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CAPÍTULO 3 Procedimentos metodológicos

3.1 Concetualização e objetivos do estudo

As questões que norteiam esta investigação visam um entendimento holístico dos fatores que moldam a natureza motivacional dos nossos alunos e são as seguintes:

1) As representações que os aprendentes trazem da língua, da cultura e dos seus falantes, antes de iniciar a aprendizagem e as que formam antes e depois do programa de intercâmbio, interferem na motivação?

Sub-pergunta:

Que fatores interferem nas representações?

2) Que tipo de motivação tem o nosso público aprendente? Sub-pergunta:

Que fatores individuais, sociais, culturais, contextuais condicionam ou estimulam o grau de motivação dos alunos?

3) Que impactos têm os contextos de aprendizagem na motivação dos aprendentes?

91 Sub-pergunta:

Que fatores contextuais, em ambiente de imersão linguística, interferem no grau de motivação dos alunos?

Com base nestas perguntas, e além dos objetivos gerais apresentados, em introdução, relembraremos os seguintes objetivos específicos:

- Analisar as representações que os alunos trazem e vão formando durante a aprendizagem quanto à língua e cultura portuguesa e aos seus falantes;

- Analisar a motivação que leva os aprendentes a iniciar a aprendizagem do português;

- Analisar os fatores individuais, sociais, culturais, contextuais que condicionam ou estimulam o grau de motivação dos alunos;

- Analisar os benefícios e/ou prejuízos que um contexto de imersão linguística tem no que respeita à motivação do aprendente;

- Analisar o impacto que os diversos contextos de aprendizagem têm em relação à motivação;

- Apontar para estratégias que levem o ensinante de português língua segunda/ estrangeira no contexto da China continental e no da Região Administrativa Especial de Macau a elevar o nível de motivação dos seus aprendentes.

3.1.1 Variáveis de estudo

Tendo em conta a complexidade da natureza dinâmica da motivação e da variedade de fatores que nela podem interferir, tentou-se selecionar, de forma criteriosa, as variáveis que considerámos mais pertinentes para a concretização dos objetivos desta investigação.

O modelo representado na Figura 3.1 permite-nos observar os vários fatores que acreditamos interferir no género e grau de motivação do público que pretendemos inquirir.

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Figura 3.1- Fatores que interferem no género e grau de motivação

3.1.1.1 Variável dependente

Segundo Marconi e Lakatos (2003) a variável dependente “consiste naqueles valores (fenómenos, fatores) a serem explicados ou descobertos, em virtude de serem influenciados, determinados ou afetados pela variável independente; é o fator que aparece, desaparece ou varia à medida que o investigador introduz, tira ou modifica a variável independente (…)” (p. 138).

Definiremos como variável dependente do presente estudo: a Motivação para a aprendizagem do português.

Ressalvaremos, contudo, a necessidade que tivemos em entender melhor a natureza de um dos fatores que, a priori, constituiria uma variável independente. Com efeito, pareceu-nos oportuno, num primeiro momento, e por forma a melhor enquadrar o fenómeno neste estudo, constituir como variável dependente o fator: Representações da cultura e dos falantes, nas duas primeiras hipóteses que apresentaremos no ponto 3.1.2.

Motivação para a aprendizagem do

português

Representações da cultura e dos falantes Contexto sociocultural Contexto de aprendizagem Fatores sociodemográficos (sexo, origem, pais)

Contexto de aprendizagem de origem

93 3.1.1.2 Variável independente

Marconi e Lakatos (2003) definem a variável independente da seguinte forma:

[é] aquela que influencia, determina ou afeta outra variável; é fator determinante, condição ou causa para determinado resultado, efeito ou consequência; é o fator manipulado (geralmente) pelo investigador, na sua tentativa de assegurar a relação do fator com o fenômeno observado ou a ser descoberto, para ver que influência exerce sobre um possível resultado. (p. 138)

Subdividimos as variáveis em três grupos, a saber: (1) os fatores sociodemográficos: sexo, origem dos inquiridos, em função da proveniência de um meio rural ou citadino e as habilitações académicas dos pais, (2) o contexto de aprendizagem de origem: o contacto com o professor nativo, a instituição e respetiva longevidade do curso de Licenciatura e o ano de frequência no curso, (3) a localização da instituição de ensino do programa de mobilidade.

3.1.2 Hipóteses de investigação

Foi com intuito de nortear a presente investigação que se delinearam hipóteses que procuraremos testar.

Como apontam Marconi e Lakatos (2003), “Uma fonte rica para a construção de hipóteses é a observação que se realiza dos fatos ou da correlação existente entre eles. As hipóteses terão a função de comprovar (ou não) essas relações e explicá-las” (p. 132).

Na verdade, a nossa experiência de lecionação, a colaboração e os contactos com colegas que lecionam português LNM, quer em Macau quer na China continental, assim como os resultados dos estudos que apresentámos no ponto 2.2.4 do Capítulo 2 constituem uma base sólida de dados que sustentam, a nosso ver, a pertinência desta seleção.

Não menos pertinente é o que afirmam Quivy e Campenhoudt (2005), quando referem que “A hipótese é, frequentemente, apenas uma resposta parcial ao problema posto. Daí a utilidade de conjugar vários conceitos e hipóteses para cobrir os diversos aspectos do problema” (p.139). Foi com base nesse princípio, mas também tendo em consideração o seguinte: “Geralmente, construímos um corpo de hipóteses, hipóteses essas que devem, portanto, articular-se umas com as outras e integrar-se logicamente na problemática” (Quivy & Campenhoudt, 2005, p. 138), que delineámos o seguinte conjunto de hipóteses

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(salientamos, a itálico, as duas primeiras hipóteses por constituírem variáveis dependentes, sendo que as restantes representam hipóteses complementares):

Hipótese 1 – A origem interfere nas representações que os alunos têm relativamente à forma de pensar dos portugueses, assim como nas representações que tinham de Portugal e dos portugueses, antes do programa de mobilidade.

Hipótese 2 – O professor nativo interfere nas representações dos alunos, quanto à cultura portuguesa e aos seus falantes.

Hipótese 3 – O professor nativo influencia significativamente a motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

Hipótese 4 – A origem dos alunos por instituição de ensino (cursos mais antigos vs. cursos mais recentes na China continental, cursos mais antigos vs. cursos mais recentes em Macau) influencia, significativamente, a motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

Hipótese 5 – Os alunos do 4º ano obtêm valores significativamente diferentes dos alunos do 3º ano na motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

Hipótese 6 – O género dos alunos influencia significativamente a motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

Hipótese 7 – A origem dos alunos (Macau vs. China continental) influencia, significativamente, a motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

Hipótese 8 – A origem dos alunos (Macau vs. Continente) interfere na forma como se motivam para contactar com a comunidade local.

Hipótese 9 – A origem dos alunos (grande cidade, vila, aldeia) influencia, significativamente, a motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

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Hipótese 10 – A origem do aluno interfere no esforço despendido na aprendizagem do português e intensifica o medo que sente em perder a face.

Hipótese 11 – As habilitações académicas dos pais dos alunos influenciam, significativamente, a motivação dos alunos para a aprendizagem da língua portuguesa.

Hipótese 12 – Quem não tem prazer em estudar português estuda português porque os pais quiseram e, consequentemente, não se esforça para aprender português.

Hipótese 13 – A localização da instituição de ensino do programa de mobilidade em Portugal influencia, significativamente, a motivação para a aprendizagem da língua portuguesa.

Chamaremos, de novo, a atenção para as duas primeiras hipóteses que, como explicámos, têm como variável dependente: Representações da cultura e dos falantes.

A par da primeira e segunda hipóteses, também realçámos a inclusão de três hipóteses complementares (H8, H10 e H12) que visam elucidar aspetos particulares que se prendem com as hipóteses que as antecedem. Procedimento que Quivy e Campenhoudt ( 2005) enquadram da seguinte forma: “Na prática, procede-se primeiro ao exame das ligações entre as variáveis das hipóteses principais, passando depois às hipóteses complementares. Estas terão sido elaboradas na fase da construção, mas podem também nascer do decurso da análise, como resultado de informações inesperadas” (p. 218). Os autores explicam, ainda, que é nesses casos que intervêm as variáveis-testes. “Estas são introduzidas pelas hipóteses complementares para assegurarem que a relação pressuposta pela hipótese principal não é falaciosa (…)” (p. 218).

Passaremos, seguidamente, a justificar as nossas opções metodológicas.