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CAPÍTULO 2 – AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NA UNIVERSIDADE: PERSPECTIVAS E

2.3 Cultura de avaliação institucional

Na literatura a respeito da avaliação institucional, é corrente a defesa da necessidade de criação de uma cultura de avaliação nas universidades ou demais instituições de educação superior (BELLONI, 1999; DIAS SOBRINHO, 2000; RISFOFF, 2000; FERNADES, 2002; LEITE, 2005).

Nesse sentido, entendemos que a avaliação, para constituir-se de forma voluntária, permanente, participativa, legítima, contextualizada e formativa, precisa fazer parte da estrutura e dos processos organizacionais, valores e crenças que são aprendidos e compartilhados pelos membros da Universidade. De tal modo, podemos dizer, com base em Pires e Macêdo (2006, p. 84), que a

cultura é um conjunto complexo e multidimensional de tudo que constitui a vida em comum nos grupos sociais. Seria, ainda, um conjunto do modo de pensar, de sentir e de agir, mais ou menos formalizados, os quais, tendo sido apreendidos e sendo partilhados por uma pluralidade de pessoas, servem de maneira ao mesmo tempo objetiva e simbólica, e passam a integrar essas pessoas em uma coletividade distinta de outras. É o resultado de ações cujos componentes e determinantes são compartilhados e transmitidos pelos membros de um grupo.

Diante desse conceito, a avaliação institucional, para se constituir em cultura, precisa ser construída de significados partilhados pelo conjunto das pessoas que vivenciam a Universidade. A avaliação deve fazer parte da percepção e do desejo comum de realizá-la. Necessita, nesse caso, compor o repertório de conhecimentos, crenças, hábitos, regras, sentimentos que regem o trabalho coletivo da e na instituição avaliada.

Essa mesma questão é defendida por Ristoff (2000, p. 49), quando diz que a universidade precisa despertar para a necessária construção da cultura de avaliação. Segundo esse autor, a cultura é representada por um “conjunto de valores acadêmicos, atitudes e formas coletivas de conduta que tornem o ato avaliativo parte integrante do exercício diuturno de nossas funções”.

A introdução do termo cultura no campo da avaliação institucional nos conduz a inserí-lo na discussão da cultura organizacional. Sob esse ponto de vista, Domingues e Diez (2000, p. 10) diz que a referência à cultura organizacional justifica-se porque, sendo a universidade uma instituição complexa, ela precisa ser analisada em suas múltiplas dimensões. Assim, o referido autor indica cinco funções33 essenciais da cultura organizacional na universidade:

(i) Integradora: a cultura de uma organização identifica os seus membros através de formas de pensar e atuar no âmbito organizacional que lhes são comuns e que, em conseqüência, lhes confere uma identidade coletiva; (ii) Adaptativa: possibilitam aos integrantes da instituição um relacionamento em torno do caso educativo, favorável às suas necessidades de sobrevivência; (iii) Legitimadora: reforça a orientação e a finalidade de organização, conferindo inteligibilidade e sentido ao comportamento e ao trabalho dos membros da organização; (iv) Motivadora: dado aos valores compartilhados e a adesão a metas institucionais podem gerar cooperação e compromisso por parte dos integrantes da organização; (v) Simbólica: a cultura é tanto representativa da realidade social como da vida de um grupo. A cultura condensa os valores, crenças e ideais compartilhados(DOMINGUES e DIEZ, 2000, p.10, tradução nossa).

O conjunto dessas funções indica que a construção de uma cultura de avaliação institucional requer a existência de valores e crenças compartilhados por um grupo social. Assim, a avaliação institucional precisa ser desejada pela comunidade acadêmica como um empreendimento necessário à constituição da universidade.

Em tal perspectiva, propostas que não surgem do seio da universidade, que não representam os valores, interesses e motivação de seus membros, tendem a não ser legitimadas pela comunidade acadêmica. Nesse sentido, cultura diz respeito ao conjunto de pressupostos básicos que são validados e referendados pelo grupo que os formulou e desenvolveu nas situações vivenciadas no cotidiano de uma organização, constituindo-se nas formas de perceber, pensar e agir em certas circunstâncias (SHEIN, 1992).

Para o referido autor, o conteúdo da cultura são crenças, valores e pressuposições básicas. O processo inicia-se com crenças (predições sobre como as “coisas” são) e valores (afirmações de como as coisas devem ser). Ao passo que as crenças e valores são testados e

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Integradora: la cultura da la organizacional identifica a sus miembros a través de formas de pensar y de actuar em el âmbito organizacional que lê son comunes y que en consecuencia, les confiere una identidad coletiva; Adaptativa: possibilita a los integrantes de la instituición um relacionamento com el entorno-em este caso educativo-favorable a sus necesidades de subrevivencia;Legitimadora: Refuerza la orientación y la finalidad de la organización, conferindo inteligibilidad y sentido al comportamiento y al trabajo de los miembros de la organizacion; Motivadora: dado que los valores compartidos y la adhesión a lãs metas institucionales pueden generar cooperación y compromisso de parte de los integrantes de la onganizacion; Simbólica: la cultura en tanto representativa de la realidad social compleja d ela vida de um grupo. Em ella se condensa los valores, creencias e ideales compartidos.

validados, mostrando-se eficazes para resolver problemas de adaptação interna e externa do grupo, elas se transformam, gradativamente, em referências básicas e compartilhadas (crenças sobre como as coisas são, que não precisam mais ser testadas).

Assim sendo, a avaliação institucional necessita ser, ao mesmo tempo, uma crença e um valor público, introjetado no cotidiano da instituição, um elemento essencial e permanente no conjunto do patrimônio cultural da Universidade (DIAS SOBRINHO, 2000).

A cultura de avaliação é, portanto, um projeto a ser construído pelas instituições na medida em que vão inter-relacionando o que são e o que desejam ser, com as ações que cotidianamente vão tecendo para garantir legitimidade política e validade institucional ao ato avaliativo.

Nesse sentido, para uma instituição desenvolver uma cultura de avaliação, precisa transformar esse empreendimento em uma ação contínua, permanente e democrática, rompendo as resistências e favorecendo a participação ativa da comunidade acadêmica.

A inexistência da cultura de avaliação institucional é, no entendimento de Oliveira (2004, p. 75), um dos fatores que afetam significativamente a implementação de processos avaliativos nas universidades públicas, considerando que

[...] a falta de cultura avaliativa pode estar associada a uma visão da avaliação para fins de fiscalização e punição ou ao julgamento do que é certo ou errado, à descrença a respeito da utilização dos resultados da avaliação para corrigir os problemas detectados e melhorar a instituição.

Para que a avaliação institucional se transforme em cultura, é preciso considerar a institucionalização como fator fundamental para a inclusão de práticas avaliativas na rotina do trabalho administrativo e pedagógico das instituições de educação superior.