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Tomamos o trabalho como princípio ontológico do ser social. Marx analisa o significado do trabalho no modo de produção capitalista como a base da existência humana, o homem se objetiva principalmente no trabalho, mas também na educação, nas artes, na ciência, contudo, o trabalho é a objetivação fundamental. O trabalho é toda a transformação intencional da natureza. Segundo Lessa (2007, p. 142):

O trabalho é, pois, a categoria fundante do mundo dos homens porque, em primeiro lugar, atende à necessidade primeira de toda a sociabilidade: a produção dos meios de produção e de subsistência sem os quais nenhuma vida social poderia existir. Em segundo lugar, porque o faz de tal modo que já apresenta, desde o seu primeiro momento, aquela que será a determinação ontológica decisiva do ser social, qual seja, a de que, ao transformar o mundo natural, os seres humanos também transformam a sua própria natureza, o que resulta na criação incessante de novas possibilidades e necessidades históricas, tanto sociais como individuais, tanto objetivas quanto subjetivas.

O trabalho como princípio ontológico do ser humano passa por três fases, segundo Marx (2003) em O Capital, sua principal obra, a quem usamos de referência, para entendermos melhor o trabalho na sociedade capitalista em que vivemos. Vejamos a estrutura do trabalho segundo o autor:

a) Projeto: que é o plano da ideação; primeiro o homem pensa e constrói mentalmente,

b) Execução: o homem transforma a natureza e a si mesmo e c) Produção: é o produto, a objetivação, a exteriorização onde o objeto tem uma história independente do sujeito que produz.

Trazemos alguns conceitos do referencial do materialismo histórico e dialético sobre o trabalho para depois localizarmos o trabalho docente. O trabalho vivo se traduz na atividade, na subjetividade em ação, portanto, o trabalho vivo é o sujeito real do processo econômico. O trabalho em forma de objeto é o trabalho morto, o resultado que é posto socialmente na forma de valor, é o trabalho já realizado. Segundo Antunes (2009), “considerando o processo econômico em sua totalidade o homem deve aparecer tanto no início quanto no fim, como

iniciador e resultado ao final de todo processo [...], constituindo-se na essência real desse processo” (ANTUNES, 2009, p. 141-2).

O trabalho como meio de produção do sistema capitalista é identificado, também, como produtivo e improdutivo, material e imaterial. Quando o trabalhador produz a mais- valia que é o acréscimo de valor a essa mercadoria pelo trabalho realizado, seu trabalho é considerado produtivo. Para Lessa (1997), “o ‘trabalho produtivo’, por sua vez, é apenas produção de mercadoria, é essencialmente produção de mais-valia [...]. Apenas é produtivo o trabalhador que produz mais-valia para o capitalista ou serve à autovalorização do capital” (LESSA, 2007, p.153). Trabalho produtivo, portanto, é o que produz mais-valia para o empregador, ou que transforma as condições materiais de trabalho em capital e o dono delas em capitalista, por conseguinte, é o trabalho que produz o próprio produto como capital. Marx utiliza o conceito de trabalhador coletivo para designar o trabalho global em que vários sujeitos estão executando uma produção. Para ser trabalhador produtivo não necessariamente precisa pessoalmente pôr a mão na obra, basta ser parte do trabalhador coletivo executando qualquer de suas subfunções, pois o trabalhador é tido em sua totalidade como produtor de mais-valia.

Com o surgimento da divisão de classes sociais com o capitalismo, há também a divisão do trabalho manual (material) e intelectual (imaterial) que antes eram interligados, pois o homem transformava a natureza pelo trabalho com os objetos e meios de trabalho - meios de produção - vindos diretamente da própria natureza para atender às suas necessidades básicas sem estabelecer as relações econômicas dadas posteriormente. Isto confirma o entendimento do trabalho como fundante do ser social, pois é o modo exclusivamente humano de transformar a natureza que, intrinsicamente, o trabalho é também um processo de transformação da própria natureza humana. (LESSA, 2007, p. 145)

O conceito de trabalho imaterial surge das relações de produção em que a dimensão manual cada vez mais, atendendo às necessidades da sociedade atual, tem com a dimensão intelectual a necessidade no interior das fábricas da tomada de decisões, análise de situações e alternativas, improvisações, comunicação interna, relacionadas ao cognitivo, expressando uma capacidade de gerar a cooperação produtiva.

No projeto do capital e seus mecanismos de funcionamento do trabalho a reificação do homem é seu objetivo para colocá-lo a serviço do capital e suas necessidades de acumulação. Separam-se o projeto e execução. A subjetividade presente no processo de trabalho está retraída e voltada para a valorização e autorreprodução do capital. De acordo com Lessa (2007), a subjetividade operária que se torna uma subjetividade inautêntica deve transcender a

esfera de execução, para, além de produzir, pensar também, diuturnamente, naquilo que é melhor para a empresa e o seu projeto.

Inclui-se neste pensamento, também, o trabalho intelectual e imaterial pois o exercício da atividade subjetiva está reduzido pela lógica da forma resultando na mercadoria e sua realização.

O trabalho intelectual, porém, abstrato no interior das fábricas, participa do processo de criação de valores que está sob a regência do fetichismo da mercadoria. O trabalho na sociedade capitalista é um trabalho que Marx (2008) nomeia de trabalho alienado que pode ser entendido também por meio de sua estrutura. Este é o ser na sociedade capitalista, um trabalhador, uma força de trabalho. Percebe-se a coisificação das pessoas e valorização do pragmatismo e do utilitarismo, tornando o gênero humano empobrecido.

Sobre as características da alienação temos em Sánchez Vásquez (2011), que na alienação o sujeito é ativo e com sua atividade cria o objeto. O objeto é um produto que, no entanto, o sujeito não se reconhece nele, lhe é estranho, alheio. O objeto obtém um poder que, por si, não tem e se volta contra o sujeito, domina-o, convertendo-o em predicado seu. No trabalho alienado, o homem aliena sua subjetividade que é usado por outros, atendendo a necessidade do capital e de sua manutenção. O trabalhador quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em extensão, mais pobre se torna. Segundo Marx (2002- 2003, p. 457-8):

Com a valorização do mundo das coisas aumenta a proporção direta a desvalorização do mundo dos homens. O trabalho não produz somente mercadorias; ele produz a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria[..] o seu produto se lhe defronta como um ser estranho com um poder independente do produtor. O produto do trabalho que se fixou num objeto, fez-se coisa, é a objetivação do trabalho. A efetivação do trabalho aparece ao estado nacional-econômico como desefetivação do trabalhador, a objetivação como perda do objeto e a servidão ao objeto, a apropriação como estranhamento, como alienação.

A alienação faz com que o gênero humano se empobreça, pois estabelece em uma roda-viva uma dinâmica em que o trabalho ocupa grande parte das suas atividades em suas horas diárias de trabalho, não permitindo que ele encontre outras maneiras de objetivação como enriquecimento cultural e de lazer. Para problematizar as novas configurações do trabalho nesse contexto histórico, identificamos como o trabalho tem se tornado cada vez mais intensificado para o trabalhador que vende sua força de trabalho para atender às demandas do capital, ou seja, gerar mais valia para os detentores dos meios de produção,

destacamos no próximo item como o trabalho vem se apresentando na sociedade atual e quais as suas características.