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A literatura amplia o conhecimento de mundo, aborda diferentes linguagens e contextos, amplia a criatividade, o vocabulário, a escrita e a leitura corretas e fluente. Dada a relevância do uso desta ferramenta metodológica, surge a necessidade de saber como os docentes a tem utilizado, com que finalidade, em quais contextos, e como eles consideram as influências e motivações, que ela traz em relação ao ensino aprendizagem de seus alunos.

Em relação a esses aspectos, a professora B, define que “a literatura auxilia no desenvolvimento dos projetos propostos, e contribui no desenvolvimento da linguagem e concomitantemente no aprimoramento da escrita”.

Nos cadernos do PNAIC consta que:

o uso dessas obras e sua manipulação direta e constante pela criança faz com que as escolas proporcionem um acesso privilegiado à cultura escrita, constituindo-se numa ferramenta poderosa no processo de letramento, determinante para o sucesso escolar. (Caderno PNAIC, ano 01, unidade 03, 2012, p. 40)

No entanto, somente algumas crianças estão em constante contato com a literatura em diferentes contextos e usos, mesmo antes de frequentar a escola, e, por meio dela em processo de letramento.

Outra questão que também torna importante o uso da literatura em sala aula, é devido ao fato dela se constituir uma ferramenta lúdica, pois ao mesmo tempo que ensina, envolve as crianças, se tornando algo prazeroso e permitindo que ela, com sua autonomia e conhecimentos, interprete o que está lendo, deixando sua imaginação fluir.

A criança, por estar levantando hipóteses sobre a maneira correta de escrever, ao ter contato com diferentes literaturas visualiza a forma como as palavras são escritas, ampliando conhecimento sobre a escrita, ampliando seu vocabulário, além de ver a estrutura e organização de textos, como são formadas frases, parágrafos, a sequência de ideias. O que influencia na maneira como a criança escreve, no registro escrito de suas ideias.

É importante que o cotidiano das crianças das séries/anos iniciais seja pleno de atividades de produção e de recepção de textos orais e escritos, tais como escuta diária da leitura de textos diversos, especialmente de histórias e textos literários; produção de textos escritos mediada pela participação e registro de parceiros mais experientes; leitura e escrita espontânea de textos diversos, mesmo sem o domínio das convenções da escrita; participação em jogos e brincadeiras com a linguagem; entre muitas outras possíveis. Ao lado disso, as crianças devem ser encorajadas a pensar, a discutir, a conversar e, especialmente, a raciocinar sobre a escrita alfabética, pois um dos principais objetivos do trabalho com a língua nos primeiros anos/séries do ensino fundamental é lhes assegurar o conhecimento sobre a natureza e o funcionamento do sistema de escrita, compreendendo e se apropriando dos usos e convenções da linguagem escrita nas suas mais diversas funções. (CORSINO, 2007, p. 61)

A professora C coloca que a literatura se faz importante pois,

A literatura é fantástica, pois permite explorar várias áreas do conhecimento, dando sequência ao trabalho, fazendo com que a criança se insira no universo infantil, abusando do imaginário e relacionando com o contexto no qual a criança está inserida. (PROFESSORA C, 2014)

A literatura faz com que o leitor dialogue com a obra literária, preenchendo as lacunas textuais a partir de seus conhecimentos prévios, imaginação e sensibilidade. Como um mosaico, “nasce de outros discursos” e se constitui

como um espaço de interação entre inúmeras formas de experiência humana, onde todos os caminhos do conhecimento podem se entrelaçar (...) é o ponto onde se dá a interseção da experiência do produtor e a do leitor (FERNANDES, 2003, p. 111).

Ou como diz o poeta Elias José (1997, p. 69): “Saímos de um conto ou romance, tontos de prazer ou cheios de perguntas sobre o mundo que nos cerca. Sobre o mundo que nós somos e que muitas vezes desconhecemos”.

Para a professora A, a literatura está presente em sua sala de aula através “da implantação do cantinho da leitura em sala, onde os alunos possuem mais contato com os livros, e assim ampliam seus conhecimentos, quanto mais leem mais conhecimentos adquirem e sendo assim se habituam a ler”. (PROFESSORA A, 2014)

Ao criar este cantinho em sua sala de aula, a docente possibilita às crianças o contato com livros de diferentes temáticas e gêneros, explorando e incentivando o gosto e o prazer pela leitura, pelas literaturas. Em que, não se constitui como algo forçado e rotineiro, imposto pelo professor, que em muitas

vezes não apresenta uma finalidade e significação para as crianças, pois “é evidente que as aquisições feitas sem verdadeiro emprego dos interesses de uma criança, sem que se sinta interessada e apaixonada, não deixam traços duráveis”. (Held, 1990, p. 226 apud, ALLEBRANDT; FEIL, FRANTZ, 1999, p.92)

Assim, os livros se constituem como

[...] verdadeiras janelas, de onde o aluno da escola pública poderá, exatamente como a criança frequentadora de livrarias, ter uma visão representativa do que a cultura escrita lhe reserva de interessante. O contato com esses livros, e ainda mais o uso frequente dos acervos em sala de aula, propiciará às crianças uma experiência cultural única: a de explorar, com a mediação do professor, mas também por conta própria o mundo dos livros. (BRASIL, 2010, p.10)

Durante o processo de alfabetização a literatura se constitui como uma ferramenta metodológica essencial, pois como o Pacto ressalta a importância do professor alfabetizador enfatizar a oralidade em suas práticas, o uso de diferentes literaturas possibilita esse trabalho, com contexto e finalidade. Além de servir como referência para introduzir diferentes temas e assuntos, e também práticas e projetos que podem ser desencadeadas, tomando como eixo norteador uma literatura.

Com base nisso, a professora A, considera que a literatura proporciona às crianças que estão em processo de alfabetização o desejo de aprender a ler e a escrever, “pois elas querem entender muito mais do que a imaginação através das figuras e imagem as permitem. Assim, elas vão com mais interesse em busca do aprendizado”. (PROFESSORA A, 2014). Os referenciai do PNAIC reforçam que “quanto mais motivado estiver o aprendiz, mais concentrado na busca de desvendar os mistérios da escrita ele estará”. (Caderno PNAIC, ano 03, unidade 01, 2012, p. 14).

Esta docente possibilita às suas crianças explorar os livros em sala de aula pelo simples prazer, o que incentiva a leitura e a escrita, ampliando seu entendimento e concepções sobre diferentes assuntos. Nessa perspectiva, o Pacto defende que

[...] as crianças possam vivenciar, desde cedo, atividades que as levem a pensar sobre as características do nosso sistema de escrita, de forma reflexiva, lúdica, inseridas em atividades de leitura e escrita de diferentes textos. (Caderno PNAIC, ano 01, unidade 01, 2012, p. 22)

Concepção defendida pela professora C (2014), que revela que “A literatura é fundamental no processo de alfabetização e letramento, pois é por meio dela que desperta o prazer e o interesse na criança pela leitura e escrita, considero um dos pontos de partida para a alfabetização e letramento”.

As histórias infantis podem desempenhar uma primeira forma de comunicação sistemática das relações da realidade, que se apresentam à criança numa objetividade corrente, ou por outra, as histórias infantis são uma espécie de teoria especulativa, além da atividade imediata social e individual da criança (ZILBERMAN, 1984). A linguagem que constrói a Literatura Infantil se apresenta como mediadora entre a criança e o mundo, propiciando um alargamento no seu domínio linguístico e preenchendo o espaço do fictício, da fantasia, da aquisição do saber. Vista assim, a produção literária para criança – o livro de imagens inclusive – não tem fronteiras. Ela desvela o maravilhoso, o ilimitado, o maleável e o criativo universo infantil, explora a poesia e suscita o imaginário.

Nessa mesma ótica, a professora B, nos coloca que a literatura se faz importante nas construções realizadas pelas crianças, “para compreender o sentido do que lhe é transmitido, dando significado para as coisas, contribuindo assim para o desenvolvimento de todas suas habilidades”.

Concebe-se que por meio da literatura a criança pode se colocar no lugar do personagem em questão, vivenciando a situação que aquele personagem está vivendo, e, assim, transpor a sua realidade, compreendendo e significando fatos de sua vida e tomando para si, o desfecho da história. Nesse sentido, a literatura pode ser esperança e motivação, a criança cria e recria, utiliza a imaginação como ferramenta para interpretar, confrontar, visualizar o que não está visível ao olhar humano, apenas no plano imagético e simbólico.

O que auxilia na interpretação e construção de sentidos, fazendo a criança pensar, refletir, discutir sobre a escrita alfabética e a leitura. Relacionando os conceitos espontâneos e científicos, definidos por Vygotsky (2000), como os conceitos espontâneos aqueles constituídos socialmente pelas crianças através de suas vivências, e os conceitos científicos, sendo aqueles construídos através de práticas, nos estabelecimentos formais de ensino, neste caso a escola.

Através dessa interação, entre esses conceitos, a criança vai construindo suas concepções e seus conhecimentos.

A professora B, utiliza a literatura diariamente nos momentos de leitura, para desenvolver projetos, utilizando-se de vários gêneros textuais. Os projetos se fazem importantes, porque partem de questões do grupo, dos interesses dos alunos, proporcionando práticas que permitam a construção e ampliação de conhecimentos.

Os projetos exigem cooperação, interesse, curiosidade, pesquisa coletiva em diferentes fontes, registros do que está sendo pesquisado como: fotografias, desenhos, pinturas, colagens, maquetes, instalações, teatro, dramatizações etc. e os mais variados tipos de textos escritos. (CORSINO, apud, BRASIL a, 2007, p. 66)

A autora destaca que:

Trabalhar com projetos é uma forma de vincular o aprendizado escolar aos interesses e preocupações das crianças, aos problemas emergentes na sociedade em que vi- vemos, à realidade fora da escola e às questões culturais do grupo. Os projetos vão além dos limites do currículo, pois os temas eleitos podem ser explorados de forma ampla e interdisciplinar. (CORSINO, 2007, apud, BRASILa, 2007, p. 65) Assim, a literatura se constitui como artefato cultural que pode ser explorado pelos professores no desenvolvimento de seus projetos, pois possibilita aos alunos esta pesquisa, esta busca de conhecimentos e informações, além da interpretação e construção de significados e conceitos. Como nos coloca a professora A, enfatizando que “os professores usam a literatura contando histórias, levando os alunos a ler, pesquisar, buscar outros meios de conhecimento, querer aprender a ler, gostar da leitura”.

A literatura também pode ser utilizada pelo simples prazer de ler ou ouvir um texto, uma história, mostrando a beleza das palavras, e nos deixando levar por nossas significações, lembranças, associações, imaginação. Como é bom sair de nossa realidade e viajar pela fantasia, pela imaginação, envolvidos no enredo da história, encantados pelos personagens, pela sua história. Como diz a professora C, colocando como seu ponto de vista que “os professores têm utilizado a literatura como deleite (leitura prazerosa) e como ferramenta para desenvolver projetos no qual possibilita explorar várias áreas do conhecimento”.

Nas palavras desta educadora, pode-se evidenciar uma prática que se constitui essencial para desenvolver em nossas crianças o interesse pelo mundo da literatura, uma vez que “ler para nossos alunos é prática fundamental para despertar o gosto e o desejo pela leitura”. (Caderno PNAIC, ano 01, unidade 02, 2012, p. 08). Além de trabalhar a oralidade e a leitura, também ampliamos a sua capacidade de escrita, pois, “quando lemos o texto escrito para nossos alunos, permitimos que eles apreendam aspectos peculiares da modalidade escrita, como a estrutura sintática, o vocabulário, os elos coesivos”. (Caderno PNAIC, ano 01, unidade 02, 2012, p.09).

Ao confrontar as respostas das crianças com as das professoras em relação à literatura, constata-se que a maneira como a professora utiliza a literatura infantil em sala de aula, possibilita aprendizagens que são internalizadas pelas crianças, influenciando diretamente na sua motivação pela leitura e escrita, pelo prazer e apego em ler, na sua fluência, pela compreensão e propriedades dos diferentes gêneros de textos. A maneira como as crianças se apropriam dos livros, de diferentes leituras, e o uso que delas fazem, é o reflexo do professor em sala de aula, de suas práticas, de sua postura, de seu apego ou desapego.

Concluindo-se, a literatura, como defende Antônio Cândido (1995), contribui para a humanização do homem. Não há homem, não há povo que possa viver sem Literatura, pois todos entram em contato com alguma espécie de fabulação. Nesse sentido, a leitura da Literatura não seria um dever do homem, mas um direito, à medida que um texto confirma, nega, propõe, denuncia, apoia e/ou combate ideias e ações, fornecendo ao leitor a possibilidade de viver dialeticamente os problemas apresentados simbolicamente pela palavra. O leitor encontra o bem e o mal materializados em ações de personagens, de modo que o texto desempenha um papel formador da personalidade: “humaniza em sentido profundo, porque faz viver” (CÂNDIDO, 1995, p. 244).

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