• Nenhum resultado encontrado

CONTEXTO SOCIOCULTURAL EM QUE SE DESENVOLVE O PROCESSO

No documento Download/Open (páginas 68-71)

4 PERSPECTIVAS DA EDUCAÇÃO SALESIANA A PARTIR DO

4.2 CONTEXTO SOCIOCULTURAL EM QUE SE DESENVOLVE O PROCESSO

É importante resgatar a memória e a história da vinda da presença salesiana no Brasil. São João Bosco foi um grande idealizador de projetos educativos para além da própria Itália, e participou ativamente do incentivo da Igreja Católica para a realização de projetos missionários, ou seja, da proposta que os religiosos deixassem a própria pátria para realizarem atividades missionárias em outras terras. Em relação à vinda dos salesianos para o Brasil existem dados históricos concretos de um sonho que São João Bosco teve em relação ao país.

Os sonhos de caráter transcendente são um fenômeno na vida de São João Bosco, e todos os grandes projetos de sua vida tiveram origem nos sonhos. A cidade de Brasília nasce com a certeza de ter sido sonhada por São João Bosco, a ponto de se ter difundido entre os habitantes de Brasília uma devoção a São João Bosco. Na sua fundação, a Igreja ao declarar o santo patrono da cidade logo pensou em Nossa Senhora Aparecida como Patrona de Brasília, mas os ex-alunos salesianos pediram para que a Igreja declarasse como Patrono São João Bosco. Para a solução da situação colocaram São João Bosco como copatrono da cidade, atendendo às duas solicitações (COSIMO, 1990, p. 135-137).

A vinda dos salesianos para o Brasil acontece no ano de 1883:

Em 1877, o bispo do Rio de Janeiro, Dom Pedro Maria de Lacerda, pediu a São João Bosco que mandasse salesianos à sua diocese, para começar um trabalho com jovens necessitados de amparo. São João Bosco só pôde atender ao pedido em 1883, quando os primeiros salesianos se estabeleceram em Niterói, RJ. (GRUEN, 2013)

O objetivo da vinda dos salesianos para o Brasil foi a proposta de realizar trabalhos educativos com os jovens pobres:

De fato, no Brasil, como nas origens da obra de São João Bosco, os salesianos logo tiveram a preocupação de proporcionar a esses jovens um jeito de eles mesmos prepararem seu futuro: boas escolas profissionais e agrícolas, onde também teriam formação cívica, moral, religiosa, sempre naquele clima de amizade que devia ser a característica da educação salesiana. [...] De fato, a vinda também das Filhas de Maria Auxiliadora, a multiplicação dos oratórios e escolas profissionais, os salesianos cooperadores e amigos da obra, as vocações para manter vivo esse projeto – tudo isso, com a bênção de Deus, levou adiante e solidificou essa obra. (GRUEN, 2013)

A obra salesiana implantada no Brasil, em 1883, teve, ao longo das cinco primeiras décadas, um desenvolvimento significativo. Numa primeira etapa, tiveram prioridade a formação dos oratórios festivos e as escolas profissionais e agrícolas, com a preocupação de formar os jovens para o trabalho. A partir de 1908, em razão das facilidades oferecidas pelo governo em termos de oficialização do curso secundário, os salesianos passaram a promover

em seus ambientes educativos o ensino acadêmico para os filhos de famílias da classe média emergente. Porém, sempre continuaram existindo atividades educativas para os jovens mais pobres, embora tenha enfraquecido com a complexidade das obras educativas acadêmicas. A partir de 1931, foram realizadas ações missionárias significativas, no Rio Negro, com a abertura de diversas escolas, hospitais e obras sociais (AZZI, 2003, p. 479-483). Na atualidade, além das escolas, faculdades, universidades, escolas profissionais e centros juvenis, existem outras obras salesianas que são realizadas como as missões, em locais mais periféricos, especialmente na região da Amazônia.

A vinda das FMA para o Brasil ocorreu logo após os primeiros anos de sua fundação, no ano de 1892 (AZZI, 1999b, p. 23). O contexto sociocultural no qual se desenvolveu a missão educativa das FMA, portanto, situa-se no final do século XIX e ao longo do século XX. Foi um período em que, no Brasil, inicia-se uma mudança radical do modelo econômico agrário exportador, com o surgimento da burguesia industrial urbana. Aumenta o operariado, recrutado entre os imigrantes italianos e espanhóis.

O populismo é um fenômeno político típico da América Latina e surge com a emergência das classes populares urbanas, resultantes da industrialização, que se acham insatisfeitas com as suas condições de trabalho. Nesta época, inicia-se, também, a supremacia econômica dos Estados Unidos, cujos interesses imperialistas se chocam com o modelo nacionalista. A invasão econômica e cultural americana, as indústrias multinacionais, a penetração do capital estrangeiro agrava a situação de pobreza (ARANHA, 1989, p. 240-241). A educação feminina, no final do século, começou a despertar algum interesse. A maioria das mulheres vivia em situação de dependência e inferioridade, excluída da oportunidade de uma instrução escolar. Em algumas famílias abastadas, às vezes, as mulheres aprendiam a ler, mas se dedicavam especialmente às prendas domésticas e à aprendizagem de boas maneiras. Aos poucos, aparecerão as escolas religiosas que se ocupariam da educação da mulher (ARANHA, 1989, p. 194).

A condição social da mulher, por ocasião da vinda das FMA para o Brasil, insere-se nos padrões culturais da época, na qual à mulher é reservado o espaço doméstico, permanecendo as atividades públicas como domínio masculino. Esta condição social da mulher refletia-se também no campo educativo: a escolarização era reservada aos meninos (AZZI. 1999b, p. 45-47)

Após a Primeira Guerra prenunciam-se os novos tempos: a industrialização e a urbanização formam a burguesia urbana; o surgimento de uma pequena burguesia que busca acesso a uma educação elitista e técnica, o operariado exigindo um mínimo de escolarização,

tudo isso provocou uma expansão do ensino. Porém, a situação do analfabetismo atingia um alto índice, numa população predominantemente rural. O ensino continua pertencendo somente a uma classe elitista (ARANHA, 1989, p. 242-243).

A situação começou a melhorar com a industrialização e urbanização do país. A industrialização exigia cada vez mais uma melhor qualificação da mão de obra. Encontramos uma história da educação marcada pela exclusão, considerando o segmento de baixa renda, mas a exclusão se estende em relação às mulheres; independentemente de serem ricas ou pobres, sempre estiveram excluídas da educação formal, tendo sido encaminhadas para atividades de “natureza feminina”, de esposas e mães.

Na década de 1950, com o desenvolvimento da indústria houve um aumento na procura dos cursos que encaminhavam as mulheres para o setor de serviços e, na década de 1960, evidencia-se uma evolução com a mobilização de diversos movimentos, especialmente em Paris, com a irradiação mundial do movimento feminista, a revolução sexual, enfim a defesa dos direitos humanos. A luta pela emancipação feminina une-se aos esforços para a profissionalização em um mundo capitalista, no qual as dificuldades passam a ser de outra natureza. Assim, partir das décadas de 1950 e 1960, de modo marcante até o final do século XX, ampliou-se o acesso à universidade e a diversificação do campo de trabalho (ARANHA, 1989, passim).

Uma das características da implantação da obra de São João Bosco no país foi o atendimento às solicitações dos bispos, que estavam à frente de um movimento reformista do catolicismo. A situação da Igreja no Brasil era de crise e decadência. Assim, nos meados do século XIX, iniciou-se um movimento do episcopado, empenhado na substituição do antigo modelo eclesial da Cristandade, de raiz medieval, pelo modelo romano de Igreja, considerado perfeito de acordo com o Concílio de Trento (AZZI, 1999b, p. 28). Na implantação desse modelo, os bispos procuraram o apoio das congregações, a fim de colaborarem na obra da reforma católica. Daí o apelo endereçado aos salesianos e às Filhas de Maria Auxiliadora.

Na perspectiva de Lasagna, a missão dos salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora, na América Latina, deveria ser o cuidado das meninas pobres e abandonadas e também a abertura de colégios para a classe dirigente. A atividade educacional foi desenvolvida especialmente por meio de três modalidades específicas: oratórios festivos, externatos e internatos, com a finalidade principal da educação católica. Além das aulas de doutrina cristã, a ênfase maior era direcionada para a prática sacramental, tendo como ideal o proposto por São João Bosco. Como meio de incentivo à prática dos valores cristãos foram organizadas as associações juvenis. Na maioria dos colégios, ministrava-se apenas a instrução elementar

(AZZI, 1999b, passim).

O período de 1942-1967 identifica um tempo de grande expansão do Instituto. A missão dará ênfase à promoção educacional, por meio dos estabelecimentos de ensino, destinados ao atendimento da classe média da população. Na maioria das casas religiosas foram abertos oratórios festivos, e em diversas localidades e em alguns colégios foram iniciados cursos noturnos, em outros, as escolas domésticas. Registra-se, também, a colaboração das Irmãs em atividades de assistência social. Nos estabelecimentos de ensino foram mantidos os regimes de internato e externato e, eventualmente, semi-internato. A formação das meninas constituía a preocupação básica da atuação educacional, prevalecia a orientação para a constituição de lares católicos (AZZI, 1999a, p. 444-446).

A educação religiosa enfatizava o aprofundamento da fé por meio da catequese e da prática sacramental, com um estímulo especial ao sacramento da penitência. Para enriquecer a formação religiosa e moral eram promovidas associações religiosas. A valorização da proposta pedagógica de São João Bosco se dava por meio da educação artística: sessões de teatro, música, canto (AZZI, 1999a, p. 444-446).

Na atualidade, de acordo com o projeto da Província Salesiana, dos anos 2003 a 2007, projeta-se a missão educativa com a perspectiva evangelizadora, mediante a preocupação com a educação integral, que tem por fim formar bons cristãos e honestos cidadãos. O Sistema Preventivo compreendido como um processo de educação e evangelização, o contexto das transformações tecnológicas que dominam o campo da comunicação social provoca a necessidade de unir dois polos: o processo de educação e comunicação, situando a “educomunicação” como uma via privilegiada para atualizar o Sistema Preventivo.

Mediante o contexto do fenômeno migratório que forma a sociedade multicultural e multirreligiosa, projeta-se a necessidade de educar e se educar para a interculturalidade, tendo em vista o compromisso com a educação, com a força profética do Sistema Preventivo na educação para a justiça e a paz, optando-se por uma cultura da solidariedade e da vida e pela valorização da interculturalidade (PROVÍNCIA SALESIANA, 2003-2007, passim).

4.3 PROSPECTIVAS PEDAGÓGICAS DAS LINHAS ORIENTADORAS DA MISSÃO

No documento Download/Open (páginas 68-71)