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Considerações introdutórias e contextualização do século XVIII

O século XVIII trouxe muitas transformações por toda Europa, grandes revoluções que deixaram marcas ao longo do tempo e inúmeras invenções científicas. Ficou conhecido como Século das Luzes, do Iluminismo e da Ilustração. “Luzes, significam ai, poder da razão humana de interpretar e reorganizar o mundo” (ARANHA, 1996, p. 119). Período no qual tivemos como pano de fundo no processo de crescimento intelectual e social do homem, as Revoluções: Industrial (1750) e Francesa (1789), alterando definitivamente o cenário socioeconômico, religioso e político do país.

Impregnados de tal pensamento, os filósofos ilustrados propunham que a razão é o que pode esclarecer a humanidade, libertando-a das trevas da ignorância, do engano, do erro, da superstição, do fanatismo e do vício, instaurando, pois, para a humanidade uma era de sabedoria, de conhecimento, de veracidade, de tolerância, de esclarecimento, de liberdade, de igualdade e de fraternidade (BATISTA, 2010, p. 55).

Trata-se de uma época de profundas mudanças no cenário social e político, em que a sociedade passou por uma completa restauração na sua forma de se organizar. Foi um período caracterizado pela ascensão da burguesia, devido aos resultados obtidos na Revolução Comercial, como também, da aliança com a realeza absolutista. A temporada das revoluções estava marcada por um novo agir do homem frente ao que estava surgindo, principalmente, tratando-se do modo capitalista de produção, como explica Marx, (2003, p. 5),

[...] em certo estágio de desenvolvimento, as forças produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes [...]. Surge então uma época de revolução social. A transformação da base econômica altera, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura.

Era necessária uma enorme modificação nas relações de produção com a chegada das máquinas, das fábricas modernas para a obtenção do produto industrializado, o homem, advindo com os hábitos e costumes do período anterior, século XVII, acostumado à servidão, não atendia as necessidades da modernidade que por ora se instaurava, ou seja, “não poderia haver produção nas fábricas modernas e nem favoreceria o surgimento de um mercado consumidor para os produtos industrializados” (DALBOSCO, CASAGRANDA, MÜHL, 2008, p.81).

econômicos, ideológicos, religiosos e educacionais. Transformações essas que atingiram a França, avaliada, no século XVII como a primeira nação do mundo e, consequentemente, no decorrer do século XVIII, tornou-se exemplo durante essas transformações nascidas após inúmeros conflitos que possibilitaram, por meio de algumas revoluções, a implementação das mudanças necessárias à realidade social. Seu líder na época, o rei Luís XIV foi considerado o melhor modelo de aplicação do poder.

Durante o século XVII e início do século XVIII, presenciava-se o uso exacerbado do poder do rei que controlava a política, a religião, o pensamento e a ação do homem, frente ao seu contexto social. Esse contexto se refere a uma realidade criada, segundo as necessidades de um tempo, pelo qual necessitava-se de um representante para defender os interesses da nova classe social que estava surgindo: a mercantil. Concentrou-se assim, o poder nas mãos de uma única pessoa, ou seja, um monarca.

Dessa forma, em meio às destemperanças e desconfortos em que os reis dominavam a política, a religião, o pensamento e a ação do homem, surgiram as revoltas, transformadas em revoluções, tendo nos seus comandos, grandes líderes que representaram através de suas ideologias, suas filosofias frente às situações por eles analisadas.

O primeiro protesto foi o dos intelectuais contra a repreensão, e é habitualmente chamado o Iluminismo ou Época das Luzes. O segundo foi a revolta das massas pelos direitos do homem e constitui o movimento naturalista. Filosoficamente estes dois movimentos têm muito de comum e são, muitas vezes, identificados como um só. Entretanto divergem radicalmente em certas questões fundamentais, como no conceito de formalismo e de aristocracia (MONROE, 1984, p. 249).

O Iluminismo traz uma série de possibilidades de ação humana, por meio do uso verdadeiro da razão, colocando o homem não somente para contemplar a natureza, mas, para nela, também, agir e dominá-la. Nessa perspectiva racional, entende-se que “o homem pode alcançar a verdade sem a ajuda da teologia” (GILES, 1987, p. 171), dessa forma, Rousseau, em sua obra Emílio, ou Da Educação, traz um tratado pedagógico que muito contribui para esse despertar do comportamento racional, em que expõe suas ideias educacionais, fundamentadas no retorno à natureza.

Não se trata de uma ruptura radical com as bases religiosas e outros tipos de situações impostas ao comportamento humano, o que está em questão é capacidade racional do homem, bem como, o uso consciente dessa racionalidade, de poder tomar decisões, segundo sua própria liberdade de pensamento, como explica Rousseau (2006, p. 10),

Nascemos sensíveis e, desde o nascimento, somos afetados de diversas maneiras pelos objetos que nos cercam. Assim que adquirimos, por assim

dizer, a consciência de nossas sensações, estamos dispostos a procurar ou a evitar os objetos que as produzem, em primeiro lugar conforme elas sejam agradáveis ou desagradáveis, depois, conforme a conveniência ou a inconveniência que encontramos entre nós e esses objetos, e, enfim, conforme os juízos que fazemos sobre a ideia de felicidade ou de perfeição que a razão nos dá.

Sob o anseio de alcançar-se a verdade, por meio da racionalidade humana, esse movimento iluminista abraça diversas dimensões de ação, visando o êxito em seus propósitos, como por exemplo, a exigência quanto à reforma nas instituições que orientavam a vida dos homens, fazendo deles menos, suas próprias vítimas. Pode-se dizer que foi uma reação contra todas as coisas que tornavam o homem um ser incapaz de caminhar sob os próprios pés, guiados pela própria razão.

O século XVIII pode ser visto como o período pelo qual a Pedagogia obteve um grande desenvolvimento, trazendo inúmeras ideias pedagógicas como, a certeza do poder absoluto da razão, o qual guiará o homem no decorrer de seu desenvolvimento, ficando para a educação a tarefa de simplesmente acompanhá-la, como também, a ideia da criança como um ser livre, capaz de defender-se de todo tipo de constrangimento e ou pressão social.

Foi nesse contexto de reação contra o antigo regime político, nascido no século anterior e percorrido até metade do século XVIII, que encontramos Jean-Jacques Rousseau, peregrino em seu tempo e revolucionário em suas ideias. Juntamente com outros filósofos franceses, com o ideário iluminista, conseguem enxergar na educação o meio mais eficaz para despertar a razão humana. Buscou-se assim, combater todas as formas de pensamento obscuro de suas épocas.

2.2 Rousseau e seu tempo: da trajetória biográfica e a formação do ideário de um