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R ESPOSTA ÀS QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Apresentação do Estudo Exploratório Dedicaremos este capítulo à caracterização dos três instrumentos de análise utilizados

2 ª FASE DO ESTUDO : C ONCERTO NO C ONSERVATÓRIO DE M ÚSICA DO P ORTO 5.3.1 C ONCERTO NO C ONSERVATÓRIO DE M ÚSICA DO P ORTO

3. QUAL É A DINÂMICA QUE ESTÁ MAIS PRESENTE NA PEÇA “FUNDO DO

5.4.2. R ESPOSTA ÀS QUESTÕES DE INVESTIGAÇÃO

Estamos, assim, em condições de esboçarmos, no final deste capítulo, possíveis respostas para as questões que nos propusemos aprofundar no contexto desta investigação.

1 – O design de comunicação promoveu a mediação entre a imagem e a música. A

música. O design de comunicação, organizando uma relação ecológica entre a imagem e a música, interfere com certeza também na perceção e na leitura do objeto artístico, ainda que tal possa não corresponder inequivocamente a um deficit de atenção, antes podendo potenciar (ou não) a atenção, a concentração ou a capacidade de fruir a música. De que forma a componente visual interfere na perceção, memorização e fruição que o público possa ter do espetáculo a que assiste?

Qualquer intervenção significa interferência e o papel do design nos CP foi interven- tivo, procurando explorar a sua capacidade de mediar a relação entre a imagem e a música, fomentando estratégias para potenciar a sua coexistência em cada concerto. Entendemos que a interferência que daí advém é sobretudo positiva, na medida em que os relatos reco- lhidos do público sobre a sua experiência no CP confirmam a nossa suposição. A perceção

da música, sob influência de imagens, foi em certa medida conduzida, de forma a facilitar a compreensão dos aspetos mais relevantes sobre si mesma. O facto de deixar de ser uma audição espontânea, livre, significou por outra via alcançar objetivos comunicativos que de outra forma dificilmente seriam compreendidos pelo público presente.

Um dos contributos que o inquérito nos trouxe foi a confirmação da importância da imagem para o processo de memorização. Os exemplos relatados não só se referem espe- cificamente aos conteúdos visuais desse concerto, como são descritos estabelecendo uma relação particular com as obras. O entendimento sobre aquilo a que assistiu pode ter vari- ado, de sujeito par sujeito, mas foi transversal a todos a capacidade de enumerarem mo- mentos particulares desse espetáculo, com um notório entusiasmo de quem sentiu prazer em ter estado presente. A presença de imagem nos concertos parece, não só ter aproximado a música do público, como o público do hábito de ir aos concertos.

2 – Estando presente nos objetivos dos concertos uma atitude de promoção da sua

compreensão em que medida os discursos visuais auxiliam no entendimento, porventura complexo, dos conteúdos musicais que se pretendem ampliar?

Os discursos visuais, em primeiro lugar, permitiram tornar visíveis elementos intrínse- cos à música que são normalmente impercetíveis ao ouvinte comum. Além disso, a explo- ração de uma gramática visual permitiu-nos articular discursos metalinguísticos acerca da música, clarificando-a mesmo quando nos referimos a conteúdos manifestamente abstra- tos. Cada experiência física permitiu igualmente ao público adquirir novos conceitos visu- ais, que lhe permitiram ao longo das temporadas estar cada vez mais apto para os diálogos propostos que visavam, sobretudo, a compreensão da música.

As relações que à partida determinámos de acordo com o conteúdo das obras apresen- tadas originaram as propostas visuais. Assim, a componente visual conduziu sistematica- mente a audição das obras e a sua adequação esteve sujeita condicionada ao nosso enten- dimento sobre elas, nos casos de maior objetividade e nos casos de maior subjetividade, contudo, em todos os casos a imagem teve influência na audição, acrescentando-lhe outros sentidos que possibilitaram um entendimento mais completo e complexo dos conteúdos

181 musicais. Os discursos visuais não se limitaram a reforçar o conhecimento sobre a música,

treinaram o público a aprender sobre música por via de uma outra linguagem (a visual), ao mesmo tempo que o instruíam cada vez mais sobre essa linguagem. O entendimento é facilitado pela interseção dos diferentes discursos, apesar dos diferentes níveis de rigor, que, todavia, se complementam e nos fornecem ferramentas distintas para a consolidação do conhecimento.

3 – Sendo os ambientes sonoros dos concertos frequentemente primordiais no en-

volvimento atencional do público, que importância pode ter a experiência audiovisual proporcionada enquanto reforço, para além da estritamente musical e da estritamente visual ocupada pelos próprios músicos e instrumentos, o envolvimento do público du- rante os espetáculos?

O envolvimento do público nos CP foi promovido por todos os intervenientes. Princi- palmente através da música e dos músicos, mas todos os contributos uniram esforços para consolidar e expandir sensorialmente a audição. A explicação dirigida ao público pelo apresentador sobre o programa a ser exibido, convenientemente demonstrado através de exemplos, é um bom exemplo da preocupação adjacente a este projeto da importância de envolver o público durante o espetáculo, dando-lhe protagonismo e conferindo-lhe um papel ativo. Os concertos poderiam ter sido comentados, e dadas essas explicações sem outros contributos, mas a essência do projeto exigia a intervenção diversificada e especia- lizada que lhe conferisse o estatuto de inovador baseado na sua oferta. A imagem proje- tada, quer através da captação de imagem, quer através do design, teve um importante contributo enquanto reforço da música, mas, para além disso, como já foram referidos, os

CP contaram com a presença de iluminação devidamente ponderada, com o necessário controlo do som, com da cuidadosa organização da sala e do palco por parte do staff do Coliseu do Porto, com a apresentação de cada programa dos CP, com os convidados espe-

ciais. Todos estes contributos aproximaram o público da dinâmica planificada para os CP, envolvendo-o numa dimensão multimodal que o espetáculo lhe oferecia em cada um dos concertos, se possível não distinguindo cada uma das partes do todo.

4 – No caso particular dos CP que exibem de forma evidente uma perspetiva educativa, tentando várias estratégias de promoção da atenção do público jovem e da sua participa- ção efetiva no concerto, através de uma atitude de escuta ativa, mas também através da resposta a questões ou outras formas de intervenção, que aspetos da produção visual dos espetáculos, no âmbito do design de comunicação, podem contribuir para a compreensão de conteúdos visuais e musicais?

Embora a produção visual tenha sido importante para além da perspetiva educativa, foi sobretudo esta a que mais determinou as nossas opções. O design de comunicação permitiu-nos produzir imagens capazes de sintetizar e clarificar os conteúdos informativos sobre as obras que nos solicitaram divulgar. Mas a vertente educativa dos CP não se limitou

à educação musical, ao seu domínio técnico e conhecimento de repertório. A produção visual focou-se também noutros aspetos: a aprendizagem de uma conduta comportamental apropriada através da utilização de certos recursos promotores de dinâmicas participativas que contrapunham aos momentos musicais; uma mobilização para conquistar o público ao proporcionar-lhe prazer em assistir a concertos, pela dimensão lúdica enquanto objetivo pretendido para além da audição; o cumprimento do propósito de ampliar, através dos conteúdos visuais, o conhecimento do público, não só da música, mas das artes em geral. A diversidade de recursos ao dispor do design, tendo em conta os parâmetros que nos auxiliaram durante o nosso trabalho prático, permitiu apresentar soluções coerentes e ajus- tadas à música tocada, contudo, a música retribuiu o apoio da imagem, uma vez que ine- vitavelmente condicionou a leitura das imagens apresentadas, conferiu-lhes novos sentidos e expandiu-as. Foi um processo, desde o início, ponderado e adaptado tendo em conta a subjugação da imagem perante a música, mas no qual verificámos uma interação mútua e saudável para o entendimento de cada uma das áreas.

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Considerações Finais

Partimos para esta dissertação com o objetivo de cumprir motivações de natureza pessoal, social e académica. Relativamente às motivações pessoais, destacamos a necessidade de desenvolver estratégias cada vez mais eficazes a realização de um trabalho concreto de design, extenso no tempo e praticado com grande regularidade, assim como exercitar em cada nova proposta uma componente inovadora, esteticamente estruturada e coerente- mente integrada no processo de design da forma mais consciente possível. Este propósito vai, igualmente, ao encontro de um objetivo mais geral que encontramos no Design de Comunicação: o de adotar estratégias que permitam conferir visibilidade e valorizar outros objetos, no nosso caso particular de natureza musical. As motivações sociais estão relaci- onadas com a ambição de desenvolver um estudo que pondere questões pertinentes capazes de sedimentar uma outra forma de vivenciar um concerto através da experimentação de diferentes e múltiplos estímulos sensoriais e cognitivos. Em suma, torna-se importante con- tribuirmos para uma experiência que se revele intensificadora e atrativa para novos e di- versificados públicos.

Nesse sentido, procurámos desenvolver uma investigação que partisse de um percurso singular – aquele que nós traçámos ao longo das nove temporadas dos CP e que nos per-

mitiu construir uma visão particular sobre o design – e que simultaneamente englobasse o indivíduo, o conteúdo artístico, o contexto cénico e a atualidade dos conteúdos propostos.

Utilizámos, assim, estratégias de design como auxílio para a compreensão de conteú- dos visuais e musicais, de forma a contribuir para o desenvolvimento da literacia de um público, assumindo dessa forma a preocupação com a dimensão educativa, assim como tivemos oportunidade de experienciar diferentes recursos para uma avaliação qualitativa das estratégias implementadas Este tipo de procedimentos pressupunha que posterior- mente conseguíssemos obter dados objetivos respeitantes aos contributos do design para a receção e fruição das peças musicais, bem como sobre a importância do meio audiovisual enquanto reforço para o envolvimento do público durante os espetáculos. Este conjunto de propósitos e experimentações permitir-nos-ia posteriormente avaliar as consequências da presença da imagem nos concertos, ao nível da assimilação de conteúdos, bem como da compreensão e fruição dos objetos artísticos musicais.

Ao nos dedicarmos a analisar o contributo que a imagem poderia ter para potenciar a receção e educação musical (cap. 1), procurámos compreender melhor a dimensão que o seu papel educativo e colaborativo pode assumir, através da deambulação por diversos contextos, pode assumir no espetáculo ao vivo em articulação com a presença da música.

Foi importante para o nosso trabalho refletirmos sobre esse contexto, tão específico, que caracteriza um concerto ao vivo (cap. 2), pelo modo como facilitou o entendimento

do papel distinto de cada um dos seus intervenientes, a sua interação e contributo na con- ceção de um concerto, nomeadamente a participação do público e a importância do seu envolvimento para o processo.

O enquadramento histórico beneficiou a nossa tomada de consciência dos diversos contributos artísticos que exploraram a relação entre a imagem e a música ao longo dos anos e também da forma como esses contributos a tornaram pública. Desse modo, estabe- lecemos, através deste trabalho académico, uma relação com o nosso trabalho prático, analisando a importância de viabilizar a compreensão da música investindo intencional- mente na visualidade, pela sua potencial importância e capacidade de reforçar os conteú- dos musicais.

Verificou-se que a relação entre a imagem e a música, em alguns exemplos, assumiu aspetos ora mais funcionais, ora mais artísticos, mas em todos os casos beneficiadora de uma sensibilização para a música e artes em geral. No caso da Ópera, interessou-nos par- ticularmente refletir sobre a forma integradora como esta forma de expressão artística in- clui a imagem no espetáculo, dotando-a de um papel específico e imprescindível e eviden- ciando as experiências que oferece. A Ópera é um significativo exemplo de um modelo de espetáculo ao vivo, que depende, e resulta, da boa integração de todas as artes que o inte- gram, de forma colaborativa e transversal pelo benefício do todo.

Consequentemente, analisámos a imagem como elemento atraente e atuante num pro- cesso de condução do espectador menos experiente, menos familiarizado com a música, durante os concertos, em que as propostas visuais favorecem a aprendizagem. Este pro- cesso relaciona-se intimamente com a importância que entendemos que as artes assumem em processos educativos por vias não formais e não convencionais.

Podemos afirmar que a imagem beneficia a receção da música, mas confronta o espec- tador com mudanças que ditam novos procedimentos, novos contextos e novos modos de ver, que implicam uma educação do público, ou seja o desenvolvimento de uma literacia multimodal para a receção do ato musical.

A pergunta que levantámos desde o início sobre o que implica esta outra realidade proposta, ouvir a música ou ver e ouvir a música, motivou partirmos à descoberta da res- posta através da reapreciação das propostas visuais (cap. 5) apresentadas no decorrer das nove temporadas de CP, à luz de um outro olhar, agora mais comprometido pelo questio- namento que nos levou a desenvolver esta tese. O confronto com as mudanças que ditam novos procedimentos auxiliou uma maior tomada de consciência dos nossos próprios pro- cedimentos processuais e concetuais, fazendo-nos refletir num outro momento posterior à conceção, e com uma outra perspetiva, sobre eles.

Foi o que procurámos fazer no capítulo 4, através dos exemplos práticos selecionados do nosso repertório: apresentar, explicar e justificar os procedimentos que nos conduziram até às soluções apresentadas, refletindo sobre os recursos utilizados para o efeito de acordo com as estratégias que beneficiaram os objetivos delineados para cada uma das obras, em