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O S CONCERTOS PROMENADE NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO DOS CONCERTOS MULTIMÉDIA

Contexto e caracterização

2.1 O S CONCERTOS PROMENADE NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO DOS CONCERTOS MULTIMÉDIA

Os CP integram-se num conjunto mais vasto de produções multimédia que constituem um

exemplo das relações produtivas entre imagem e música.

Para o nosso projeto, tendo em vista o estudo da anexação da imagem à música, foi importante analisar exemplos de outros concertos que foquem esta ligação particular, em- bora apresentem objetivos e características distintos. O grupo de projetos que a seguir se apresentam reúnem concertos educativos que não recorrem à imagem, concertos educati- vos que utilizam imagem e concertos audiovisuais.

Entendemos que a pesquisa e análise de exemplos que extravasem o universo da peda- gogia ou educação, tal como sucede com alguns concertos audiovisuais, nos encaminham para a identificação de boas práticas, porque nos ajudam, por um lado, a encontrar novas perspetivas e, por outro, a refletir sobre os elementos e características que também fazem parte do nosso campo de ação.

Referimos de seguida alguns projetos, nacionais e internacionais, cuja análise foi per- tinente para o nosso estudo. Alguns desses projetos serão oportunamente referenciados ao longo do trabalho para evidenciar e/ou demonstrar características afins ou distintas da metodologia teórica e prática e objetivos que caracterizam o nosso trabalho.

COMPANHIA DE MÚSICA TEATRAL – A direção artística da CMT está a cargo de Helena Rodrigues e Paulo Maria Rodrigues.

A CMT trabalha na criação de espetáculos cuja natureza estética se enquadra dentro da designação de ‘música cénica’ e do ‘teatro musical’. Estabelecendo pontes de ligação entre várias linguagens, a CMT visa dinamizar a produção de iniciativas de carácter interdisciplinar e privilegia a Música como ponto de partida para a interação entre várias técnicas e possibilidades de comunicação artística.17 Referem-se aos seus diversos projetos como a criação de constelações artístico-educati- vas.  “O trabalho de criação de constelações artístico-educativas da cmt tem-nos levado a explorar diferentes formas de abordar os recursos sonoros e envolver o público nos vários aspectos da construção de relações com a música – ouvir, fazer, criar, saber.18

SelecionámosalgunsexemplosdoquedesignamporConstelações Artístico-Educativas:

Anatomia do Piano, estreou em julho de 2012, em Viana do Castelo

Um espetáculo dirigido a famílias, onde a partir da música se explora a transversali- dade de áreas como o teatro, dança, imagem e artes visuais, propondo a reinvenção sonora e teatral de um instrumento: o piano.

Anatomia do Piano é um espetáculo que propõe a desconstrução do instrumento que será talvez o mais influente da história da música ocidental. Resultado duma evolução tecnológica notável e de séculos de repertório, práticas e rituais, o piano é um instrumento-ícone. Em Anatomia do Piano, mais do que um instrumento, o piano é um lugar, um ser com vida, uma escultura, um palco, a casa onde a música habita e de onde brotam histórias sem palavras, feitas de sons, de imagens e de corpo.19

Fig. 1 | Anatomia do Piano na Casa das Artes de Famalicão Fig. 2 | Anatomia do Piano na UA ficha técnica: Conceção e produção - Companhia de Música Teatral | Criação artística - Paulo Rodrigues, Pedro Ramos, Ana Guedes | Intérpretes - Paulo Rodrigues, Pedro Ramos | Co-produção - Casa das Artes de Famalicão Pianoscópio, estreou em outubro de 2013, no Festival Big Bang, no CCB, Lisboa.

Assumida como uma instalação interativa, dirigida a qualquer pessoa, centrada não só na exploração de recursos sonoros, como na construção, a partir da improvisação, de peças musicais partindo de uma base musical. “Mais do que uma obra acabada, o Pianos-

cópio é um universo e uma linguagem que pode tomar várias formas”20 ––––

17 http://www.musicateatral.com/apresentacao (acedido em setembro 2011) 18 http://www.musicateatral.com (acedido em setembro 2011)

19http://www.musicateatral.com/anatomiadopiano (acedido em setembro 2011) 20http://www.musicateatral.com/pianoscopio (acedido em setembro 2011)

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Fig. 3 | Pianoscópio no Centro Cultural de Belém

ficha técnica: Conceção e produção - Companhia de Música Teatral | Direção - Paulo Rodrigues | Pianotrónica - Filipe Rodrigues | Sonoscopia - Henrique Fernandes | Figurinos - Izabel Rocha | Escultura - Ana Guedes, Miguel Ferraz

PROJECTO BACH2CAGE – Concerto multimédia em que se reinterpretou John Cage e Joan Sebastian Bach, musical e cenicamente. Foi criado e realizado por docentes e alunos do Departamento de Comunicação e Arte da Universidade de Aveiro, uma equipa de cerca de 30 pessoas, envolvendo músicos, designers e tecnólogos da comunicação. “B2C é, a face visível de um laboratório experimental de cruzamentos da música/artes performativas com multimédia/arte digital. Este carácter experimental implica que uma das características mais importantes do projecto seja a «instabilidade» e que o espectáculo B2C se encontre em constante upgrade”21

Fig. 4 | Performance integrada em Bach2Cage, abril 200522

PROJETOS MULTIMÉDIA DE MÚSICA ELETRÓNICA E EXPERIMENTAL – Alva

Noto, Ryoji Ikeda, Massive Attack, Sigur Rós, etc., que pelas suas diferenças despertam a

nossa atenção. Por exemplo nos concertos dos Massive Attack, a imagem projetada está muitas vezes relacionada com a intenção de realçar o aspeto interventivo das letras das suas canções, ou seja, cumpre o objetivo de evidenciar uma mensagem. Nos concertos de Alva Noto ou Ryoji

Ikeda a imagem que se projeta também é ilustrativa, mas nestes casos a preocupação recai

sobre a importância de a imagem tornar visível a composição musical. ––––

21http://noticias.universia.pt (acedido em setembro 2011)

22 “Com o intuito de promover o espectáculo Bach2Cage foi desenvolvida esta curta performance para corpo e sistema audiovisual interactivo. Para além da interacção do performer com o vídeo em tempo-real existe também a interacção com um desenhador ao vivo.” in https://vimeo.com/1618708 (acedido em setembro 2011)

Fig. 5 | Alva Noto /Ryuichi Sakamoto

Festival AURAL 2012 | Teatro Metropolitan, México

Fig. 6 | Instalação Test Pattern de Ryoji Ikeda

Fig. 7 | Concerto dos Massive Attack

PROJETOS MULTIMÉDIA DA FILARMÓNICA DE BERLIM – Especificamente a rea- lização de um filme 3D do concerto da 1ª Sinfonia de Mahler, possibilitando ao espectador uma sensação de proximidade com os músicos e instrumentos“.

PROJETO MUTEK – MUTEK é uma organização sem fins lucrativos dedicada à divulgação e desenvolvimento da criatividade digital no som, música e arte audiovisual. O seu objetivo é de- dicar uma plataforma a artistas originais e visionários nestas áreas, com a intenção de proporci- onar e promover o contacto com um público que pretende desenvolver produção nesta área.

Este festival iniciou em 2000, em Montreal, atualmente as ramificações do festival já chegaram até ao México, Barcelona, Tóquio, Dubai e Buenos Aires.23

Fig. 8 | Intervenções sonoras e visuais no festival MUTEK

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29 PROJETO MESO – MESO é uma equipa de design de media digital e sistemas de média,

fundada em 1997 por quatro designers e um cientista da computação que compartilhavam uma paixão forte para projetos que transcendem a sua própria disciplina.24

Fig. 9 | Instalação multimédia Gravity | Aarau, Suíça, 2011

PROJETO BIOPHILIA25 – “O Project Educativo Biophilia é um projeto piloto de grande escala que se baseia na participação de académicos, cientistas, artistas, professores e alunos de todos os níveis académicos. Baseia-se em torno da criatividade como uma ferramenta de ensino e pesquisa, onde a música, tecnologia e as ciências naturais estão ligados entre si de uma forma inovadora”.

O projeto apresenta um exemplo de colaboração dinâmica entre diferentes áreas da sociedade, tais como o sistema de ensino, instituições culturais, de ciência e institutos de pesquisa. O projeto cria uma plataforma de diálogo e debate que estimula o desenvolvimento pessoal e social, contri- buindo assim para uma sociedade sustentável, onde novas abordagens são exploradas ativamente.

O projeto foi originalmente desenvolvido por Björk, em Reiquiavique e na Universi- dade da Islândia, em conexão com o lançamento de 2011 do álbum Biophilia de Björk.26

Fig. 10 | Página internet do projeto Biophilia

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24www.meso.net (acedido em setembro de 2011)

25 Vídeo de apresentação do projeto disponível in http://biophiliaeducational.org/ 26 http://biophiliaeducational.org (acedido em setembro de 2011)

PROJETO 10TO1PRODUCTIONSLTD – Music Education in Motion – Victor Craven cria animações para o desempenho da música em concertos ao vivo, especializou-se num traba- lho educativo para orquestras e grupos de classe mundial: London Symphony Orchestra, Orquestra do Século das Luzes , Münchner Rundfunkorchester , Melbourne Symphony Orchestra, Orquestra Filarmónica do Luxemburgo, Scottish Ensemble , Bournemouth Symphony Orchestra, Klavier-Festival Ruhr , Bochumer Symphoniker , Aalborg Symfonior- kesterm , Derby e Parceria Música Derbyshire e Ensemble 360.27

Fig. 11 | Carnaval dos Animais | Camille Saint-Saëns Animação de Victor Craven

Fig. 12 | Dança Infernal | Igor Stravinsky Animação de Victor Craven

BBC Proms – são os concertos londrinos que de certa forma foram inspiradores dos CP do Coliseu do Porto. O diretor artístico, sobre o conceito original, preferiu uma abordagem diferente na sua conceção e programação. Outro aspeto distinto é o contexto das salas de espetáculo onde se realizam os concertos [Royal Albert Hall vs Coliseu do Porto] ser bas- tante diferente, por exemplo, quanto aos recursos disponíveis, a lotação da sala, as carac- terísticas arquitetónicas, os contextos socioculturais, ou simplesmente o percurso histórico que os diferencia. Os BBC Proms iniciaram-se em 1895 e os CP do Coliseu do Porto reali- zam-se entre 2005 e 2015.28

Fig. 13 | BBC Proms no Royal Albert Hall

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https://www.youtube.com

31 O objetivo principal de tomarmos conhecimento sobre estes projetos é desvendar al-

guns dos aspetos sobre os quais incide a nossa análise e reflexão, comparando o modo como os seus intervenientes e as suas estratégias se ajustaram aos objetivos de cada um desses contextos, e, através dessa confrontação, tomarmos consciência da eventual neces- sidade de estudar o contributo de algumas disciplinas específicas como a tipografia, ilus- tração, fotografia, vídeo, ou mesmo a cenografia envolvidas nestes projetos, comparando- as com os nossos procedimentos tecnológicos.

Também é pertinente constatarmos que, nestas produções, embora variem os objetivos que determinam a escolha e utilização dos recursos e estratégias, os procedimentos de adaptação dos contributos para uma maior funcionalidade comunicacional com os desti- natários revelam preocupações análogas às nossas. A utilização de imagem serve exata- mente os propósitos específicos de cada um deles, como no nosso caso específico.

Por último, gostaríamos de mencionar que os projetos sobre os quais recaiu a nossa atenção, e dos quais aqui se apresentam alguns, são projetos que integram sempre uma equipa composta por especialistas de áreas distintas, onde cada um preserva a sua identi- dade e espaço de trabalho, contribuindo com o seu saber específico sem nunca esquecer a estrutura de que faz parte e o propósito coletivo de construção.