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C APÍTULO II R EVISÃO DA L ITERATURA

3. Concepções Normativas Síntese

A centralidade das questões curriculares adquire maior importância em Portugal nos finais dos anos 80. A partir desta data, a profusão legislativa e as orientações globais políticas e educacionais apoiam-se na «diversificação da educação», conceito identificado ao longo da reforma educativa com início em 86 para responder às «novas exigências» do sistema económico e produtivo de interesse nacional. As transformações no campo curricular seguiram lógicas de organização assentes na Lei de Bases do Sistema Educativo, voltada para a Educação para a Cidadania e para a organização curricular. É ao nível de escola que se articulam e integram os aspectos referentes aos níveis de decisão curricular, seguindo as orientações da Administração Central – Ministério da Educação.

Neste âmbito, da reconstrução curricular ao nível local, e numa lógica mais integradora para uma lógica mais restritiva do currículo face ao currículo nacional, têm relevância as concepções de:

- Projecto Educativo – documento que consagra a orientação educativa do agrupamento de escolas ou escola não agrupada, elaborado e aprovado pelos órgãos de administração e gestão para um período de três anos. Deve explicitar os princípios, os valores, as metas e as estratégias, constituído e executado de forma participada, responsabilizando os vários intervenientes dentro de uma autonomia curricular34;

- Projecto Curricular de Escola – documento concebido ao nível do contexto de cada escola onde são definidas as estratégias de desenvolvimento do currículo nacional, em termos de prioridades sobre actividades e conteúdos (incluindo as partes de complemento e de enriquecimento curricular), e integrado no

34 O Projecto Educativo é contemplado no Decreto-Lei n.º 43/89, de 3 de Fevereiro, sobre o regime jurídico

de autonomia da escola; no Decreto-Lei nº 286/89, de 29 de Agosto, que estabelece os princípios gerais que ordenam a reestruturação dos planos curriculares dos ensino básico e secundário; na Portaria nº 921/92, de 23 de Setembro, que estabelece as competências das estruturas específicas de orientação educativa, designadamente dos departamentos curriculares; e no Decreto-Lei n.º 75/2008, de 22 de Abril, que estabelece o novo regime de autonomia, administração e gestão dos estabelecimentos de ensino.

Projecto Educativo, devendo ser aprovado e avaliado pelos respectivos órgãos de gestão e administração35;

- Projecto Curricular de Turma, concebido e avaliado pelo professor da turma, em articulação com o conselho de docentes ou pelo conselho de turma, dependendo dos ciclos de ensino, visa a concretização e desenvolvimento do currículo nacional e do Projecto Curricular de Escola, adequando-os ao contextos de cada turma36;

- Percursos Curriculares Alternativos, introduzidos pelo Despacho n.º 1/2006, de 6 de Janeiro, agora com o enquadramento da Reorganização Curricular do Ensino Básico, reformulados com base no anterior Despacho n.º 22/SEEI/96, de 20 de Abril, destinando-se a alunos até aos 15 anos de idade em risco de abandono escolar por dificuldades de integração escolar, problemas cognitivos, culturais, sociais que conduzem a situações de insucesso repetido, pelo que a organização curricular deverá proporcionar alternativas eficazes para aprendizagens motivadoras e significativas destes alunos;

- Planos de Recuperação e Planos de Acompanhamento37 – reflectem a necessidade de implementação de um conjunto de actividades concebidas no âmbito curricular e de enriquecimento curricular para que os alunos adquiram as aprendizagens e as competências consagradas nos currículos em vigor do ensino básico, sendo os Planos de Acompanhamento de natureza preventiva no caso do aluno ter sofrido uma retenção;

- Plano Educativo Individual38 – enquadrado no âmbito dos alunos com NEE, é um documento elaborado após a sinalização dos alunos com problemáticas que justifiquem a aplicação de medidas do Regime Educativo Especial, onde

35 O Projecto Curricular de Escola é estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro,

reorganização curricular do Ensino Básico, e Decreto-Lei n.º 74/2004, de 26 de Março, sobre a reforma do ensino secundário.

36 O Projecto Curricular de Turma é estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro.

37 Os Planos de Recuperação e Planos de Acompanhamento estão consignados no Despacho Normativo

n.º 50/2005, de 9 de Novembro, definindo os princípios e normas orientadoras para a implementação, acompanhamento e avaliação sumativa interna dos planos de recuperação, de acompanhamento e de desenvolvimento dos alunos do ensino básico.

38 O Plano Educativo Individual é legitimado pelo Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, que

regulamentou a integração dos alunos portadores de deficiência nas escolas regulares, encontrando-se neste momento regulado pelo Decreto-Lei n.º 3/2008, de 7 de Janeiro, que define a sua aplicação para

deve constar elementos referentes aos alunos desde os dados de anamnese, a história escolar e antecedentes relevantes, diagnósticos médicos e psicológicos, medidas a aplicar, modalidades de avaliação e designação e assinatura dos intervenientes;

- Adaptações Curriculares – decorrentes da enunciação de medidas do PEI (Plano Educativo Individual), são elaboradas com redução parcial do currículo, não prejudicando o cumprimento dos objectivos gerais de ciclo e são aplicáveis quando se verifique que o recurso a equipamentos especiais de compensação não seja suficiente;

- Programa Educativo39 – aplica-se aos alunos com a medida ensino especial para os alunos com NEE de carácter prolongado40, sendo uma programação com a delimitação dos objectivos a atingir, as linhas metodológicas a adoptar, o processo e respectivos critérios de avaliação, o nível de participação do aluno nas actividades educativas da escola, a distribuição das diferentes tarefas previstas no programa educativo pelos técnicos e designação dos responsáveis pela sua execução, bem como a distribuição horária das actividades previstas no programa, datas, início, conclusão e avaliação;

- Currículo Escolar Próprio41 – tem como padrão os currículos do regime educativo comum, devendo ser adaptado ao grau e tipo de deficiência com programação específica com o nível de aptidão ou competência do aluno nas áreas ou conteúdos curriculares específicos como Braille, Língua Gestual, programas de reeducação da leitura e escrita, psicomotricidade, entre outros.

39 O Programa Educativo passa a designar-se Programa Educativo Individual pelo Decreto-Lei n.º 3/2008,

de 7 de Janeiro, e deve consignar, numa primeira parte, os dados constantes no Plano Educativo Individual, do Decreto-Lei n.º 319/91, de 23 de Agosto, e numa segunda parte o nível de participação do aluno com NEE, bem como os objectivos e os restantes aspectos consignados no Programa Educativo Individual do anterior Decreto-lei.

40 Esta designação é introduzida pelo Decreto-Lei n.º 6/2001, de 18 de Janeiro, no art.º 10º, considerando

como alunos com Necessidades Educativas Especiais de carácter permanente os que apresentem incapacidade ou incapacidades que se reflictam numa ou mais áreas de realização de aprendizagens, resultantes de deficiências de ordem sensorial, motora ou mental, de perturbações da fala e da linguagem, de perturbações graves da personalidade ou do comportamento ou graves problemas de saúde.

41 O Currículo escolar próprio encontra paralelismo na actual conjuntura com a designação de adequações

curriculares individuais com um nível de aprofundamento ou de adaptação face ao currículo da turma sem deixar de ter como horizonte as competências referenciadas ao padrão do currículo comum.

- Currículo Alternativo42 – substitui o currículo do regime educativo comum e destina-se a alunos com NEE graves cujo nível de participação não contempla os objectivos do regime comum, executando actividades funcionais para proporcionar a aprendizagem de conteúdos muito específicos ou alternativos às competências escolares;

- Currículo Funcional43 – vocacionado para as tipologias de problemas graves, cuja escolarização não é vinculativa às aprendizagens dos outros alunos, desenvolve geralmente um currículo que introduz tarefas do quotidiano no sentido da preparação para a Vida Pós-escolar.

42 O currículo alternativo toma a designação de currículo específico individual, caracterizando-se pela

natureza alternativa às aprendizagens escolares, como as questões da autonomia e independência pessoal, competências do desenvolvimento pessoal e social e actividades da vida diária (AVD)

43 Com um objectivo similar ao currículo funcional foi introduzido o Plano Individual de Transição, a ser

iniciado 3 anos antes do término da escolaridade obrigatória, em que o aluno desenvolve actividades de sensibilização para a transição para a Vida Pós-escolar numa perspectiva de preparação e de resolução de problemas, no sentido de minimizar o distanciamento face aos seus pares, apostando na manutenção da