conceito chave que gera outro conceito: o de sociedade educativa, na qual tudo pode ser ocasião para aprender a desenvolver os próprios talentos (DELORS, 2001, p. 116- 117).

A educação na sociedade da informação deve basear-se na utilização de habilidades comunicativas, permitindo a participação ativa, crítica e reflexiva. A aprendizagem dialógica baseia-se nos princípios do diálogo, superando a relação autoritária e hierárquica, em que o professor ou professora determinam os ritmos de aprendizagem; a inteligência cultural traz um conceito mais amplo de inteligência, que valoriza a pluralidade de dimensões e as possibilidades das interações humanas, considerando a inteligência acadêmica, a prática e a capacidade de comunicação e ação da pessoa humana (FLECHA; TORTAJADA, 2000, p. 21- 32).

Essa compreensão da aprendizagem a partir de uma perspectiva dialógica transforma as relações entre as pessoas, capacitando-as para transformar o seu meio e superar a lógica do mercado, a lógica burocrática e utilitarista. Ela considera as identidades e individualidades, possibilitando as interações entre as pessoas, a solidariedade e a igualdade de diferenças (FLECHA; TORTAJADA, 2000, p. 21-32).

Hoje, pensar uma visão de educação também coloca discussões sobre a construção do conhecimento e a maneira como é compreendido pelas Ciências no contexto atual, pois se observa uma nova forma de compreensão e visão a respeito do conhecimento pertinente, que torna necessário ver as informações e os dados a partir do contexto, dando-lhes sentido e contextualizando-os (MORIN, 2000, p. 36-39).

O “global” é agora entendido como o conjunto das diversas partes ligadas de modo inter-retroativo ou organizacional, ou seja, é o “todo” do qual todos fazem parte e que, ao mesmo tempo, faz parte de todos. No conceito multidimensional, cujo conhecimento refere-se ao que foi tecido junto, existe complexidade quando os elementos diferentes, os quais são inseparáveis, são constitutivos do todo. Existe uma interdependência entre interativo e inter-

retroativo, entre o objeto do conhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o todo e as partes. Por isso, a complexidade é a união entre a unidade e a multiplicidade (MORIN, 2000, p. 36-39).

O conhecimento visto de forma parcelada, compartimentada, mecanicista, disjuntiva e reducionista rompe com o pensamento complexo, possui uma visão fragmentada do mundo e dos problemas, destruindo a possibilidade de reflexão, reduz as possibilidades de se construir uma visão maior, sendo incapaz de considerar o contexto e o complexo planetário, tornando- se uma inteligência cega e inconsciente (MORIN, 2000, p. 43). A missão da educação na era planetária é uma condição para uma sociedade comportada por cidadãos protagonistas, conscientes e comprometidos com a construção de uma civilização que pensa planetariamente (MORIN, 2003, p. 98).

A compreensão da educação, a partir do aspecto dialógico, consiste em relevar a essência do ser humano, considerado, anteriormente, como um ser social e de relação. Assim, pelo fato de a pessoa se relacionar e estar no centro das atenções educativas, a educação deverá considerar efetivamente o seu aspecto relacional. A educação ocorrerá no processo comunicativo, no qual a troca de experiências e saberes enriquecerá a própria individualidade da pessoa e a colocará diante de um processo de troca com outros seres, com o próprio ambiente em que ela se encontra. O fator dialógico no processo educativo rompe com as perspectivas de uma educação autoritária, preocupada somente em transmitir conhecimentos, muitas vezes, carregados de erros e ilusões, como analisa Morin (2000), valorizando somente a quantidade e não um conhecimento contextualizado e vinculado com a realidade multidimensional.

A missão da educação é ter presente a globalidade da pessoa e as suas possibilidades de crescimento humano e social, pensando nas consequências das intenções que se estabelecem no processo educativo. O ser participativo e comunicativo fortalece os laços das relações igualitárias, favorecendo para que a pessoa encontre a sua dignidade e valor, enquanto alguém portador de uma experiência única na sua diversidade humana.

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