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O conceito clássico de soberania, desde sua origem na época dos barões feudais e de Jean Bodin, que a definiu como algo absoluto e imutável, está atravessando profundas mudanças.

Com o advento do processo de internacionalização, tal conceito está cada vez mais sendo pensado em termos relativos, transformando o modelo do Estado soberano de forma drástica. Essa noção de soberania não pode representar uma realidade estática, tem que acompanhar as mudanças ocorridas na sociedade contemporânea e se adaptar às circunstâncias que vão se formando na vida de todos os povos.

A soberania pensada em termos absolutos impõe diversos obstáculos às modificações presentes no cenário internacional, que são os processos de integração e de cooperação.

Com o surgimento da globalização, tornou-se imprescindível aos países se unirem em organizações internacionais por uma questão de sobrevivência nessa atual sociedade internacional, cada vez mais pautada nas relações internacionais e interdependência entre as nações.

Ao se unirem em organizações internacionais, os países buscam atender a interesses comuns, bem como procuram soluções para resolver problemas que não conseguiriam solucionar se agissem de forma isolada.

Nos processos integracionistas, à medida que a organização internacional vai evoluindo de uma etapa de integração para outra, os países-membros vão gradualmente sofrendo limitações em relação à sua soberania. Na etapa mais evoluída da integração, os Estados-membros passam a transferir algumas de suas competências a órgãos comunitários, dotados de ordenamento jurídico próprio que passa a reger a vida desses países, se sobrepondo aos ordenamentos jurídicos internos de cada um.

Nota-se que as limitações à autonomia sofridas pelos Estados em organizações internacionais supranacionais são consideravelmente maiores em relação às organizações internacionais de caráter intergovernamental, em que praticamente os Estados permanecem com sua soberania intacta.

Porém, verificou-se que a participação dos Estados em organizações internacionais possibilitou a estes uma atuação muito mais abrangente no cenário internacional, pois as nações unidas passaram a ter muito mais condições para realizar acordos e firmar tratados com países de maior importância econômica, sem correrem o risco de serem subjugadas aos interesses destes. Dessa forma, constatou-se que os ganhos auferidos com a cooperação internacional e a integração regional foram excelentes, o que denota que a participação em processos integracionistas está compensando significativamente as possíveis limitações sofridas em relação à autonomia e à soberania.

Pode-se concluir, portanto, que a supranacionalidade é uma realidade e que tal fenômeno emerge necessário. Os processos integracionistas, com todas as suas características inerentes, têm-se revelado algo de extrema relevância para a ordem internacional hodierna, mostrando-se como uma solução para a resolução dos mais diversos problemas existentes na vida de todas as sociedades desta grande Aldeia Global.

Espera-se, com o trabalho que aqui se conclui, poder contribuir de algum modo para esclarecer sobre o tema e instigar aos interessados que aprofundem os seus estudos.

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