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Procedimentos de análise dos recursos e das estratégias

Apresentação do Estudo Exploratório Dedicaremos este capítulo à caracterização dos três instrumentos de análise utilizados

1 ª FASE DO ESTUDO : C ONCERTOS P ROMENADE

B. Procedimentos de análise dos recursos e das estratégias

Estes oito parâmetros e respetivas ocorrências nas 280 obras analisadas foram regis- tados numa tabela, na qual considerámos, igualmente, os cinco grupos previamente defi- nidos e apresentados no capítulo 2 e que agora relembramos na Tabela 4:

Tabela 4 | Grupos de obras dos Concertos Promenade

G1

OBRAS TONAIS

Baseadas na chamada escrita musical tonal que, por seu turno, se caracteriza pela utilização na orquestra ou grupos de câmara de uma tonalidade definida e também pelas regras da harmonia fun- cional. Nestas obras, a linguagem musical opera com uma hierar- quia entre as notas, podendo utilizar repetições e criando através de condução sonora, frequentemente, nos ouvintes, processos de forte previsibilidade musical em maior ou menor escala.

72 obras Designações baseadas em critérios formais G2

OBRAS NÃO TONAIS

Música sinfónica e de câmara composta a partir de preceitos esté- ticos emanados das vanguardas musicais europeias e americanas do pós-guerra, baseadas em linguagens que recusam os princípios es- truturantes do tonalismo e da chamada "harmonia tonal-funcio- nal", predominante ao longo dos séculos XVIII, XIX e em parte do séc. XX. Ao contrário das obras tonais, nas obras não tonais im- pera um tipo de linguagem que não facilita aos ouvintes processos de previsibilidade em pequena escala, fazendo com que a música seja substancialmente imprevisível.

45 obras

G3

OBRAS EVOCADORAS DE OUTRAS ÁREAS DO ESPETÁCULO

Obras musicais que estão reconhecidamente associadas pela equipa dos CP a outras obras, suas conhecidas, no domínio do cinema ou das artes performativas do teatro, do bailado e da ópera. A associ- ação tanto pode ser estabelecida através da origem da obra musical em si (ter sido composta para um filme, para uma peça de teatro, para um bailado ou uma ópera, ou até, eventualmente, uma série televisiva) como por uma associação posterior à sua origem, mas que, pela sua bem-sucedida associação (música e cinema, séries te- levisivas ou artes performativas), se tornaram – para a equipa – numa relação consistentemente conotativa

90 obras Designações baseadas em critérios contextuais G4

OBRAS COM INTERVENÇÃO DESTACADA

Obras musicais que têm um solista, um narrador ou qualquer outra forma de intervenção destacada. Em alguns casos foram criadas novas narrações para serem feitas entre andamentos ou partes da obra, que não existiam originalmente.

38 obras

G5

OBRAS EVOCADORAS DE LUGARES

Obras que têm na sua origem uma associação específica a um lugar ou uma referência geográfica concreta.

35 obras

Foi necessário convocar a memória de cada concerto, através da visualização de cada uma das soluções gráficas apresentadas publicamente, assim como proceder à consulta de todo o material preparatório: consulta dos diários gráficos com as anotações da prepara- ção de cada concerto; verificação dos emails trocados pela equipa; releitura das notas de

135 programa; audição de obras musicais. Na maioria dos casos, só dessa forma é que conse-

guimos aceder à memória do concerto, clarificar as razões das nossas opções e desse modo preencher a tabela de análise.

Assim, procurámos verificar se existiria alguma tendência notória na escolha do tipo de repertório face às várias categorias em causa, que foram determinantes no trabalho prático desenvolvido e, até, como veremos adiante (cf. questão 3), na definição de algumas questões de investigação.

De seguida, contabilizámos a utilização de imagens óticas e a utilização de imagens gráficas. Apurámos o número de ocorrências de cada um dos recursos utilizados e debru- çámo-nos sobre o índice de figuratividade das imagens utilizadas, ou seja, relativamente ao papel predominante que desempenharam na respetiva obra musical (imagens figurati- vas, abstratas ou simbólicas).

Procurámos ainda identificar as estratégias de utilização das imagens mais adotadas ao longo das temporadas, bem como as tipologias textuais com maior ocorrência nas obras, de acordo com os distintos propósitos: designativo, narrativo, explicativo e descritivo.

Por último, constatámos, de entre os objetivos subjacentes ao uso de certos recursos, quais os mais frequentemente mobilizados, de modo a que o nosso percurso reflexivo se orientasse da seguinte forma:

RECURSOS(imagens utilizadas) ESTRATÉGIA (como) OBJETIVO(para quê)

Na verdade, procurámos identificar, com esta análise, as razões que justificaram a utilização das imagens, de acordo com os objetivos definidos para cada obra, e perceber se o recurso utilizado resultou ou não de uma escolha ocasional, ou se dependeu sempre de uma estratégia ponderada para um objetivo em vista. No sentido de tornar a análise mais produtiva, optámos por considerar um número reduzido de variáveis na classificação, distinguindo apenas duas estratégias (duplicar e expandir) e três objetivos (lúdicos, infor- mativos e decorativos).80

A investigação desenvolvida obrigou-nos, como já várias vezes referimos, a analisar e classificar as obras em mais do que uma ocasião, de modo a afinar critérios e parâmetros de análise. Nessa medida, considerámos útil criar algumas subquestões que se enquadram numa das questões de investigação formuladas no início deste capítulo. Trata-se de aspetos de na- tureza técnica relevantes para a dimensão pragmática e até educativa do nosso trabalho e ––––

80 Inicialmente, identificámos cinco estratégias (reduplicar, expandir, aludir, evidenciar e explicar) e cinco objetivos (me- morizador, representativo, lúdico, informativo e decorativo). Posteriormente, pareceu-nos vantajoso estabelecer uma relação maior de complementaridade entre as estratégias e os objetivos, e não isolar tanto campos que se complementam relativamente à classificação das imagens utilizadas. Assim, prescindimos das estratégias evidenciar (típica de qualquer imagem); aludir (redundante face às imagens simbólicas enquanto subtipo do parâmetro índice de figuratividade); e explicar (relacionada com o objetivo informativo, na medida em que ambos envolvem o ato de explicar). Atendendo a que as funções de memorizar e de representar estão presentes em qualquer imagem, também abdicámos dos objetivos memorizador e representativo, sendo certo que, nos concertos, a imagem ajuda o público a reter informação e representa conteúdos de forma mais ou menos explícita.

que envolvem o estudo de todo o material gráfico e uma reflexão sistematizada sobre a va- riedade de recursos e estratégias utilizadas nos CP ao longo das nove temporadas.

O desenho destas subquestões de investigação pressupôs a consciência de que toda a ação do designer no âmbito da projeção e divulgação de um concerto interfere na sua receção. Algumas opções obedeceram a objetivos muito bem definidos e outras foram ela- boradas de forma mais ou menos instintiva. Tentaríamos saber através das análises, a pos-

teriori, se existiam relações de significância entre os objetivos e as opções por determinados

recursos. Essa busca implicou que se desenhassem tipologias que permitissem classificar os recursos segundo determinados parâmetros, operação que expusemos em 5.2.1.1.

Consideraremos, então, as seguintes subquestões:

1 – Apesar de a música ser capaz de promover no ouvinte imagens mentais, não usa um meio visível, mas audível não verbal e abstrato. Por isso, toda a ação do designer que lida com o som e com imagem de algum modo interfere na música através da figurativi- dade, reduzindo eventualmente a sua abstração. Podemos ter a expectativa de encontrar opções por imagens com altos índices de abstração para acompanhar a abstração musical? 2 – Ao designer é frequentemente solicitado que proceda à transmissão de informações objetivas de caráter técnico e metalinguístico que acompanhem a música com intuito de a explicar ou de a rodear de informações. Nestes casos poderemos esperar que os recursos utilizados sejam maioritariamente verbais?

3 – As obras musicais que compuseram os concertos foram distribuídas por cinco gru- pos (G1, G2, G3, G4 e G5) de acordo com algumas das suas características (cf. Tabela 4 neste capítulo). Quais as relações que é possível definir entre estes grupos e a opção por determinados tipos de recursos, distribuídos pelas duas estratégias (duplicar e expandir) identificadas como as principais para a apresentação da informação?

4 – Conhecedora dos objetivos de difusão para cada concerto, definidos pelos promo- tores, a designer identificou, a posteriori e com o intuito de estruturar a análise em curso, três objetivos possíveis para a sua intervenção (lúdico, decorativo, informativo), tendo para cada um deles identificado as suas opções pelos diferentes recursos usados. Poderá a distribuição relativa dos tipos de recursos pelos objetivos encontrar regularidades e ajudar a explicar os motivos para as opções feitas?

5 – Foram identificados cinco grupos para integrar todas as peças executadas, agru- pando as peças pelas suas características formais e contextuais. A análise da distribuição dos recursos pelos diferentes grupos registou diferentes valores. Para os recursos visuais, foi identificada uma distinção entre índices de figuratividade (imagens figurativas, abstra- tas ou simbólicas). Existe uma correspondência entre a tipologia dos grupos de obras e os índices de figuratividade das imagens neles utilizadas?

137 5.2.1.2.ANÁLISE E DISCUSSÃO DAS ESTRATÉGIAS GRÁFICAS UTILIZADAS

Faremos de seguida a apresentação dos resultados relativos à primeira etapa desta primeira fase do nosso estudo. Contabilizaremos as estratégias gráficas utilizadas durante os CP, bem como os recursos mobilizados e os parâmetros equacionados, nessa tarefa, em cada uma das 280 obras, para, num segundo momento, proceder à análise e discussão dos re- sultados registados.