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M OTIVAÇÕES , QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E OBJETIVOS

Apresentação do Estudo Exploratório Dedicaremos este capítulo à caracterização dos três instrumentos de análise utilizados

5.1 M OTIVAÇÕES , QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO E OBJETIVOS

Como já anteriormente afirmámos, este trabalho de investigação decorre da nossa experi- ência profissional iniciada em 2006, como designer multimédia em concertos de música clássica e contemporânea, mais especificamente em nove temporadas dos CP do Coliseu do Porto (2005/06 até 2013/14), sob direção artística do Maestro Cesário Costa até junho de 2011 e, a partir desse ano, do musicólogo Jorge Castro Ribeiro, no Departamento de Co- municação e Arte da Universidade de Aveiro.

Os concertos tiveram uma periodicidade mensal de setembro a junho, ocorreram durante a parte final das manhãs de domingo e registaram uma média de 800 especta- dores, o que, no final das nove temporadas, permite contabilizar mais de 100.000 espectadores presentes.

Durante as nove temporadas de CP, o número de concertos realizados rondou os 100,

tendo a nossa análise incidido apenas sobre 82 desses concertos, uma vez que excluímos os que foram apresentados mais do que uma vez, assim como os casos muito raros em que se prescindiu da presença de conteúdos visuais.

Os 82 concertos contaram com a presença de 22 orquestras distintas,da Banda Sinfó-

nica Portuguesa e do grupo de percussão Drumming GP. Em determinados concertos, para

além da orquestra, estiveram presentes outros músicos — solistas e cantores —, que foram convidados com o propósito de participarem em programas musicais específicos.

O projeto, construído a partir de concertos de música erudita de diferentes géneros, estilos e épocas, com a duração média de 90 a 120 minutos, contou com a participação de orquestras, solistas e artistas de várias artes do espetáculo, sempre apresentados e contex- tualizados pelo apresentador. Da estrutura de cada concerto fez obrigatoriamente parte uma intervenção visual especificamente elaborada de acordo com o programa definido e com as preocupações didáticas e/ou lúdicas sugeridas pelo musicólogo.

Desse modo, e uma vez que o objetivo-base definido para o projeto dos CP foi criar uma cultura musical básica centrada no núcleo familiar, juntando várias gerações e níveis etários num mesmo espetáculo. Para cada programa musical, enquanto designer, centrá- mos a nossa intervenção na conceção e na produção da estratégia comunicativa capaz de contribuir para o desenvolvimento da literacia do público.

Para além deste aspeto, procurámos concretizar outros objetivos ao longo da disser- tação e com reflexo particular no estudo que estamos agora a apresentar:

– Sistematizar e analisar a implementação de estratégias de design para a compreensão de conteúdos visuais e musicais, e, portanto, contribuir para o desenvolvimento da literacia de um público, assumindo dessa forma uma intencional preocupação com a dimensão educativa. – Desenvolver e implementar diferentes recursos para uma avaliação qualitativa das estratégias implementadas.

121 – Identificar a importância do audiovisual enquanto reforço para o envolvimento do

público durante os espetáculos.

– Avaliar as consequências da presença da imagem nos concertos, ao nível da assimi- lação de conteúdos, da compreensão e fruição dos objetos artísticos musicais.

E foi exatamente a frequência de realização dos concertos que motivou a reflexão sub- jacente a este projeto de tese, inicialmente como uma inquietação e, posteriormente, como uma interrogação mais sistemática, em cada um dos concertos, sobre se as estratégias de design e os conteúdos visuais escolhidos seriam ou não eficazes, se a nossa interpretação respeitaria o conteúdo musical e se seria ou não possível, através do design, contribuir efi- cazmente para promover a compreensão e fruição do espetáculo, do todo musical e visual do qual a proposta gráfica passou a fazer inevitavelmente parte integrante.

Se é verdade que as numerosas experiências nos permitiram diversificar estratégias que, até iniciar este estudo, apenas poderiam ser classificadas como mais ou menos inte- ressantes e coerentes, no âmbito de cada concerto realizado, também é verdade que, por esse motivo, sentimos a necessidade de estudar as tipologias e os diferentes papéis que podem desempenhar em cada contexto, para aí suportar este estudo.

Para ultrapassar incertezas sobre o contributo de design na fruição e apreensão de conteúdos informativos, no âmbito da divulgação e da pedagogia, tornou-se também óbvio que as opiniões esparsas recolhidas entre os elementos do público poderiam não ser um retrato fiel das suas avaliações dos concertos a que assistiam, ao contrário de um inquérito expressamente onde consequentemente, as perguntas aos espectadores fossem direcionadas para aspetos específicos relativos ao papel da imagem nos concertos, o que não se obteria numa conversa informal sobre o assunto. Analisar e sistematizar estratégias, do ponto de vista da eficácia comunicativa, e ouvir o principal sujeito da nossa atividade — o público — implicou registar de forma sistemática o que cada indivíduo apreendeu da experiência que lhe foi proporcionada.

Analisámos 82 concertos que reuniram ao todo 280 obras, tendo sido uma opção ana- lisar cada obra como um todo (sem especificarmos cada uma das suas partes), de forma a restringir a extensão da análise. Estas obras foram, como já referimos, no capítulo 2, clas- sificadas e organizadas em cinco grupos distintos, de modo a podermos efetuar uma análise mais enquadrada.

O trabalho prático, centrado na conceção e na produção de estratégias comunicativas que contribuíssem para o desenvolvimento da literacia do público, impulsionou esta inves- tigação, ou seja, mobilizámo-nos pela necessidade de avaliar as consequências da presença da imagem nos concertos, ao nível da assimilação de conteúdos, da compreensão e fruição dos objetos artísticos musicais.

Por isso, conduzimos a nossa investigação de modo a encontrarmos resposta para de- terminadas inquietações que a ponderação sobre as estratégias de design desde sempre nos

levantou. As questões que enunciámos relacionam-se com as dimensões técnica, ou seja, de conceção e concretização da proposta visual (questão 4), e pragmática, dividindo-se esta última em duas áreas: o efeito geral das propostas sobre o público e, em particular, o seu (desejável) efeito educativo (questões 1-3).

Assim, elaborámos quatro questões amplas que ajudaram a estruturar o nosso estudo às quais procuraremos dar resposta:

1 – O design de comunicação promoveu a mediação entre a imagem e a música. A perceção da imagem exige atenção, dividindo a atenção que o espectador podia dedicar à música. O design de comunicação, organizando uma relação ecológica entre a imagem e a música, interfere com certeza também na perceção e na leitura do objeto artístico, ainda que tal possa não corresponder inequivocamente a um deficit de atenção, antes podendo potenciar (ou não) a atenção, a concentração ou a capacidade de fruir a música. De que forma a componente visual interfere na perceção, memorização e fruição que o público possa ter do espetáculo a que assiste?

2 – Estando presente nos objetivos dos concertos uma atitude de promoção da sua compreensão em que medida os discursos visuais auxiliam no entendimento, porventura complexo, dos conteúdos musicais que se pretendem ampliar?

3 – Sendo os ambientes sonoros dos concertos frequentemente primordiais no envol- vimento atencional do público, que importância pode ter a experiência audiovisual pro- porcionada enquanto reforço, para além da estritamente musical e da estritamente visual ocupada pelos próprios músicos e instrumentos, o envolvimento do público durante os espetáculos?

4 – No caso particular dos Concertos Promenade que exibem de forma evidente uma perspetiva educativa, tentando várias estratégias de promoção da atenção do público jo- vem e da sua participação efetiva no concerto, através de uma atitude de escuta ativa, mas também através da resposta a questões ou outras formas de intervenção, que aspetos da produção visual dos espetáculos, no âmbito do design de comunicação, podem contribuir para a compreensão de conteúdos visuais e musicais?

A resposta às três primeiras questões encontra-se, em boa medida, nos inquéritos que propusemos quer ao público dos CP, quer ao público que assistiu ao concerto no CMP, sendo

importante cruzar essas reações com as várias dimensões das propostas gráficas delineadas. A resposta à quarta questão situa-se, essencialmente, no estudo que desenvolvemos so- bre objetivos, recursos e estratégias mobilizados durante a elaboração das propostas visuais ao longo das nove temporadas dos CP. Pela sua centralidade no contexto de uma dissertação

123 em design de comunicação, considerámos oportuno formular cinco subquestões de investi-

gação que decorrem desta que apresentaremos em 5.2.1.1. Deixamos para esse momento a apresentação dessas subquestões por fazerem mais sentido após a definição da estrutura de análise e a identificação e sistematização dos parâmetros mais relevantes. Procuramos, deste modo, ser fiéis ao rumo que o nosso percurso investigativo e reflexivo assumiu.

5.2. PROCEDIMENTOS E INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA PRIMEIRA FASE