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CONCEPÇÃO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM

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1 DA CRIANÇA AO PROFESSOR: ALGUMAS CONCEPÇÕES E SUAS

1.4 CONCEPÇÃO DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM

Weisz (1999) afirma:

Quando analisamos a prática pedagógica de qualquer professor, vemos que, por trás de suas ações, há sempre um conjunto de idéias que as orienta. Mesmo quando ele não tem consciência dessas idéias, dessas concepções, dessas teorias, elas estão presentes. (WEISZ, 1999, p. 55)

O título do livro de Telma Weisz (1999): “O diálogo entre o ensino e a aprendizagem” equivale, em si, a uma provocação no melhor sentido da palavra, um desafio. O termo “ensino-aprendizagem” expressa uma concepção de conhecimento pautada nas matrizes teóricas empíricas, ou seja, a ideia de que a aprendizagem é uma reação automática à ação de ensinar, considera o sujeito como um agente passivo no processo de aprender, aquele no qual se imprime um novo saber. Por isso, o professor, que é “dono” do saber, doa seu saber em doses homeopáticas ao aprendiz, organizando essa doação do saber do mais simples para o mais complexo, “facilitando”, assim a aprendizagem (ver Quadro 1).

Ao propor no título de seu livro o termo “o ensino e a aprendizagem”, explicita a concepção de conhecimento na perspectiva construtivista e revela:

O processo de aprendizagem não responde necessariamente ao processo de ensino, como tantos imaginam. Ou seja, não existe um processo único de “ensino-aprendizagem”, como muitas vezes se diz, mas são dois processos distintos: o de aprendizagem desenvolvido pelo aluno e, o de ensino, pelo professor. São dois processos que se comunicam, mas não se confundem: o sujeito do processo de ensino é o professor enquanto o do processo de aprendizagem é o aluno. É equivocada a expectativa de que o aluno poderá receber qualquer ensinamento que o professor lhe transmita exatamente como ele lhe transmite. O professor é que precisa compreender o caminho de aprendizagem que o aluno está percorrendo [...] Ou seja, não é o processo de aprendizagem que deve se adaptar ao de ensino, mas o processo de ensino é que deve se adaptar ao de aprendizagem. Ou melhor, o processo de ensino deve dialogar com o de aprendizagem. (WEISZ, 1999, p. 65)

A partir da concepção de construção de conhecimento e das investigações didáticas pautadas nesta matriz teórica, fica claro que o professor tem o papel de organizar situações didáticas que possam provocar o movimento descrito por Piaget de desequilíbrios e assimilações e de acomodações.

problema que têm por objetivo promover o avanço de um conhecimento menor para o conhecimento de natureza mais complexa. Neste sentido, o papel do professor é fundamental. No entanto, enquanto o professor busca interferir nos esquemas assimilativos do aprendiz, este tem uma relação com o objeto que busca conhecer, é nesta interação que se dá o conhecimento, no qual o aprendiz utiliza-se de seus conhecimentos prévios para avançar de um esquema assimilativo a outro. É ao considerar o aprendiz como alguém que pensa, que age cognitivamente sobre o objeto a ser conhecido, que o professor organiza as situações didáticas. Para que o aprendiz tenha necessidade de aprender é necessária uma razão, um motivo.

É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formador, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da sua produção do saber, se convença definitivamente que ensinar não é transmitir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou sua construção. (FREIRE, 2004, p. 22)

Para Vygotsky é a linguagem quem abre caminhos para a “Zona de Desenvolvimento Proximal”, isto é, ajuda a criança a avançar de um nível de desenvolvimento real para uma área de potencialidades, através da mediação realizada pelo "outro".

Ao compreender que ensinar e aprender são dois processos diferentes, distintos, mas, interdependentes, a ação docente torna-se mais clara e mais eficaz e ao considerar o aprendiz como um sujeito que utiliza os conhecimentos prévios que tem sobre o objeto para aprender mais sobre ele, que se aprende por aproximações sucessivas, que há necessidade de desafios cognitivos provocando desequilíbrios e acomodações para que o sujeito possa passar de um estado de conhecimento a outro, o professor planeja situações didáticas que vão ao encontro do processo de aprendizagem e não na sua contramão.

Dessa forma, a ação docente se torna cada vez mais fundamental. Ao organizar suas intervenções e considerando a “Zona de Desenvolvimento Proximal”, ao professor faz-se necessária uma postura de investigação, de planejamento de avaliação de reflexão constante sobre sua prática.

Conforme afirma Bräkling (1997, p. 1), “[...] os estudos relacionados à investigação do processo de conhecimento apontam a necessidade de se considerar, no processo de aprendizado, os seguintes pressupostos":

a) O sujeito aprende na interação tanto com o objeto de conhecimento, quanto com parceiros mais experientes a respeito do que se está aprendendo;

b) O processo de conhecimento não é linear, acontecendo por meio de um processo que supõe apropriações de aspectos possíveis de serem observados no objeto de conhecimento, nos diferentes momentos;

c) Nesse processo de apropriação, é possível que se consiga realizar em cooperação tarefas que não seriam possíveis de serem desenvolvidas autonomamente num momento atual. Essa cooperação cria a zona de desenvolvimento proximal, por meio da circulação de informações que são tanto relevantes para o aprendizado, quanto possíveis de serem compreendidas pelo aluno. Nesse processo, instaura-se a possibilidade de que esse aluno se aproprie dessas informações, tornando-se autônomo, em momentos seguintes, para a realização daquela tarefa, por ter, de fato, aprendido o que estava em jogo. (BRÄKLING, 1997, p. 1)

Compreender que ensinar e aprender são dois processos diferentes e interdependentes qualifica e valoriza ainda mais o papel do educador. Ter consciência sobre o processo de aprendizagem requer do professor uma intervenção didática planejada e consciente; requer conhecimento dos estados de conhecimentos de cada aluno, conhecimento sobre quais situações didáticas constituir-se-ão em situações-problema de fato, conhecimentos sobre quais os agrupamentos serão mais produtivos em cada proposta, saberes sobre o conteúdo a ser ensinado e sobre a didática. Nesta concepção, o professor assume uma postura investigativa, reflexiva e crítica o tempo todo no seu fazer pedagógico.

Na perspectiva construtivista compreende-se que o diálogo entre o ensino e a aprendizagem é condição para toda ação didática. O ensino existe e se organiza em função da compreensão do processo de aprendizagem.

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