• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA UNIVERSIDADE: PERSPECTIVAS E

2.2 Finalidades da avaliação institucional

2.2.2 Concepção meritocrática

Numa posição inversa aos fundamentos teórico-metodológicos da avaliação institucional formativa, estão as avaliações que atendem à lógica dos interesses do mercado. Nesse caso, a avaliação é entendida como mensuração que fornecerá escalas de classificação das instituições, conforme sua eficiência em responder às demandas do mercado de trabalho e às necessidades da economia.

A avaliação institucional realizada mediante princípios positivistas recebe na literatura especializada diversas denominações: meritocrática (Belloni, 2000), tecnológica (DIAS SOBRINHO, 2000). As avaliações institucionais, vinculadas a essa epistemologia positivista, advogam a fragmentação do objeto avaliado, a neutralidade dos avaliadores e a objetividade dos instrumentos de coleta de dados para garantir produtos mensuráveis. São realizadas para efeito de classificação e seleção e situam-se no nível do controle para assegurar a conformidade dos objetos avaliados com normas e modelos desejáveis para o Estado.

A forte tradição desse referencial são os exames gerais ou nacionais, a exemplo do Exame Nacional de Cursos – ENC, mencionado no primeiro capítulo deste texto. Eles se atrelam, entre outras, às idéias de “controle, eficiência, competitividade e comparabilidade para efeitos de classificação” (DIAS SOBRINHO, 2003a, p. 153).

Por meio dos exames, os governos oferecem estatísticas educacionais com base nos resultados de suas avaliações, como referências de qualidade educacional e ranking de méritos que funcionam como aparelhos de utilidade social.

Para Afonso (2000), as políticas avaliativas desenvolvidas tendo como características a medida e as estatísticas de classificação evidenciam a presença de um Estado Avaliador. Esse Estado mostra-se mínimo na garantia de suas obrigações sociais, mas presente no controle dos serviços mediante estratégias de avaliação institucional. Para tanto, as instituições de educação superior deverão avaliar-se para garantir credenciamento, reconhecimento, títulos conseguidos por meio da certificação da sua qualidade.

Sob esse enfoque, avaliar passa a ser sinônimo de controle de qualidade. O entendimento que se tem de qualidade, nessa lógica avaliativa, é de algo que pode ser medido, quantificado por meio de indicadores, para ver a extensão da produtividade, eficiência e eficácia das instituições de educação superior. Os indicadores eleitos para tal ato são transportados do campo da economia, da lógica empresarial custo-benefício.

Coelho (2003) diz que o reducionismo de conceito de qualidade tem levado Estado e Universidade a privilegiarem aspectos quantificáveis. Ao arriscar-se na medida das diversas dimensões do fazer universitário pela ótica da produtividade, a avaliação reduz a Universidade à agência prestadora de serviços, incorporando-a como parte do processo de avaliação do grau de satisfação do consumidor, do cliente.

Nessa linha, a avaliação se limita, segundo Georgen (1997), a uma atividade predominantemente técnica com ênfase nos indicadores quantitativos, valorizando a mensuração dos resultados produzidos pelas instituições no que diz respeito às suas tradicionais funções de pesquisar, ensinar e prestar serviços à comunidade.

As avaliações elaboradas e as implementadas no Brasil, a partir da década de 1980, estão, de certa forma, inscritas ou na concepção de avaliação formativa ou na meritocrática. Os procedimentos de avaliação pautados na concepção meritocrática, ainda que realizados de forma legítima, são questionados por inibirem a visão global e contextualizada da instituição universitária. Dessa forma, os procedimentos fundamentados na concepção formativa são considerados mais adequados para evidenciar o caráter singular da universidade.

As duas concepções de avaliação aqui abordadas se diferem em termos de sujeitos, finalidades, enfoques e procedimentos, conforme apresentado no quadro a seguir:

ASPECTOS TEÓRICO- METODOLÓGICOS

FORMATIVA MERITOCRÁTICA

Sujeitos Avaliação interna, de origem endógena. Avaliação externa, de origem exógena. Finalidades Autoconhecimento e tomada de decisão

institucional.

Hierarquização das instituições, competição, controle pelo Estado.

Enfoques Global. Parcial.

Abordagens Avaliação qualitativa e Quantitativa.

Avaliação quantitativa. Quadro 1 – Concepções de avaliação institucional

Pelas informações expostas no quadro, temos, de um lado, a avaliação formativa, que privilegia os processos planejados e desenvolvidos pelos sujeitos internos, sendo a titularidade da avaliação da própria comunidade acadêmica. Por meio de uma ação participativa, busca-se conhecer a instituições por meio de instrumentos qualitativos e quantitativos com a finalidade de melhorar as atividades da instituição.

Em posição oposta, a avaliação meritocrática se desenvolve com ações sob a responsabilidade de agências governamentais, as quais possuem a titularidade da avaliação. O papel dos avaliadores se resume ao estabelecimento de mérito, hierarquização e controle das instituições por meio de avaliações quantificadoras e parciais do desempenho das instituições.

Essas diferentes concepções são reveladoras de posições ideológicas, políticas e sociais que assumimos na condução de práticas sociais e educacionais. Por essa razão é que uma proposta de avaliação institucional, ao eleger uma concepção formativa ou meritocrática, deverá ter clareza de que distintos serão os efeitos e impactos de cada uma delas na instituição avaliada.

Conforme Dias Sobrinho (2002, p. 83), “as implicações de cada avaliação devem ser consideradas nas situações concretas em que se desenvolve cada processo [...]”, haja vista os contextos serem distintos, específicos e, em cada realidade institucional, serem estabelecidas relações peculiares dos sujeitos envolvidos nas atividades ou processos avaliativos.

A escolha de uma dessas concepções está estritamente relacionada aos propósitos que se pretende alcançar por meio da avaliação institucional. Quando a intenção é para avaliação promover a melhoria do trabalho pedagógico e administrativo, o projeto avaliativo precisa ser orientado por uma concepção que garanta adesão voluntária, que instigue o desejo coletivo de aperfeiçoamento pelos sujeitos que constroem a instituição, fazendo de seus resultados sinalizadores de um planejamento capaz de reconduzir os rumos da instituição.

Dessa forma, advogamos que para a universidade realizar um processo avaliativo em prol do autoconhecimento e da tomada de consciência de suas intenções e ações, faz-se necessário apoiar-se em modelos formativos, uma vez que esses modelos contribuem para o desenvolvimento de uma cultura avaliativa dialógica, educativa e pedagógica.