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10 A REDIFINIÇÃO DO PAPEL DO ESTADO, A NEOSOCIAL DEMOCRACIA

10.5 Concepção Político-Econômica da Mudança Estatal Os marxistas ortodoxos

A proteção do trabalhador e do cidadão passa necessariamente pela forma de como o Estado está constituído e qual a concepção que o indivíduo tem de

Estado. Para introduzir a importância da história política do Estado no contexto do marxismo ortodoxo e no comportamento do assalariado Alain Bihr afirma:

Retrospectivamente, e considerando-o do ponto de vista do proletariado, esse compromisso pode ser comparado a uma espécie

de imensa barganha, pela qual o proletariado renunciou à “aventura

histórica” em troca de sua “seguridade social”.

Renunciar à “aventura histórica”? É renunciar à luta revolucionária, à luta pela transformação comunista da sociedade; renunciar à contestação à legitimidade do poder da classe dominante sobre a sociedade, especialmente sai apropriação dos meios sociais de produção e as finalidades assim impostas às forças produtivas. É, ao mesmo tempo, aceitar as novas formas capitalistas de dominação que vão se desenvolver pós-guerra, ou seja, o conjunto das transformações das condições de trabalho e, em sentido mais amplo, de existência que o desenvolvimento do capitalismo vai impor ao proletariado nesse período.

Em contrapartida a essas renúncias, o proletariado obtinha a garantia da seguridade social. Quer dizer, não só sai assistencial social, mas no sentido mais amplo, a satisfação de seus interesses de classe mais imediatos e, portanto, também mais votais; uma relativa estabilidade de emprego; um crescimento de seu “nível de vida”; uma redução de seu tempo de trabalho; a satisfação de um certo número de suas necessidades fundamentais (habitação, saúde, educação, formação profissional, cultura, lazer, etc.).

Em resumo, é a perspectiva de sair da miséria, da instabilidade, da incerteza do futuro e da opressão desenfreada, que basicamente caracterizaram até aquele momento a concepção proletária. É juntamente a garantia de adquirir direitos, não só formais (direitos cívicos e políticos), mas reais (direitos sociais), cujo respeito seria garantido pelo Estado, e de ter acesso a uma vida se não agradável, pelo menos suportável (aceitável).

[...] Assim será toda a ambivalência da legalização do proletariado que o compromisso fordista tornará possível: o Estado proporcionará satisfação ou sustentação a algumas de suas reivindicações na exata medida em que isso lhe permitir melhor integrá-lo na sociedade civil e política e, portanto, melhor controlá-la ( BIHR, 1998, p. 37-38).

O modelo sindical, de corrente revolucionária dos anos setenta, não resisitu as concepções fordistas típicas de uma sociedade de pós-guerra. Foi, então, o modelo substituído por outro com uma concepção reformista.

Ele passou de revolucionário à social democrata. O pleno emprego não se manteve e Alain Bihr, marxista-ortodoxo, acredita que o proletariado só se emancipará quando conquistar e exercer o poder do Estado, representados por políticos. O poder deve ser tomado da burguesia e de seus aliados políticos (ibidem).

O movimento sindical teve seu ápice nos anos setenta, no mesmo momento histórico de outros movimentos reinvidicatórios como o feminismo e o anti-nuclear. Todos esses fatos, associados ao modo de vida capitalista, ora vencedor na guerra político-ideológica e ao crescente desemprego deixaram seqüelas como a concorrência entre os indivíduos e a intensificação do processo de exclusão social. Bihr aponta essa seqüela como uma estratégia propositalmente provocada para distanciar os proletários dos movimentos sindicais e reafirmar a ascenção do individualismo e a quebra da identidade coletiva.

Para ele, o crescimento tecnológico e a fragmentação da sociedade criaram condições de passagem para o comunismo.

10.5.1 os ortodoxos

A crítica dos marxistas ortodoxos ao subsídio estatal consiste em que atribuir a renda básica um caráter de submissão do Estado ao capitalismo, que deseja ver seus cidadãos sempre inseridos num mundo consumista.

Mesmo caminhando por uma linha político-ideológica distinta, a autora do presente estudo não pode deixar de reconhecer a importância dos estudos desenvolvidos pelo marxismo ortodoxo que não aceita a proposta formulada pela neo-social-democracia.

Seguindo as trilhas de Marx e Engels, falam eles do socialismo conservador ou burguês que querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente. Querem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucionam e a dissolvem. Querem a burguesia sem proletariado... Notei que, por transformação das condições de vida material, esse socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produção – o que só é possível por via revolucionária – mas apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção burguesa e que, portanto, não afetam as relações entre capital e trabalho assalariado, servindo, no melhor dos casos, para diminuir os gastos da burguesia com seu domínio e simplificar o trabalho administrativo do seu Estado. ( MARX, Karl; Engels, F. p. 43).

O professor Sérgio Lessa (2007) condena veementemente qualquer alternativa que não seja revolucionária e dirige suas críticas principalmente aquilo

que passou a chamar de teses reformistas por não estarem elas compromissadas com a superação da ordem burguesa e ter como meta a distribuição de renda. Para ele

Os revolucionários se converteram, por esta mediação, em agrupamentos que se pretendem melhores do capital do que a própria burguesia; apresentam-se na cena política como melhores serviçais do capital do que os próprios burgueses. Não há mais lugar no cenário político oficial para a luta para além do capital. (LESSA, 2007, p. 287).

Crítica ele também o artifício de outras teorias que admitem haver se alterado o caráter do estado e se concentram na “adoção de políticas públicas universais, aos seus olhos, indicava que ele deixava de ser o Estado restrito da classe dominante para se converter em Estado representante dos interesses do conjunto da sociedade”. (LESSA, 2007, p. 287).

No fundo, se constituiriam em teses que apregoam o caráter ampliado do Estado do Bem-Estar, a partir de uma nova configuração das classes sociais.

11. SUBSÍDIO MÍNIMO GARANTIDO - PROPOSTAS ALTERNATIVAS AOS