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A trajetória histórico-social de Jean-Jacques Rousseau contribuiu para que o mesmo deixasse para a humanidade um repertório de ideias que certamente, tornar-se-iam relevantes para a educação do homem e, consequentemente, para a melhoria de toda a sociedade. No conjunto desse ideário rousseauniano encontramos o pensamento marcante e inovador de uma pessoa considerada revolucionária para sua época, o qual pretendia, por meio de seus escritos,

evidenciar a questão da liberdade intelectual e da independência que o homem necessitava adquirir ao longo de sua formação. O qual deveria ser guiado e acompanhado, visando seu crescimento humano, afastado, por ora, da sociedade, para que o mesmo adquirisse uma conduta pela qual evidenciasse claramente a diferença entre o homem, razão única da filosofia rousseauniana, e, o cidadão: objetivo da educação atual.

Esse homem, segundo Rousseau, deveria ser educado primeiramente para ser si mesmo, uno, agindo conforme sua fala e não de acordo com o todo social. Com esse pensamento, ele apropria-se de uma postura antropocêntrica e individualista. “Antropocêntrica pelo fato de que cabe ao ser humano apropriar-se da realidade, organizando- a a fim de servir-se a si próprio; individualista pelo fato de que, para isso, terá de contar principalmente consigo mesmo” (BATISTA, 2010, p. 156).

Essa atitude determinante e audaciosa marcou o nascimento de um dos mais ricos movimentos que despertavam toda à atenção à figura do homem, conhecido como Iluminismo, e ou, Século das Luzes. Período esse, rico em reflexões pedagógicas que evidenciam a questão do poder da razão humana, capaz de posicionar o homem frente aos acontecimentos do mundo, podendo o mesmo interpretá-los e, consequentemente, reorganizá- los.

Rousseau, com a sua concepção naturalista, deixou sua contribuição para o nascimento desse novo homem, guiado pelas luzes da razão. O sistema pedagógico por ele defendido é essencialmente racional. A razão, conforme seus argumentos é a base principal do homem, sua característica mais humana. Suas ideias contidas nas inúmeras obras escritas retratam essa preocupação.

[...] Luzes significam, ai, o poder da razão humana de interpretar e reorganizar o mundo. O otimismo com respeito à razão vinha sendo anunciado desde o Renascimento, quando o homem novo procurava valorizar os próprios poderes contra o teocentrismo medieval e o princípio de autoridade. No espírito do iluminismo, os filósofos franceses Diderot, D’Alembert, Voltaire, Helvetius e Rousseau não são propriamente educadores, mas encaram o ensino como um veículo importante das luzes da razão e no combate às superstições e ao obscurantismo religioso (ARANHA, 1996, p. 120-121).

Podemos enxergar a edificação dos propósitos educacionais e, também, pedagógicos de Rousseau, em duas frentes de análise por ele evidenciadas no decorrer de seus escritos: a educação e, a criança na concepção de sua formação. Certamente, essas duas concepções contidas em seus pressupostos filosóficos, sustentam suas convicções para um trabalho frente à formação de um novo homem para ser inserido na sociedade, o qual, acreditava necessitar

de amparo educacional, conforme sua concepção sobre o assunto, para consequentemente, haver uma reforma social.

Rousseau trata sobre essas dimensões em seu grande tratado sobre educação, Emílio ou, Da Educação. No conjunto de suas ideias, observamos nas entrelinhas das mesmas, um projeto educacional, que recebe sustento também, de sua outra obra, O Contrato Social, a qual traz explícitas ideias sobre a questão do retorno à natureza, “ao estado natural do homem e, a urgência do abandono da educação tradicional” (ROUSSEAU, 2008, p. 11-12). Conforme assevera Simpson (2009, p.150):

O objetivo declarado do livro é mostrar como uma educação apropriada pode ser bem-sucedida na formação de um jovem que é feliz e virtuoso, mas tinha o objetivo maior de defender a tese de que as pessoas são naturalmente boas e que são feitas ruins e infelizes pela sociedade (SIMPSON, 2009, p.150).

Usando de uma linguagem clara, com um arranjo sentimental e, às vezes, carregada de posições questionadoras, instigante, Rousseau, conforme Comenius descreve uma teoria que acusa as lacunas existentes, como também, aponta um melhor direcionamento para uma ação mais eficiente, visando à formação sadia do homem, e consequentemente, de uma sociedade mais justa, saudável e melhorada. Sendo assim, “o sentido geral de Emílio tem de ser buscado, portanto, na preocupação fundamental de Rousseau, que foi a de indicar a forma exata pela qual se pode organizar uma sociedade saudável” (DALBOSCO; CASAGRANDA, MUHL, 2008, p.105).

Devemos aqui ressaltar que Rousseau fazia essas colocações em decorrência da sociedade de sua época, com seu olhar voltado a civilização do século XVIII, que ainda trazia resquícios do século anterior, o qual se fazia em meio à repreensão religiosa, moral e monárquica, que exercia a mais opressiva influência sobre o pensamento e a ação do homem.

Nesse cenário histórico-social, Rousseau enxergava uma total desigualdade social, uma sociedade desamparada da própria condição da formação humana, sem respeito à predisposição natural de ser do próprio homem, ou seja, uma sociedade artificializada segundo os vícios sociais e, porque não dizer, educacionais, criados em torno da mesma. Sendo assim, sua experiência o leva a pensar na reestruturação do processo da formação desse homem, em possíveis caminhos que possam proporcionar a ele, melhorias na sua condição humana de ser, visando com isso, uma nova sociedade, mais justa e verdadeira, cercada por princípios advindos da própria natureza do homem e não pelas regras pré- determinadas para formar-se um cidadão, conforme sugere o sistema social.

3 ALGUMAS CATEGORIAS DO PENSAMENTO EDUCACIONALDE JOÃO AMÓS COMENIUS E DE JEAN-JACQUES ROUSSEAU: ESTUDO COMPARATIVO

3.1 Considerações Introdutórias

Para o capítulo final desse estudo, dos pensamentos comenianos e rousseaunianos, serão aqui destacados, algumas categorias pedagógicas acerca desses pensamentos, que os levaram a articular suas idéias, frente aos seus propósitos educacionais, com a intenção de pontuar as convergências e ressaltar as divergências entre esses filósofos, no que se refere aos aspectos filosóficos-educacionais.

Visou-se com esse estudo comparativo, evidenciar como eles, mesmo seguindo caminhos diferentes, que conseguiram e perseguiram o mesmo objetivo: o de reestruturar a sociedade. Sugeriu-se uma educação baseada em uma pedagogia sustentada pelo respeito à natureza humana e alicerçada pela verdadeira prática educativa, conforme suas concepções sobre o desenvolver da mesma.

Por categoria, é necessário ressaltar, que o uso do termo se refere aos conceitos que atuam como elementos estruturais do pensamento dos filósofos estudados. Designa “representações conceituais que buscam exprimir a inteligibilidade constituída a partir da leitura, da análise dos autores em questão” (BATISTA, 2010, p.19-20).