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No campo da formação de professores existe uma disputa entre os que acreditam que no encaminhamento da docência como profissão, baseados nas características liberais das profissões e outro grupo que acredita não ser possível localizar a docência como profissão. Este último grupo, justifica seu pensamento por acreditarem que ainda persistem muitos elementos de desprofissionalização como a proletarização, na constituição do trabalho docente.

Mas o que faz a carreira de docente ser tão heterogênea e o que dificulta essa definição de um reconhecimento de uma profissão? Formosinho (2009), aponta para algumas determinações que distinguem os vários professores como o nível de ensino que atuam, educação básica, educação superior; as modalidades de ensino: educação especial, educação de jovens e adultos, o tipo de disciplina: específica ou generalista, a situação profissional: efetivo ou temporário; as habilitações acadêmicas: bacharel, licenciado, especialização, mestrado ou doutoramento; o tempo de serviço: a posição em que se encontra na carreira; a localização da escola: zona rural, zona urbana e as especificidades dentro da cidade como escolas de periferia e escolas próximas aos centros; a pertença ou não a associações sindicais. Enfim, são várias especificidades que vão constituindo o professor e dependendo também das experiências enquanto aluno e depois enquanto professor vão constituindo esse ser docente. Formosinho (2009), também discute as diferenciações quanto ao empenho dos profissionais. Então o que une esta categoria de trabalhadores em educação? A função de ensinar. Ensinar algo a alguém e agir para transformar (ROLDÃO, 2005).

O mesmo autor discute também um fator interessante, com a expansão da escola de massas, ou seja, o acesso ampliado à educação nas décadas de 60, 70 do século XX surgiram também outras exigências profissionais destacando-se duas concepções de professor: a laboral que define a função docente como dar aulas, define o professor com ou sem formação superior com ou sem habilitação profissional que dá aulas de modo permanente e define o acesso à ocupação docente apenas em termos de vínculo de trabalho. Já a concepção profissional baseia-se nas características apontadas às profissões: componente cognoscitivo ( formação de nível superior, saber esotérico, atitude de educação permanente), componente

normativo ( código deontológico próprio, orientação para o cliente, independência na atuação em relação a considerações político-partidárias ou religiosas) e um componente organizacional em relação ao controle sobre as condições de trabalho e sobre o acesso à profissão (controle sobre a admissão de profissionais, autonomia individual e autonomia coletiva no exercício da profissão). Formosinho (2009) conclui sobre o professor como profissional:

O professor é definido como um profissional que promove a instrução, a socialização e o desenvolvimento de outrem, tendo uma formação inicial de nível superior (que inclui a componente específica de Ciências da Educação e Prática Pedagógica acompanhada) e procura (auto) formar-se continuamente de modo permanente. A concepção profissional aceita uma carreira docente vertical e não cilíndrica, com complexificação de papéis a acompanhar a progressão na carreira, promoção devida ao mérito e à formação, especialização dentro da função docente e preocupação mais com a competição do que com o controle hierárquico, mais com a avaliação do máximo profissional do que do mínimo burocrático. Assim, a concepção profissional aceita e promove a diferenciação dos professores e da função docente. (FORMOSINHO, 2009 p. 55)

As condições de trabalho como a existência de um plano de carreira, jornada de trabalho, remuneração, autonomia sobre seu trabalho e as condições materiais para a realização do trabalho estabelecidas pelas redes de ensino conduzem determinantes que podem levar o trabalho por caminhos distintos: o da profissionalização ou da desprofissionalização.

Tantos os elementos que direcionam o trabalho docente para o caminho da profissionalização como formação em nível superior, formação continuada, trabalho coletivo quanto os elementos que indicam uma desprofissionalização são determinados pelas diferenças gritantes entre os sistemas de ensino no Brasil. Dependendo da localidade da escola, as condições de trabalho elevam ou diminuem o grau de profissionalização docente no país como demonstrado no esquema abaixo:

FIGURA 2-CAMINHOS DO TRABALHO DOCENTE Fonte: Elaborada pela autora.

Esta ambivalência do trabalho docente é encontrada também nos estudos de Enguita, (1991):

[...]A categoria dos docentes move-se mais ou menos em um lugar intermediário e contraditório entre os dois pólos da organização do trabalho e da posição do trabalhador, isto é, no lugar das semiprofissões. Os docentes estão submetidos à autoridade de organizações burocráticas, sejam públicas ou privadas, recebem salários que podem caracterizar-se como baixos e perderam praticamente toda capacidade de determinar os fins de seu trabalho. Não obstante, seguem desempenhando algumas tarefas de alta qualificação - em comparação com o conjunto dos trabalhadores assalariados – e conservam grande parte de controle sobre seu processo de trabalho. De certa forma, pode-se dizer que tanto eles como a sociedade em geral e seus empregadores em particular têm aceito os termos de um pacto: autonomia em troca de baixos salários. [...] Trata-se, sempre, de ganhar ou perder um pouco de algo, não de escolher entre o branco e o preto. (ENGUITA, 1991, p. 50)

Nesta contradição assumimos a identificação teórica tendo em vista a realidade analisada com o reconhecimento do trabalho docente como caminho à profissionalização, sem desconsiderar os fatores presentes da proletarização e intensificação.

De acordo com Contreras (2012) Hoyle conceitua e caracteriza profissão de forma mais homogênea passível de maior compreensão. Segundo esse autor, uma profissão é uma ocupação que realiza uma função social crucial, o exercício desta função requer um grau

Trabalho docente

Trabalho docente tra

Trabalho docente

Profissionalidade: aprendizagem do exercício docente com elementos afirmadores ou de reconhecimento da atividade

laboral do professor como uma atividade profissional (CRUZ,2017). Intensificação (adoecimento) Proletarização Plano de Carreira Jornada de trabalho Remuneração Condições materiais de trabalho Autonomia Formação em nível superior Formação continuada Trabalho coletivo C o n d içõ es o b jetiv as e su b jetiv as C o n d içõ es o b jetiv as e su b jetiv as

considerável de destreza ou habilidade que é exercida em situações não rotineiras, mas as quais há que manipular problemas e situações novas, por isso é essencial para o profissional ter a liberdade para realizar seus próprios juízos com respeito a prática apropriada. Embora o conhecimento adquirido na experiência seja importante, este saber prescrito é insuficiente para atender as demandas e os profissionais deverão dispor de um corpo de conhecimento sistemático. A aquisição destes e o desenvolvimento de habilidades específicas requer um período prolongado de educação superior que supõe um processo de socialização dos valores profissionais, que se centram nos interesses da clientela e tornam-se explícitos em um código ético. A formação prolongada, a responsabilidade e sua orientação ao cliente estão necessariamente recompensadas com um alto prestígio e um alto nível de remuneração. Como prática profissional é tão especializada, a categoria profissional como organização deve ser ouvida na definição das políticas públicas relativas à sua especialidade. Também deve ter um alto grau de controle sobre o exercício das responsabilidades profissionais e um alto grau de autonomia em relação ao Estado, CONTRERAS (2012).

A profissionalização é assumida aqui como processo individual e também coletivo, como um processo de aprendizagem e de socialização profissionais, tanto da aquisição de saberes como de interiorização de valores e atitudes através da qual o candidato ao exercício profissional aprende toda uma cultura e postura profissionais, a partir de um contexto coletivo. A seguir discutiremos mais sobre o processo de profissionalização docente.

1.4 O trabalho docente e a configuração de um modo de ser e estar situado num