• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1 Pressupostos teóricos

1.2 Cultura

1.2.6 Cultura chinesa e novas formas de comunicação

O processo de modernização iniciado, no final da década de 70, com as reformas de Deng Xiaoping, assim como a entrada na Organização Mundial do Comércio, em 2001, foram dois momentos da história contemporânea chinesa que, além do fenómeno da globalização, a nível planetário, contribuíram para mudanças radicais, no que respeita à economia, à sociedade e à própria cultura.

Modernization, globalization, cultural dynamics and changing patterns of social relations are affecting the values of China’s people today. The fast-paced development and increasing relevance in the world economy, with World Trade Organization membership from 2001 and the resulting opening of the country, the influx of foreign cultures through internationalization – all these necessarily have a bearing on China’s society, its culture and therefore its values. (Herdin & Aschauer, 2013, p. 5)

Note-se que essas mudanças também se deveram às rápidas transformações registadas em matéria das novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) a que a sociedade chinesa, à imagem de todas as outras a nível mundial, não ficou alheia.

37

Whereas mass media distributes worldwide information and images, ICTs facilitate interpersonal contacts. The internet community communicates through bits and bytes: e-mail, VoIP, video conferencing, social media, etc., enabling people from all over the world to stay in frequent contacts, even with permanent real-time interconnectedness readily available on a cost-effective basis. (Herdin & Aschauer, 2013, p. 3)

Contudo, sabe-se que o governo central tem vindo, desde 1987, data da introdução da

internet na China, a multiplicar as estratégias de controlo e monotorização quer dos

conteúdos quer das atividades em linha: “Authorities at various levels use a complex web of regulations, surveillance, imprisonment, propaganda, and the blockade of hundreds of thousands of international websites at national-gateway level (The “Great Firewall of China”)” (Xiao, 2011, p. 50), tudo isso, segundo o próprio governo, em prol da “construção de uma sociedade harmoniosa”.

No entanto, vários têm sido os estratagemas encontrados pela população, por forma a aceder às páginas bloqueadas ou mesmo tecer as mais duras críticas às autoridades centrais através de metáforas, ironia, poemas, canções ou palavras codificadas.

Além disso, os instrumentos aos quais recorrem os internautas para passar as suas mensagens e opiniões foram-se multiplicando, ao longo dos anos; de blogues às mensagens instantâneas, de redes sociais, como o QQ ou Weibo, aos motores de busca como o

baidu.com ou zhuaxia.com, tudo serve para dotar a população de uma capacidade de

comunicação sem precedentes.

Na verdade, o que nos importa, aqui, entender é se a proliferação de todos esses instrumentos alterou os padrões comunicacionais da sociedade tradicional chinesa. Se por um lado parece inequívoco o que Xiao (2012) conclui, quando se refere às consequências que a

internet trouxe: “The result is an emerging pattern of public opinion and citizen participation

that represents a shift of power in Chinese society” (p. 75), por outro, parece-nos que essas mudanças não alteraram as regras e valores comportamentais, aqui referidos, e mais profundamente enraizados. Embora haja uma formulação mais aberta de opinião ou uma troca virtual e intensiva de mensagens, as regras e princípios que norteiam a comunicação face-a-face parece não terem sofrido grandes modificações.

Um estudo levado a cabo por Herdin e Aschauer (2013), questionando a possibilidade de os valores e normas tradicionais chineses se terem alterado com a globalização conclui o seguinte:

38

Do these empirical results represent a form of equalization of values between Europe and China through greater integration – or a shifting apart (particularization), or perhaps a higher form of hybridization? It seems that Western values have at most penetrated only the outer cultural surface in China. Otherness is no longer so strange or exotic: everything seems within personal reach, whether physical of virtual. (p. 20)

No fundo, a globalização aparenta conduzir a uma homogeneização a nível global. Como dizem os autores (op. cit.):

This modernization process involves various components the physiological-analogue dimension (work mobility as well as tourism generates a higher degree of interpersonal contacts), the virtual-digital component (frequent virtual encounters are accelerated by omnipresent and low-cost modern information and communication technologies) and visual synchronization in a globalized world and through international exchange (transcultural lifestyles, distribution of images through mass media and cultural artefacts). (op. cit., p. 20)

Contudo, concluem que, embora esses indicadores pudessem prever que a globalização fosse desenvolver uma sincronização cultural com os valores ocidentais, na verdade, tal não se verificou:

[t]hese developments have not led to a merging or synchronization with Western values: traditional Chinese values remain deeply rooted. Rather than ‘hybridization’, the term ‘cultural surface synchronization’ seems a more apt description for the situation. There are still huge differences in value systems, East and West, that are not visible because they are nested deep in the hidden dimension of culture and grounded in personality. (op. cit.p. 20)

Por tudo o que acabamos de referir, percebemos que os padrões comunicacionais da cultura chinesa continuam a diferir, substancialmente, dos das culturas ocidentais e, por consequência, dos da portuguesa.

Em decorrência disso, não constitui admiração que, ao iniciarem a aprendizagem desta nova língua estrangeira, os alunos tenham, primeiramente, de entender as diferenças e, seguidamente, adaptar-se às novas formas de se relacionarem com o Outro.

Como veremos, mais adiante, os novos hábitos de consumo de informação poderão, ou não, ter originado representações ou estereótipos suscetíveis de facilitar ou dificultar o

39

processo de apropriação dessas novas regras sociais e comportamentais. No nosso entender, à parte do ensinamento das regras formais da língua, cabe ao ensinante iniciar esse papel de mediador intercultural, já que, para a grande maioria dos alunos, esse será o primeiro dos muitos contactos com o “outro estrangeiro”, uma vez que serão integrados num programa de mobilidade em contexto de imersão.