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2.2.1 Richard Cantillon, os riscos e incertezas na produção da existência humana

O estudo acerca das origens históricas do empreendedorismo remetem a Richard Cantillon (1680-1734)18 , considerado o precursor do tema com a obra Ensaio sobre a natureza do comércio em geral, muito embora, o termo francês entrepreneur fosse utilizado antes de Cantillon associado à compreensão de criar algo por conta própria, para o seu benefício (CORNÉLIO FILHO, 2003).

Richard Cantillon nasceu na Irlanda, viveu em diversos países, como a França, onde se radicou e depois passou a viver na Inglaterra. De tradição escolástica, concebeu a economia como uma área de investigação independente e trabalhou para explicar como se dá a produção da vida humana na relação homem, terra e trabalho, a partir daí, a formação dos preços, os mercados, as relações de produção, entre outros temas.

Os comentaristas de Cantillon enfatizam a ideia de que ele compreendeu bem o sistema monetário, soube tirar proveito e foi capaz de criar grande fortuna pessoal. Era uma espécie de banqueiro e especulador que gostava de buscar novas oportunidades de negócio, realizar um gerenciamento inteligente dos mesmos e obter um ótimo rendimento com o capital investido. Por sua avidez, era capaz de analisar uma situação e identificar elementos lucrativos, bem como, percebia situações que poderiam vir a ser lucrativas. Atribui-se a Cantillon certa capacidade visionária para negócios lucrativos. Conforme Dornelas (2005), Cantillon possuía tino para busca de oportunidades de negócios, preocupação com gerenciamento inteligente e obtenção de rendimentos otimizados para o capital investido.

Cantillon - considerado o pioneiro da teoria econômica - impressionou economistas e autores importantes que se debruçaram na

18 De acordo com os autores pesquisados as referências acerca da biografia do autor não são

muito precisas, principalmente no que tange às datas de nascimento e morte. Dados biográficos e da teoria da Cantillon podem ser obtidos em Carvalho e Neto (2010), Hayek (1985), Higgs (1931) Jevons (1881); Murphy (1986) Wicksell (1965, 1988). Atualmente Cantillon está sendo resgatado pelos pesquisadores ligados ao empreendedorismo e pelos estudiosos das questões monetárias que investigam o papel da circulação da moeda na economia.

compreensão de sua obra, a exemplo de Jevons (1950), Hayek (1985), Higgs (1931), Wicksell (1988) e Carvalho e Neto (2010). O autor mereceu tal atenção, provavelmente, por se valer de abordagem científica, baseada na teorização lógico-dedutiva, bem como de certas abstrações no intuito de explicar os fenômenos econômicos. Percebe-se, ao longo do Ensaio, a preocupação do autor em fornecer explicações científicas para os fenômenos econômicos considerando o estabelecimento de causa e efeito.

Marx (2008) considera Cantillon homem de negócios e um dos pioneiros em procurar entender a lei geral da acumulação capitalista. Marx, inclusive, utiliza a análise de Cantillon acerca da quantidade de trabalho que o trabalhador pode realizar por dia de ofício. Contudo, em outro momento, Marx observa que os conceitos da Cantillon são insuficientes para a compreensão de lucros típicos do modo capitalista de produção, em virtude de serem formulados em tempo histórico distintos.

O foco desse tópico será a apreensão da ideia do empreendedorismo no Ensaio escrito por volta de 1730, e que veio a público pela primeira vez em 175519, principalmente, nas partes do texto tomadas pelos estudiosos do empreendedorismo como as que fundamentam a teoria de Cantillon sobre o empreendedorismo. A obra está organizada em três partes e versa acerca de diversos temas, tais como, a produção das riquezas e sua circulação, dinheiro e sua circulação, o trabalho nas cidades e na agricultura, as trocas, o comércio, o preço, o valor, sendo a terra20 tomada como referência para sua teoria do valor.

Terra e trabalho e as relações sociais estabelecidas a partir dos mesmos, seguindo as ideias fisiocratas, podem ser tomados como conceitos centrais em Cantillon, e não o conceito de empreendedorismo. Diz o autor: “a terra é a fonte ou a matéria de onde se tira a riqueza; o trabalho do homem é a forma que a produz: e a riqueza em si mesma não é outra coisa senão o alimento, as comodidades e os deleites da vida” (CANTILLON, 2002, p. 21).

A contribuição de Cantillon em estabelecer os fundamentos do

19 A obra só veio a público mais de 20 anos depois de sua morte e foi publicada por Marquês

de Mirabeau na forma de um livro. Hoje, também está publicada no Brasil pela editora Segesta, de Curitiba, e disponível no site Domínio Público.

20 Salienta-se que para Cantillon a terra é propriedade e, como tal, expressa relações de

produção e poder. Não se trata da terra simplesmente como natureza. A terra para ele está na posse de alguns homens apenas. A posse da terra, de maneira distinta nos vários lugares, bem como, as relações de trabalho que aí se estabelecem, configuram as organizações sociais.

empreendedorismo, bem como, o papel do empreendedor21 na economia está posta de modo explícito na segunda metade da primeira parte de seu Ensaio, de modo especial o capítulo XIII, em que trata da circulação e o intercâmbio de bens e mercadorias e os riscos inerentes a estes. O autor entende o empresário, traduzido por empreendedor, como aquele que corre riscos permanentes causados pelas mudanças nas demandas de mercado. Provavelmente, essa compreensão de Cantillon, em torno dos riscos que corre o empresário, esteja relacionada a sua função de assistente de tesoureiro Britânico de James Bridges durante a guerra da secessão espanhola. Na tarefa de contador e negociador de contrato, aprendeu os fundamentos do sistema bancário e financeiro internacional e os riscos aí inerentes, uma vez que depois da referida guerra houve uma grande instabilidade econômica com grandes riscos, principalmente, para os negócios bancários.

O autor experimentou na prática o jogo financeiro do mercado - tanto o ato de fazer fortuna, bem como, em perdê-la, pois houve momentos em que decretou falência pessoal. Na parte três do Ensaio, aborda as questões de comércio exterior, taxas de câmbio, bem como o papel dos bancos, e faz algumas de suas mais importantes reflexões para a compreensão econômica. Pode-se dizer, conforme Higgs (1931), que uma das maiores contribuições de Cantillon no campo da economia seja justamente a de situar o papel que desempenha o empresário/ empreendedor. Para ele, o undertaker é o que participa das aventuras do mundo dos negócios em busca de vantagens ou lucros, em suma, comprar insumos a um determinado preço para produzir e vender mais tarde a um preço incerto e saber suportar os riscos e enfrentar a incerteza generalizada do mercado.

Cantillon fala dos empresários como sujeitos que procuram fazer negócios, ganhar dinheiro, contudo, faz distinção entre os que trabalham por salários e aqueles que enfrentam o risco quanto ao seu rendimento e

21 Torna-se importante salientar que a tradução brasileira da obra de Cantillon não utiliza o

termo empreendedor ou empreendedorismo. O que se tem na tradução portuguesa pela editora Segesta é o termo empresário, entendido como os arrendatários de terra, os mercadores, atacadistas, comerciantes, mestres de ofício, entre outros que leva a cabo um empreendimento. Na versão inglesa da obra, o termo que aparece é undertaker que pode ser traduzido para o português como empresário, bem como, agente funerário; cangalheiro; empreiteiro. Esta nota tem por objetivo demarcar claramente o termo empreendedor na compreensão dos economistas, que difere da compreensão dos autores comportamentalistas pelo fato de os economistas articularem a noção de empreendedorismo a negócios, ao passo que os comportamentalistas o relacionam a atitudes. A utilização do termo pelos autores que postulam a educação para o empreendedorismo fica nesse limbo entre empreender um negócio ou empreender iniciativas de caráter generalizado que acaba por tornar o termo bastante vulnerável e propício a todo tipo de utilização, inclusive de caráter falacioso.

trabalham por conta própria como os agricultores, artesãos independentes, comerciantes, entre outros. Esses últimos , ele denomina de empresários que se arriscam no jogo da compra e venda em busca do lucro. Porém, esse empresário deve suportar o jogo do mercado que é deveras incerto22. Nesse jogo, o empresário pode ganhar ou perder. Se for mal sucedido, poderá passar necessidades e até ir à falência. Ele está sempre sujeito às leis do mercado, principalmente à lei da oferta e procura que determinam os preços, pois, na sua compreensão, o preço é determinado pela demanda e escassez relativa. Além das leis do mercado, há também as leis do Estado, pois este também impõe regras e, às vezes, chega até a determinar preço nos produtos.

O empreendedor pode ser o agricultor, o artesão independente, o comerciante ou o fabricante de qualquer produto. Conforme sinalizado anteriormente, essa compreensão de Cantillon está expressa na parte I, do capítulo XIII do Ensaio que descreve a produção e circulação e o intercâmbio de bens e mercadorias em riscos permanentes.

Referencia-se o exemplo do agricultor que, como arrendatário, tomado como empresário por Cantillon e interpretado como empreendedor pelos comentaristas do empreendedorismo, precisa arriscar muito desde o aluguel da terra, passando pela produção até consolidar a venda. Diz o autor:

O arrendatário é um empresário que se compromete a pagar ao proprietário, pelo arrendamento da terra, uma soma fixa em dinheiro que, em geral, se supõe igual ao valor de um terço do produto da terra, sem, contudo, ter certeza do lucro que auferirá com a empresa. Ele usa parte desta terra para criar gado, produzir, a seu critério, vinho, cereais, feno, etc., sem, no entanto, poder prever qual desses produtos lhe renderá um preço melhor. Se houver excesso de trigo em relação ao consumo, seu preço será muito baixo; se houver escassez, o preço será alto. Quem pode prever o número de nascimentos e mortes no decorrer do ano? Quem pode prever o aumento ou a

22 Registra-se que na configuração social descrita por Cantillon, o empresário, seja ele o

arrendatário, o comerciante, lojista, mestre de ofícios, entre outros, não ocupa lugar de destaque na hierarquia social. Os príncipes, os proprietários de grandes quantias de terras são os que estão no topo. Como bem ressalta no final do capítulo XII “É a privação do necessário que leva a subsistir, num país, os arrendatários, todo tipo de artesãos, os mercadores, os oficiais, os soldados, os marinheiros, os criados e todas as outras ordens que nele encontram ocupação. Toda gente que trabalha serve apenas ao príncipe e aos proprietários...” (CANTILLON, 2002, p. 43).

redução dos gastos que pode sobreviver nas famílias? E, no entanto, o preço dos gêneros que o arrendatário vende depende naturalmente desses acontecimentos que ele não pode prever e, por conseguinte, é em meio a incertezas que ele leva a cabo o seu empreendimento (CANTILLON, 2002, p. 43).

O arrendatário23 é aquele que investe, corre todo tipo de riscos e incertezas para obter um ganho mais do que investiu (lucro) no final do processo.

O comerciante que vai até o agricultor comprar o seu produto para vender na cidade também passa pelo processo anteriormente descrito. Precisa comprar os produtos, transportá-los e vendê-los. Contudo, a incerteza perpassa todo o processo, pois os produtos podem perecer, os compradores existem apenas em potencial. Mas, ele quer no final do processo obter algum ganho, algum lucro.

Há intensas relações de reciprocidade e competição entre os vários empresários, de modo que um se torna cliente (freguês) do outro, como, por exemplo, no comércio. Contudo, não deve haver diferenças em demasia nas trocas de um ou outro setor, caso contrário alguém vai à bancarrota. Deve haver uma proporção equilibrada entre todos os tipos de empresários de uma determinada freguesia (localidade) (CANTILLON, 2002, p. 46).

O clima de incerteza que vem sendo desenvolvido pelo autor atinge a todos os habitantes, exceto os príncipes e os proprietários de terra, pois todos os demais são dependentes, sejam os empresários, sejam os que vivem de salário. Atinge também os que são empresários de seu próprio trabalho, por meio das artes, médicos, advogados. Essas pessoas podem receber honorários tão incertos como os que se aventuram em outras formas de empreendimento, inclusive, os mestres- artesãos que empregam pessoas e não sabem se terão ou não a mesma clientela.

O Ensaio de Cantillon procura apontar que os riscos e incertezas fazem parte da vida de todos os que precisam trabalhar para viver. Todos os que não são príncipes ou proprietários de terras são dependentes e podem ser divididos em duas classes: os que vivem de

23 O arrendatário é considerado por vários comentadores de Cantillon como empreendedor.

Contudo, reitera-se que a tradução, em momento algum, faz alusão ao termo empreendedorismo. Na versão inglesa, aparece o termo Undertaker que o tradutor da obra para o Brasil, Fani Goldfarb Figueira, pôs como arrendatário que também pode ser considerado empresário.

salários como os generais que recebem soldos, o cortesão que tem pensão, o criado que recebe salário, e os empresários. Os empresários também vivem do salário, porém, ele é incerto. O autor entende que a terra é o centro da produção da existência, por isso os proprietários de terras, entenda-se de grandes quantias de terras para que possam arrendá-las, são os únicos independentes, os demais são dependentes. A estrutura social configurada por Cantillon é formada no topo pelos príncipes e proprietários de terras para arrendamento, abaixo estão os que recebem salários e os empresários. Entre estes, há diferenças, por exemplo, entre um empresário que conseguiu economizar e formar um bom fundo de subsistência e um mendigo que depende da doação alheia para sobreviver. O sentido atribuído à categoria “empresário” é relativamente abrangente, conforme segue.

[...] Todos os demais são empresários. Quer eles disponham de um fundo para movimentar sua empresa, quer sejam empresários apenas do seu próprio trabalho, sem nenhum fundo, todos vivem na mesma incerteza. Até os mendigos e ladrões são empresários desse tipo. Enfim, todos os habitantes de um país retiram sua subsistência do fundo dos proprietários de terra, e todos são deles dependentes (CANTILLON, 2002, p. 47).

A investigação dos textos que tratam do empreendedorismo e que se referenciam em Cantillon, bem como a análise da própria obra, permitem concluir que este seja o núcleo principal a ser considerado. Por outro lado, enfatiza-se que parece haver uso inadequado de Cantillon para os nossos dias. Pode-se falar em uma espécie de descontextualização e uso ideológico das ideias do autor. Tal premissa se sustenta por considerar termos utilizados em contextos históricos e econômicos, de modos de produção diferenciados com sentidos idênticos. O termo undertaker utilizado por Cantillon, largamente traduzido por empresário ou empreendedor, não tem o sentido histórico que o termo adquiriu no capitalismo, assim como, o entendimento de que as incertezas e riscos sejam apenas inerentes aos que empreendem um determinado negócio.

Ademais, cumpre dizer que Cantillon, conforme descreve Marx, no volume VI do livro III, capítulo XLVII de O capital, é autor do assim chamado grupo dos antigos economistas e que, portanto, realiza os primeiros estudos do nascente modo capitalista de produção e a análise

da renda não oferecia muitas dificuldades, ou apresentava dificuldades de outra natureza que as apresentadas hoje no modo capitalista de produção, quando tratamos, por exemplo, da extração da mais-valia. Nesse sentido, Cantillon está mais próximo da era feudal que propriamente do capitalismo, e o conceito de mais-valia ou lucro não pode ser entendido no autor como nos outros pensadores da economia clássica. De fato, diz Marx, na era Cantillon, o determinante era a produção agrícola, logo o papel central da propriedade agrícola, que muito bem descreve o autor, estava nas mãos de poucos e era a condição principal de produção. Referindo-se a esse assunto, assim comenta Marx: “não podia existir a questão oposta, formulada no contexto do modo capitalista de produção, a de descobrir como a propriedade fundiária consegue por sua vez subtrair do capital parte da mais-valia que este produziu e de que já se apropriou em primeira mão” (MARX, 2008 p. 1039). Procurou-se destacar partes da obra de Cantillon que dizem respeito ao tema ora pesquisado, registra-se que na atualidade o autor, além de ser redescoberto pelos estudiosos do empreendedorismo, também está sendo estudado por economistas em assuntos relativos à teoria do valor e circulação de capital, além de autores que investigam geografia econômica24. Cantillon é considerado por muitos autores que abordam a educação para o empreendedorismo como o “pai” do tema sendo as ideias do autor mais reivindicadas aquelas relativas à visão de novas oportunidades para obtenção de mais lucros (ganhos), empreender e correr riscos e as incertezas de empreender.

2.2.2 Say: O Tratado da Economia Política (1803) e o Empreendedorismo25

Outro autor que demonstrou interesse em compreender o papel desempenhado pelos empresários e muito referenciado pelos autores que trabalham atualmente o empreendedorismo foi Jean-Baptiste Say (1767

24 Além da leitura do Ensaio de Cantillon, indicam-se textos de autores que fazem comentários

de diversos aspectos de seu trabalho como, por exemplo, Coutinho (2004) que analisa aspectos da teoria econômica e espaço.

25 A obra Tratado de Economia Política de Say pretende ir além da ideia de que a ciência

econômica deva estar a serviço do príncipe e a propõe como a ciência de todos os produtores (empreendedores), de todos os cidadãos. O autor apresenta um discurso preliminar à obra, no qual situa as suas perspectivas e três livros. O livro primeiro aborda a produção de riquezas; o livro segundo, a distribuição das riquezas e o livro terceiro, o consumo das riquezas.

- 1832). Para esse autor, o desenvolvimento econômico é resultado da criação de novos empreendimentos, por essa razão desejava que a revolução industrial surgida na Inglaterra chegasse logo até a França. Julga-se pertinente lançar um olhar mais cuidadoso acerca desse pensador que, mesmo não conquistando unanimidade, teve sua teoria em relevo em vários temas, tais como: lei dos mercados, lei da oferta e procura, papel da moeda, lucro, valor, teoria acerca do equilíbrio econômico; a produção, distribuição e consumo das riquezas, a economia política e o papel do inovador. Tomar-se-á por base a obra Tratado de Economia Política para discorrer acerca de alguns itens fundamentais para melhor compreensão do tema do empreendedorismo. A primeira edição da obra data de 1803, quando Say tinha trinta anos de idade, porém, já demonstrava, segundo Tapinos (1983, p. 7), maturidade; a principal contribuição da obra é a de ser “destinada aos produtores”, tornando-se a ciência de todos os produtores, e não apenas voltadas às orientações dos príncipes e à administração do reino.

A ideia é que a Economia Política “destina-se exclusivamente ao reduzido número de pessoas que conduzem os negócios do Estado”; e que é “importante que os homens educados no e para o poder sejam mais esclarecidos que os demais” (SAY, 1983, p. 61). O autor entende, porém, que se deve pensar também nas demais classes, afinal “é na classe média que se encontra igualmente ao abrigo da embriaguês da opulência e dos trabalhos da indigência, nessa classe na qual se encontram as fortunas honestas, os prazeres mesclados ao hábito do trabalho, [...] e nessas classes, dizia eu, que nascem as luzes que se difundem entre os poderosos e o povo (SAY, 1983, p. 61).

A obra procura juntar uma tripla herança: dos mercantilistas, dos fisiocratas e de Adam Smith e foi pensada como um manual prático para ser lido e aplicado a todas as circunstâncias da vida como atesta o próprio autor no discurso preliminar da obra. O Tratado é apresentado por Say como a junção da teoria e da prática e ensina como, de forma engenhosa, se podem multiplicar as riquezas. Afirma que, de acordo com “As Causas da Riqueza das Nações” de Smith, “seríamos mais ricos quanto mais coisas possuíssemos que tivessem valor e que, visto que o valor podia ser conferido, acrescentando à matéria, a riqueza podia ser criada, fixar-se em coisas anteriormente desprovidas de valor, nelas conservar-se, acumular-se e destruir-se” (SAY, 1983, p. 52).

Árduo defensor do pensamento liberal, Say também se entusiasmava ao ver o Estado de seu tempo, na maioria dos casos ainda monárquico, preocupado em tributar e gerar moedas ruir por meio de grandes convulsões, abrindo espaços a um futuro melhor. A marcha do

pensamento liberal em curso, da livre iniciativa das pessoas e nações, da