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4. CONCEPÇÕES E PRÁTICAS DOS ATORES SOCIAIS

4.2. Concepções das crianças sobre leitura e escrita

Os professores também precisam dar voz ativa para as crianças em seu processo de alfabetização para que, através da reflexão de suas aprendizagens e dificuldades, o docente possa sondar como está o progresso do seu trabalho, se suas práticas estão de fato possibilitando a alfabetização de todas as crianças, apesar de suas dificuldades.

Para tanto, neste trabalho foram ouvidas crianças de uma escola municipal, que frequentam as turmas de 1º, 2º e 3º anos14. Ao entrevistar as

crianças percebe-se que elas estavam bem à vontade em responder as questões, demonstrando propriedade no que diziam, e refletindo sobre o desenvolver de suas aulas, descrevendo alguns processos que passaram para aprender a ler e a escrever.

Assim como descreve Larissa, de 08 anos.

14 As crianças ouvidas frequentam o 1º, 2º e 3º ano do ensino fundamental da rede municipal de educação do munícipio de Bozano.

Eu gosto de ler e quando eu vou dormir, eu sempre leio sozinha uns gibis que eu tenho guardado lá em casa. Eu gosto de escrever, eu gosto de escrever carta, história, música. Eu aprendi a ler com a ajuda da profe, do pai, da mãe, da avó, do vô. Eu aprendi a escrever quando a professora começou a botar as letras no quadro e no caderno comecei a pontilhar por cima daí eu fui aprendendo a escrever. Não tenho nenhuma dificuldade na escrita e na leitura. O jeito que a profe ensina eu consigo aprender. (Larissa, 2014, 3º ano)

Quanto ao fato de como aprendeu a ler e a escrever, pode-se observar que a criança cita a professora como responsável central, mas também é possível evidenciar a importância e a influência da família em reforçar e motivar a criança nesse processo. A família pode e deve dar suporte para a criança, incentivando-a a ler e a escrever, além de oferecer diferentes subsídios e materiais didáticos que despertem a curiosidade e o prazer.

Além disso, a criança menciona a leitura prazerosa antes de dormir, nesse sentido a família pode, juntamente com ela, realizar estas leituras, assim como a professora ao realizar a leitura deleite, enfatiza a mesma pelo simples prazer em contar ou ler uma história. Pode-se também utilizar literaturas retiradas na escola, daí a importância desta ter diferentes materiais didáticos, que contemplem um acervo variado de temas e gêneros.

Outro fator que pode-se constatar é que a professora faz uso de diferentes gêneros textuais em sala de aula, muitos dos quais as crianças conhecem e usam, tendo capacidade de reconhecer a estrutura de cada um, diferenciando- os e sendo capaz de produzi-los também. O que se constata, também, nas palavras de Emeli, 7 anos.

Eu leio mais livro e “blibla” (sic), eu escrevo meu nome, o nome da minha tia, o nome do meu pai, o nome da minha mãe, aprendi a ler e a escrever com ajuda dos professores, na leitura eu tenho mais dificuldade, na leitura de palavras, aquelas que são mais extensas, mais difíceis, eu não mudaria nada o jeito da professora ensinar. (Emeli, 2014, 2º ano)

Outra evidência observável, ocorre em relação ao nível de aprendizagem das diferentes turmas, pois nota-se na resposta de Emeli, 2º ano, que ela já possui conhecimento alfabético e silábico, sabendo escrever nomes, mas em relação a textos mais complexos e estruturados na modalidade escrita ela ainda não consegue, apresentando dificuldades em palavras mais complexas. Já em relação a Larissa, que frequenta o 3º ano do ensino fundamental, nota-se que

possui capacidade em escrever e diferenciar variados textos e gêneros, compreendendo as propriedades de estrutura e organização de cada um, o que a incentiva em buscar cada vez mais a escrita e a leitura em diferentes suportes e contextos. Isso se deve ao processo de alfabetização e letramento propiciado pela escola e família.

Pode-se observar nas palavras de Thullyana, 3º ano, 8 anos, evidências descritas anteriormente, como o fato de possuir capacidade de escrever textos com autonomia, e a leitura fluente e prazerosa.

Eu leio livros quando eu vou dormir. Eu gosto de escrever quando eu to brincando, por que eu escrevo muitas palavras, textos também. Eu comecei a ler com letras pequenas, tipo com o alfabeto e depois eu fui com as sílabas e depois eu já fui lendo, com a ajuda da profe e dos pais também. Aprendi a escrever com ajuda da profe e caligrafia. Tenho dificuldade só na escrita porque troco o b, p, algumas coisa, mas agora eu já to melhorando. Não mudaria nada no jeito da profe dar aula porque acho ela muito boa. (Thullyana, 2014, 3º ano)

É possível ainda evidenciar que a criança descreve o processo que passou para se alfabetizar, iniciando pelas letras do alfabeto, considerado por ela como algo menor, e, após esta fase, evoluiu para as sílabas, e ao ir juntando- as conseguiu ler. Assim, a criança tem conhecimento e consciência dos processos que passa para apropriação da leitura e da escrita, que ocorre aos poucos, através de construções e associações. Destaca-se o professor como mediador entre ela e o objeto de conhecimento, neste caso as letras, sendo ela (criança) responsável pelas suas construções e aprendizagens.

Do exposto, percebe-se que as crianças atuam como protagonistas no seu processo de alfabetização. Tendo definido suas dificuldades a busca para superá-las torna-se mais ativa e isso facilita o aprender. O professor, também ativo, traça estratégias e propõe práticas.

Araújo (1998, p. 94) ressalta que a apropriação da linguagem nos primeiros anos escolares deve “possibilitar vivências com a leitura e a escrita que tenham relevância e significado para a vida da criança, algo que se torne uma necessidade para ela e que lhe permita refletir sobre sua realidade e compreendê-la”.

Constata-se na fala de Thullyana que sua dificuldade na escrita é pequena, pois se dá em relação a troca de algumas letras, fato que é comum as crianças que estão se alfabetizando, pois o som destas letras é bilabial e precisa ser pronunciado com clareza para não gerar dúvida. Nesse processo a oralidade é fundamental, a criança associa o som com a letra para registrar na forma escrita.

Juliano e Maria Eduarda, de 8 de idade, e, ambos da mesma turma, expressam que gostam de ler e escrever, e que não mudariam nada no jeito da professora ensinar. Veja-se o que dizem:

Eu gosto de ler livros, eu escrevo história e gosto de escrever. Aprendi a ler e a escrever com as professora. Não tenho dificuldades na leitura e na escrita. Eu não ia mudar o jeito da professora dar aula, tá bom assim.” (Juliano, 2014, 3º ano)

Eu gosto de ler e leio bastante livros. Eu escrevo bastante meu nome e gosto bastante de ler. A professora ensinou a ler e a escrever. Eu tenho um pouquinho de dificuldade na escrita, na leitura não. Eu não mudaria nada porque a gente tá aprendendo bastante coisa com a nossa professora. (Maria Eduarda, 2014, 3º ano)

Constata-se que para ambas as crianças o livro se configura como um recurso prazeroso para a realização de leituras. O nível de aprendizagem varia na turma de criança para criança, pois enquanto algumas já desenvolveram capacidade para escrever histórias, outras ainda estão escrevendo apenas nomes. Com isso, embora no 3º ano as práticas devam enfatizar fluência na leitura e desenvoltura na escrita, se “caso algumas crianças ainda não tenham alcançado o domínio da base alfabética, é necessário favorecer também essas aprendizagens”. (Caderno PNAIC, ano 03, unidade 01, 2012, p. 20)

E como nos diz Held,

O livro é um segundo caminho, como o sonho, mas é sonho que dura, pois, sendo legível, tem o poder de se repetir. Ao me representar eu me crio, ao me criar eu me repito. Donde a evidência de que a imaginação é tanto o instrumento da criação quanto da experiência anterior, donde a necessidade de reconhecer que o imaginário é o motor do real, o que movimenta. História em que o sonho se mistura, muito naturalmente, com o real, como o que acontece na imaginação da criança. (HELD, 1992, p. 18 apud, ALLEBRANDT; FEIL, FRANTZ, 1999, p. 83)

Como vimos, acima em vários depoimentos, uma das questões feitas foi em relação ao ensino da professora, questionando-as quanto ao fato de que se

pudessem mudar o jeito da professora dar aula, o que mudariam. E todas as crianças responderam que não mudariam nada, pois o jeito que a professora ministra suas práticas, se faz suficiente para ensinar a todas a ler e a escrever.

Logo, pode-se dizer que as práticas docentes com ênfase na leitura e escrita tendem a contemplar um dos objetivos centrais do Pacto, que é “possibilitar a garantia do direito à leitura e à escrita, até o 3º ano do Ensino Fundamental”. (Caderno PNAIC, ano 02, unidade 01, 2012, p. 09). Oportunizando às crianças possibilidades de construção de autonomia na escrita e leitura, com fluência e significação, podendo esta fazer uso destas habilidades em seu contexto social.

5. O LETRAMENTO E A ALFABETIZAÇÃO PELA VIA DA LITERATURA

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